domingo, agosto 23

Capítulo Vinte e Três

Capítulo 23: Traição


No convés da Yggdrasil, Citan sentiu um enorme alívio ao ver Weltall emergir e vir a bordo, seguido de perto de Brigandier. Mas o terceiro Gear que esperava não surgia, e ele perguntou:
_ Fei, onde está Elly?
_ O inimigo... a levou.
_ Heh, eu duvido muito... – Bart murmurou, o Brigandier voltado para a proa, e Weltall voltou-se para ele.
_ Bart, o que quis dizer com isso?!
_ Já chega, Fei! – interrompeu Citan severamente – Não é hora para infantilidades. Por enquanto, temos que encontrar um local onde possamos completar os reparos da Yggdrasil.
_ ... Não se preocupem... – Fei ainda parecia abatido, e Weltall estava voltado para o mar novamente – O navio que nos salvou está por perto. É chamado de Thames, e tem quase o tamanho de uma pequena cidade. O Capitão deles pode nos ajudar.
_ Aquilo é... a Thames? – Rico perguntou assombrado, enquanto um vulto ainda maior que a Yggdrasil se aproximava. E a embarcação de Bart adentrou a doca do navio cidade, enquanto Fei, Citan e o próprio Bart desembarcaram minutos depois, e o pirata tocou o ombro de Fei.
_ Desculpe pelo que eu falei agora a pouco...
_ Está tudo bem – replicou Fei – Também foi culpa minha. Eu já não via você fazia um bom tempo. Não devíamos ficar brigando.
_ Sigh... – suspirou Bart, abanando a cabeça ainda em desculpas – A Yggdrasil II foi construída tão depressa que não tivemos tempo pra preparar as cargas de profundidade. Também foi culpa minha que não tivéssemos cargas de profundidade, porque eu dei prioridade pros Mísseis Bart ao invés...
_ Mísseis Bart?
_ Oh, uh... – Bart lembrou-se de ter atirado no Golias, e resolveu evitar o assunto – Ah, bem, eles não são tão grande coisa, mesmo...
Fei olhou para ele sem entender. Citan procurou não se manifestar, pois era óbvio demais que Bart não estava dizendo tudo. Mas Fei meramente deu de ombros, e comentou com satisfação:
_ Seja como for, estou feliz que esteja bem. Eu sempre soube que você estava vivo.
_ É lógico! – e cruzou os braços, empinando a cabeça – Eu sou Bart, o Imortal. O que tá tentando dizer...? Se bem que... – e sua postura mudou, parecendo um pouco acanhado – dessa vez eu tomei uma surra de um Gear monstro vermelho.
_ Um Gear vermelho...? – Fei sentiu um calafrio.
_ É – Bart prosseguiu, sem perceber o mal estar do outro – Ele me derrotou e então nos deixou pra afundar na areia. Mas aí vem o que parece loucura; afundamos direto pra essa caverna enorme embaixo da areia! E então tinha um cruzador de areia igualzinho à Yggdrasil lá embaixo! Nós substituímos as peças utilizáveis e a ponte e o remodelamos.
_ Francamente, eu mesmo não acredito – comentou Citan – Parece-se com o mesmo, mas pode navegar. Muito provavelmente é o protótipo da Yggdrasil.
_ Pessoas viveram há muito tempo atrás por lá, e tinham muitas armas – confirmou Bart – Foi assim que as conseguimos.
_ Bart já as mostrou para mim. Aquelas armas são, muito provavelmente... de Shevat.
_ Shevat – Fei voltou-se surpreso para Citan – Está querendo dizer aquela terra...
_ Mais importante – interrompeu Bart – Deveríamos dizer um ‘oi’ ao Capitão.
Os dois concordaram, e logo o grupo de amigos estava a caminho da ponte através do Elevador Espiral. E Bart tinha um ar levemente pesaroso.
_ Eu... não queria que ela se envolvesse.
_ Está falando da Margie? – perguntou Fei – Desculpe, eu sei que prometi... que se algo acontecesse, eu protegeria Margie e o povo de Nisan.
_ Está preocupado com isso? – surpreendeu-se Bart – Tá tudo bem, você também teve seus problemas. Eu dei conta. É o meu trabalho. Quando a Yggdrasil estiver consertada, eu vou pra lá direto...
O elevador continuava a subir. Da doca submarina da Yggdrasil até a ponte de comando era a maior das distâncias que ele percorria, e Bart continuou:
_ É claro que eu sei que Nisan está em perigo. Mas já que tá a maior confusão por lá, achei que seria uma boa hora pra invadir discretamente. Eu não planejava trazer ela comigo. Até onde eu sabia, ela estava segura lá.
_ Mas eu certamente duvido que Shakhan fosse ficar parado, sem fazer nada – opinou Citan, e Bart confirmou com a cabeça.
_ É o que o pessoal da seita dela disse, também. Mas ainda é arriscado, então eles disseram que queriam que eu ficasse por perto dela pra protegê-la.
_ Mesmo? – Fei admirou-se, sabendo bem como o amigo devia se sentir com a situação – E está tudo bem pra você?
_ ... É – Bart respondeu, depois de pensar por um instante.
Por fim chegaram à ponte de comando, onde foram calorosamente recebidos por outro dos impagáveis sorrisos do Capitão.
_ Vejo que você trouxe junto um outro rapaz perdido!
_ Eu sou Bart – o jovem pirata se adiantou, e cumprimentou o Capitão com solenidade – Obrigado por deixar a minha nave aportar aqui.
_ Gahahahahahahahahahahahahahahaha – o Capitão gargalhou – Isso é ótimo! Veio pedir pela nave?
_ Meu submarino, Yggdrasil, foi danificado por um ataque inimigo... Vai ficar fora de operação por algum tempo...
A porta do elevador abriu-se então, e Marguerite de Nisan saiu por ela, reprovando Bart.
_ Bart! Você é terrível! Você saiu sem mim!
_ Ah, Margie – ele voltou-se para a prima com ar de reprovação – Logo quando eu estou começando a falar igual a um capitão!
_ Eu escapo de Nisan e então fico presa na Yggdrasil – ela retrucou aborrecida – Já estou cheia disso!
E então reparou na figura em vermelho atrás de Bart, que parecia estar se divertindo muito com a discussão dos dois primos.
_ Capitão? Oi, eu sou Marguerite.
_ Awww, cara! – fez Bart, olhando firme para Margie – Escuta, nós estamos tendo uma conversa de homem pra homem aqui. Então Margie, que tal se você voltasse pra a Yggdrasil?
_ Você é terrível! – ela bateu os pés com impaciência – Tá começando a falar igual ao Sig!
_ O quê! Eu, igual ao Sig?
_ Você é sempre tão impulsivo, Bart! Fei e os outros estavam flutuando por aí porque você atirou naquela nave por impulso!
_ Whoa, sua idiota! – ele ficou alarmado, olhando para o rosto de Fei e de volta para Margie, enquanto Citan novamente agia como se não estivesse ali – Você não devia...!
_ Bart? – Fei perguntou, sabendo que aquilo era bem possível, mas preferindo não acreditar – Você não... Não... Não pode ter sido...
_ É verdade, Fei – confirmou Citan solenemente.
_ Não deu pra evitar – Bart pôs a mão esquerda na cabeça, parecendo sem jeito – Como é que eu ia saber que vocês estavam...
_ Eu estou tão irritado – Fei deu-lhe as costas, a mão sobre os olhos – que não consigo dizer nada.
_ Não fica tão bravo, vai – pediu Bart, mas acabou sacudindo a cabeça numa negativa desolada, pensando em voz alta – Tch. Eu não devia ter te trazido de Nisan...
_ Eu ouvi isso, seu idiota! – bronqueou Margie, e o Capitão tornou a gargalhar.
_ Gahahahahahaha. Ótimo, ótimo! É maravilhoso ser jovem! Ei garoto – ele voltou-se para Bart – Pelo que eu entendi, você é um tipo de pirata?
_ Ah... Isso – Bart estufou o peito, torcendo os músculos – Um homem do mar! Eu era um homem do deserto, mas...
_ Ótimo!! – o sorriso do Capitão se alargou sob sua barba – Melhor ainda. Sim, homem do mar! Bart, não é? Eu vou te mostrar nossa famosa cervejaria!
E conduziu Bart pela porta paralela que ligava a ponte à cervejaria da Thames, voltando-se para Margie por um momento.
_ Milady, pode me emprestar este camarada?
E saiu pela porta levando Bart, sob os olhares dúbios de Fei, Citan e Margie, que comentou:
_ Que cara esquisito – voltou-se para Fei, reparando no rosto dele – Fei, ainda está bravo com Bart?
_ Não, não é isso...
_ É por causa da Elly, então...?
_ ...É – ele baixou o rosto. Não achava que estivesse tão evidente, mas não podia evitar. Não conseguira alcançar Elly, e o inimigo a levara. Perguntava-se o que podia estar acontecendo a ela.
_ Vai ficar tudo bem – Margie procurou reconforta-lo – Se está tão preocupado, por que não vai resgata-la? Igual a – voltou-se para a porta da cervejaria – ao que Bart fez por mim.
Não havia resposta para que Fei dissesse. Sem idéia de onde Elly poderia estar, ou como encontra-la, Só podia ficar preocupado, e esperar pelo melhor.
Em outro lugar, uma nave capitânia da Gebler cruzava os ares. Era ali que o Haishao aportara, e Elly fora feita prisioneira por Dominia, que deu um tapa em seu rosto, atirando-a ao chão.
_ Chega de resmungar tolices!
_ Eu não disse nada de mais! – Elly retrucou, a mão sobre o ponto dolorido, e Dominia sacou sua espada e apontou-a para Elly.
_ Eu não tenho intenção de discutir isso por mais tempo com você! Seus atos de traição já são aparentes! Vou acabar com você aqui e agora!
_ Pare com isso imediatamente.
A voz fria viera por uma porta subitamente aberta, e tanto Elly quanto Dominia ficaram surpresas ao ver a imediato de Ramsus, Miang. Sem a menor cerimônia ou sem fazer conta de Dominia, Miang abaixou-se até Elly e perguntou, com preocupação.
_ Você está bem?
_ Miang! O que está fazendo?! – Dominia exasperou-se ao ver a imediato ajudando Elly ficar de pé – Ela é uma traidora!
_ Tais atos não serão permitidos numa nave sob o comando de Ramsus, não importa a razão! – Miang voltou-se friamente para Dominia – Examinei os registros da batalha entre Haishao e Vierge... Pelo que posso entender, foi você quem atacou primeiro, não foi? Ela não teve escolha a não ser se defender depois que você lançou-se ao ataque sem permissão. Acima de tudo, você deveria estar sob o comando de Kelvena. Estava obedecendo às ordens de Kelvena?
Dominia não respondeu, crispando os punhos e olhando furiosa para Miang. Nunca tivera muita afeição pela imediato do comandante, e aquele certamente não seria o dia para que mudasse de opinião. E Miang prosseguiu, inabalada.
_ Você não deve acusar qualquer soldado por traição sem a devida autoridade. Mesmo que ambas sejam Elementos. E mais... Sua atitude quanto à tenente, nada mais é do que seu próprio preconceito pessoal, ou estou enganada?
_ O quê?! – Dominia adiantou-se um passo, agora parecendo impor-se sobre Miang – Eu nunca faria...
_ Até aqui – Miang prosseguiu tranqüilamente – ainda não podemos determinar se ela é ou não culpada de traição. Para investigar a verdade desta questão posteriormente, estou colocando a tenente sob minha supervisão. Ficou claro?
_ Como ousa! – agora o rosto furioso de Dominia estava a poucos centímetros do de Miang – Com que autoridade?!
Miang não respondeu, mas seu olhar frio repentinamente mudou e Dominia sentiu um estranho calafrio e um medo poderoso enquanto os olhos da imediato cintilaram de repente, seu azul índigo parecendo crescer o suficiente para tomar a sala inteira. Tomada por um terror irracional que não parecia vir de lugar algum, Dominia recuou quase sem se dar conta de que o fazia. Foi rápido, muito rápido, mas quando ela deu por si mesma, Miang já estava na porta do alojamento e dizendo com naturalidade para Elly.
_ Vamos.
E saiu, indiferente ao olhar abismado de Dominia. Elly ainda olhou para a outra por um instante, apressando-se então a seguir Miang. Apenas quando a porta se fechara novamente e ela ficara sozinha, Dominia sacudiu a cabeça, parecendo ter despertado de um pesadelo.
_ ... O... O que foi aquilo? Aqueles olhos...

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