Adiante com o Xenogears. Fei ficou sabendo do triste destino de Bart e dos outros, e resolveu tirar o traseiro de Kislev e fazer algo de útil da própria vida. Então, o primeiro passo é virar um Lutador!
Capítulo 15: Batalhando em Kislev
_ É isso aí... Mano...
Acabei de te registrar!
_ Puxa... Essa foi
rápida! – admirou-se Fei – É fácil assim?
_ Normalmente não
é tão fácil – confirmou Hammer – Mas parece que uma mulher chamada Rue do
Comitê de Batalha fez alguma coisa e mexeu os pauzinhos pra você.
_ Comitê...? Ah,
está falando daqueles três?
_ De qualquer
forma, graças a eles, a parte burocrática da coisa toda saiu suave como uma
brisa! He-ei! Isso quer dizer que você pode começar a batalhar quando achar que
quer, Mano!
_ Mas, deixando
isso de lado, Hammer – Fei comentou, desconfiado – Desde ontem, você parece meio
feliz demais! Tem algo de estranho rolando que eu não esteja sabendo?
_ Hã...? N-n-não!
N-nada! N-n-n-nada, não! – gaguejou Hammer – O mecânico dos campeões, eu, teve
seus pecados perdoados, e isso quer dizer que não há nada pra se suspeitar!
Hahahahahahahaha!
_ Hmmm... Sei.
_ Peraí, como
assim? – perguntou Hammer, suando – É claro que não tem nada de errado! Aaahh,
e... Eu tenho muito o que fazer, então, vou na sua frente!
E saiu, tropeçando
nas mesas. Fei ficou tão admirado que nem teve tempo de perguntar onde deveria
ir para lutar. Como se percebesse isso de repente, Hammer voltou até a porta e
disse:
_ Ah, antes que eu
esqueça, a Arena de Batalha é nos limites do Bloco D. Fale com o guarda e ele
te deixa passar. Fui!
Juntando-se a
Citan, que estava tanto quanto curioso a respeito da cidade, Fei deixou a área
residencial e foi até a Arena. Nortune era uma cidade cheia de chaminés que
despejavam fumaça nos céus o tempo todo, e era por isso, Fei percebeu, que
sempre parecia ser noite lá. O ar era mais sujo, e todas as casas e ruas tinham
cheiro de decadência. Não era como a vila saudável de Lahan ou a agitação
alegre de Aveh; ali, a vida parecia aos poucos estar desistindo de si mesma. Era
até compreensível, pensou Fei, que Aveh estivesse levando a melhor sobre
Kislev. Estranho era que dependessem da Gebler e, outra vez, Fei perguntou-se
como estaria Elly. Ele ainda estava perdido em pensamentos quando um guarda
indicou-lhe um prédio que não parecia alto o bastante para uma Arena de Gears,
e logo ele viu o por que: a maioria das batalhas ocorria num subterrâneo
profundo.
_ Então, isso é a
Arena de Batalha...
_ Ou a recepção,
para ser exato – corrigiu Citan.
Dois guardas
surgiram à frente deles, prenunciando a chegada de Rue Cohen, que lhes deu as
boas vindas.
_ Bem vindo à
Arena de Batalha, Fei, senhor... Há alguns dias atrás – ela comentou, dúbia –
você era irredutível sobre não pilotar Gears... Aconteceu algo nos últimos dias
para que mudasse tanto de idéia?
_ Viver o resto da
minha vida com monstros de esgoto não é tão ruim – retorquiu Fei – É só que... Bem...
Há muitos fatores. E tem este colar! Atrapalha demais!
_ Seu colar...?
Hahahamm... Você é divertido. Que seja, está buscando pela vitória, mesmo sendo
sua primeira vez na Arena? – ela pareceu surpresa.
_ É tão estranho
assim?
_ Não, não, não
tanto... Por favor, me perdoe. Você parece ter muita confiança em lutar com
Gears... Estou ansiosa aguardando... Ooops, desculpe! Bem... Acho melhor
mostrar-lhe logo as cocheiras... Não temos muito tempo.
_ ...‘Cocheiras’?
_ Ora, está
pensando que vai lutar em carne e osso? Hahahamm, não que eu não quisesse ver
isso, mas... Já dissemos antes que o comitê prepararia uma máquina para você...
Se esqueceu?
_ Não... Não,
claro. E, sobre o Gear que eu vou pilotar...
_ Bem, basta me
seguir.
Aquilo era
cansativo e inútil e Fei ficou feliz por finalmente seguir Miss Cohen até os
hangares de Gears. Ele e Citan trocaram um olhar, no entanto; pouco antes, ela quase
deixara escapar algo importante ao que parecia. Mas seus pensamentos foram
interrompidos pela surpresa sem precedentes que teve ao entrar, pois o Gear
preparado para ele era um Gear negro, de modelo único, que ele já conhecia
muito bem.
_ Mas este é...!
_ Ora... Eis uma reviravolta
inesperada nos eventos – Citan ajeitou os óculos sobre o rosto – Ainda assim,
não é de todo inesperado. Estou apenas presumindo, mas creio que tenham
fornecido Weltall a você intencionalmente para coletar alguns dados.
_ Intencionalmente?
_ A batalha, em
si, serve como um dos planos de Kislev. Através da batalha, eles podem obter
variados dados de combate e Lutadores de talento para serem usados pelo
exército.
Fei voltou-se para
o Gear que, quisesse ou não, estava sempre consigo e perguntou-se em voz alta:
_ Exatamente que
espécie de dados poderiam conseguir dele e de mim...?
_ Eu não saberia
dizer – respondeu Citan – mas posso garantir a você que isso tem algo a ver com
aquele incidente com Aveh. Seja como for, não importando o que o império
pretenda, isso é bom para nós. Você será capaz de usar o Gear com o qual está
mais acostumado. Se pensar desta forma, isso só fortalece as nossas chances de
fugir.
Contra isso Fei
não podia argumentar, e resolveu fazer o reconhecimento das condições de
combate na Arena de Batalha; dois Gears, ou por vezes um Gear e um monstro à
altura tinham um terreno amplo num pátio aberto, preparado especialmente para
as lutas. Havia montanhas, lagos e áreas desérticas ou gramadas. Igualando as
condições entre os diferentes Gears, o único armamento de longa distância
permitido era a assim chamada ‘Bala de Ether’, disparos de energia Ether
teleguiados de médio alcance. Os pilotos deviam derrotar seus oponentes em
combate corpo a corpo, mas também deviam ficar atentos às condições do Gear.
Movimentos extras, como as Balas de Ether e os movimentos em velocidade Turbo
causavam superaquecimento prematuro, o que imobilizava o Gear até o
resfriamento, fazendo de qualquer lutador um alvo fácil. E o primeiro combate
de Fei foi contra um Gear chamado Ganador, semelhante a um cavaleiro medieval
com espada e escudo, cujo piloto era ninguém menos que Leonardo, do bando de
Rico.
Assim que o
combate começou, no entanto, Fei logo mostrou sua superioridade, mesmo levando
desvantagem em tempo de experiência naquele tipo de batalha. Ganador
protegeu-se atrás do escudo para atacar com a espada, mas Weltall recuou com um
salto amplo e revidou com uma Bala de Ether, atingindo o escudo do oponente com
um solavanco.
_ Hnf! Forte...
Leonardo procurou
pelos monitores por sinais do oponente, quando sentiu, mais do que encontrou,
Weltall posicionado à sua direita, fora da cobertura do escudo e um instante
mais veloz do que sua espada poderia atacar. O primeiro golpe do punho direito
jogou longe a sua espada; o punho esquerdo atingiu em cheio sua cabeça; um
chute, outro, um derradeiro golpe do punho direito e Ganador rolou pelo solo
arenoso, muito danificado logo no início do combate.
_ Hm! Nada mal.
Seja do seu jeito então – rosnou Leonardo pelo comunicador – Acabou a
brincadeira! Vamos falar sério...
Foi quando Fei
notou alguma irregularidade em seu painel de controle. Alarmado, ele viu que os
sensores de temperatura haviam enlouquecido, acusando um aumento irracional do
calor interno.
_ Hmm? O que está
havendo? O meu Gear está...
Diversas explosões
internas se sucederam, tirando Fei e Weltall da competição de forma inesperada,
com a vitória praticamente ganha. Leonardo e os demais Lutadores de Rico,
desejosos de se vingarem de Fei pelas derrotas durante sua ‘cerimônia de
batismo’, haviam sabotado o sistema de resfriamento de Weltall, e ele por pouco
não foi morto por uma falha mecânica ‘acidental’. Encaminhado para a enfermaria
do Bloco D, Fei ficou inconsciente por toda a noite, embora pouco descanso
houvesse nisso. Mesmo adormecido, ele se revirou em delírio com sonhos
impossíveis, enquanto o calor parecia queima-lo mesmo ali.
Esgotos de Kislev. Criaturas
perigosas, muito piores do que qualquer monstro de fora da cidade, habitavam o
intrincado sistema de escoamento de Nortune. Lutadores costumavam descer ali
para derrotar monstros e conseguir dinheiro pelos seus despojos, havendo muitas
guildas pagantes para tais artigos, principalmente ali, no Bloco D. Nas semanas
mais recentes, boatos haviam se espalhado falando de um novo tipo de monstro,
maior e mais poderoso do que os demais, e mesmo a maioria dos Lutadores se
mantivera fora do esgoto desde então. Naquela noite, Leonardo e Heinreich
haviam descido até lá por ordem de Rico, e o primeiro ainda se gabava do
acontecido na Arena.
_ Heh, heh...
Asno... Provavelmente ele está de cama agora.
_ Num foi demais,
não? – perguntou Heinreich – Se o Campeão descobre, a gente já era!
_ Hmph, eu não
ligo! Vamos só terminar logo isso e ir embora. A noite tá estranha hoje. Os
ratos estão inquietos.
_ Quê? – Heinreich
duvidou – Nem parece você... Tá bom, então vai pr’aquele lado...
E Heinreich desceu
para a ala sul do sistema de esgotos, deixando a norte para Leonardo, que olhou
instintivamente para os lados.
_ Oh, cara, isso é
ruim... Cada cabelo da minha nuca tá de pé. Tem alguma coisa esquisita por
aqui...
Heinreich cruzou
uma das inúmeras pontes, próxima a um cano de despejo, passando de um lado a
outro do escoamento e parou de repente, voltando-se. Sons estranhos eram comuns
ali, mas não fora um som diferente que chamara sua atenção. Por tensos
segundos, em meio ao mau cheiro e à semi-escuridão que as luzes de manutenção
não ajudavam a espantar, ele aguardou e aguardou, mas nem mesmo um rato
apareceu.
_ Hmm... Deve ser
só a minha imaginação.
(Tudo o que não
estava em trevas estava vermelho em sua visão, e ele sentia a presença próxima.
Saiu de uma curva e viu o alvo mais à frente, numa distância razoável, fácil de
cobrir depressa... e avançou)
Heinreich nunca soube exatamente o que acontecera.
Ainda caminhava na direção do ponto de encontro, esperando encontrar Leonardo,
quando pareceu notar que não estava só.
_ O quê?
Leonardo procurara
com muito má vontade pelo tão falado morador do esgoto e, não tendo achado nem
mesmo ratos, foi até a entrada para encontrar-se com Heinreich. Nunca
admitiria, mas estava tremendamente assustado. O que podia fazer até mesmo os
ratos desaparecerem do esgoto? Ele não sabia, mas dava asas à sua imaginação, e
não de forma favorável. Ainda estava chegando lá quando ouviu um som de passos
e disse, aborrecido:
_ Tch! Então saiu,
hein?
(Outro som de
movimento. Estava fácil, naquela noite. Saindo de trás da esquina, ‘ele’ pôde
ver outro deles à sua frente, tendo acabado de sair de uma das pontes)
Leonardo não
reconheceu a forma vermelha que surgiu de repente, mas teve duas certezas
imediatas: primeiro, não era Heinreich, de forma alguma; segundo, não
era amistoso.
_ O que pode...?
A coisa avançou
depressa, visão vermelha e uma velocidade impressionante, e o Lutador
instintivamente soube que não podia enfrenta-lo. Voltou-se e começou a correr
para a saída, tão próxima e tão distante ao mesmo tempo, enquanto algo parecido
com riso chegou aos seus ouvidos, tão mais próximo...!
_ Saco, esse
monstro está...!
Cruzou uma das
pontes quase que num salto e voltou-se. O monstro já estava sobre ele, do outro
lado da ponte, e ele sabia que só precisava dar suas costas para ser morto.
Recuando devagar, sem tirar os olhos da criatura vermelha, ele estendeu as mãos
para se defender, mais parecendo uma súplica.
_ F... Fique
longe...
Um mostrar de
dentes que parecia um sorriso foi a única resposta, e a coisa avançou. Leonardo
deu as costas para correr, e sentiu que as duas garras do monstro penetravam
suas costas, ao mesmo tempo em que seu coração explodia e respirar se tornava
impossível.
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