domingo, julho 26

Capítulo Vinte e Dois

Capítulo 22: Thames


_ Eu sabia... Achei que essa coisa estava flutuando de forma incomum...
_ Sua peste...!
Elly estivera verificando as condições do destroço em que ela e Fei tinham estado desde a queda do Golias, tão ocupada que nem percebera que o rapaz estava mais ocupado com um pequeno peixe verde.
_ Mas mesmo sabendo disso, não há como nós os tirarmos... certo?
_ Espera aí!
Fei continuava correndo de um lado para o outro tentando pegar o peixe, o que Elly ainda não tinha percebido de dentro do alçapão onde estava.
_ Eles estão logo abaixo de nós, mas cobertos por água e uma parede espessa. Provavelmente são Weltall e Vierge. Para o bem ou o mal, eles continuam ligados a nós, até aqui – e ela subiu com um salto – mas agora são inúteis, a partir deste ponto. Parece que nossos Gears estão aqui embaixo, Fei. Mas não podemos alcança-los...
Ela se deteve, olhando de um lado para o outro enquanto Fei nadava aborrecido atrás do peixe que estivera fugindo dele.
_ O que está fazendo, Fei?
_ O que... estou fazendo? – ele deteve-se na borda da plataforma – Não tá vendo...? Estou tentando pegar um peixe! Esse aqui fica pulando pra cima e pra baixo, bem na minha frente, tentando me fazer de idiota...
Como para confirmar o que ele dissera, um peixe verde saltou na água, e Fei se voltou para ele novamente.
_ Ah, seu pestinha! Eu já vi você!
E mergulhou novamente, deixando Elly olhando para ele em dúvida.
_ Hã... Você não vai pega-lo e come-lo, vai?
_ Se não comermos, vamos morrer... Ah, peguei!!
E jogou o peixe para a plataforma, enquanto Elly recuou com ar de reprovação, olhando para o peixe enquanto Fei tornava a subir.
_ Você tá brincando. Vai ficar doente!
_ Você não vai comer? Deixa ver... – voltou a pensar consigo mesmo – Vamos precisar de algo pra cozinhar ele.
Elly viu Fei saltar novamente para dentro do alçapão e balançou a cabeça. Não podia ser sério.
_ Anda, pára com isso. Eu não me responsabilizo se você ficar doente e morrer.
_ Não se preocupe – ele respondeu lá dentro – Uma vez que esteja no estômago, é tudo a mesma coisa.
_ Eu não vou... – e então a voz dela pareceu alarmada – Fei!! Olha lá...!
_ O quê, o peixe escapou?
Fei voltou depressa para a plataforma, e a primeira coisa que viu foi que a coisinha verde que o incomodara continuava onde ele o deixara.
_ Do quê está falando? Ele ainda está... O quê? Aquilo é...!
Na direção em que Elly apontava no céu, um objeto voador em forma de disco passava diante do sol. Estava muito mais distante do que quando Fei a vira no deserto de Aveh, mas sua estrutura sólida dentro do escudo laranja ainda era bem visível.
_ Aquilo é... a coisa que eu vi no deserto. Está voando bem mais alto desta vez.
_ É Shevat – respondeu Elly – Esta é a altitude normal dela.
_ Shevat... – Fei ficou procurando lembrar – Onde foi que eu já... Ah, isso mesmo! Aquele estranho mascarado! Ele disse que meu pai estava no exército deles... Então, aquele disco é o que o Doc e aquele mascarado disseram que era o país em que meu pai e minha mãe moravam?
_ Mesmo? Eu não saberia... É um país fora do alcance de Solaris. Shevat usa o mesmo tipo de barreira que Solaris, então não se pode alcança-la por meios convencionais.
_ Como uma coisa daquelas, voando àquela altura, pode ser um ‘país’?
_ É, não culpo você por ficar tão surpreso. Geralmente ela flutua sobre a região conhecida como a área das Ilhas Aquvy. Provavelmente você a viu num tipo de missão especial. Por isso estava voando tão baixo.
_ Shevat...
Alheia aos comentários e à surpresa de quem quer que fosse, a terra flutuante de Shevat seguiu seu caminho sobre o oceano de Aquvy. Assim como Fei e Elly em sua plataforma silenciosa, Bart Fatima também a contemplava no convés ruidoso da Yggdrasil II sobre a superfície. Mas seus pensamentos vagavam em outro rumo, parte dele dizendo que merecera o que Rico havia feito. Se bem que o ex-Campeão fora um pouco... Bem, ‘entusiasmado’ demais em sua reprimenda, e o braço direito do pirata doeu quando ele tentou proteger a vista do sol e ver a forma flutuante.
_ Ai... Acho que os Mísseis Bart não foram uma idéia tão boa, hein...?
Na verdade, ele estava mais chateado consigo mesmo do que Citan ou Rico poderiam estar, e era isso o que mais incomodava. Segurando o braço ferido, ele disse em voz alta para o vento:
_ Fomos capazes de salvar você e seus amigos, Citan... Mas me pergunto o que aconteceu com Fei e Elly...
Ele suspirou. O que quer que pudesse ter acontecido com os amigos... era culpa dele. Baixou os olhos e sacudiu a cabeça, tentando se controlar. Não devia ser pessimista. Eles haviam de estar vivos.
_ É, eu tenho certeza... Eles estão vivos, em algum lugar... E, mais uma vez...
Voltaria a viajar com os dois, tinha certeza. Tinha que ter certeza disso. E ele voltou-se, esfregando o único olho com o braço ferido.
_ Cara! A brisa aqui machuca os olhos! Então, isso é o que chamam de mar... Antes de tudo, eu preciso me desculpar com aqueles dois.
Era o melhor que podia fazer, dadas as circunstâncias. E precisava se manter ocupado para não pensar demais. Perguntando, ele soube que Citan estava na Loja de Gears da nave e foi falar com o Doutor.
_ Ah, jovem. Queria me ver?
_ Um... – baixou a cabeça, muito sem jeito. Falar com Citan fazia com que ele pensasse em um de seus tutores, e ele se sentia como um garoto que fizera algo de errado – Sobre eu ter atirado no Golias... Eu realmente... Errh, digo... Me... Er...
_ Ah, isso? – voltou-se para o que estava lendo, com ar indiferente – Acho que não podia ser evitado. Mas atirar antes de perguntar é um mau hábito seu. Um rei deveria sempre manter a calma e julgar com cautela!
“Maison diz a mesma coisa”, Bart pensou para si mesmo, o tom sério de Citan outra vez fazendo com que se lembrasse de seu tutor.
_ É, eu sei. Eu sei. A propósito, tem uma coisa que eu queria perguntar...
_ Oh? – Citan pareceu admirado, olhando para Bart – Isso é incomum.
_ Bom, é sobre essa nave de guerra em que estamos, que é do mesmo tipo da Yggdrasil. Anos atrás, meu velho me disse que ela foi desmontada porque a negociação de paz com Kislev estava progredindo. Então, eu sabia que existia.
_ Hmm. Então, o que o está incomodando?
_ O símbolo da nave... Não é o nosso Brasão Real! Olhe pra isso.
E mostrou a figura que supostamente era o símbolo dos construtores da yggdrasil. De fato, não era o Brasão de Fatima; era um símbolo desconhecido para Bart, um círculo amarelo que cercava um ‘Y’, cujas extremidades ultrapassavam as bordas. Não era, no entanto, desconhecido para Citan.
_ Isso é...
_ Eu achei que você conhecia. De quem é esse símbolo?
_ Não estou totalmente certo, mas parece-se com o símbolo de Shevat.
_ Shevat? – Bart ficou confuso – Do quê está falando?
_ A Yggdrasil pode não ter sido feita pelo seu pai – explicou Citan – Naquela época, muito da tecnologia potencial não era compreendida e, assim, foi escondida. Talvez seu pai possa ter ficado temeroso do poder dela e assim, resolveu trancá-la.
_ Hmm... Sei – Bart pensou para si mesmo – Então, isso pode não ter sido nosso no início. Se for verdade, eu gostaria de encontrar os caras que fizeram essa belezinha.
_ Na verdade – Citan murmurou – podem estar mais próximos de você do que imagina...
_ Hã? O que foi que disse?
_ Bem, de qualquer maneira, basta de se preocupar – desconversou Citan – Mas acho realmente que você deveria se desculpar com Rico. Ou pode conseguir mais do que alguns arranhões numa próxima ocasião.
_ É...
_ Rico estava verificando seu Gear. Acredito que vai encontra-lo no hangar.
Juntamente com os mecânicos, Rico Banderas estava supervisionando seu Stier. Limpando a garganta e tomando coragem, Bart começou assim que o viu:
_ B-bom, sabe... A gente precisa conversar. Ei?
Rico nem sequer se voltou para ele, e o embaraço de Bart se tornou irritação. Droga, ele estava tentando consertar as coisas!
_ Sem essa do tratamento de silêncio! Eu vim aqui pra me desculpar!
_ ... Qual o seu problema? – Rico voltou-se para ele, o ar severo de sempre no rosto. Mas não parecia irritado – Achei que já tinha cuidado de você agora há pouco. Não sou do tipo que vive no passado.
Bart ficou desarmado. Estava esperando dificuldades com o gigante verde, mas ao que parecia, o assunto já estava encerrado para Rico. Voltando-se simplesmente para o Stier, ele deixou que a surpresa aparecesse em sua voz.
_ Estou mais preocupado com aqueles dois Gears ali – apontou para o Heimdall de Citan e o Brigandier de Bart – Quem diabos é você? Eu estou admirado que vocês aqui consigam ajusta-los pra funcionar tão bem! Achei que Fei e eu éramos os únicos que podiam fazer Gears rodarem assim...
_ Uau! – foi a vez de Bart se surpreender – Você é mesmo o Campeão Lutador... Digo, ex-Campeão. Estou admirado que você consiga dizer o quanto um Gear é bom só de olhar pra ele.
_ Acho que não dá pra aprender tudo sobre o mundo dentro de uma prisão escura – Rico voltou-se para Bart – Realmente interessante. Eu estava pra dar o fora, mas agora mudei de idéia. Deixe eu me juntar a vocês, chefe.
E estendeu a mão com um sorriso raro, ao que Bart também sorriu. Era raro encontrar alguém que gostasse de Gears tanto quanto ele, e com o conhecimento técnico de Rico. O Campeão dos Lutadores sem dúvida seria uma grande aquisição ao seu grupo, e ele apertou a mão estendida.
_ É, eu acho que vai ser legal.
Sua mão doeu com o aperto de Rico, mas Bart manteve o sorriso. Novamente, não começara uma amizade da melhor forma, mas no fim as coisas haviam se encaminhado bem. Agora precisava encontrar Fei e Elly.

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