domingo, outubro 18

Capítulo Vinte e Sete

Capítulo 27: Almas em Chamas

Billy estava parado diante das portas do Quartel-General do ‘Ethos’ em choque, olhando em volta sem poder acreditar. Elly, Rico e os outros também olhavam em volta sem entender, mas era o jovem Etone o mais surpreso, pois pela segunda vez ele via pessoas conhecidas caídas no chão, sem ser capaz de atinar muito bem com o que havia acontecido. Depois de seu trabalho bem feito no Navio Fantasma, se ele esperava por algum tipo de recepção, com certeza não era aquele.
_ I-isso é...! O... O que aconteceu aqui?
_ B-Billy...
Um dos clérigos caído próximo moveu-se, e Billy curvou-se sobre ele, tentando cura-lo.
_ Você está bem? O que houve?
_ Não sei... – o ferimento era muito sério, indo além do que a Luz de Cura de Billy poderia recuperar – De repente, eu ouvi um disparo...
E sua cabeça tombou, enquanto ele ficava imóvel.
_ Ei, agüente! Reaja, vamos!
_ Não adianta – Elly meneou a cabeça – Ele não vai sobreviver com esses ferimentos.
_ Por quê... – Billy baixou a própria cabeça, desolado – Por que isso aconteceu? Hã...?
Algo no chão chamou sua atenção e o rapaz o examinou melhor. Um cartucho vazio de pólvora.
_ Isso é um cartucho do meu pai... Maldito... Não me diga que ele invadiu o quartel-general do ‘Ethos’ num desvairo?
__... É possível, se tratando dele – Citan admitiu.
Ouviram um grito num corredor próximo, e o grupo entrou correndo. Outro Etone caíra, e um vulto escuro curvado estava sobre ele. Billy imediatamente sacou suas pistolas e ordenou:
_ Não se mova! Quem é você?
_ Sobreviventes? Ainda?
O estranho voltou-se, todo vestido em preto, o rosto mascarado e garras de metal nas mãos, lançando-se imediatamente ao ataque. Mas Billy não estava disposto a perder tempo, e sua técnica Quebra-Nozes foi suficiente para abater o agressor em meio ao salto, tombando-o junto ao Etone que assassinara.
_ Quem... são esses sujeitos? – Billy perguntou meio para si mesmo, guardando as pistolas – Por que estão atacando o ‘Ethos’?
_ Me pergunto se as pessoas do ‘Ethos’ estão bem? – Citan ponderou – Eles mencionaram sobreviventes, mas...
_ O quê! – Billy voltou-se, alarmado – Então, todos...
_ Anda, garoto, se controla – cortou Bart, soltando os chicotes da cintura – Deve ter algum sobrevivente por aí. E se tiver, nós vamos encontrar.
Foi inevitável que encontrassem mais assassinos, vestidos totalmente em preto e com garras como o primeiro ou vestidos como sacerdotes do ‘Ethos’, em hábitos verdes. Tomando a frente com Rico, Bart avisou:
_ Vamos demorar muito lutando com esses caras, de um por um, e isso dá tempo pros outros pegarem qualquer sobrevivente que ainda tenha. Billy, Elly, Citan, procurem pelos aposentos. Rico e eu mantemos os corredores limpos.
_ Bart...
_ Ele tem razão, rapaz – Citan apoiou, tocando o ombro de Billy – Deixamos isso por sua conta, jovem.
_ Pára de enrolar e vai logo, Doutor – Rico bateu o punho na mão – Vamos ter mais espaço se vocês saírem logo!
_ Idiotas, ninguém vai sair vivo daqui!
Um dos assassinos de garras saltou sobre o grupo, sendo prontamente enviado de volta por um murro de Rico, enquanto o trio entrava numa porta à direita e o som de luta se intensificava lá fora. Estavam na cozinha do quartel-general, e não tardaram para encontrar o cozinheiro oculto sob uma mesa, que se agarrou a Billy quando eles entraram.
_ Wah... Wahhhh... Eles vieram... Homens vestidos de preto vieram, e mataram todo mundo... wahh... Me escondi aqui, mas os outros... eles...
_ Está tudo bem – Elly tranqüilizou – Nossos amigos estão ali fora, vão levar você pra um lugar seguro. Ande, se ficar aqui eles podem encontra-lo. Venha com a gente.
O cozinheiro parecia reticente quanto a abandonar a segurança de baixo da mesa, mas Rico tombou para dentro com um dos assassinos agarrado a ele, tentando atingir sua garganta com as garras. Prendendo o atacante com os braços para baixo e usando sua ‘Queda Livre’, o Campeão nocauteou o assassino e levantou-se, bronqueando com o cozinheiro:
_ E então, dá pra ser mais rápido? – sua aparência estava ainda pior do que de costume, com marcas de cortes triplos nos braços, rosto e peito – Não podemos segurar eles o dia inteiro, sabe?
À medida que avançavam dentro das instalações do ‘Ethos’, descobriam alguns sobreviventes, muitos mortos e mais assassinos, mas ninguém tinha mais dificuldade em aceitar o que estava havendo do que Billy. Etones treinados para ser a milícia dentro do ‘Ethos’ estavam sendo mortos com facilidade; na maioria das vezes, sequer havia sinais de luta.
Com o apoio de Bart e sua tripulação, os sobreviventes foram aos poucos levados para a Yggdrasil. Bart e Rico mantinham os corredores de acesso livres enquanto Citan, Billy e Elly investigavam os aposentos, enfrentando assassinos que encontrassem. Enquanto seguiam num dos acessos para o subsolo, conseguiram encontrar ainda agonizante um dos bispos responsáveis pelo quartel-general, e ele pareceu reviver por mais algum tempo ao deparar com Billy.
_ Billy... V-você está a salvo...
_ Bispo, o que houve? O que aconteceu aqui?
_ Deixe-o descansar um pouco – Citan pediu, examinando o pulso do homem – Ele está em estado crítico. Talvez, se eu aplicar meu Sazanami...
_ A purga... começou – o bispo balbuciou, tossindo sangue – N-nós, pecadores... trouxemos o julgamento divino sobre nós... por meio de nossos atos, Billy...
_ ‘Castigo divino’? – Billy estranhou – O que quer dizer, bispo? Bispo?!
Mas o aperto do religioso na mão de Billy subitamente cessou, e o homem fechou seus olhos para sempre.
_ Ele se foi... – Billy ficou de pé – O que ele estava tentando me dizer? Purga... O que significava?
Recolhidos todos os sobreviventes nos andares superiores, incluindo um espião de Shevat dentro do ‘Ethos’, o que surpreendeu Citan e Elly, Bart e Rico se encarregaram da retaguarda enquanto o trio descia rumo à enfermaria onde Fei fora tratado. Naquele corredor, encontraram o Pontífice da ordem acuado por mais três assassinos, perguntando:
_ P-por que estão fazendo isso? O que vocês querem...?
_ Ainda está fingindo que não sabe de nada? – um dos assassinos lambeu as garras – Pode ser o líder do ‘Ethos’, mas não sabe quando está vencido.
_ F-foi exposto...? – o homem pareceu compreender do que se tratava, com uma expressão grave no rosto. E outro assassino disse:
_ Rebelar-se contra nós vai custar sua vida.
O trio atacou em conjunto, dilacerando o líder do ‘Ethos’, ao que Billy atacou à distância, amaldiçoando os três e fulminando-os onde estavam, dois deles nem vendo quem os tinha abatido. Sem uma palavra, Billy seguiu adiante e foi acompanhado por Elly e Citan.
Descobriram um enorme elevador que conduzia a um nível subterrâneo espantosamente bem equipado, com máquinas que superavam até mesmo o equipamento e sofisticação dos níveis da enfermaria, e Bart olhou em volta. Mesmo na Yggdrasil, ele não tinha aquele nível tecnológico! Billy olhou ao redor e comentou:
_ A julgar por nossa posição, esta sala está bem abaixo da catedral... o que pode significar que este é o banco de dados do ‘Ethos’?
_ Estou certo disso – confirmou Citan – Este tem que ser o banco de dados do ‘Ethos’.
_ É, é o que parece – Bart e Rico também se aproximaram, o primeiro incapaz de conter sua admiração – Isso é uma surpresa.
_ Sim – Billy confirmou – Este banco de dados contém toda a informação sobre o ‘Ethos’. Do passado ao presente... tudo! Esta instalação é estritamente proibida para nós. Apenas os da classe ‘bispo’ podem sequer entrar nesta área.
_ Tá, mas até aí... – Bart assobiou, olhando em volta para os painéis – esse lugar é bem equipado pra caramba. Olha só!
_ Eu diria... – Citan também parecia impressionado – Uma instalação de tal magnitude seria difícil de se encontrar mesmo em Solaris. Por que o ‘Ethos’ teria tamanho recurso?
_ Esperem um minuto! – Elly estava examinando os painéis também, e com mais atenção do que os outros. E encontrou algo inesperado – Isso é equipamento de Solaris!
_ So... Solaris? – fez Bart.
_ Não fique tão admirado – Elly deu de ombros – Não importa o quanto este mundo seja vasto, equipamento tão avançado só poderia vir de Solaris.
_ E o ‘Ethos’ foi atacado por alguém... – Rico parecia compreender do que Elly estava falando – E no porão... achamos uma instalação solariana.
_ Hmmm... A trama se complica... – ponderou Citan, também seguindo a linha de raciocínio. Mas Bart olhou em volta sem entender.
_ O que está havendo aqui? O que é este lugar? Ô Billy, sabe algo sobre isso?
_ Nem pergunte pra mim, como eu ia saber... – ele meneou lentamente a cabeça – É a minha primeira vez aqui...!
_ Então vamos investigar.
E com a sugestão de Rico, o grupo se espalhou pelos computadores, tomando lugar nos terminais. Bart não tardou para ativar uma janela em caracteres que não compreendia, e chamou:
_ Citan, o que é aquilo sendo mostrado ali?
O catedrático se aproximou e começou a ler, respondendo depois de um instante:
_ Parece algum registro de transmissão de algum lugar... Podemos ser capazes de achar algumas pistas aqui. Espere um momento...
Citan teclou algo no terminal à sua frente, e logo acenou com a cabeça, satisfeito.
_ Muito bem... Agora sou capaz de transmiti-lo para as telas principais.
Três mensagens distintas surgiram nos mostradores principais, uma delas relativa ao Bloco D de prisioneiros em Nortune, onde Citan e Rico lembravam-se, existia uma filial do ‘Ethos’. Outra, aparentemente da mesma fonte, relatando estados de saúde e tempos de adaptação para os Lutadores de Nortune. O terceiro, no entanto, parecia mais interessante, falando da situação atual no conflito de Ignas. Ao que parecia, os Gears de Aveh estavam sendo avaliados, conferindo-se níveis de capacidade a eles. E também, o ‘Ethos’ podia controlar o nível de desenvolvimento dos mesmos. E Bart reparou no título de uma mensagem posterior:

RELATO DO BISPO SHAKHAN, DA DIOCESE DE AVEH


Devido à intervenção de um fator incerto, correção é necessária. Progresso da operação teve uma redução de 30%...

_ Que catzo é isso?! Por que o ‘Ethos’ tá olhando esse tipo de coisa? E, acima de tudo, aquele tal de Shakhan é um bispo?! Ele não foi excomungado do ‘Ethos’ há dezessete anos?!
_ Não deve ser o caso, se ele está enviando relatórios regulares – comentou Rico.
_ Olhem, aqui! – chamou Elly, apontando para o monitor onde estava operando – O destino de todos os recursos coletados pelo ‘Ethos’ através do comércio com cada área... Todos os recursos estão sendo enviados para a terra natal de Solaris.
_ M-mas... – Billy estava muito confuso, sacudindo a cabeça como se nada fosse real – Por que o ‘Ethos’ estaria enviando suprimentos a Solaris?!
_ Não sei... – Elly voltou-se para o monitor principal – Isto está em língua solariana, mas foi codificado. Espere... Hmm... O que é isso...?
Ela olhava confusa para as mensagens, incerta de tudo o que estava vendo, e Bart impacientou-se como sempre, enquanto ela lia para si mesma.
_ Anda, vai logo!
_ Espera! É difícil traduzir essa coisa! Hmm... ‘Cordeiros’... Grande guerra... Colapso... Re-educação... Plano de reabilitação pós-guerra... Baseado em... Prazo para construir fundações do ‘Portão’... ‘Cordeiros’... 02-04 para Ignas... 05-08 para Aquvy... 11-16 para estar uniformemente distribuídos... Posto em prática... ‘Ethos’ estabelecido como uma organização... Supervisão dos sábios... Conferência... Supervisão dos Gazel?! – Elly então se admirou – O ‘Ethos’ é...?!
_ Hã? – fez Bart, mas Rico compreendeu.
_ É tudo um posto! O ‘Ethos’ é na verdade uma organização subsidiária de Solaris!
_ Então... – o pirata ainda não tinha assimilado a idéia – O que isso tudo significa?
_ Em poucas palavras, é isso – explicou Elly – Quinhentos anos atrás, houve uma grande guerra que ocorreu entre Solaris e os habitantes da terra. Não está claro qual foi o desfecho, mas depois da guerra, Solaris temia outra revolta dos terrestres.
“Então, Solaris construiu um ‘Portão’, ou barreira, que separa a terra de Solaris do resto das terras do mundo. Os habitantes da terra que viviam dentro deste Portão foram feitos para habitar como raças separadas, e assim foram supervisionados. Para conduzir a verdadeira supervisão, Solaris estabeleceu o ‘Ethos’. Assim, na verdade, o ‘Ethos’ é controlado pelo ‘Ministério Gazel’, ou o mais alto corpo governamental de Solaris. Então, sim, o ‘Ethos’ é na verdade um posto, ou uma organização subsidiária, trabalhando para Solaris!”
“Descobertas de escavação, artigos e recursos naturais da superfície são transportados para Solaris pelo ‘Ethos’. Isso também inclui ‘recursos humanos’, ou pessoas usadas para trabalho manual e daí por diante. Basicamente, isto aqui é a janela entre a superfície do planeta e Solaris, lá em cima nos céus. De acordo com estes registros, tem havido uma enorme quantia de artigos e pessoas transferidos para Solaris!”
_ Então, o ‘Ethos’ esteve nos manipulando, hein... – Rico cruzou os braços, parecendo meditar – Mais alguma coisa?
_ O resto é principalmente sobre distribuição da população e registros de escavação – disse Elly – No entanto, a quantidade de informação sobre raças e seu tipo de dados biológicos me preocupa...
_ Este é um registro relativamente recente – Citan mostrou algo novo no monitor – Também indica que tem havido uma quantidade enorme de pessoas enviadas para Solaris... A maioria era pessoas que tinham vindo ao ‘Ethos’ procurando ajuda ou salvação espiritual.
_ Não, isto não pode ser!! – Billy aproximou-se, chocado – Eu nunca ouvi nada deste tipo!
_ Então, o que houve com todas aquelas pessoas que você viu vindo pra cá, pedindo ajuda? – perguntou Rico, ainda recostado na parede, de cabeça baixa e olhos fechados, e braços cruzados.
_ Se tornaram Etones... como eu...
_ Certamente, não todos – Bart também apoiou, embora parecesse lamentar ver Billy tentando se agarrar à própria explicação – O que aconteceu aos que não se tornaram Etones?
_ Bem... er...?
_ Tudo fica claro então, né? – Bart voltou-se para Elly – O que você acha, Elly?
_ Há instalações em Solaris para acomodar habitantes da superfície... Disso eu sei! O nível de cidadãos de terceira classe – habitantes da terra de raças variadas são enviados para lá regularmente como trabalho braçal.
_ Então, esta é a fonte do suprimento de trabalho deles – Rico concluiu, olhando para Billy, que apenas sacudia a cabeça de olhos baixos.
_ Mas isso é impossível...! Como pode ser... Mesmo que fosse o caso, quem mataria todas aquelas pessoas do ‘Ethos’, e por quê?!
_ Esta poderia ser sua resposta – replicou Citan gravemente, mostrando mais uma tela de mensagens criptografadas.
_ O quê?
_ O quadragésimo quarto plano de resgate.
_ ‘Quadragésimo quarto...’ – Bart lembrou-se – Não é disso que o Capitão da Thames estava falando?
_ É o único plano que não está ligado a Solaris – observou Citan – Deve ter sido iniciado pelo ‘Ethos’ apenas, como um projeto completamente independente. Foi iniciado a cerca de... dezenove anos atrás. Permitam-me mostrar os dados...
Outro mostrador fez-se claro na tela principal, e a mensagem era: Completada a investigação da cidade Zeboim que afundou nas profundezas do mar aproximadamente há 4000 anos. Depois de mais de cem escavações de teste, o centro da cidade foi identificado... Escavação planejada para iniciar...
_ Então, a partir disto – Citan completou – parece que sob Aquvy jaz uma civilização tremendamente antiga. Eles têm feito um sem-número de escavações de teste e obtiveram uma vasta quantidade de recursos das ruínas. Armas biológicas... Armas de reação... Hmm, entendo... Então esta deve ser a intenção deles... Minha avaliação das circunstâncias é de que o ‘Ethos’ está tentando romper com Solaris... E, uma vez livre de seu mestre, é provável que tente por conta própria a dominação mundial.
_ Tentar um rompimento... E tentar dominação mundial – Rico comentou com admiração – É tremendamente ambicioso!
_ Sim, mas as verdadeiras intenções do ‘Ethos’ são muito óbvias – opinou Citan – O fato de não estarem relatando os resultados, sem mencionar a própria existência da área de escavação, deixa isso claro. O ‘Ethos’ está planejando rebelar-se monopolizando os recursos ultra-avançados desta civilização! Na verdade, tais rebeliões são muito comuns...
_ Então – Elly indagou – você acha que Solaris é responsável por este ataque ao ‘Ethos’?
_ Sim, provavelmente é isso – concordou Citan, sugerindo então – Vamos em frente? Pode haver ainda mais para descobrir!
Mas um deles parecia alheio demais para seguir a sugestão a princípio. Billy estava ajoelhado no chão, olhando para baixo e perdido em pensamentos, enquanto seu mundo parecia desmoronar pela segunda vez.
_ O ‘Ethos’... Meu ‘Ethos’... Minha fé...

domingo, outubro 11

Capítulo Vinte e Seis Ponto Um

(...)


Mais adiante, Billy imediatamente largou a porta e puxou suas pistolas, abrindo fogo enquanto os monstros investiam contra eles.
_ Sabe, Elly – Rico saltou da mesa onde estivera, usando um ataque ‘Banderas’ para cair sobre o grupo de monstros com seus pés – isso tá começando a ficar repetitivo; primeiro na fábrica de Kislev, e agora...
_ Isso não é hora de brincar, Rico! – Elly atacou com uma ‘Travessia’, uma repetição da ‘Tempestade’ de Vierge, onde ela golpeava tudo à sua frente com o bastão enquanto avançava, e abriu caminho por um curto espaço de tempo, mas Billy advertiu:
_ Não, Elly, não se aproxime...!
Um dos Wels explodiu sem aviso, destruindo alguns dos seus mais próximos e também jogando a moça desacordada para trás enquanto outros invadiam, e Billy avançou sobre eles atirando:
_ Quebra Nozes!
Uma seqüência impressionantemente rápida de tiros das duas pistolas tombou Wels um após o outro enquanto Rico, mantendo um grupo afastado ao girar um dos monstros sobre si para depois arremessa-lo sobre os outros, reclamou:
_ Não podemos ficar aqui, garoto! Aqueles sujeitos logo vão...
Os tiros de Billy foram tombando mais e mais dos Wels que vinham pela porta frontal, mas Abandons começaram a emergir de trás dele, e em um instante o alcançariam. Rico saltou novamente sobre a mesa para ganhar impulso e lançou-se sobre as criaturas, caindo sobre eles com os pés e bradando:
_ Banderas!
Ele atingiu em cheio um dos Abandons, e os outros foram forçados novamente para o corredor em chamas. Rico apanhou a porta tombada e forçou-a contra a passagem, falando:
_ Billy, temos pouco tempo!
_ Eu sei! – ele guardou as pistolas, erguendo a mão sobre o rosto de Elly – Saímos num instante... Luz Sagrada!
Rico olhou admirado em volta enquanto o que parecia um vento luminoso cercou a ele, Billy e Elly com suavidade, recuperando boa parte dos ferimentos de todos.
_ Caramba...!
_ Etones também sabem curar – Billy disse simplesmente, erguendo a mão esquerda e disparando para o teto, derrubando uma escada retrátil no meio do compartimento – Ande, Rico, leve Elly pelo alçapão até o teto. Eu vou logo depois.
_ B-Billy... – Elly tentou objetar, mas o Campeão a jogou sobre os ombros com pressa.
_ Não é hora pra discutir, moça. E vê se vem logo, garoto; eu não quero ter que voltar pra te buscar.
Billy sorriu enquanto Rico subia, e postou-se sob a escada mantendo as pistolas apontadas na direção das duas portas. Da porta mais distante, os Wels em decomposição voltaram a irromper, e ele usou sua seqüência de tiros ‘Gunholic’ com as pistolas, as armas de Ether e a carabina para afasta-los até que viu a sombra enorme de Rico desaparecer no alçapão. Agora era a sua vez, e ele recolheu as armas para subir.
Um Abandon usou da porta uma técnica, o ‘Disco de Ether’, lançando uma serra de energia que derrubou Billy da escada e o feriu, e então avançou sobre ele. Ergueu seus braços, curvou-se sobre o jovem Etone... e deparou-se com a pistola de Ether de Billy, retrátil, oculta até então pela manga de seu hábito.
_ Explosão do Inferno!
Dois tiros da pistola, afastando o monstro, deram a Billy tempo de encerrar a técnica com sua carabina destruíram mais aquele Abandon, conseguindo espaço para o Etone saltar para agarrar a escada e escapar pelo teto. E Rico o recebeu com alívio e uma bronca.
_ Demorou um bocado, padre. Por pouco não desci pra te buscar.
_ S-só... um instante, por favor... – ele lançou sobre si mesmo outra técnica de Ether para se curar, respirando mais tranqüilamente – Assim que lacrarmos essa passagem... Podemos alcançar a cabine de comando pelo teto, sem nos expormos tanto, de agora em diante.
_ Posso fazer isso – Elly aproximou-se da escada, erguendo o bastão – Thermo Dragão!
A escada por onde Billy subira instantaneamente pegou fogo, e a magia de área mais ampla fez choverem chamas sobre os monstros lá embaixo, impedindo qualquer perseguição daquele lado. Billy a cumprimentou com um aceno de cabeça, e indicou a proa da embarcação.
_ Vamos. Podemos alcançar a cabine por aqui, através do alçapão.
(Sons altos vinham de algum ponto distante, e ele estava incomodado por aquilo. Sentia fome, e irritação. E sentia dores, também. Se ao menos pudesse voltar sua atenção para qualquer outra coisa...! E então, ouviu um som de queda bem próximo, e avançou na direção dele)
Rico foi o primeiro a ver; mal haviam tocado o piso da cabine de comando quando algo correu sobre eles, vindo da dianteira. Uma forma monstruosa, um pesadelo parecendo envolto sob uma manta esfarrapada e com um braço direito semelhante a uma grande espada triangular, que na verdade eram seus dedos alongados. E empalideceu; não esperava rever a criatura que destruíra em Nortune com Fei e Citan. Acreditava que aquele monstro fora o único do seu tipo. E pior, apenas ele o havia visto.
_ Vocês dois, cuidado! – ele investiu sobre o monstro com seu ombro, impedindo que atingisse Elly, a mais próxima – Façam o que fizerem, fiquem longe da garra da direita!
Mal o dissera, o monstro talhou para baixo e cortou seu peito com um golpe rápido, e avançou para matar enquanto o Rico caía.
_ Thermo Cubo!
Elly atacou para afastar o monstro, dando a Billy o tempo de acudir o amigo. E enquanto a criatura se debatia para apagar as chamas, o Campeão avisou:
_ Ele... drena energia com a garra. Fiquem longe...
Outra vez o assassino atacou, e Elly usou seu bastão para se proteger da garra uma e duas vezes, mas o monstro bateu então com a mão esquerda, abrindo sua guarda e então avançando para matar.
Uma moeda passou diante dos olhos do monstro, desviando sua atenção. E Billy deu um tiro de precisão com sua pistola, sua técnica do ‘Pomo de Adão’, atingindo o monstro diretamente entre os olhos. Era pouco provável que conseguisse eliminar uma criatura tão forte com tamanha facilidade, mas conseguira tempo para curar Rico.
_ Luz da Cura!
Era uma técnica menor, para apenas uma pessoa, mas serviria bem em meio à pressa deles. O assassino se pôs de pé, e o trio separou-se num leque, ficando afastados demais para que o monstro atacasse a todos ao mesmo tempo, enquanto Rico avisou às pressas:
_ Não se deixem atingir pelo gel dele; é venenoso! E façam o que fizerem, mantenham distância! A garra da direita pode drenar suas forças se ficar cravada.
_ Você é o mais vulnerável de nós então, Rico – Billy lembrou, mantendo as pistolas apontadas – Tome cuidado.
O assassino ergueu a cabeça e urrou, e a técnica da ‘Chuva de Fogo’ tomou o compartimento, desviando a atenção de todos enquanto o monstro atacava. Elly, temendo que a situação se agravasse ainda mais por estarem num lugar fechado e em chamas, revidou com sua própria técnica:
_ Aqua Bruma!
Um ataque amplo de Ether usando água e gelo atingiu o monstro, e espalhou-se ao redor para resfriar os pequenos focos de incêndio causados pelo assassino. Mas a criatura avançou sobre Elly.
Billy retirou as pistolas de Ether retráteis então, iniciando a investida com uma Explosão do Inferno. A criatura urrou de raiva, mas assim que recolheu as pistolas, Billy retirou a carabina e disparou, empurrando seu alvo ainda mais para trás.
E o assassino golpeou a maquinaria a sua direita, lançando sobre o Etone restos de rádios e radares, e tirando-lhe a atenção. Protegendo-se com os braços, Billy ficou sem a visão do alvo por pouco menos de três segundos; bastou para que o assassino avançasse sobre ele, rápido demais para que qualquer coisa o detivesse.
Exceto por Rico. Recebendo o monstro por seu lado cego, longe da garra-espada da direita, fechando-o depressa numa chave de braço e girando-o, para jogar em seguida para trás, de volta pelo aposento.
_ Queda Livre!
O assassino rolou para a dianteira da cabine, chocando-se pesadamente contra o painel de comando, a combinação da técnica de Rico com o impulso da própria criatura aumentando o dano. Qualquer ser humano teria fraturado a coluna, mas o assassino colocou-se de pé novamente e urrou, a Chuva de Fogo caindo por toda a volta, e Rico rosnou:
_ Durão, hein? Bem, você não é pior do que aquele de Nortune...!
_ Rico, deite-se!
Reagindo por reflexo, sem sequer ter pensado na lógica daquilo, Rico abriu o campo de disparo para Billy, que novamente usou sua técnica ‘Gunholic’; as duas pistolas de pólvora, seguidas das duas de Ether, e a finalização com a carabina, pegando o assassino em cheio e fazendo-o cambalear para trás novamente. Em voz alta, ele comandou:
_ Agora você, Elly! Use seu ataque de Ether mais amplo!
Elly apontou seu bastão na direção do monstro, que cambaleava depois da salva de tiros, e tornou a lançar:
_ Aqua Bruma!
Pela segunda vez, ela espalhou sua técnica para lidar com os pequenos focos de incêndio ao mesmo tempo em que atingia o monstro com uma combinação de ventos gelados e cristais de gelo. E o assassino protegeu-se com sua garra-espada, começando a ficar intimidado; aquele ataque seqüenciado estava começando a feri-lo! E Elly abriu espaço novamente, enquanto Billy tornou a atacar:
_ Quebra Nozes!
E foi caminhando na direção do monstro enquanto disparava, as pistolas mantendo o assassino na defensiva, recuando um passo ou dois a mais e detendo-se de costas para o painel de comando, diante da grande janela dianteira. E Billy, ainda disparando, gritou para trás de si:
_ É a sua chance, Rico! Lance ele para fora!
Rico pôs-se de pé, entendendo por fim o plano de Billy. Assim que ele parou de atirar, o Campeão correu na direção do monstro, que o encarou e urrou, prestes a lançar novamente sua Chuva de Fogo.
_ Banderas!!
Rico saltou, atingindo a criatura no peito com os dois pés e jogando-a pelo para-brisa da embarcação, direto ao mar. A luta terminara, e Elly suspirou:
_ Que horror...! De todos os Wels a bordo, esse devia ser o mais forte, e o mais horrível! Espero não ter que ver um destes nunca mais!
_ Quem sabe, moça? – Rico deu um meio sorriso, levantando-se – Já é o segundo que eu vejo, e se quer saber, esse até que era fraquinho. Devia ter visto o irmão mais velho desse aí, que Citan, Fei e eu enfrentamos em Nortune...
_ Eu acho que não, Rico – comentou Billy, distraído, enquanto guardava as pistolas e lia uma mensagem na tela de um comunicador – Provavelmente, o fato de você já conhecer o tipo de monstro e como enfrenta-lo nos ajudou muito nesta luta. Ou talvez, de fato, o que vocês enfrentaram fosse uma forma mais evoluída; o monstro que abatemos não usou o gel venenoso de que falou.
Rico considerou a idéia; de fato, agora que a situação se acalmara, o monstro parecia menor do que o de Nortune. E Elly viu Billy recolher um pouco a manga de seu hábito de Etone e ativar um pequeno aparelho em seu pulso. Curiosa, ela olhou a tela do comunicador do barco, e lá estava:
Meu parceiro!! Vou chamá-lo para cá.
_ Billy, o que foi?
_ Não... Só um detalhe – ele desligou o comunicador do veículo, e abriu a porta lateral – Vamos, podemos sair pela ponte.
No orfanato, enquanto isso, um garotinho no alto do cata-vento foi subitamente despertado por um bip contínuo, um sinal que ele de certa forma estava esperando.
_ O sinal do Billy...! – e começou a tocar o sino, gritando para o pátio – Ei, todo mundo! É a mudança G!!
_ Direção do vento, OK!! – respondeu uma garotinha no cata-vento – Coordenadas do alvo, X 1020, Z303!
_ Entendido! – tornou o menino no cata-vento – Ativar piloto automático! Catapulta, pronta!
_ Cuidado! – o pátio começou a ser evacuado, enquanto uma grade metálica abriu-se e um grande Gear com uma capa amarela ergueu-se, seu piloto automático travando as coordenadas passadas. E o menino no cata-vento gritou:
_ Modo de espera, OK! Pronto?... Vai!!
O grito foi um coro de todas as crianças no pátio, enquanto o Gear de Billy, Renmazuo, alçou vôo para encontrar seu mestre. E uma garotinha ainda comentou com ar crítico:
_ O lançamento de hoje foi mais ou menos.
De volta ao transporte do ‘Ethos’, Billy, Elly e Rico saíram da cabine de comando, e o Etone comentou:
_ Como eu pensava, este transporte está infestado.
(Uma forma estranha ergueu-se das águas; tinha um corpo disforme, olhos grandes e redondos e estivera descansando sob o casco, mas tamanha comoção a bordo não tinha como não desperta-lo. Era terrível. Doía demais. E as dores dos outros, abatidos enquanto descansava, pareciam feri-lo como facas. Agora precisava de carne fresca, antes de poder descansar novamente. Então farejou; havia carne próxima...!)
_ Eu preciso ir até o ‘Ethos’ e contar ao Bispo Stone...
_ Hã? – Elly voltou-se, os sentidos alerta, parecendo notar algo que se movia atrás deles – Tem alguma coisa...?
Rico voltou-se, mas havia apenas uma leve ondulação na superfície, como se alguém tivesse atirado uma pedra no mar.
_ É só um peixe – e ergueu o rosto, aproveitando a brisa em seus cabelos – Ah, eu adoro o mar! A brisa é tão fresca... Nada parecido com Kislev.
_ Billy, quem é o ‘parceiro’? – Elly perguntou.
_ Hm, provavelmente é o irmão deles – ele mencionou – Um Wels gigante. Uma entidade contra a qual não teríamos muita chance por nós mesmos. Mas não se preocupe, eles são muito lentos. Mesmo que os Wels o chamassem, ele provavelmente não nos alcançaria a tempo. Mas eu chamei o meu Gear de qualquer modo, só para garantir.
(A carne estava logo acima!! Era hora de agir!!)
Uma forma estranha ergueu-se das águas, as garras bem erguidas enquanto subia para depois golpear a superfície das águas, criando uma onda que quase derrubou o trio da passarela. Ainda agarrado aos cordames, Billy deu vazão à sua surpresa.
_ ... mais veloz do que eu esperava. Bem, aí vem.
_ Ei, e agora? – Rico perguntou, alarmado – Você não acabou de dizer que não teríamos chance contra isso por nós mesmos?
_ Deve chegar logo... – foi a resposta de Billy, de olhar apertado na direção do Wels que se aproximou mais... Mais... Um som de jatos à volta, enquanto o monstro lentamente ergueu suas garras na direção da passarela de cordas, e...
O Wels então reparou que a passarela se esvaziara. Billy estava certo quanto à lentidão daquele tipo de criatura; Renmazuo chegara a tempo suficiente para recolher o trio da passarela e afastar-se. Enquanto o Wels procurava em volta, confuso e tentando atinar com o que acontecera, a Yggdrasil surgiu na superfície e o Gear de Billy pousou no convés, enquanto o Etone suspirava de alívio.
_ Grande atuação por parte dos meninos. Eu devo uma a eles.
O Wels finalmente percebeu a forma da Yggdrasil atrás de si e o Gear de Billy, e foi na direção deles, sempre em silêncio. Os artilheiros da nave pirata abriram fogo, enquanto Vierge e Stier subiam ao convés, e Billy gritou pelos comunicadores:
_ Cessar fogo! Cessar fogo, eu repito! Bart, não adianta atirar nele; esse tipo de Wels tem uma pele resistente demais a dano físico! Podem atirar nele o dia inteiro, e não fará mais do que importuna-lo.
_ Mais essa... Ei, pessoal, cessar fogo! Vocês ouviram o cara! – Bart comandou por rádio, e a Yggdrasil parou de atirar enquanto o Wels se aproximava mais – É melhor dar a retirada, então. Se não dá pra derrubar ele...
_ Podemos abate-lo – Renmazuo ergueu os pulsos, e disparou contra o Wels, desta vez parecendo feri-lo – Ataques de Ether são absorvidos pela pele e as moléculas se expandem, aumentando o espaço entre elas e deixando a camada externa menos resistente ao impacto. E Renmazuo é equipado com pistolas de munição sólida e Ether, como eu. Mas há um porém...
_ Conta o resto depois, padre – Rico avançou com Stier, deslizando sobre suas esteiras enquanto o Wels subia ao convés – Caso não tenha reparado, o monstro chegou à nave; é mais perigoso agora!
_ Rico, espere...
O Wels gigante acabara de subir quando Stier colidiu com ele, o punho maciço atingindo sua cabeça como um martelo e as metralhadoras de ombro em força total. E então Rico não pareceu acreditar no que via; o monstro parecia estar ficando maior!
_ Como é? Tá de brincadeira!
_ Eu tentei avisar – Billy bronqueou, enquanto Renmazuo abria fogo com as pistolas, aumentando o Nível de Ataque e desviando a atenção do monstro – A expansão das moléculas ao absorver energia Ether acontece pelo corpo inteiro. Ou seja, podemos enfraquecer sua resistência com esse tipo de ataque, mas também fazemos com que fique maior, e mais forte!
O Wels era lento, era verdade, mas seu braço aumentara de tamanho, e Stier estava próximo demais; ele só precisou agitar o braço para lançar o Gear verde de Rico para trás, e para dentro do oceano. Vierge voltou-se, e não havia sinal do Stier em parte alguma.
_ Rico! Rico, você está aí? Responda!
_ Sem... histerias, moça – o Campeão retrucou, parecendo bem. E mal humorado – Só meio sacudido... e vou precisar de um tempinho. O Stier levou uma pancada feia, mas os sistemas de auto-reparo estão trabalhando. Já volto para me juntar a vocês.
_ É melhor que fique à distância, Rico – Billy tornou a disparar dos pulsos de Renmazuo, e mais uma vez a criatura recuou, parecendo ferida. E Elly viu seu tamanho ampliar-se novamente.
_ Billy...
_ Elly, você pode fazer ele se expandir mais – Renmazuo recolheu-se lentamente – Ative seus Turbos, e use um ataque Ether. Assim ele deve ficar enfraquecido o bastante.
_ Mas, o tamanho dele...! Logo, vai fazer a Yggdrasil afundar, se continuar assim.
_ Não esquenta com isso, moça! – a voz de Bart soou pelos comunicadores, e Brigandier tomou o lugar de Stier entre os dois – Eu garanto que podemos agüentar até acabar com essa coisa. E, se é de Ether que precisamos... Sorriso Selvagem!
Brigandier cruzou os pulsos diante da cabine, e então sua Máquina de Ether lançou o ataque de Bart, fazendo com que o Wels se expandisse ainda mais; ele quase não parecia mais poder ficar sobre o convés com firmeza, e olhou para baixo em confusão, agitando as garras inofensivamente. E Bart sorriu.
_ Heh! Ele pode até absorver, mas ainda leva o efeito do ataque. Certo, Billy?
_ Perfeito, Bart! – Billy ativou o primeiro Nível de Ataque de Renmazuo, atacando com um ‘Duplo Snap’, atirando com as pistolas, e com os disparadores de pulso, e novamente com as pistolas – Mais um pouco, e estará imenso demais para ficar de pé sobre o convés! E, esse seu ataque...?
_ Deixa o alvo sem enxergar, e mais lento também; perfeito pra essa situação. Temos mais ou menos um minuto antes dele voltar a nos ver.
Depois do ataque de Billy, o Wels tornou a se expandir, e então caiu do convés. Estava imenso demais, e não havia espaço na Yggdrasil para que se mantivesse com os dois pés a bordo, e tombou no oceano.
_ Sig, tire a gente de perto dessa coisa! – Bart ordenou para a ponte de comando – Pode não estar vendo a Yggdrasil, mas com braços desse tamanho, uma pancada basta pra abrir nosso casco ao meio! Afaste mais e então abra fogo com os Mísseis Bart!
_ ‘Mísseis... Bart’? – Billy perguntou, e Elly acenou em negativa.
_ Acredite, é melhor não saber.
_ Artilharia principal! – Bart comandou, enquanto o Wels batia na superfície do mar – Lançar os Mísseis Bart!
Com um alvo tão grande e próximo diante de si, não havia como errar os disparos, e como Billy previra, o Wels agora não tinha resistência suficiente para suportar mais aquele ataque, e acabou por desaparecer no mar.
Mais tarde, na ponte da Yggdrasil, Billy agradeceu aos amigos:
_ Obrigado a todos por me ajudarem. Para ser honesto, essa foi perigosa demais para mim sozinho. Eu não poderia ter feito meu trabalho sem vocês...
_ Seu trabalho é sempre perigoso assim? – perguntou Bart – Hah, nunca pensei que você ia chamar um Gear... Mas que diabos o ‘Ethos’ tá pensando, afinal?
_ !! – Billy pareceu indignado – Nós, Etones, estamos meramente cumprindo nossa missão divina!
_ Desculpe... – Bart pareceu sem jeito – Foi errado da minha parte dizer isso. Não leva tão a sério! E aí, vai fazer o relatório dos resultados no ‘Ethos’, certo? A gente pode aproveitar e te dar uma carona até o Q.G., então, é caminho pra nós.
_ Seria ótimo – Billy agradeceu sorrindo – Desde que não os obrigue a desviar sua rota... Tenho algo a lhes dar como sinal da minha gratidão. Então, por favor, me acompanhem até o quartel-general do ‘Ethos’. 



BUT JUST YOU AND I

domingo, outubro 4

Capítulo Vinte e Seis

Capítulo 26 – O Navio dos Ceifadores


No dia seguinte, o grupo encontrou Billy conversando com Citan no mesmo bar onde Jessie estivera na noite anterior, e o rapaz os saudou.
_ Bom dia. Me disseram que estavam dormindo, então eu tomei a liberdade de entrar e aguardar.
_ Você tá vestido com roupas leves – Bart observou, notando que o hábito de padre não parecia tão apropriado para uma missão perigosa – Isso aí chega?
_ Nós, Etones, temos um equipamento bem particular. Deixe que eu explique, já que vamos trabalhar juntos... Meu equipamento básico são armas de fogo, de três diferentes tipos: ‘pistola’, ‘arma de Ether’ e ‘rifle’, sendo só a primeira substituível, já que fiz as outras duas versões eu mesmo.
_ Eu entendi mais ou menos – Bart coçou a cabeça – Mas é meio complicado, né não?
_ Esta é uma ótima arma – Billy mostrou uma carabina que ornamentava a parede do bar – Tenho certeza de que tem uma história significativa.
_ Lógico que tem! – Bart retrucou, estufando o peito com ar de importância – É o famoso rifle ‘Machiganater’, passado de geração em geração da Família Fatima.
_ Que desperdício – Billy lamentou em voz alta – É bom demais pra você, que fica só brandindo um chicote...
_ Ô! – Bart se aborreceu – Por que tá pegando no meu pé?
_ Ah... Desculpe – Billy sacudiu a cabeça – Foi só que não pensei que você teria interesse em armas de fogo.
_ Seja como for – interrompeu Elly – Eu gostaria de saber por que você se tornou um Etone, Billy.
“Eu não tô interessado”, pensou Bart para si mesmo, virando o rosto. E Billy ponderou por um instante antes de responder:
_ Hmm, entendo. Etones ajudam estranhos, então imagino que isso os deixaria curiosos...
_ Não, eu não quis dizer isso – replicou Elly, meneando a cabeça – Estou curiosa quanto às suas próprias intenções, pessoalmente. Não sei dizer bem o porquê... É só que você não parece ser um típico Etone.
Billy olhou para ela, parecendo visivelmente surpreso por um momento, antes de repetir.
_ Entendo... Bem, já que nosso trabalho é bem incomum, eu lhes direi enquanto explico...
“Quantos anos eu tinha...? – Billy perguntou, parecendo falar consigo mesmo enquanto lembranças de uma cozinha voltaram à sua mente – Não me lembro. Talvez oito ou nove. Naquela época, papai me ensinou a usar uma pistola. Um dia, papai desapareceu. Simplesmente se cansou de nós.”
Parecia difícil, todos notaram, recordar aqueles detalhes, enquanto a mente de Billy lembrava da figura do pai saindo pela porta e dele e de Primera, muito menor, andando de um lado para o outro no aposento.
“Ele nunca voltou. Mesmo assim, eu ficava sozinho no quarto dele com freqüência. A arma do papai, o cheiro do papai. Aquelas coisas eram tudo o que me restava para lembrar dele. Mas aquela felicidade não durou muito...”
Ele lembrava-se de correr pela casa com a irmã; lembrava-se da mãe, sentada à mesa, por vezes olhando para a porta... E lembrava-se do quarto do pai. E lembrou-se de um dia em especial.
“Quando eu tinha doze anos, minha casa foi atacada por Ceifadores, e mamãe foi morta. Estavam procurando por papai, mas mamãe nunca falaria. Eu ainda posso ouvir... O som das balas, lentamente disparando três vezes... Lembro até do som das cápsulas vazias batendo no chão. Depois daquilo, os Ceifadores gritaram, e eu ouvi alguém cair.”
Ceifadores entrando pela casa, e cercando a jovem Racquel. Billy não tinha presenciado a cena, tendo recebido ordens da mãe para proteger Primera no quarto dos fundos, mas ele bem podia imaginar como fora. E lembrou-se de ter corrido para a cozinha quando alguém caíra, encontrando os Ceifadores mortos e um Etone de pé, empunhando pistolas fumegantes.
“O Bispo Stone foi quem nos salvou então. Conhece-lo mudou minha vida dali em diante.”
_ Ei, espera um segundo – interrompeu Bart, incapaz de fingir indiferença ao perceber algo de estranho na história – Ceifadores falam?
_ Sim – confirmou Billy de olhos baixos – Eles não são apenas monstros. Alguns deles são mais inteligentes que humanos.
“Primera e eu nos escondemos nas sombras e escapamos da morte, mas ela não diz uma palavra desde então. Como um enviado divino, o bondoso, forte Bispo Stone me deu um exemplo a seguir. Eu queria ajudar a salvar alguém em necessidade como ele nos salvou. Eu não queria que houvesse mais crianças como Primera... Então, comecei a treinar no ‘Ethos’ pra me tornar igual ao Bispo Stone. Deixei Prim aos cuidados do ‘Ethos’ e entrei para o monastério.”
“Muitos anos se passaram. Terminei o treinamento no monastério e me tornei um Etone. Eu voltei para casa para abrir o orfanato... E ele... tinha voltado, de repente.”
Ele lembrava-se de, já adulto, estar tomando conta da irmã quando Jessie surgiu à porta. E fora um choque para ambos.
_ Mas ele estava diferente. Algum acidente terrível o tinha mudado. Não só sua aparência, mas seu caráter e modos tinham mudado inteiramente, também. Eu me lembrava dele como um homem quieto. Mas... Mais do que aquilo, eu achei que talvez eu não me lembrasse realmente dele. É por isso que... Nunca consigo pensar nele como um pai.
“Mas Prim precisava de um pai – ele lembrou da menina sempre ficando mais alegre quando Jessie surgia, seguindo-o para toda parte – E ela se afeiçoou a ele. No fundo do meu coração, eu pensei que também queria um pai. Mas... mesmo agora, eu simplesmente não consigo acreditar que ele é meu pai verdadeiro.”
 As lembranças pareceram desvanecer-se, e Billy viu-se novamente olhando para a ‘Machiganater’ na parede. E foi incapaz de reprimir outra lembrança.
_ Hah! Isso vai soar patético, mas... Eu quase cheguei ao ponto de vender meu corpo pra sustentar Prim, já que só tivemos um ao outro por tanto tempo... Apesar disso, Prim prefere o pai que ela nunca conheceu... Aquele que de repente apareceu de lugar nenhum.
_ ‘Quase vendeu seu corpo’?! – Bart parecia não acreditar no que tinha ouvido – Você não sabe, garoto...? Tem coisas que dá pra conseguir de volta depois de vendidas, e outras coisas não! Não entende isso?
_ É claro que eu recusei – Billy voltou-se para eles, parecendo um pouco envergonhado – Mas me disseram que dariam 3000 por uma noite...
_ Idiota! – Bart explodiu – Escuta... Da próxima vez que você e sua irmã precisarem de ajuda, venha ao meu navio. Somos auto-suficientes, então pelo menos você não precisa se preocupar com comida e um lugar pra dormir! Mas nunca mais fale em ‘vender seu corpo’ na minha frente...! Entendido?!
_ Será possível...? – Billy estava visivelmente admirado – Talvez você possa ser um ‘bom sujeito’, no fim das contas...?
_ ... Por que você simplesmente não diz ‘obrigado’? Putz...! – Bart emburrou, e Billy por um momento ficou sem ter o que dizer.
_ Er... uh... Bem... Você ainda não tomou conta de nós, então eu não vou dizer!
_ Lindo, garoto – Bart ergueu os braços em abandono – Uma gracinha, mesmo!
Elly simplesmente não podia acreditar na discussão que estava ouvindo, vinda de dois adultos. Se fechasse os olhos, parecia estar ouvindo a dois moleques brigando.
Enquanto a conversa de adultos se desenrolava, a Yggdrasil fora lançada e tomara o rumo de abordagem ao navio imenso detectado no radar. Correntes poderosas do mar vieram de encontro a eles, a ponto de sentirem tremores como se estivessem numa zona de turbulência mas, como Bart dissera, não queriam dizer muito a uma nave do porte da Yggdrasil. E, em poucas horas, a ponte de comando mandou o chamado que esperavam.
_ ... Parece que já chegamos... – Bart comentou, soltando os chicotes.
_ Será possível? – Billy estava verificando a própria munição – O navio de transporte, atacado por Ceifadores?
Para reduzir o risco de ataque, já que um número maior não queria dizer necessariamente maior segurança num lugar de pouco espaço como o interior do navio, apenas Billy, Elly e Rico seguiram no time de reconhecimento, mantendo assim um bom equilíbrio entre ataques de Ether, ataques físicos a curta e longa distância, e Citan e Bart decidiram ficar na retaguarda, cobrindo a possível retirada enquanto os demais procuravam pelo navio; na verdade, um imenso flutuador do ‘Ethos’ que se movia sobre o oceano por meio de levitadores.
O trio penetrou no interior da embarcação, Billy mantendo as duas pistolas diante de si enquanto Elly vinha em seguida, seu cajado em posição de defesa, e Rico fechando a fila, em guarda. Apenas luzes de emergência funcionavam, e havia um cheiro estranho no ar que fazia pensar em um açougue, ou matadouro. Era um ambiente opressivo, e Elly foi a primeira a se manifestar:
_ Está escuro...
_ Que cheiro terrível é esse? – indagou Rico em voz baixa, farejando o ar.
_ Esse cheiro incomum é dos Wels – Billy respondeu, mantendo as armas em riste – Parece bem certo que eles atacaram. Vamos procurar o interruptor e ligar as luzes.
_ Assustado? – perguntou Elly, voltando-se um pouco para vê-lo à meia luz.
_ ... Não – mas ele baixou os olhos, sabendo que não devia mentir para quem o acompanhava – Só um pouco.
Parecia estranho a Rico, com sua longa experiência de caça nos subterrâneos de Nortune, alertar os monstros que certamente estavam ocultos ali dentro de que mais vítimas tinham chegado, mas no fim das contas, apenas ele tinha boa visão noturna, acostumado a lutar com pouca luminosidade; a moça e o menino podiam acabar se machucando se lutassem no escuro.
O interior da embarcação parecia estranho, também; fora os corredores desertos, havia sinais de luta a bordo, mas nenhuma mancha de sangue. Ao atravessar a porta seguinte à entrada, foram sair num corredor estreito que os levou ao dormitório da embarcação, e o cheiro estava cada vez mais forte. Os Wels não deviam estar longe.
_ Cuidado agora, por favor – Billy sussurrou, voltando a cabeça para Elly e Rico – Não há muita esperança de sobreviventes, mas precisamos investigar os aposentos. E dada a nossa condição...
_ ... É o lugar ideal pra uma emboscada – Rico murmurou entre dentes, e Billy acenou que sim.
_ Mantenham a guarda. Vou abrir a primeira porta.
Com as duas pistolas apontadas para diante, Billy escancarou a porta com ímpeto. Um aposento de dormir com dois beliches à frente da porta e um lavatório à esquerda, e mais nada. Era estranho; dava um ar de abandono forçado, mas não havia nada ou ninguém suspeito ali dentro.
_ Nada. Vamos ao próximo.
E outra porta. E outra. Aposentos abandonados, mas nada indicativo do que fizera toda a tripulação desaparecer. Por seis vezes eles abriram portas fechadas, encontrando apenas armários, banheiros ou aposentos desertos. Havia uma última porta no final do corredor, mas a julgar pela sua aparência, levava a outro cômodo maior, e Billy comentou, ainda em voz baixa:
_ Não consigo entender; nem um diário de bordo, ou qualquer sinal de luta...
_ Devem estar em outro compartimento – Rico sugeriu, olhando significativamente para a porta ainda não aberta.
_ Claro, mas eu imaginei que poderia haver alguns deles...
_ Silêncio! – pediu Elly, erguendo a mão direita e voltando o olhar para o corredor.
Do aposento mais distante havia um som líquido borbulhante baixo, que fez Billy apontar suas pistolas para o final do corredor, e Elly colocou seu bastão diante de si. O som foi se repetindo e parecendo aproximar-se à medida que de cada uma das portas que tinham deixado abertas um borbulhar se fez presente. E Rico murmurou:
_ Não devíamos ficar aqui.
_ Todos para o próximo compartimento, depressa! – comandou Billy.
Rico, mais próximo à porta, derrubou-a com um golpe de seu punho direito, e Billy e Elly recuaram logo atrás dele enquanto formas arredondadas começaram a emergir dos aposentos abertos. E então o jovem Etone entendeu:
_ Abandons! Wels de um tipo de líquido orgânico! Devem ter vindo pelos encanamentos!
_ E como os impedimos de virem até nós? – Elly perguntou, mas atinou com a resposta por si mesma – Espere! Líquidos, você disse? Thermo Cubo!
Uma pequena explosão de chamas se formou no meio do corredor. Dado o espaço minúsculo do ambiente, os Abandons mais à frente foram consumidos, e os demais ficaram bloqueados pelo ataque Ether de Elly. Billy aproveitou para avançar e fechar a porta como podia, pedindo:
_ Depressa Rico, me ajude aqui! Precisamos bloquear a porta!
_ Eu acho que era melhor nos preocuparmos com aqueles ali...
Elly gritou, e Billy começou a disparar enquanto um bando de Wels aterradores, semelhantes a múmias mal enroladas, irrompeu da única outra porta do aposento.
No acesso da popa, onde Citan e Bart mantinham guarda, o catedrático repentinamente ergueu a mão, pedindo silêncio, e olhou em dúvida para Bart.
_ Ouviu alguma coisa?
_ É, eu acho... – Bart soltou os chicotes – Melhor dar uma olhada, não?
Eles penetraram pela porta, deparando com a semiescuridão. Mas os Wels em decomposição irromperam, vindos do interior do transporte. Por aquele caminho, eles não passariam.

domingo, setembro 27

Capítulo Vinte e Cinco

Capítulo 25 – O Orfanato



Era uma propriedade do ‘Ethos’ à beira de um penhasco, uma casa ampla com um pátio ainda maior onde Elly, Bart e Rico encontraram todo o tipo de crianças, humanas e meio-humanas que, segundo o ‘Ethos’, tinham sido reunidas ali por serem órfãos sem lar. Billy era o responsável pelo orfanato, que também era a sua casa. Foi na biblioteca que o encontraram, e ele ficou feliz em revê-los.
_ Oh, como estão? Como está indo Fei?
_ Muito bem –Elly respondeu – Ele não recuperou a consciência ainda, mas deve despertar em breve.
_ Mesmo? – Billy sorriu – É bom ouvir isso.
_ Ah, Billy... Eu realmente não sei como agradecer a você por ajudar Fei – Elly murmurou, sem jeito, mas Billy meneou a cabeça.
_ Nem mencione isso. Podemos acreditar em deuses diferentes, mas nenhum de nós pode deixar pessoas em necessidade.
_ Muito obrigada. A propósito, este orfanato é seu?
_ Surpresa que haja apenas crianças? – Billy tornou a sorrir – Eu e minha irmã não temos pais desde que éramos pequenos... Então, abri um orfanato para que crianças sem família não tivessem que passar pelo que nós passamos. São todos saudáveis e obedientes aos ensinamentos do ‘Ethos’. São todos boas crianças, que até me ajudam com trabalho.
Foi quando Citan e Sigurd resolveram entrar, e o imediato avisou:
_ Bart!! O radar da Yggdrasil captou a imagem de uma nave enorme!!
_ O que? A Gebler de novo?
_ Eu não sei, mas está se movendo a 10 repsol/hora para o sul. Devemos ir para a ponte.
_ Entendido! Agüentem, que nós já vamos.
_ Ô, você aí, de preto e branco! – uma voz debochada veio de outra sala – Você é o Sigurd, não é?
_ Isso por acaso é maneira de falar com alguém? – retrucou Sigurd, ao ver o homem de meia idade entrar na sala – Quem você pensa que é?
_ Ah... – Citan ocultou o riso com a mão – Pode até não parecer, mas ele é o nosso ‘sênior’, Sigurd.
_ ‘Sênior?! – Sigurd tornou a olhar para o recém-chegado, parecendo não acreditar – Jessie?
_ Siggy? – Billy perguntou, de repente parecendo lembrar-se de onde reconhecia o imediato da Yggdrasil.
_ Ele falou ‘Siggy’? – Bart franziu o cenho.
_ Um sujeito de cabelos de prata com pele de âmbar – comentou Jessie com um sorriso – Eu diria que isso é raro. O que vocês todos estão fazendo aqui?
_ É algo que – Citan deu de ombros – de certa forma, simplesmente aconteceu.
_ Muita coisa aconteceu... – Sigurd começou a dizer, mas Jessie aproximou-se dos dois velhos amigos e passou os braços sobre os ombros de ambos, convidando:
_ Bem, vamos falar sobre essas coisas enquanto bebemos! E então... Por que estão todos aqui?
_ Siggy, já faz muito tempo – Billy tinha um ar de curiosidade no rosto – Por que o tapa-olho?
_ Billy – Sigurd sorriu – Você cresceu. Com este sorriso, você fica muito parecido com Racquel.
_ Ei! Ei ei ei! – Bart obviamente não gostava de ficar de fora da conversa – Quem é você, pra ficar todo cheio de intimidade com os meus oficiais, hein? Que negócio todo é esse de ‘Siggy’? Sem essa de fala bonitinha, garoto!
_ O que há com você? – Billy olhou com surpresa para Bart – Por que é tão arrogante com o Siggy? Quem você pensa que é?
_ Billy – repreendeu Jessie – Não grite com o pessoal do Sigurd. Isso é falta de educação, menino!
Parecia, no mínimo, curioso ver Jessie agindo como um pai e repreendendo Billy, e Sigurd aproveitou para explicar:
_ Bart, este era o nosso ‘sênior’ quando eu era um candidato aos Elementos em Jugend. Eu aluguei um quarto na casa dele.
_ Naquela época, ele ainda usava fraldas... – Jessie lembrou com um sorriso – e ele ainda é um pirralho chorão, mesmo agora.
_ Você provavelmente ainda usa fraldas, não usa? – Billy perguntou a Bart com ar vazio, e o pirata retrucou:
_ Seu pivete! Afinal, qual o seu problema?
_ Bom... – Jessie riu, vendo que o filho estava se dando bem com Bart – E então, vamos sair logo e ir beber, só nós, pelos velhos tempos?
_ Onde você planeja ir? – perguntou Sigurd, com medo da resposta. E Jessie olhou para ele com ar de reprovação.
_ O que quer dizer? Tem que ter um bar ou dois a bordo daquela sua nave!
_ Sinto uma dor de cabeça se aproximando... – Sigurd pôs a mão sobre os olhos, e Jessie deu de ombros.
_ O quê? Ah, tudo bem. Vamos nos livrar dessa dor de cabeça com uma boa bebida!
E saiu, obviamente indo para a Yggdrasil, e Citan aproveitou para perguntar:
_ O que vai fazer?
_ Eu não posso simplesmente dizer não a ele...
_ O que estão fazendo? – Jessie gritou lá de fora – Vamos!
Ainda com ar de quem pressentia dificuldades, Citan e Sigurd saíram, e todos ouviram o riso alto de Jessie lá fora, enquanto se afastavam. Mas Billy meneou a cabeça.
_ Eu não vou... Vão em frente, e divirtam-se.
E foi para outro cômodo do orfanato. Bart, por outro lado, ainda estava intrigado pelo que Sigurd dissera:
_ Que nave enorme é essa de que o Sig tava falando?
Houve um som baixo então, que nem Elly nem Bart ouviram por não estarem prestando atenção, ou lembrar-lhes coisa alguma. Mas aquilo era muito familiar a Rico, que voltou a cabeça e o seguiu, chamando então a atenção dos dois amigos.
_ Hein? – fez Bart.
_ Rico, o que foi? – perguntou Elly.
Rico meramente fez sinal para que se calassem, e seguiu o som. Agora os dois também ouviam, embora não lhes dissesse coisa alguma. Num quarto próximo estavam a irmã de Billy, Primera, e um garotinho tocando um sino, e Rico estremeceu ao vê-lo. Era muito semelhante a outro que ele vira antes. O menino, olhando com curiosidade, percebeu o que chamara a atenção de Rico e exibiu o sino, comentando com um sorriso:
_ Tem um som legal, né? Meu papai me deu esse sino pra eu nunca me perder. Mas meu papai não tem senso de direção, e também se perde um bocado. Então, ele também tem o mesmo tipo de sino. Ele foi pro quartel general do ‘Ethos’, mas nunca mais voltou...
O rosto de Rico entristeceu-se, antes que ele pudesse evitar. Citan dissera que o ‘monstro vermelho’ em Nortune ainda devia ter alguma inteligência humana residual. Agora, ele podia entender por que a criatura aparecia quando ouvia o sino.
_ Ele deve ter se perdido de novo – o menino comentou com ar distraído – Meu papai é tão tonto!
_ Garoto... – Rico retirou algo dos bolsos – Acho que é melhor que fique com isso.
O menino olhou com curiosidade para a mão de Rico, e ficou admirado ao ver um sino muito parecido com o seu.
_ Ei, isso... Por acaso, você não encontrou meu papai? Onde ele está?
_ Escuta, guri... Seu pai foi pra um lugar distante... Aqui, fique com o sino dele.
Bart e Elly não estavam entendendo a situação toda, mas o menino ficou emburrado então, tocando o seu sino e depois o do pai. O som era o mesmo.
_ Meu pai é um mentiroso!! Ele disse que íamos embora morar sozinhos... Só nós dois... Eu esperei... tanto tempo...! Por que, papai...?
Rico parecia triste, sem ter o que dizer para acalmar o choro do menino. Sabia por experiência própria que não era fácil crescer sozinho. Primera veio até eles então e abraçou o menino em silêncio, e isso pareceu de alguma forma acalma-lo.
_ Mas... obrigado – ele soluçou – Obrigado por me trazerem o sino do papai de volta. Isso vai me animar...!!
_ Rico, o que...? – Elly começou a perguntar, mas Rico apenas se afastou.
_ ... Conto depois. Vamos.
Ao sair, viram Billy passando apressadamente para fora, e o seguiram. Um Etone mais velho se aproximava, entrando pelo portão do pátio externo, e uma garotinha no pátio o saudou com um sorriso amplo.
_ Uau! Tio Stone!!
Todas as crianças próximas se aproximaram correndo e reunindo-se ao redor do Etone, que sorriu para todos e passou a mão sobre suas cabeças.
_ Olá. Estão todos felizes? Espero que sim.
Todos responderam em coro que sim, e Billy surgiu na porta, sorrindo tão amplamente quanto elas.
_ Bispo Stone!
_ Ah, Billy, meu filho.
Billy foi cumprimentar o Etone enquanto Elly, Bart e Rico saíam para o pátio. E ninguém reparou que Primera se detivera na soleira da porta. E não estava sorrindo para o recém-chegado.
_ Desculpe incomodá-lo quando está ocupado – disse Billy, curvando levemente a cabeça.
_ E, quem são essas pessoas? – indagou Stone, reparando nos três visitantes pouco mais afastados.
_ São viajantes de outro país – apresentou Billy, ao que Stone não fez maiores comentários. Obviamente, havia questões mais urgentes.
_ A propósito, sobre sua mensagem anterior...
_ Sim, sobre trabalho...
_ Sim – Stone pareceu mais sério – O navio de transporte do ‘Ethos’ que tinha desaparecido finalmente ressurgiu. Mas, não há resposta às nossas tentativas de contato.
_ O que significa isso? – indagou  Billy.
_ Hmmm... Talvez, Ceifadores novamente. Billy, pode fazer o de sempre?
_ Claro, sem problemas. Deixe comigo, Bispo.
_ Grato – Stone acenou afirmativamente – É a nordeste daqui. Por favor, tenha cuidado. É uma área perigosa. Há certas correntes marinhas muito rápidas, e é melhor ficar longe dos Resgatadores. Seria melhor se fosse num navio de grande porte.
_ Ô! – chamou Bart, sem a menor cerimônia – Isso aí é o navio enorme de que o Sig tava falando agora há pouco?
_ Não sei dizer se era isso ou não.
_ Pelo que eu ouvi, é um lugar onde as correntes são rápidas pra caramba – ponderou Bart – Supostamente é muito perigoso pra navios pequenos. Mas a Yggdrasil vai passar em segurança por lá. Não interessa o tamanho da onda ou redemoinho, não tem problema. Além disso, tivemos ajuda com o Fei. Vamos a bordo, eu te deixo lá. Aliás, a gente podia até te ajudar a terminar seu trabalho!
_ Eu concordo – apoiou Elly – Você salvou Fei. É o mínimo que podemos fazer.
_ Obrigado, mas isso não envolve vocês – Billy agradeceu, novamente curvando a cabeça – Apenas eu já serei suficiente.
_ Mas aquele lugar não é perigoso? – Elly questionou – Se houver algo que possamos fazer para ajudar...
 _Eu não quero que se envolvam... – Billy começou a replicar, mas Stone interveio:
_ Billy, meu filho, não desperdice as boas intenções deles. Aquele submarino na praia é de vocês, não? Então, Billy, por que não cooperar com eles?
_ Mas, Bispo...!
_ É isso aí! – Bart ergueu o braço direito, apoiando o músculo – Não tem graça viajar sozinho! Vamos ajudar!
Billy ainda estava reticente, não querendo expor ‘civis’ ao perigo que era sua responsabilidade. Mas Elly sorriu para ele.
_ Billy, é melhor ir com amigos.
Rico estava de braços cruzados, e Bart e Elly sorrindo em apoio. Ele ainda tinha algumas dúvidas, mas se o Bispo dissera... De qualquer forma, podia aproveitar a ajuda.
_ Bem... Se insistem, eu agradeço. Muito obrigado. Aprecio de verdade sua oferta.
_ Eu também agradeço profundamente a vocês – Stone acenou – Billy, tome conta destas pessoas. Reporte-se ao quartel-general depois que voltar.
_ Sim, Bispo.
Stone partiu então, e ninguém percebera que Primera voltara para dentro do orfanato. E Billy agradeceu mais uma vez aos amigos.
_ Estou muito grato a vocês. Vejamos, então, o que o amanhã trará. Assim que fizer certos preparativos, me unirei a vocês.
Os três regressaram à Yggdrasil, e na ponte de comando, Bart teve notícias de que não podiam lançar a nave, porque Sigurd não estava na ponte.
_ Hmph! – fez Rico, parecendo rir – Por acaso, alguém lembrou de procurar no depósito de armas? O bar de vocês é perto dali, não?
Bart e Elly se entreolharam. Não era do feitio de Sigurd beber tanto, mas em companhia de dois velhos amigos de Jugend, por que não? Para lá eles desceram e ao chegar viram Citan e Sigurd numa mesa, parecendo sem jeito, enquanto Jessie tinha um copo na mão, olhando em volta com curiosidade.
_ Sei. Então, esse é o lugar pra onde você implorou pra voltar, hein?
_ Bem, sim... – respondeu Sigurd, tremendamente sem jeito, o que parecia muito estranho aos olhos de todos, principalmente Bart; o sábio Sigurd, sempre seguro de si, parecia devolvido aos tempos de novato, conversando com seu ex-senior. E Jessie pareceu mais sério, olhando para o copo pela metade diante de si.
_ Depois que você partiu, Billy chorou um bocado, sabe?
_ ... Eu sinto muito.
_ Quando você deixou Solaris – comentou Citan, bebendo com cautela – a mesma coisa aconteceu. Kahr ficou muito abalado na época.
_ Eu não pretendia traí-lo... – Sigurd replicou de cabeça baixa, parecendo perdido nas lembranças, e o semblante de Citan ficou mais sério, enquanto também se lembrava.
_ A misantropia dele ficou ainda pior depois daquilo. Mas, agora – ele pareceu animar-se, voltando o copo para Jessie – chega dos velhos tempos, velho amigo. Eu não esperava encontra-lo vadiando nesta terra... E vocês – voltou-se para o trio parado à porta – juntem-se a nós!
_ Na ponte, estavam dizendo... – começou Elly, mas Citan interrompeu:
_ Ninguém pode deter nosso velho amigo agora.
Jessie estava rindo, cantarolando alguma canção antiga, e Bart discretamente cochichou algumas palavras a Sigurd.
_ Ah, sim, é hora de partirem, não? – o imediato voltou-se para Jessie – Desculpe, velho amigo, mas eu tenho trabalho a fazer...
_ Ah, Deus! – Jessie pareceu subitamente desperto, olhando ao redor com ar espantado – Já é hora? Bom, então antes de ir, vamos fazer o de sempre... Sabem? Aquela de ‘pintar a cara no estômago e dancar’? Os três juntos!
A cor pareceu fugir do rosto de Citan e Sigurd, enquanto Jessie sorria em expectativa. E Rico, Elly e Bart ficaram olhando, evidentemente curiosos em ver os dois mais velhos se juntarem a Jessie.
_ Bem...!! – Citan desconversou – Er, na verdade, estamos com um pouco de pressa... Então, talvez seja melhor falarmos disso numa outra ocasião.
_ Hã? Ah, é? – Jessie parecia desapontado – Bom, então era melhor eu me mandar também, hein?
_ Antes, há uma coisa que eu quero perguntar a você... – Citan deteve o veterano quando saía – Então, vamos nos reunir de novo quando tivermos mais tempo...!
_ Tá – Jessie apontou a carabina para o alto – Espero tá vivo mais tarde pra ter a chance.
Enquanto Jessie saía, ouviram um som de algo caindo, e Elly gritou:
_ Aaaaaaaahhhhh! Sigurd está...
_ De novo?! – Citan gemeu, com a mão sobre os olhos – Sigurd fica bêbado tão fácil...! Bem, definitivamente não podemos partir hoje. Talvez amanhã...
O orfanato estava às escuras quando Jessie voltou. Estava contente como não acontecia fazia algum tempo. Fora muito bom rever Hyuga e Sigurd, afinal.
_ HIC...!! Tô de volta! Cadê o Billy?
_ Fale baixo! – Billy saiu da porta oposta, pedindo silêncio com as mãos – Que hora você acha que é? Fique quieto quando voltar, ou vai acordar as crianças!
_ Se tivesse vindo também – Jessie disse, um pouco mais baixo – ia ter ouvido uma pá de história boa! As histórias do Sigurd foram hilárias!
Billy não parecia, de modo algum, compartilhar a alegria do pai, preferindo ir até a Bíblia do ‘Ethos’ numa mesa ao lado, e perguntando sem olhar para ele:
_ Você sabe que o Siggy não bebe, e o fez beber? Mesmo sendo pai de um homem da fé...
Jessie finalmente perdera o tom de brincadeira. Billy era muito teimoso, algo que talvez tivesse puxado da mãe. E eles não costumavam debater aquilo em bons termos.
_ Ei, ei, por que não abre os olhos? Você precisa deixar de ser padre.
_ Eu não quero ouvir isso de alguém sem um único vestígio de fé – retrucou o rapaz, irritado – Fique fora da minha vida!
_ Ficar fora? – Jessie não parecia acreditar – Você tem alguma idéia de quanto problema tá indo na direção do seu traseirinho, garoto?
_ O que? – Billy deu-lhe as costas – Como poderia saber? Eu ainda nem sequer acredito que você seja meu pai.
Jessie pareceu ter levado um tapa no rosto, sentando-se à mesa sem dizer nada por um instante.
_ Você...!
_ Você não é a pessoa que minha mãe amou.
_ O que quer dizer... Acha que eu sou uma fraude?
_ Pergunte a si mesmo.
Jessie estava cansado de falar com as costas de Billy. Havia muita coisa que o menino não entendia. Talvez, demais para que ele explicasse. Voltando-se já na porta, ele replicou:
_ Você está certo. Acho que não há como provar isso... Jóia, mas você ainda não entende a verdade. O que aqueles sujeitos são na verdade, onde está indo...
_ Pai, o que está dizendo?
Jessie quase sorriu ao perceber que o menino, ao menos, se dignara a olhar para ele novamente e a chamá-lo de pai. Mas sabia que ele não ia gostar do que ia ouvir.
_ Estou dizendo que Racquel morreu em vão.
_ !! Você não tem nenhum direito de dizer o nome da mamãe!
_ ... Sei. – Jessie baixou os olhos, e a voz. Estava lúcido de novo, e sentia que não era a melhor hora para isso – É assim que é, então. Ótimo. De qualquer modo, largue seu emprego. Considere isso um conselho grátis de um homem que é só um estranho pra você. Té mais.
E saiu, deixando Billy sozinho no orfanato às escuras. 



THE OLD ECHO FADES AWAY

domingo, setembro 20

Capítulo Vinte e Quatro Ponto Um

(...)


_ Esse é o meu filho Billy – explicou Jessie, fazendo as apresentações. Não que o rapaz tivesse deixado Jessie desviar sua atenção.
_ Onde é que esteve até agora? As coisas estão bem sérias no Q.G.
_ O que quer dizer com ‘sérias’? – Jessie deu um olhar indiferente ao filho – O que há de errado com sair pra fazer compras com a minha filha?
_ Eu não sei os detalhes – Billy parecia desconfiado – mas você foi rotulado como ‘um elemento indesejado’. O que foi que fez desta vez? Briga? Aposta? Foi atrás da esposa de alguém de novo?
_ Hmph – fez Jessie, com um sinal de pouco caso – Isso são só rumores sobre mim. Só cascata, vê se não acredita nisso. Hmph, desde que entrou pro ‘Ethos’, você virou um chato...!
Billy não teve o que dizer, ou não teve tempo para tal, pois Jessie indicou Elly e continuou:
_ Essa moça impediu que Primera fosse seqüestrada. Por que não ajuda de uma vez, então?
_ Bem... – Elly adiantou-se – Podemos ter uma apresentação ao ‘Ethos’, então?
_ Ah, claro – Billy apressou-se em dizer, voltando o olhar para ela – Por favor, perdoe meus modos. Eu não sabia que você havia salvado minha irmã. Me deixe contatar o departamento médico na minha base. Tenho outras questões a resolver, considerando que não sou apenas um padre, mas também um Etone. Então, não posso fazer qualquer promessa.
_ Então, vai nos apresentar? – perguntou Elly, e Billy confirmou.
_ Sim. Paremos no quartel-general do ‘Ethos’ depois disto.
_ Hmm. Um padre e um Etone ao mesmo tempo... – interessou-se Margie – Isso não é incomum? O ‘Ethos’ é obviamente muito diferente da minha Seita de Nisan.
_ Sua Seita de Nisan? – Billy voltou-se para ela, visivelmente interessado – Você é de Nisan?
_ Sim, sou Marguerite – ela adiantou-se, fazendo uma profunda saudação diante de Billy – Prazer em conhecê-lo, Padre.
_ O prazer é meu – Billy retribuiu, sorrindo para Margie – Eu nunca tive uma chance adequada de falar com outros sobre suas religiões. Podemos conversar mais tarde?
_ Claro, seria um prazer – ela concordou sorrindo – Mas não posso demorar muito. Estou um pouco atarefada agora.
_ Muito obrigado – Billy agradeceu, curvando a cabeça. E então pareceu reconhecer algo familiar – Hmm... Marguerite? Onde foi que já ouvi esse nome?
_ Tá bom, esquece isso, relaxa – cortou Bart, entrando sem qualquer cerimônia entre sua prima e o Etone, parecendo muito incomodado com a atenção que Margie estava tendo – Eu vim aqui pra falar com o ‘Ethos’. Vamos andando.
_ Que pessoa sem modos – Billy olhou com desaprovação para Bart – Deveria aprender a falar um pouco mais apropriadamente.
_ O quê, ô? – Bart olhou feio para Billy, que o ignorou e voltou-se para o grupo.
_ Bem, todos, avisarei ao Q.G. do ‘Ethos’ que estão indo. Venham assim que puderem.
_ Já sei, já sei – interrompeu Bart exasperado – Vamos indo.
_ Ei Billy – Jessie chamou o filho – Eu tenho uns assuntos pra cuidar. Se vai pro quartel general, dá pra levar Primera de volta pra casa dos pirralhos pra mim?
_ ... Tudo bem – ele parecia desaprovar Jessie a cada gesto – Vamos, Prim.
Billy afastou-se e Primera, depois de despedir-se apressadamente e em silêncio, o seguiu. E Jessie também se voltou para Citan para se despedir.
_ Bem, preciso ir andando. Té mais, Hyuga. Eu sei que vou te ver de novo por aí.
_ Er... Bem, quem sabe?
_ Ah, tá. Que seja – e fez uma reverência a Elly e Margie – Vejo você mais tarde, moças.
E deu uma piscadela para ambas, antes de partir. Citan balançou a cabeça negativamente, comentando em voz alta:
_ Ele não muda, nunca... Bem – voltou-se para os outros – Sigurd disse que vai terminar em breve com a Yggdrasil.
_ Opa, sério? – Bart animou-se – Beleza, dessa vez podemos mesmo deixar o porto!
_ Vamos voltar... para Aveh? – Elly perguntou, indecisa, mas Bart voltou-se para ela com surpresa evidente em seu único olho .
_ Tá brincando? Temos que cuidar do Fei primeiro! Aquele boca mole disse que ia nos apresentar ao ‘Ethos’. Então, acho que vamos ter que ir ao Q.G. deles antes.
Elly sorriu. Bart podia ter muitos defeitos, mas ninguém podia dizer que ele não tinha consideração pelos amigos. Fosse como fosse, ele só resolveria seus próprios assuntos depois que todos estivessem bem.
_ ... Obrigada.
_ Ah... – voltou-se, fazendo uma voz aborrecida – Por que você precisa me agradecer?
_ Heh – Margie conteve o riso – Ele tem razão, Elly.
_ ... É... Acho que tem razão.
O Q.G. do ‘Ethos’ ficava ao norte da posição atual da Thames, e sendo assim, Sigurd lançou a Yggdrasil II naquela direção. Estando Fei inconsciente, Citan achou por bem ficar para trás para o caso de um eventual problema com as máquinas ou alguma alteração brusca em sua condição, enquanto Elly, Bart e Rico seguiriam para o ‘Ethos’. Agora num modelo submarino, a nave de Bart não tinha como aportar nas escarpas rochosas por volta das ilhas, mas as praias baixas eram uma opção melhor, e foi numa delas que Sigurd parou.
O prédio do ‘Ethos’ era semelhante a uma grande catedral, em escala ainda maior do que aquela em Nisan, cercado por muralhas altas e imponentes de cor dourada, como o prédio. O trio foi saudado na entrada por Billy, que os cumprimentou com um aceno de cabeça.
_ Estivemos aguardando por vocês. Recebi permissão para tratar Fei desde que seja na enfermaria do salão de prática. Deixemos que os membros do ‘Ethos’ cuidem do resto.
_ Sim – Elly concordou – Por favor, tomem conta de Fei por mim.
Os procedimentos de transferência tiveram lugar. Com o auxílio e os veículos do ‘Ethos’, Fei foi transferido juntamente com o equipamento médico da enfermaria da Yggdrasil para a ala médica, e Billy acompanhou o grupo de Elly.
_ Os irmãos do ‘Ethos’ estão cuidando de Fei na enfermaria. Por favor, me acompanhem. Eu os levarei até ele. Por aqui, sigam-me.
O grupo seguiu o padre rumo às dependências interiores do Q.G. do ‘Ethos’, e no caminho depararam com outro religioso, que veio até Billy e comentou:
_ Billy, ouvi dizer que seu pai esteve razoavelmente ativo outra vez.
_ Verlaine... – Billy parecia embaraçado ao ter que ouvir recriminações em nome de seu pai novamente, especialmente diante de pessoas estranhas. E Verlaine não se deteve:
_ É dito que houve um ataque a uma área de escavação que feriu muitos dos meus ‘irmãos’ e trabalhadores. Bem – ele pareceu mudar de atitude – você é mais do que um ótimo Etone; destruindo os Ceifadores e provendo a justiça do ‘Ethos’ ao mundo. Mas o seu pai...
_ Somos pai e filho apenas no sangue! – Billy retrucou, perdendo a tranquilidade – Não tenho nada a ver com aquele homem.
_ Não me entenda mal – Verlaine apressou-se a retificar – Não suspeito de você, nosso bom ‘irmão’. Só quis informar sobre seu pai.
E deu as costas, desaparecendo por uma das portas, enquanto Billy cobria os olhos, parecendo tentar reunir sua paciência perdida e comentando consigo mesmo:
_ ... Esse meu pai... Gostaria que ele pensasse na minha posição antes de agir – voltou-se então, parecendo lembrar dos acompanhantes, e deu um sorriso fraco – Por favor, perdoem a interrupção. Me acompanhem.
O trio seguiu Billy rumo ao subsolo, e mais além. A abadia tinha algo de moderno e arcaico ao mesmo tempo, os tijolos e luminárias dando uma impressão de solene antiguidade enquanto que as portas dos corredores, abrindo-se com sensores de proximidade, faziam pensar em tecnologia avançada. Por fim, chegaram ao compartimento onde Fei estava sendo tratado por um enfermeiro, e Billy perguntou:
_ Como ele está?
_ O paciente ainda não recobrou a consciência – respondeu o enfermeiro – mas não vemos qualquer anormalidade com seu cérebro. A baixa temperatura da água reduziu seu metabolismo e o salvou. Um passo em falso e ele poderia ter sofrido morte cerebral.
_ Hmm – fez Rico, imaginando que neste caso, a condição de Fei prenunciava melhoras em breve – Então...
_ Sim, não se preocupem – confirmou o enfermeiro – No entanto, precisamos conduzir mais testes por algum tempo. Depois disso, ele pode ser tratado em suas instalações médicas.
_ ... Há alguma previsão para quando Fei vai recuperar a consciência? – quis saber Elly.
_ A razão para que não tenha recuperado a consciência é exaustão física. Ele exauriu a si mesmo. Provavelmente vai custar-lhe mais alguns dias, mas não se preocupe, ele vai acordar.
_ Entendo – ela aproximou-se da cabeceira da cama, olhando com tristeza para o inconsciente Fei – Sinto muito, Fei. Eu fiz a sala de máquinas perder o controle...
_ Ei Elly, isso não é verdade – Bart interrompeu, meneando a cabeça – Você não pôde evitar ser hipnotizada. Não precisa se sentir culpada. Mais importante, foi você quem salvou Fei. Você o protegeu do Ramsus. Não é?
Isso podia ser verdade, mas não a deixava muito satisfeita. Mais efetivo foi isso ter sido dito por Bart, e Elly sorriu.
_ Obrigada...
_ Pode demorar mais algum tempo terminar o tratamento dele – lembrou Rico aos dois – Vamos matar tempo em algum lugar.
_ Eu... – Elly pareceu encabulada – Queria ficar mais um pouco. Tudo bem?
_ É, faça isso – Bart sorriu – Tenho certeza de que o Fei vai ficar feliz. Bom, chame quando terminar. Deixo o resto com você.
Bart e Rico aproveitaram para conhecer um pouco melhor as instalações do ‘Ethos’. Naturalmente, pisos inferiores ao da enfermaria estavam bloqueados ao público, mas puderam seguir para os pisos superiores, e por toda a parte encontravam o símbolo da ordem religiosa científica, uma cruz com algo semelhante a chifres curvos de bode na extremidade superior. Em toda a parte que visitaram, pessoas falavam do trabalho dos Etone em eliminar os ‘Wels’ – Ceifadores – de Aquvy, e como o ‘Ethos’ provia os necessitados com abrigo e paz aos seus espíritos, principalmente numa época conturbada como aquela, onde Aveh e Kislev lutavam no continente e os Ceifadores atacavam em Aquvy. Ainda estavam na nave principal quando Elly veio até eles, e Bart perguntou:
_ E então, Elly, Fei já teve o tratamento médico?
_ Sim... Parece que ele vai ficar bem. Venham, vamos até a enfermaria.
O trio novamente desceu até a ala médica, e foram alegremente recebidos pelo enfermeiro.
_ Alô, todos. O tratamento dele terminou.
_ A propósito – perguntou Bart – Fei recuperou a consciência?
_ Infelizmente, o paciente não recobrou a consciência ainda. Mas não há necessidade de se preocupar – ele acrescentou apressadamente – Quando ele se recuperar fisicamente, também vai recobrar a consciência. Podem leva-lo ao seu navio agora.
_ Deve ter feito um bocado de esforço – observou Rico.
_ Por favor, não se incomodem. Fiz meu trabalho como um homem do clero.
_ Muito agradecida – Elly curvou levemente a cabeça, e então olhou em volta – Um... Onde está Billy? Eu gostaria de agradecer a ele, também...
_ Ah, sim, o Irmão Billy. Ele voltou ao orfanato. Estava preocupado com as crianças deixadas sozinhas.
_ É, o Billy realmente nos ajudou um bocado – admitiu Bart – É melhor agradecermos a ele por essa.
_ Vamos primeiro levar o Fei pra Yggdrasil. E podemos ir de lá.
Sigurd e Citan comandaram os procedimentos de transferência, e com o auxílio do departamento médico do ‘Ethos’, logo estavam todos a bordo e prontos a seguir rumo sudeste, onde estava localizado o orfanato de Billy. Depois de cobrirem uma distância considerável, passaram por uma ilha onde uma estrutura enorme e de aparência antiga erguia-se, e foi Sigurd quem informou:
_ É chamada ‘Torre de Babel’. De acordo com as lendas, foi construída por gente da antiguidade que tentou alcançar Deus nos céus. Irritado com tamanha ousadia, Deus destruiu a torre com um raio. A estrutura é muito antiga, isso é fato, e os tripulantes da Thames sempre falavam nela com receio. Ao que parece, há muitas superstições em Aquvy ligadas a essa torre.
_ ‘Torre de Babel’, é? – Bart olhou para o alto, percebendo que não conseguia encontrar o topo da estrutura, por mais que procurasse – Legal. Talvez algum dia possamos fazer uma visita, quando o Fei acordar. 


A MILLION SHADES OF LIGHT