E vamos nós com Xenogears. Fei acabou tendo o traseiro chutado pelo Rico, mas vamos dar um desconto, o cara tinha acabado de acordar, e ainda detonou três Lutadores de Kislev... Não, espera, foram quatro com a Suzarn... Ah, bem, vocês entenderam. E agora, saibamos o que era a 'outra coisa'...
Capítulo 14: Amigos de ontem e de hoje
Fei despertou
devagar, deitado outra vez na enfermaria. Estava dolorido demais e não percebeu
na hora, mas havia em volta do seu pescoço um colar alaranjado de metal da
mesma espécie que o que vira antes em Rico. Olhando em volta, sua primeira
pergunta foi:
_ Uhhhh...? Onde
eu estou desta vez?
_ No mesmo lugar,
só numa sala diferente – respondeu uma voz familiar – Você teve um dia difícil,
hein?
Era a mesma
doutora que o atendera antes. Endireitando-se na cama e sentindo a cabeça doer
mais com o movimento, Fei perguntou:
_ Ah... Oh, é
você? Parece que eu precisei da sua ajuda de novo.
_ É, mas não se
preocupe. Eu não me importo – é o meu trabalho! E de qualquer forma, como se
sente?
_ Hm? Aaah... Meio
dolorido, mas não é nada que eu não possa suportar. Ultimamente, tenho me
acostumado a esse tipo de coisa. Aaah...! A última coisa de que me lembro foram
aqueles caras falando de que ‘nível’ eles acharam que eu era digno.
_ Ah, acho que é
melhor se eu te disser...
_ O quê? Sabe de
que posição eu sou?
_ Você é um bocado
forte, não é? Derrotar quatro pessoas nas suas condições... Não me admira que
tenham te dado nível A! Mas ir contra o Campeão...? É surpreendente que tenha
conseguido voltar vivo!
_ A luta foi sem
sentido. Eu não tinha razão pra... Eu não queria lutar...
Lutar não o havia
levado muito longe, ele pensou. Lahan primeiro, e agora... Ele não conseguia se
lembrar do desfecho da luta no deserto. A partir do ponto em que os homens do
general Maitreya eram derrotados pelo Dora fortalecido e Vanderkaum, tudo era
escuridão. E a voz da doutora o chamou:
_ ... O que
aconteceu? Você parece um pouco pálido.
_ ... Não é
nada... Não se preocupe. Aliás – finalmente notou a peça de metal – O que é
essa coisa em volta do meu pescoço?
_ Ah, isso? É uma
bomba – ela respondeu simplesmente – No momento em que você deixar a vizinhança
da Capital Imperial, esse colar explode. É uma pena, mas enquanto estiver com
isso, você nunca será capaz de fugir de Nortune. Fora os civis do Bloco D e
alguns poucos Lutadores, todos têm que usa-los... Aqui, no Bloco D – ela deu as
costas a Fei – este é o único elo que prende os prisioneiros.
_ Uma bomba...? –
o olhar de Fei pareceu perdido – Então, não importa o quanto eu lute, nunca vou
fugir daqui.
_ De qualquer
modo, você deveria tentar descansar um pouco hoje. Vai ter que se acostumar à
vida nesta cidade em breve.
Fei resolveu
aceitar o conselho, até porque ainda estava abatido depois da luta. Aquela
idéia de dormir com uma bomba ao redor do seu pescoço incomodava, mas não havia
muito que ele pudesse fazer – então, o melhor era dormir.
No dia seguinte,
Fei Fong Wong resolveu conhecer o Bloco D da Capital Imperial de Nortune. De
fato, parecia-se com uma cidade para criminosos. Não havia, no Bloco D, a
alegria de vida e o barulho tradicional que ele encontrara em Bledavik e Dazil;
havia muitas pessoas ali, claro, mas as casas tinham um aspecto surrado, não se
viam crianças nas ruas e tudo tinha um aspecto sombrio, como se fosse um imenso
ferro-velho ou favela. Meio que andando a esmo, Fei acabou entrando num lugar
menos escuro, com luzes de neon na entrada, e alguém chamou sua atenção assim
que ele entrou. Dirigindo-se diretamente a Fei, um homem rato com roupas de
mecânico, um colar metálico igual ao seu e óculos imediatamente veio até ele e
se apresentou:
_ Ah, então aí
está você! Permita que eu me apresente... Me chamam de ‘Hammer – o Fornecedor’.
Já faz muito tempo desde que um criminoso tão poderoso foi enviado pra o Bloco
D! Heh heh, e isso te deixa muito famoso nesta cidade. Em outras palavras, você
hoje é o centro das atenções, Mano!
_ ... Quer parar
de me chamar de ‘Mano’? – perguntou o rapaz, incomodado com os modos e a
intimidade do outro – Meu nome é Fei!
_ E o que há de
mais nisso? – Hammer não parecia ter entendido – Não é como se eu estivesse te
rebaixando. O quê, cê preferia que eu te chamasse de ‘senhor’ ou coisa
parecida?
_ Ah... Faça como
quiser! – “Não tem outro jeito mesmo!”, Fei pensou, dando de ombros. Não estava
com muito ânimo para discutir.
_ Então, tá
decidido: vou continuar te chamando de Mano daqui por diante! Aliás, Mano, ouvi
dizer que você é forte pra valer. Não tem muita gente que consiga nível A,
sabia? Tô muito impressionado! E... mais, Mano, você parece diferente dos outros
prisioneiros.
_ Diferente,
hein...? – olhou Hammer de alto a baixo, com um olhar inexpressivo – Você
também não parece muito normal.
_ Ei, isso não foi
um insulto... Só uma impressão que eu tive. Não tem nenhum sentido oculto! Ah,
e se tiver qualquer problema, fale comigo! Já que eu sou um fornecedor, eu
tenho todas as conexões!
Fei se perguntava
o que havia feito para se tornar tão popular e tão depressa em Nortune, mas
afinal, havia tempo para isso. Saiu do bar, então, um pouco incomodado com a
sensação de que todos lá dentro olhavam para ele, e ainda não tinha dado dez
passos para fora quando um guarda nas ruas o parou e disse:
_ Ei, você não é o
novo sujeito? O Comitê Imperial está procurando por você. Eles ouviram algo
sobre você e os homens do Campeão... Ainda devem estar em algum lugar do Bloco
D. Eles decidiram te visitar... É uma boa chance pra um prisioneiro como você!
Apesar de não
fazer idéia do que era um ‘Comitê Imperial’, ou do porquê de o estarem
procurando, Fei achou que era melhor encontra-los de uma vez. Procurando pelas
ruas, ele não viu nada nem ninguém que lembrasse um representante do império e
acabou voltando aos seus aposentos – seria um bom lugar para encontrar alguém
ou ser encontrado. No entanto, não havia ninguém especial à vista por lá,
tampouco.
_ Também não estão
aqui... Será que já partiram?
Mal se perguntara
em voz alta, dois soldados com o uniforme azul de Kislev surgiram, seguidos por
uma mulher de aspecto importante que imediatamente se dirigiu a ele.
_ Então,
finalmente eu consegui encontra-lo. Você é Fei, certo? E...
Os dois guardas
continuavam parados diante dela, olhando para Fei com ar ausente, o que tornava
o diálogo entre ela e o rapaz um tanto mais difícil, além de reafirmar sua
impressão de que seus dois guardas eram dois idiotas.
_ Saiam do
caminho!!
Com o susto, ambos
se voltaram para ela, murmurando pedidos de desculpas e abriram caminho,
enquanto ela resmungava:
_ Vocês homens não
têm jeito! É por isso que eu não queria vir com vocês dois! Aham! – dirigiu-se
a Fei novamente – Permita que eu me apresente; sou Rue Cohen, do ‘Comitê de
Batalha Imperial’ do Bloco B desta, a Capital Imperial.
_ ‘Comitê de
Batalha Imperial’? O que querem comigo?
_ Eu vou direto ao
ponto. Queremos que participe do Torneio de Batalha.
_ ... Batalha?
_ É um esporte
recreacional, onde Gears lutam com outros Gears ou até com monstros, dependendo
da programação. Atualmente, não há regras para elegibilidade. E nós, o Comitê,
raramente interagimos diretamente com os participantes. Você deveria estar
honrado. Teve sorte que aquele pequeno incidente com o Campeão tenha conseguido
nossa atenção tão depressa. Bem, e então...? Melhor um Lutador do que um
prisioneiro... Não é um trato tão ruim, no final.
_ É verdade... –
comentou um dos guardas.
_ É; o trato não é
nada ruim...
_ Vocês dois,
quietos! – Rue Cohen retrucou – Eu estou falando com ele!
_ Eu sinto muito –
Fei acenou negativamente com a cabeça – mas eu não gosto de Gears. Não tenho
nenhum interesse em torneios de recreação deste tipo. E, acima de tudo, eu nem
sequer tenho um Gear; então, mesmo que eu quisesse participar, não poderia.
Vocês estão pedindo demais!
_ É verdade... –
concordou o primeiro guarda.
_ É, estamos
pedindo demais!
_ Psssiu, fiquem
quietos eu já disse! – bronqueou Rue, conseguindo mais pedidos de desculpas dos
soldados e voltando-se para Fei novamente – Hmm, me desculpe... Mas não se
preocupe com o último problema. O Gear de que precisa para a batalha será
providenciado pelo Comitê. E então, vai participar?
_ Não me faça
repetir – tornou Fei – Eu odeio Gears e não estou interessado neste tipo de
coisa!
Rue obviamente não
esperava aquela resposta, nem naquele lugar, e muito menos de um prisioneiro
como Fei.
_ Se não mudar de
idéia, então você vai...! – mas ela controlou-se no fim, parecendo recuperar a
calma, e deu de ombros – Bem, você ainda é novo aqui. Eu vou te dar mais tempo.
Talvez tenhamos sido apressados demais... Mas, por favor, pense seriamente
nessa oferta. Eu vou ficar esperando por uma resposta favorável. Bem então... Espero
vê-lo de novo em breve.
E abriu caminho,
saindo acompanhada por seus guardas. Fei a viu sair e comentou para si mesmo:
_ Gears, hein?
Aquilo era fora de
propósito; ele, outra vez em um Gear! Resolveu sair novamente, mas mal o
fizera, deu de cara com um apalermado Hammer diante de si.
_ Whoa! Ha,
Hammer?!
_ Mas por que cê
fez isso, Mano?
_ Isso? – o homem
rato parecia desconsolado, balançando negativamente a cabeça, e Fei ficou
confuso – Espera aí, Hammer, do quê está falando?
_ Eu ouvi toda a
história com os meus próprios ouvidos! Por que rejeitou o convite deles? É uma
ocasião realmente rara o Comitê vir pessoalmente fazer contato! Ainda não é
tarde demais! Vai nessa, Mano! Ainda podemos conseguir, certo? Você vai ser um
Lutador... Um Lutador!!
_ Ah, isso... Se
ouviu a conversa, já deve saber. Eu não gosto de lutar. E Gears, bem...! Mais
ainda, não tem razão para eu fazer isso.
_ Se virar um
Lutador – enfatizou Hammer – você pode deixar a prisão e viver no luxo! O poder
é tudo aqui! Os sem poder... Os fracos são simplesmente oprimidos! Então vai
lá, faz uma tentativa!
_ É só isso? – perguntou
Fei de cabeça baixa.
_ Hã? O que quer
dizer?
_ Já terminou?
_ Terminei?
_ Você já falou o
bastante... Agora, poderia sair do caminho? Hammer, eu sinto muito, mas duvido
que meus sentimentos vão mudar. Lutar e Gears, eu odeio os dois. Então, lamento!
_ Ô, Mano... –
lamentou Hammer enquanto Fei saía.
Ao menos, agora não
havia mais ninguém à sua procura, pensou o rapaz ao voltar para as ruas. Já que
seu tempo agora estava livre, gostaria de saber da doutora o que um sujeito
poderia fazer ali no Bloco D para se ocupar, e resolveu voltar para a ala
médica. Mal entrara no prédio quando, da porta oposta do salão, Hammer entrou
correndo e gritando:
_ Mano, eu tenho
novidades! Novidades! O novo médico que foi indicado hoje acabou de chegar!
_ Hammer – Fei
olhou para trás, surpreso, e voltou a olhar para o outro – Você não devia estar
lá atrás...?
_ Ah, Mano, não
devia se preocupar com esses detalhes à toa! Se você apenas confiar em mim, o
líder da informação, vai saber de tudo! Agora, quanto a este doutor...
_ Quanto a que
doutor?
_ O quê? Você não
soube, Mano? A moça doutora anterior foi transferida pra tomar conta do setor
civil da cidade! Deixa a gente com inveja, né! Então, arrumamos um novo doutor
pra tomar conta do Bloco D. Disseram que ele já chegou aqui!
_ O novo doutor,
hein...? E então, o que raios esse novo doutor tem a ver com você, o ‘grande
Fornecedor’?
_ Do que é que cê
tá falando, Mano? É claro que eu tenho tudo a ver com ele! Se eu virar camarada
dele, posso expandir minhas conexões estabelecendo rotas de tratamento médico
no mercado negro!
_ Então é isso,
hein? – Fei pensou consigo mesmo que deveria ter adivinhado; como sempre, era
uma questão de lucro para Hammer – O que é que vamos fazer com você, hein
Hammer?
_ Tanto faz, Mano,
tanto faz! De qualquer forma, vamos lá dizer oi pra ele, vamos?
_ Bem, sim... É,
acho que ao menos deveríamos dizer alô.
Os dois desceram
até a enfermaria procurando o novo médico, mas uma vez lá embaixo, não puderam
ver ninguém. Fei entrou na ala de tratamento olhando em volta e comentando:
_ Você disse que
um novo médico tinha vindo... Mas não tem ninguém aqui!
_ Hã? Isso é
estranho! – comentou Hammer, ajeitando os óculos sobre os olhos – De acordo com
as minhas fontes, ele deveria estar aqui...!
_ Pena que ele não
esteja aqui, hein Hammer? – Fei perguntou com ironia – Parece que você vai ter
que esquecer sobre aquele mercado negro de tratamento médico que estava...
Foi quando o som
de uma porta abrindo se fez presente. Os dois se voltaram e Hammer comentou:
_ Uma porta se
abrindo! Parece que o novo doutor estava na sala ao lado!
Sim, estava, e ele
entrou ao ouvir vozes em sua enfermaria. O novo médico tinha cabelos negros
longos presos, se vestia de verde e usava óculos de quatro lentes. Mais ainda,
era alguém familiar para Fei.
_ D-D-Doc? Citan? O que está
fazendo aqui?!
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