É, Citan apareceu em Nortune. Impressionante, como o bom doutor consegue aparecer sempre que necessário, fala aí? Mas os 'comos' e 'por ques' aparecem agora, mais ou menos. E, uma palhinha sobre algo mais que ninguém tinha visto até aqui...
(...)
Com um sorriso
satisfeito no rosto, o Dr. Citan Uzuki explicou:
_ Estive
monitorando as comunicações de rádio de Kislev, e os ouvi falar de um Gear
recuperado em Kislev que combinava com a descrição de Weltall. Disseram que o
haviam transportado para a Capital, então eu vim para cá, contando com a chance
de que também encontraria você por aqui.
_ Hã? – Hammer
olhava para os dois com um ar perdido – Por acaso, você já conhecia esse
doutor, Mano?
_ Seja como for,
Fei – Citan ignorou Hammer – já tomou alguma atitude?
_ Atitude? Do quê
está falando, Doc?
_ Não pode ficar
aqui para sempre, pode? Você não vai fugir?
_ Fugir? – Fei
perguntou com um ar tão confuso que Citan se admirou, perguntando:
_ Fei! Não está
pretendendo passar o resto de sua vida aqui, está? Então, não se importa em
quebrar sua promessa?
_ Que promessa...?
_ Oh, Deus! Como
pôde esquecer uma coisa tão importante quanto esta? – perguntou o médico,
indignado – Você prometeu a Bart que protegeria Margie e o povo de Nisan se
algo acontecesse a ele!
_ Ah, isso? É, eu
prometi, não foi...? Mas... – e pareceu atinar com o sentido maior por trás da
pergunta de Citan – Aconteceu alguma coisa com Bart?
_ Temo dizer que
sim – Citan respondeu com ar grave – Ele lutou bravamente contra as novas
forças do inimigo, mas foi em vão! A Yggdrasil foi seriamente danificada e
naufragou no fundo do mar de areia. Pouco antes da nave naufragar, eu fui
colocado num módulo de fuga e ejetado para fora de lá, para que não fosse
tragado. Desde então, eu lamento dizer que não pude encontrar coisa alguma
sobre os paradeiros ou destinos dos demais...
Fei sentiu um
grande pesar com a notícia. Seu amigo Bart, e toda a tripulação da Yggdrasil...
Perdidos? E ele outra vez só estava se preocupando com sua própria situação,
pouco se importando com o que fosse. Como podia...?
_ Quem teria imaginado...
O que estive fazendo...?
_ Em nome dos
céus, o que aconteceu, Fei?
Após um instante
de silêncio, de rosto afastado, Fei respondeu com a voz baixa:
_ Outra vez... Perdi
a memória... e todo o sentido de tempo. Enquanto estava lutando com aquele sujeito,
Vanderkaum, ele apareceu. Grahf apareceu. Então, percebi o apelo de Bart e da
tripulação. Os outros comigo foram derrotados por Vanderkaum e seu Gear tamanho
gigante. Depois daquilo...
Ele pareceu ainda
mais aborrecido, olhando para as próprias mãos como se pudesse se lembrar de
algo ao fazê-lo.
_ Depois
daquilo... Foi como na Vila de Lahan outra vez! Quando acordei, eu estava no
bloco de prisioneiros de Nortune. Doc – voltou-se para Citan – Doc, o que houve
com o esquadrão da fronteira? Qual a razão de eu estar aqui e do Weltall ter
sido recuperado por Kislev...?
Por um instante,
Citan considerou a idéia de não contar tudo a Fei, mas a verdade era a melhor
escolha, ele sabia, e respondeu:
_ Aquele
esquadrão... foi aniquilado! Também havia destroços de um Gear de tamanho
gigante... De uma forma como eu nunca havia visto antes!
Fei não teve o que
dizer, sentindo o peso da realidade cair sobre ele. De alguma forma, ele fizera
novamente. Uma grande destruição, da qual não conseguia se lembrar. Citan colocou
a mão sobre o ombro do rapaz, tentando anima-lo:
_ Ora, vamos Fei!
Ninguém está apontando o dedo para você! Pode ter sido causado por outra coisa!
_ Está tudo bem,
Doc. Pouco a pouco, eu venho entendendo isso. Só pode ser que talvez... –
tornou a olhar para as próprias mãos com pesar, e se corrigiu – Não, bem
provavelmente... Fui eu, outra vez...
_ Ora, Fei...
Por um longo
momento, ninguém disse nada. Suspirando fundo, Fei ergueu a cabeça e falou
novamente, sua voz agora mais firme:
_ Eu vou manter
minha promessa. Caso contrário... nunca mais vou conseguir olhar Bart nos
olhos... Porque Bart e os outros estão vivos em algum lugar. Eu simplesmente
sei que estão!
_ Então – Citan
ficou mais animado – isso significa...
_ Que eu vou fazer
o que for preciso pra sair daqui! Vai me ajudar, doutor?
_ É claro! Será um
prazer!
_ Não, Mano, eu
duvido! – Hammer tornou a se meter na conversa, alarmado e também aborrecido de
ouvir falar de coisas que não entendia – Qualquer idéia de sair daqui é só sonho!
_ Por que diz
isso?
_ Por causa dessas
coisas! – mostrou para Citan o seu próprio colar explosivo, reparando que o
médico não tinha um – São colares explosivos! Enquanto estivermos usando essas
coisas, nunca seremos capazes de pôr os pés pra fora daqui!
_ Colares
explosivos...? É perigoso da parte deles, não? – Citan parecia surpreso –
Permita-me dar uma olhada neles, por favor.
E foi examinar o
colar de Hammer, tocando com cuidado no metal e testando-o com cautela,
enquanto murmurava pensativamente. Depois do exame, ele voltou-se para Fei e
Hammer e declarou:
_ Podemos ser
capazes de fazer algo quanto a eles.
_ M-mesmo? –
Hammer não podia acreditar – Até engenheiros mecânicos desistiram deles, em
desespero!
_ O Doc sempre foi
bom em mexer com máquinas – Fei comentou com um sorriso – Então, acho que há
esperança.
_ Eu não sei, Mano
– Hammer, ao contrário, não parecia nada esperançoso – Vamos deixar eles quietos!
Não importa o quanto ele seja bom... Um enganozinho de nada, e é BUM! BANG! Fim
de jogo, cara! Aceita a dica do Hammer, Mano!
_ Está tudo bem –
Fei acenou a cabeça – Eu acredito no Doc.
_ Bem... Então,
vamos começar?
Citan
aproximou-se, examinando o colar de Fei, mas antes de começar sua tentativa,
perguntou novamente:
_ Está
absolutamente certo de que quer continuar com isso, Fei? Não quer pensar melhor
primeiro? Só para ter certeza, se bem que você pode confiar em mim... Espero!
_ Então vamos
nessa, Doc! Quando estiver pronto!
Agradecido pela
confiança, Citan começou a mexer na algema de Fei, mediante os olhares
preocupados de Hammer. Sons de metal se fizeram presentes, soando, rangendo e
batendo quando Citan subitamente arregalou os olhos e disse:
_ Oh Deus, saiu!
_ Saiu?? –
perguntaram Fei e Hammer ao mesmo tempo.
_ Sim – e estendeu
a mão, mostrando uma fina barra de aço – A trava da bomba saiu. Presumo que,
agora, ela não tenha mais isolamento contra choques mais fortes.
Fei e Hammer
olharam para a varinha sem poder acreditar, e Citan comentou um tanto
encabulado.
_ De qualquer
forma... Hããã... Ela deve estar vulnerável agora, e não seria seguro
continuarmos mexendo com isso. É melhor que procuremos outro meio.
_ Ah, esqueci de
dizer! – Hammer tomou em suas mãos a trava – Tem um jeito de ter os colares
removidos. Mas é preciso vencer os Jogos Imperiais pra conseguir um ‘Perdão
Especial’.
_ ‘Perdão
Especial’? – perguntou Citan.
_ É. Todo ano eles
têm os Jogos de Batalha Imperiais. O próprio Kaiser assiste as disputas de
Batalha e cancela qualquer sentença que o vencedor esteja cumprindo. Como bônus
adicional, o vencedor recebe uma posição como oficial militar.
_ Bem, nesse caso,
tudo o que precisamos é vencer os Jogos! Não é, Fei?
_ Estou dizendo
que é impossível! – interveio Hammer – Pra fazer isso você tem que vencer o
atual Campeão, Mestre Rico! Mas nosso Mano aqui foi totalmente vencido por essa
mesma pessoa poucos dias atrás! E, desta vez, estamos falando de Batalha! Com
Gears, Mano, Gears! Não dá pra garantir sua segurança. Ele poderia muito bem te
matar fingindo que foi um acidente!
Fei pareceu
preocupado. A julgar pela última luta com Rico, ainda mais se levando em conta
o quanto ele próprio não gostava de lutar com Gears, parecia difícil que o
resultado fosse diferente da luta anterior. E enquanto Fei pensava, Citan
indagou:
_ Isso é verdade?
_ É... Mas, da
última vez, eu não tinha o desejo de lutar com eles – emendou Fei – Se bem que,
se fosse obrigado a lutar a sério com ele... Não tenho certeza se venceria ou
não.
_ Ele é realmente
tão mais forte que os outros quatro Lutadores, esse tal ‘Campeão’?
_ Coloque desta
forma – atalhou Hammer – Ele é o rei invicto, reinando no topo dos Torneios de
Batalha da Capital Imperial! Com um histórico de 40 disputas encerradas em 40
nocautes, a maioria ocorrida nos primeiros 30 segundos de luta... Se vencer os
Jogos Imperiais deste ano, então vai ser o Campeão absoluto por três anos
consecutivos!
_ Só um segundo! –
interrompeu Citan – Esta pessoa é um prisioneiro?
_ É sim.
_ Isso é
estranho... O vencedor deveria receber um perdão, certo? Por que ele é um
prisioneiro até agora?
_ Aí é que tá a
coisa! Mestre Rico podia ter dito adeus à vida de prisão a essa altura! Mas
disseram que ele rejeitou o seu perdão. Acho que ele deve gostar pra caramba de
lutar...
_ Bem, não podemos
ficar simplesmente parados aqui falando nisso – interrompeu Fei – Não me
importa se é Luta na Batalha ou o que for! Se há uma chance, então eu vou
tentar!
_ Tá falando
sério? – perguntou surpreso Hammer.
_ Estou sim.
_ Você acha que
pode vencer?
_ Não, não acho –
negou Fei com a cabeça – Mas por ora, eu posso ao menos fazer uma tentativa.
_ Bom... Se é
assim, então vou agora mesmo te registrar!
E saiu
imediatamente, muito pouco parecido com quem não acreditava na vitória de Fei
até há pouco. Mesmo Fei ficou olhando para o rumo que o outro tomara com ar surpreso.
_ Esse Hammer...
Ele pareceu muito alegre de repente!
_ Mas você está
mesmo certo disso? – Citan parecia em dúvida, por conhecer bem o rapaz - Sobre
o que falamos há pouco? Seja você forçado a isso ou não... Não queria faze-lo,
certo? Lutar com Gears, eu digo.
Fei ficou em
silêncio, parecendo aborrecido, e Citan prosseguiu.
_ Há, bem
provavelmente, outras formas de sair daqui. Não quero forçá-lo a algo que não
queira fazer, Fei.
_ Eu sei, Doc. Eu
ainda não gosto de Gears – o rapaz concordou – Isso não mudou em nada. Quando
eu os piloto, fico muito consciente do quanto o meu ‘eu’ é instável... Mesmo
que eu não queira pensar nisso! Mas, ao mesmo tempo, é também uma conexão com
alguma ‘peça’ perdida dentro de mim. Se for o caso então, recentemente, eu
decidi que ia continuar com isso até o fim. Elly também esteve preocupada pelo
mesmo motivo. E se eu apenas ficar deprimido por causa disso, nada vai
melhorar!
Citan ficou quieto
por um momento, olhando para o jovem amigo com um ar solene e satisfeito.
_ É assim que se
sente...? Eu acho que o entendo melhor agora, Fei. Que seja, devemos descansar
hoje. Vamos ficar ocupados a partir de amanhã!
Em outro lugar...
Um gigantesco
globo negro computadorizado flutuava no ar. Não se parecia com nada mais que
uma bola escura repleta de monitores. Alguns deles tinham barras coloridas,
como aparelhos fora do ar. Em algumas das telas, bem como nos doze globos
menores que flutuavam numa órbita regular ao redor do maior, apareciam rostos
escondidos por um tipo de máscara metálica, similar a tubos de respiração.
Nenhum deles tinha cabelo, as bocas não eram visíveis e suas expressões eram
rudes. Aquilo parecia mais uma espécie de suporte vital, e não estaria de todo
errado se alguém o chamasse assim. Dentro daquela estrutura computadorizada,
doze seres tão antigos quanto a humanidade ‘viviam’, e planejavam, desde que a
vida humana se iniciara em Ignas. E continuavam a fazê-lo até então,
partilhando dados.
_ Mais rápido do
que esperávamos... – falou um ancião numa tela azulada.
_ O despertar do
intocável... – observou outro, girando, e em uma tela vermelha.
_ Faz três anos
desde que ouvimos qualquer notícia – acrescentou outro numa tela azul,
diferente dos demais por não ter o olho direito – De acordo com o Cubo de Memória,
‘ele’ está atualmente em Nortune, a Capital Imperial de Kislev.
_ Detestável –
falou outro, num azul quase esverdeado – Vexaminoso... Amaldiçoado...
_ Se ao menos
‘ele’ não existisse, os Cordeiros não teriam sido tornados no ‘Animus’ – disse
outro, numa tela vermelha, com uma expressão feroz – Já faz quinhentos anos
desde nossa queda nos ‘Dias de Destruição’ que ‘ele’ causou... Nós não teríamos
que fazer isto de forma tão incômoda, como fazemos atualmente.
_ A escavação das
‘Relíquias Anima’ em cada área – lembrou outro, numa tela azul e de expressão
calma – está seguindo conforme planejado. É tarde demais para mudar as coisas
agora. Mas, no futuro, nós decidiremos que forma as coisas terão.
_ Murchar –
repetiu o outro menos eloqüente – Sumir... Desaparecer.
_ No entanto –
lembrou outro, tela vermelha e olho esquerdo desaparecido – não sabemos de que
rota veio... Somos afortunados que o ‘gerador do portão’ estivesse ativo.
_ Pelo ‘Ethos’? –
perguntou outro vermelho – Ou...
_ Não faz
diferença – replicou o primeiro em azul – No entanto...
_ Então, está
dizendo que não devemos quebrar o equilíbrio de Ignas? – perguntou o azul mais
tranqüilo.
_ Bem, é a
superfície... – lembrou outro ancião, de tela vermelha e expressão arrogante – E
aquela terra é impura!
_ Isso é só uma
desculpa!
_ É uma razão
justificável – objetou outro vermelho, de ar ponderado – Mesmo Cain não se
oporia.
_ Mas nós não
podemos usar a ‘Chave Gaetia’ – tornou o azul a quem faltava um olho – Não até
que a hora adequada chegue.
_ Há uma terceira
frota em Bledavik – contornou o vermelho arrogante – As unidades reserva deles
servirão.
_ Ah, a frota dele
– concordou o vermelho caolho – Suas ordens?
_ Purgar –
comandou o primeiro ancião, o azul de expressão severa – Não dê motivos. Se ele
soubesse de nossos motivos, é óbvio que faria alguma coisa imprevisível.
_ Mas, não
precisaríamos de mais homens para devastar a área inteira de Nortune? –
questionou o azul de um único olho.
_ Há um antigo
reator em Nortune – lembrou um vermelho – Nós o usaremos. O tempo de vida
estimado é mil anos. Nada vai ser capaz de sobreviver dentro de trezentos kelts
da explosão. No entanto, eles passaram por isso antes. Não vão morrer assim tão
facilmente.
_ Mas devemos ao
menos eliminar a ‘ele’ – ponderou o azul mais calmo.
_ Sim, não há nada
de que precisemos lá – concordou o vermelho arrogante – Então que seja, dê
conta disto.
_ Se for um
impacto direto... – comentou o caolho azul.
_ Então...
_ Suas ordens
estão dadas – concluiu o líder.
WE CAN
RUN TO THE END OF THE WORLD.
Nenhum comentário:
Postar um comentário