(...)
Ainda não houve descanso para
Elly. Embora tivesse sido inesperadamente liberada de prestar contas à violenta
Dominia, Miang queria algumas explicações das atividades mais recentes dela, e
custou-lhe uma habilidade considerável lidar com a imediato de Ramsus sem
deixar evidente com quem ela estivera.
_ Entendo – Miang replicou ao fim
do relato, a voz inexpressiva de sempre tornando impossível para Elly saber se
tinha conseguido convence-la ou não – Então, era isso o que estava havendo...
Elly nada disse, mantendo seus
olhos baixos. Havia algo que a tranqüilizava em Miang, mas ela sabia que
precisava manter-se alerta. A moça de cabelos azul índigo não tinha chegado ao
seu atual posto por nada, e à sua maneira, ela poderia ser pior do que Dominia.
E ela surpreendeu-se quando Miang retomou, num tom de voz quase despreocupado:
_ Já que tenho outras questões a
resolver, se importaria de permanecer aqui por mais algum tempo?
_ Nem um pouco – não havia motivo
para querer se encontrar com Dominia, Ramsus ou quem quer que fosse tão
depressa, afinal. Miang parecia ter lido seus pensamentos, porque lhe deu um
sorriso reconfortante.
_ Não tem que se preocupar com
coisa alguma. Deixe o resto comigo. O que você precisa agora é se recuperar de
seu cansaço.
Ela se inclinara gentilmente na
direção de Elly enquanto dizia isso, e Elly olhou para seus olhos. Eram azuis
como os dela própria, mas muito mais profundos. Na verdade... Eles até
pareciam... luminosos, naquela sala...!
_ Cristalinos, azuis... – a voz de Miang pareceu despertar Elly de
repente – Como a superfície de um lago...
_ Ah... Perdão? – Elly sentia que
havia perdido alguma coisa, mas não lembrava o quê. Parecia ter acabado de
despertar de repente, como se tivesse cochilado.
_ Seus olhos – Miang comentou,
voltando-se para ela com um sorriso – Eles são bonitos.
_ O quê?
Miang nada disse, retirando-se da
sala e indo reportar-se diretamente a Ramsus, na ponte de comando.
_ Aqui está o relatório de contato
entre Haishao e o Gear inimigo.
Ramsus não precisou ler muito
adiante para o Gear negro relatado dos bancos de dados do Haishao.
_ Este é o...
_ Estou certa de que sim –
confirmou Miang – Está atualmente na Thames. Se não, em algum ponto próximo do
oceano.
_ Alterar curso! – bradou Ramsus –
Coordenadas da Thames...
_ Espere – interrompeu Miang – A
nave mãe deles, Yggdrasil, parece ser capaz de submergir. Se o fizerem, eles
terão a vantagem sobre Haishao. Qualquer ataque que pudéssemos lançar seria
desperdiçado, já que eles poderiam simplesmente mergulhar. Mas se eliminarmos
essa função primeiro, não será tarde demais. Já fiz os devidos ‘preparativos’.
_ Preparativos?
_ Sim, senhor.
Ramsus ponderou do que ela poderia
estar falando. Miang podia ser muito misteriosa às vezes quanto às medidas que
tomava. Mas, enfim, ela era extremamente eficiente. Merecia um voto de
confiança.
_ Muito bem. Tentaremos da sua
maneira.
_ Obrigada, Comandante.
_ A propósito – ele voltou-se, com
ar curioso – o que aconteceu entre você e Dominia? Ela estava pálida.
_ Sinto muito – ela deu de ombros,
com um sorriso conformado – Tinha a ver com o incidente anterior da Yggdrasil.
Aquelas garotas dão duro, especialmente por você... É meu trabalho ser odiada.
Ramsus olhou com curiosidade para
Miang. Claro que ele sabia da dedicação das membros dos Elementos, e sem dúvida
devia haver nelas algo de inveja da imediato por passar mais tempo com ele e
mostrar melhor sua capacidade, e normalmente, esse tipo de tolice feminina não
atrairia sua atenção por mais tempo. Mas algo na mente aguçada de Kahran Ramsus
parecia alertar de que havia mais envolvido do que sua imediato revelava. E,
durante a noite, um Gear branco e rosado partiu da nau capitânia, aparentemente
sem ser notado.
Na Yggdrasil, enquanto isso, os
reparos tinham lugar. E Sigurd perguntou:
_ Fei, o jovem mestre ainda não
retornou. O que ele está aprontando? Seria pedir demais a você que, por favor,
fosse chamá-lo por mim?
_ Sem problemas. Ele provavelmente
ainda está bebendo e comendo com o Capitão da Thames.
Fei partiu da cabine de comando da
Yggdrasil e partiu diretamente para a Cervejaria da Thames, e lá estava,
conforme ele previra. Bart, contando alguma história ao Capitão.
_ Eles vieram, um após o outro...
Pau, Tum, Crash...! E foi assim que aconteceu.
_ Ei Bart, Sigurd estava
perguntando de você...
_ Gahahahahahahahaha – nem o
Capitão nem Bart pareciam ter ouvido a interrupção de Fei, tão distraídos
estavam com a história – É claro, se você não for forte, não pode ser um homem
do mar!
_ É! – Bart ergueu o braço direito, exibindo
os músculos – Dá uma olhada nesse braço...
O Capitão e Bart se voltaram ao
mesmo tempo, ele com a bengala apontando para adiante e Bart com o braço
erguido e os músculos à mostra, dizendo ao mesmo tempo:
_ Prova!
Voltaram-se para a esquerda.
_ Dos homens!
Voltaram-se novamente para a
esquerda.
_ Do mar!!
Não havia coisa alguma que Fei
pudesse dizer ou pensar quanto àquilo enquanto os dois homens do mar caíram na
gargalhada.
_ Gahahahahahahahahahaha!
_ Wahahahahahahahahahaha!
Ambos ainda riam quando outro
marujo se aproximou, dirigindo-se ao Capitão.
_ Capitão, seu primeiro imediato o
está chamando.
_ Oi – fez o Capitão, aborrecido –
Ele está interrompendo a nossa história de homens do mar! Esse Hans, que
camarada sem graça! O que ele quer agora?
_ Nossa Dama parece ter retornado
– respondeu o marujo.
_ Nossa Dama – ponderou Fei –Ah,
você está falando da Elly!
_ Idiota! E por que não me disse
antes?
_ Bem... – o marujo ficou sem
saber se adiantaria alguma coisa argumentar, e todos voltaram para a ponte de
comando, e Fei procurou por ela assim que chegaram lá.
_ E então, onde está Elly?
_ Está cuidando do Gear –
respondeu Hans – Ela deve chegar a qualquer momento.
_ Tá querendo dizer – perguntou
Bart lentamente – que ela conseguiu escapar?
_ Bem, isso é bom para vocês – o
Capitão deu de ombros – Não, Fei?
_ Ah, claro.
Mal dissera isso e Elly entrou
pelo Elevador Espiral. Parecia estar ilesa, até onde era possível ver.
_ Elly, você está bem?
_ ... Sim – Bart nada dizia,
embora estivesse olhando atentamente para o rosto da moça. Não parecendo se dar
conta, ela perguntou apenas – O que houve com aquele submarino?
_ Ah, está falando da Yggdrasil? –
Fei perguntou – Levou uma surra meio pesada, então agora está aqui, na Thames,
pra reparos.
_ Sei... – a expressão dela não se
alterou – Posso ir descansar um pouco? ... Estou exausta.
_ Boa idéia.
_ Fei, é o meu navio – Bart
pareceu incomodado pela solicitude do outro, mas o Capitão interveio.
_ Oeoe, ela disse que está
cansada. Deixe-a descansar.
_ Bem, eu já vou.
Sem mais, Elly saiu novamente pelo
Elevador Espiral, e Bart cruzou os braços com ar preocupado.
_ ... Eu não gosto disso.
_ Bart – Fei olhou incomodado para
o pirata – você ainda está...
_ Não é isso não. Ela não vai nos
apunhalar pelas costas – Bart negou com ar solene – Fui criado entre canalhas e
charlatões. Posso dizer isso só de olhar nos olhos dela.
_ Então, você aceita a Elly...
_ É exatamente por isso que eu não
posso aceitar – retrucou Bart – Pra ela, isso pode estar bem, mas e a família
que ela tem em seu lar? Você acha que ela pode viver com isso? Será que ela
pode fazer isso, simplesmente se livrar da própria família? Ela tem que
decidir. Ela... Elly provavelmente tá preocupada com isso. Não podemos envolver
gente que tenha ligações.
_ Bart... – Fei ficou muito
admirado. Já sabia que o amigo tinha mais consideração do que transparecia à
primeira vista, mas dada a primeira impressão dele quanto a Elly, aquilo era
uma surpresa agradável. E Bart deu-lhe as costas, cruzando os braços e
emburrando.
_ Hmph, bem, faça o que quiser.
Lá embaixo, os motores da
Yggdrasil finalmente tinham sido postos em ordem pelo competente mestre
engenheiro de bordo, sempre trabalhando em sua especialidade e auxiliado em sua
vigilância pela fiel cadela Martle. Ele estava um pouco saudoso, ainda, da
antiga Yggdrasil, mas não podia deixar de gostar do seu trabalho na nova versão
da nave de guerra do jovem mestre Bart. Apesar de longo, o trabalho para
colocar os motores em condições para o modo submarino havia sido gratificante,
e com os recursos da Thames...
Martle latiu então, sobressaltando
o dono, que procurou pela fonte da perturbação.
_ O que é que háááá? Martle, hein?
Havia uma garota ali embaixo. Uma
visão estranha no local, mas não desconhecida. Era a amiga do amigo do jovem
mestre, a ex-oficial de Solaris.
_ Ei moça, ouvi dizer que você
tinha sido capturada. Você está bem?
Martle tornou a latir, agitada, e
o velho engenheiro admirou-se. A cadela geralmente não reagia daquela forma nem
mesmo com os seus auxiliares trapalhões! Martle sempre gostava de todo mundo.
_ Calma, Martle! É só a garota
solariana. Não precisa latir!
_ É um animal – Elly disse
simplesmente, a voz soando estranhamente inexpressiva – Então, não há como
evitar. A propósito, o primeiro imediato quer ver você.
_ Hã...? Ah, entendo. Desculpe.
Martle tornou a latir com
urgência, e o velho engenheiro resolveu leva-la consigo, enquanto subia até a
ponte de comando. E Elly aguardou até que ele não estivesse mais à vista. Não
havia mais ninguém ali naquele momento; o mestre engenheiro era competente, mas
um pouco zeloso demais com suas máquinas, e quando a nave não estava em
cruzeiro, os auxiliares preferiam deixa-lo sozinho em seu reino. E com a mesma face
sem expressão, Elly foi até o painel principal.
Uma a uma, as seis enormes
válvulas principais dos motores da Yggdrasil elevaram-se, cintilando com
eletricidade e emanando calor excedente, e Elly estava parada diante do painel
quando Fei e Bart ali entraram.
_ Elly? O que está fazendo?
Lentamente, Elly voltou-se na
direção daquela voz. Parecia a ela ter acabado de despertar, e estava um tanto
atordoada. Onde estava? Lembrava-se da nau capitânea de Ramsus, e...
_ ... Fei?
Uma dor aguda pareceu queimar em
sua mente e ela tombou para frente, enquanto todo o conjunto dos motores
começava a soltar faíscas e aquecer-se perigosamente, todo o complexo da sala
das máquinas estremecendo violentamente. E Fei correu até a moça caída,
enquanto Bart o seguia a passos lentos, olhando ao redor.
_ Elly!
_ Eu sabia o tempo todo... – a voz
do pirata era baixa, quase de si para si mesmo – A garota armou pra nós!
Nenhum comentário:
Postar um comentário