Capítulo 21: Deja Vu
O vôo prosseguiu com
tranqüilidade, apesar dos esforços de Hammer em se desculpar com Rico pela
brincadeira. Elly estava silenciosa, tentando imaginar o motivo para Grahf ter
hesitado e nem sequer tentado ataca-la e Fei, sentindo-se inquieto, foi
conversar com Citan na poltrona do piloto:
_ Doc... Não sei como dizer isso,
mas... Estou com um mau pressentimento.
_ Está pensando naquele homem de
preto? – Citan indagou – Pensar nele não vai leva-lo a lugar algum, Fei. Em
primeiro lugar, isso não é uma atitude típica de você...
_ Não é isso. Não é nada disso, é
como... Como uma sensação incômoda de que eu já passei por isso antes.
_ Você também?!
Citan agora ficara surpreso, pois
também estava pensativo então, mesmo enquanto pilotava. Algo de muito familiar
parecia estar se repetindo, embora ele ainda não soubesse o quê.
_ Para dizer a verdade, Fei, estou
tendo uma sensação terrível de deja vu...
_ E eu sinto como se estivéssemos
sendo observados...
A uma certa distância dali, um
periscópio de longa distância procurava com visão infravermelha pelos céus, e
não tardou para que os sensores eletrônicos encontrassem seu alvo.
_ Bingo! Nossa informação estava
correta. É a tal...
A voz deteve-se. Era realmente
surpreendente em seu tamanho. Ele esperara por algo grande, mas não tão grande!
_ É enorme... Parece ser um...
Ele resolveu confirmar, ajustando
a distância para maior precisão. O periscópio ampliou a imagem e ele pôde ver
bem as asas enormes, os vários rotores de ascensão e o rotor de propulsão
enorme, e então exultou:
_ É isso aí! O Golias! Aquele da
fábrica subterrânea de que nós ouvimos tanto!! Saco... Eles vão se vingar!
Aposto que estão indo bombardear Bledavik!
Isso era uma dedução lógica para o
jovem pirata. Ponderando por segundos sua resolução, ele disse para ninguém em
especial:
_ Seja como for, não precisamos
deixar ele ir tão depressa... certo?
Dispensou o periscópio com um
gesto e voltou-se para o painel de comando. Era hora de agir.
_ Artilheiro!
_ Mísseis Gungany... Não, Mísseis
Bart, carregando! – respondeu o oficial – Vai levar quinze segundos da abertura
da escotilha para ativar o feixe guia!
_ Franz!
_ Não ouço coisa alguma além das
ondas, do vento da superfície e do nosso motor – respondeu o oficial do sonar –
A ameaça é mínima a julgar pelo radar e sonar.
O comandante saltou satisfeito de
seu posto no timão e ordenou animadamente:
_ Aí vamos nós! Estações de
Batalha Nível 1!
Luzes vermelhas tomaram a
iluminação na ponte de comando, enquanto toda a Yggdrasil se preparava para a
batalha. A porta da ponte abriu-se e um mordomo apressadamente entrou, aflito,
procurando por seu...
_ J-Jovem mestre! O que está
acontecendo? Qual o motivo do alarme...?
A porta tornou a abrir-se e um
vulto elegante de cabelos e roupas brancas, muito semelhante ao capitão,
inclusive por ter apenas um dos olhos, entrou apressadamente e perguntou com ar
desolado:
_ Jovem mestre! Outra vez!?!
Completamente alheio aos seus
tutores, Bart Fatima (sim, era ele mesmo) continuou a dar ordens para a
tripulação:
_ Estações de batalha, todos!
Navegação de superfície! Fechar as escotilhas! Abrir tanque principal! Preparar
para batalha antiaérea ao alcançar a superfície!
_ Simplesmente não sabe quando parar...
– lamentou Sigurd com a mesma voz desolada.
_ J-jovem mestre! – chamou Maison
– Os Mísseis Gungany... Precisa de permissão de mais da metade dos membros da
tripulação para...
_ Combate de superfície! – Bart
interrompeu, voltando-se para os oficiais no painel de comando – Na espera com
armas antiaéreas. Artilheiro! Me passe o gatilho dos Mísseis Bart!
Como uma gigantesca baleia
cinzenta, a Yggdrasil emergiu do oceano e correu sobre a superfície, enquanto
uma escotilha abria-se em seu convés externo, expondo um projétil de cor
vermelha e asas amplas.
Nos céus amplos, o Golias se
tornava mais e mais nítido à medida que se aproximava. Subitamente, do mar, o
primeiro dos ‘Mísseis Bart’ ganhou os céus em rota de colisão da aeronave.
Na cabine de comando do Golias,
Elly aproximou-se ao notar as expressões carregadas de Fei e Citan.
_ O que foi?
_ Ah... Nada – Fei voltou-se para
ela.
_ Tudo bem... Fico feliz por isso.
Mas, Citan – ela voltou-se para o piloto – Está tudo bem? Estamos voando numa
aeronave tão grande, e... E se Kislev ou Aveh nos encontrarem?
_ Nós estamos em segurança – o Doutor
voltou-se sorrindo – Eu antecipei essa possibilidade e segui um curso sobre o
mar. Não há qualquer unidade militar estacionada por aqui. De qualquer forma,
esta coisa não é algo que será tão simples de derrubar...
Mal o Dr. Citan pronunciou as
fatídicas palavras, um estrondo poderoso sacudiu o Golias, enquanto as luzes de
alerta soaram e Hammer começou a correr para os lados, e os demais se
aproximaram do piloto.
_ Isso não pode estar certo! –
Citan agarrou-se firme ao manche – Estamos sendo atacados?
_ Inimigos? – quis saber Fei.
_ Eu não sei – Citan respondeu,
correndo para outro painel às pressas e tentando regularizar a pressão dos
motores – Mas eu não pensei que eles estariam submersos nesta área...
_ Nós vamos ficar bem? – Elly
perguntou, agarrando-se a um painel central enquanto a nave tremia.
Citan retornou ao seu posto,
virando mais duas chaves e aguardando um instante, para depois voltar-se para
os companheiros com uma negativa.
_ ... Infelizmente, não há meios
de evitarmos a descida. Fei, Elly, desçam primeiro. Eu irei depois.
_ Mas...
_ Não temos tempo para um debate
agora, Fei!! – retrucou Citan – Acha que tem as habilidades necessárias para
manter o Golias no ar o máximo possível?!
O rapaz não teve resposta para
isso, e Citan voltou-se para o manche.
_ Então, se apressem e partam.
Não havia realmente o que fazer, a
não ser sair depressa e permitir que Citan também abandonasse a nave o mais
brevemente possível. Fei correu para a saída e o mesmo fez Elly. Agarrando
firmemente o manche, Citan disse para si mesmo:
_ E agora...
Um som repetitivo de batidas
chamou a atenção do Doutor. Na verdade, Hammer continuava correndo de um lado
para o outro, e Citan disse:
_ E você também, Hammer! Também
está de saída!
_ Sã, Se... S-sim senhor!!
Mas Hammer ainda estava em choque,
olhando para os lados como se não soubesse o que fazer, e Rico veio agarra-lo
pelo colarinho do casaco.
_ Argh! Pára de enrolar! Estamos
indo!
_ Simssenhor!
Assim que se viu sozinho na ponte
de comando, Citan voltou-se para o seu painel de instrumentos e para a tela
principal, mudando a posição para localizar seus agressores.
_ Agora... Para onde eles...
Não tardou, no ângulo da descida,
para localizar uma forma metálica familiar flutuando na superfície do mar, o
que causou muitas emoções simultâneas ao catedrático.
_ !! Aquela nave...
Alívio, porque não eram inimigos,
afinal. Alegria, porque amigos que julgara perdidos estavam próximos. E...
_ Sigurd... – aborrecimento, com a
mão direita no queixo numa atitude de profunda reflexão e um olhar vazio – Acho
que você precisa repensar seu método de ensino...
Nos céus, o Golias estava em
chamas e explodindo em mais chamas durante seu curso de descida. Tal visão fez
saltar e rir de satisfação Bartholomew Fatima no convés externo da Yggdrasil.
_ Rah hah hah!! Esse é o poder do
Míssil Bart!! Nem o protótipo de Kislev pode resistir a ele!!
Ainda com o punho erguido em sinal
de vitória, Bart subitamente calou-se ao notar a trajetória do Golias. Sim, a
aeronave gigante estava descendo. Descendo...
_ Hã... Ei... – descendo
diretamente na direção dele!! – S-sai pra lá... Fica longe!!
Bart correu para dentro enquanto o
Golias, definitivamente perdido, atingiu a superfície do mar de barriga e
deslizou na direção da Yggdrasil. E o oceano estremeceu com a explosão da
gigantesca aeronave, num clarão que iluminou o ponto do mergulho por um curto
momento. E então, tudo foi silêncio.
Em outro lugar, outra ponte de
comando, um oficial relatava ao seu comandante:
_ Nós temos as coordenadas
daquelas vibrações dimensionais recentes. N24, L92, Ignas, na região de Lahan,
no oceano a nordeste. Pelo padrão de ondas, é definitivamente um Gerador de
Portão.
_ Não há vôos regulares do
continente principal – acrescentou outro.
_ Poderia ser a Aura Aphel de
Shevat? – perguntou Ramsus.
_ Não, a massa é diferente –
respondeu o oficial – É um padrão muito menor.
_ Não consigo acreditar que os
Cordeiros tenham uma nave equipada com um Gerador de Portão – comentou o
segundo oficial.
_ Provavelmente é de Kislev –
Ramsus ponderou – A última purga não foi completa.
Uma presença sombria fez as luzes
da ponte de comando oscilarem por um segundo agoniante, e todos se voltaram
para a figura encapuzada que surgiu subitamente atrás do comandante e sua
imediato.
_ Maldito...
_ Não deveria persegui-lo? –
indagou Grahf, ignorando Ramsus e ainda fazendo as luzes oscilarem com sua mera
presença.
_ O quê?
_ Aquele que lhe causou tanta dor
e angústia está naquela nave. E ela está indo para Aquvy.
As luzes tornaram a se apagar,
piscando, e quando a iluminação voltou ao normal, Grahf não estava mais lá. Não
que importasse para Ramsus; ele já tomara sua decisão.
_ Coloquem todos os membros da
tripulação em estado de alerta. Vamos atacar a nave de Kislev.
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