(...)
_ Esse é o meu filho Billy –
explicou Jessie, fazendo as apresentações. Não que o rapaz tivesse deixado
Jessie desviar sua atenção.
_ Onde é que esteve até agora? As
coisas estão bem sérias no Q.G.
_ O que quer dizer com ‘sérias’? –
Jessie deu um olhar indiferente ao filho – O que há de errado com sair pra
fazer compras com a minha filha?
_ Eu não sei os detalhes – Billy
parecia desconfiado – mas você foi rotulado como ‘um elemento indesejado’. O
que foi que fez desta vez? Briga? Aposta? Foi atrás da esposa de alguém de
novo?
_ Hmph – fez Jessie, com um sinal
de pouco caso – Isso são só rumores sobre mim. Só cascata, vê se não acredita
nisso. Hmph, desde que entrou pro ‘Ethos’, você virou um chato...!
Billy não teve o que dizer, ou não
teve tempo para tal, pois Jessie indicou Elly e continuou:
_ Essa moça impediu que Primera
fosse seqüestrada. Por que não ajuda de uma vez, então?
_ Bem... – Elly adiantou-se –
Podemos ter uma apresentação ao ‘Ethos’, então?
_ Ah, claro – Billy apressou-se em
dizer, voltando o olhar para ela – Por favor, perdoe meus modos. Eu não sabia
que você havia salvado minha irmã. Me deixe contatar o departamento médico na
minha base. Tenho outras questões a resolver, considerando que não sou apenas
um padre, mas também um Etone. Então, não posso fazer qualquer promessa.
_ Então, vai nos apresentar? –
perguntou Elly, e Billy confirmou.
_ Sim. Paremos no quartel-general
do ‘Ethos’ depois disto.
_ Hmm. Um padre e um Etone ao
mesmo tempo... – interessou-se Margie – Isso não é incomum? O ‘Ethos’ é
obviamente muito diferente da minha Seita de Nisan.
_ Sua Seita de Nisan? – Billy
voltou-se para ela, visivelmente interessado – Você é de Nisan?
_ Sim, sou Marguerite – ela adiantou-se,
fazendo uma profunda saudação diante de Billy – Prazer em conhecê-lo, Padre.
_ O prazer é meu – Billy
retribuiu, sorrindo para Margie – Eu nunca tive uma chance adequada de falar
com outros sobre suas religiões. Podemos conversar mais tarde?
_ Claro, seria um prazer – ela
concordou sorrindo – Mas não posso demorar muito. Estou um pouco atarefada
agora.
_ Muito obrigado – Billy
agradeceu, curvando a cabeça. E então pareceu reconhecer algo familiar – Hmm...
Marguerite? Onde foi que já ouvi esse nome?
_ Tá bom, esquece isso, relaxa –
cortou Bart, entrando sem qualquer cerimônia entre sua prima e o Etone,
parecendo muito incomodado com a atenção que Margie estava tendo – Eu vim aqui
pra falar com o ‘Ethos’. Vamos andando.
_ Que pessoa sem modos – Billy
olhou com desaprovação para Bart – Deveria aprender a falar um pouco mais
apropriadamente.
_ O quê, ô? – Bart olhou feio para
Billy, que o ignorou e voltou-se para o grupo.
_ Bem, todos, avisarei ao Q.G. do
‘Ethos’ que estão indo. Venham assim que puderem.
_ Já sei, já sei – interrompeu
Bart exasperado – Vamos indo.
_ Ei Billy – Jessie chamou o filho
– Eu tenho uns assuntos pra cuidar. Se vai pro quartel general, dá pra levar
Primera de volta pra casa dos pirralhos pra mim?
_ ... Tudo bem – ele parecia
desaprovar Jessie a cada gesto – Vamos, Prim.
Billy afastou-se e Primera, depois
de despedir-se apressadamente e em silêncio, o seguiu. E Jessie também se
voltou para Citan para se despedir.
_ Bem, preciso ir andando. Té
mais, Hyuga. Eu sei que vou te ver de novo por aí.
_ Er... Bem, quem sabe?
_ Ah, tá. Que seja – e fez uma
reverência a Elly e Margie – Vejo você mais tarde, moças.
E deu uma piscadela para ambas,
antes de partir. Citan balançou a cabeça negativamente, comentando em voz alta:
_ Ele não muda, nunca... Bem –
voltou-se para os outros – Sigurd disse que vai terminar em breve com a
Yggdrasil.
_ Opa, sério? – Bart animou-se –
Beleza, dessa vez podemos mesmo deixar o porto!
_ Vamos voltar... para Aveh? –
Elly perguntou, indecisa, mas Bart voltou-se para ela com surpresa evidente em seu
único olho .
_ Tá brincando? Temos que cuidar
do Fei primeiro! Aquele boca mole disse que ia nos apresentar ao ‘Ethos’.
Então, acho que vamos ter que ir ao Q.G. deles antes.
Elly sorriu. Bart podia ter muitos
defeitos, mas ninguém podia dizer que ele não tinha consideração pelos amigos.
Fosse como fosse, ele só resolveria seus próprios assuntos depois que todos
estivessem bem.
_ ... Obrigada.
_ Ah... – voltou-se, fazendo uma
voz aborrecida – Por que você precisa me agradecer?
_ Heh – Margie conteve o riso – Ele
tem razão, Elly.
_ ... É... Acho que tem razão.
O Q.G. do ‘Ethos’ ficava ao norte
da posição atual da Thames, e sendo assim, Sigurd lançou a Yggdrasil II naquela
direção. Estando Fei inconsciente, Citan achou por bem ficar para trás para o
caso de um eventual problema com as máquinas ou alguma alteração brusca em sua
condição, enquanto Elly, Bart e Rico seguiriam para o ‘Ethos’. Agora num modelo
submarino, a nave de Bart não tinha como aportar nas escarpas rochosas por
volta das ilhas, mas as praias baixas eram uma opção melhor, e foi numa delas
que Sigurd parou.
O prédio do ‘Ethos’ era semelhante
a uma grande catedral, em escala ainda maior do que aquela em Nisan, cercado
por muralhas altas e imponentes de cor dourada, como o prédio. O trio foi
saudado na entrada por Billy, que os cumprimentou com um aceno de cabeça.
_ Estivemos aguardando por vocês.
Recebi permissão para tratar Fei desde que seja na enfermaria do salão de
prática. Deixemos que os membros do ‘Ethos’ cuidem do resto.
_ Sim – Elly concordou – Por
favor, tomem conta de Fei por mim.
Os procedimentos de transferência
tiveram lugar. Com o auxílio e os veículos do ‘Ethos’, Fei foi transferido
juntamente com o equipamento médico da enfermaria da Yggdrasil para a ala
médica, e Billy acompanhou o grupo de Elly.
_ Os irmãos do ‘Ethos’ estão
cuidando de Fei na enfermaria. Por favor, me acompanhem. Eu os levarei até ele.
Por aqui, sigam-me.
O grupo seguiu o padre rumo às
dependências interiores do Q.G. do ‘Ethos’, e no caminho depararam com outro
religioso, que veio até Billy e comentou:
_ Billy, ouvi dizer que seu pai
esteve razoavelmente ativo outra vez.
_ Verlaine... – Billy parecia
embaraçado ao ter que ouvir recriminações em nome de seu pai novamente,
especialmente diante de pessoas estranhas. E Verlaine não se deteve:
_ É dito que houve um ataque a uma
área de escavação que feriu muitos dos meus ‘irmãos’ e trabalhadores. Bem – ele
pareceu mudar de atitude – você é mais do que um ótimo Etone; destruindo os
Ceifadores e provendo a justiça do ‘Ethos’ ao mundo. Mas o seu pai...
_ Somos pai e filho apenas no
sangue! – Billy retrucou, perdendo a tranquilidade – Não tenho nada a ver com
aquele homem.
_ Não me entenda mal – Verlaine
apressou-se a retificar – Não suspeito de você, nosso bom ‘irmão’. Só quis
informar sobre seu pai.
E deu as costas, desaparecendo por
uma das portas, enquanto Billy cobria os olhos, parecendo tentar reunir sua
paciência perdida e comentando consigo mesmo:
_ ... Esse meu pai... Gostaria que
ele pensasse na minha posição antes de agir – voltou-se então, parecendo
lembrar dos acompanhantes, e deu um sorriso fraco – Por favor, perdoem a
interrupção. Me acompanhem.
O trio seguiu Billy rumo ao subsolo,
e mais além. A abadia tinha algo de moderno e arcaico ao mesmo tempo, os
tijolos e luminárias dando uma impressão de solene antiguidade enquanto que as
portas dos corredores, abrindo-se com sensores de proximidade, faziam pensar em
tecnologia avançada. Por fim, chegaram ao compartimento onde Fei estava sendo
tratado por um enfermeiro, e Billy perguntou:
_ Como ele está?
_ O paciente ainda não recobrou a
consciência – respondeu o enfermeiro – mas não vemos qualquer anormalidade com
seu cérebro. A baixa temperatura da água reduziu seu metabolismo e o salvou. Um
passo em falso e ele poderia ter sofrido morte cerebral.
_ Hmm – fez Rico, imaginando que
neste caso, a condição de Fei prenunciava melhoras em breve – Então...
_ Sim, não se preocupem –
confirmou o enfermeiro – No entanto, precisamos conduzir mais testes por algum
tempo. Depois disso, ele pode ser tratado em suas instalações médicas.
_ ... Há alguma previsão para
quando Fei vai recuperar a consciência? – quis saber Elly.
_ A razão para que não tenha
recuperado a consciência é exaustão física. Ele exauriu a si mesmo.
Provavelmente vai custar-lhe mais alguns dias, mas não se preocupe, ele vai
acordar.
_ Entendo – ela aproximou-se da
cabeceira da cama, olhando com tristeza para o inconsciente Fei – Sinto muito,
Fei. Eu fiz a sala de máquinas perder o controle...
_ Ei Elly, isso não é verdade –
Bart interrompeu, meneando a cabeça – Você não pôde evitar ser hipnotizada. Não
precisa se sentir culpada. Mais importante, foi você quem salvou Fei. Você o
protegeu do Ramsus. Não é?
Isso podia ser verdade, mas não a
deixava muito satisfeita. Mais efetivo foi isso ter sido dito por Bart, e Elly
sorriu.
_ Obrigada...
_ Pode demorar mais algum tempo
terminar o tratamento dele – lembrou Rico aos dois – Vamos matar tempo em algum
lugar.
_ Eu... – Elly pareceu encabulada
– Queria ficar mais um pouco. Tudo bem?
_ É, faça isso – Bart sorriu –
Tenho certeza de que o Fei vai ficar feliz. Bom, chame quando terminar. Deixo o
resto com você.
Bart e Rico aproveitaram para
conhecer um pouco melhor as instalações do ‘Ethos’. Naturalmente, pisos
inferiores ao da enfermaria estavam bloqueados ao público, mas puderam seguir
para os pisos superiores, e por toda a parte encontravam o símbolo da ordem religiosa
científica, uma cruz com algo semelhante a chifres curvos de bode na
extremidade superior. Em toda a parte que visitaram, pessoas falavam do
trabalho dos Etone em eliminar os ‘Wels’ – Ceifadores – de Aquvy, e como o
‘Ethos’ provia os necessitados com abrigo e paz aos seus espíritos,
principalmente numa época conturbada como aquela, onde Aveh e Kislev lutavam no
continente e os Ceifadores atacavam em Aquvy. Ainda estavam na nave principal
quando Elly veio até eles, e Bart perguntou:
_ E então, Elly, Fei já teve o
tratamento médico?
_ Sim... Parece que ele vai ficar
bem. Venham, vamos até a enfermaria.
O trio novamente desceu até a ala
médica, e foram alegremente recebidos pelo enfermeiro.
_ Alô, todos. O tratamento dele
terminou.
_ A propósito – perguntou Bart –
Fei recuperou a consciência?
_ Infelizmente, o paciente não
recobrou a consciência ainda. Mas não há necessidade de se preocupar – ele
acrescentou apressadamente – Quando ele se recuperar fisicamente, também vai
recobrar a consciência. Podem leva-lo ao seu navio agora.
_ Deve ter feito um bocado de
esforço – observou Rico.
_ Por favor, não se incomodem. Fiz
meu trabalho como um homem do clero.
_ Muito agradecida – Elly curvou
levemente a cabeça, e então olhou em volta – Um... Onde está Billy? Eu gostaria
de agradecer a ele, também...
_ Ah, sim, o Irmão Billy. Ele
voltou ao orfanato. Estava preocupado com as crianças deixadas sozinhas.
_ É, o Billy realmente nos ajudou
um bocado – admitiu Bart – É melhor agradecermos a ele por essa.
_ Vamos primeiro levar o Fei pra
Yggdrasil. E podemos ir de lá.
Sigurd e Citan comandaram os
procedimentos de transferência, e com o auxílio do departamento médico do
‘Ethos’, logo estavam todos a bordo e prontos a seguir rumo sudeste, onde
estava localizado o orfanato de Billy. Depois de cobrirem uma distância
considerável, passaram por uma ilha onde uma estrutura enorme e de aparência
antiga erguia-se, e foi Sigurd quem informou:
_ É chamada ‘Torre de Babel’. De
acordo com as lendas, foi construída por gente da antiguidade que tentou
alcançar Deus nos céus. Irritado com tamanha ousadia, Deus destruiu a torre com
um raio. A estrutura é muito antiga, isso é fato, e os tripulantes da Thames
sempre falavam nela com receio. Ao que parece, há muitas superstições em Aquvy
ligadas a essa torre.
_ ‘Torre de Babel’, é? – Bart
olhou para o alto, percebendo que não conseguia encontrar o topo da estrutura,
por mais que procurasse – Legal. Talvez algum dia possamos fazer uma visita,
quando o Fei acordar.
A MILLION SHADES OF LIGHT
Nenhum comentário:
Postar um comentário