Depois da experiência surreal do Fei, era mais do que hora de acordar. E, sim, estava acontecendo dentro da mente dele, sim. E, não, não era sonho. Hora de finalmente descobrir em que encrenca ele se meteu dessa vez.
Antes que a ditadura militar volte, melhor postar isso logo. Boa semana, pipous!
(...)
Ele abriu seus olhos. Havia
beliches por toda a volta e um cheiro de coisas antigas, mas aquele quarto lhe
era totalmente desconhecido. Foi quando uma garota com roupas brancas veio até
ele, aliviada.
_ O-onde... Onde eu estou?
_ Bom, você finalmente
acordou! ... Esteve inconsciente por quatro dias, então comecei a temer pelo
pior.
_ ... Quem é você? E onde eu
estou? Como cheguei até aqui...?
Estar consciente não queria
dizer estar melhor, e Fei tornou a cair na cama quando sua cabeça pareceu estar
à beira de explodir.
_ Você acabou de recuperar a
consciência, então não se esforce demais! Eu sou uma médica. Você está em
Nortune, a capital imperial de Kislev. Esta é a área de detenção para
criminosos... Comumente conhecida como ‘Bloco D’.
_ Área de detenção pra...
criminosos?
_ Você agora está vivendo na
área destinada para os criminosos. A julgar pela forma que foi trazido pra cá,
sob guarda pesada do exército de Kislev, você não é um criminoso comum...!
Foi quando ouviram passos
atrás de si. Fei e a doutora se voltaram e pela porta entraram três homens e
uma mulher, todos com a aparência de lutadores, e a mulher sorriu ao ver Fei de
pé.
_ Ah, olhem que oportuno! O
Príncipe Galante acordou! Pode ser repentino, mas você tem que vir conosco!
_ Não é a ‘Cerimônia de
Batismo’?! – a doutora perguntou sem poder acreditar – Esse paciente acabou de
despertar! É impensável que vocês queiram que ele seja ‘batizado’ agora!!!
_ Sai dessa, dá um tempo! –
retrucou um dos homens, um grandalhão de jeito desajeitado – O cara foi jogado
aí feito um marginal, né não? Devia agradecer à gente ter sido legal e
compassivo de deixá ele quieto uns dias!
_ É isso aí! – apoiou outro,
um magricela com cara de rato – Já que ele veio pra cá como marginal, vai ter
que seguir as regras!
_ É assim que é – um terceiro
confirmou – Então, sem enrolar mais, vamos emprestar ele por um tempinho. Não
esquenta, vamos devolver ele rapidinho! Isso é, assim que terminarmos com ele.
_ Você não tem escolha – a
mulher do grupo frisou – Se se opuser a nós, a boa doutora vai levar também!
Outra vez era forçado a lutar.
Fei se sentia péssimo, como se alguém tivesse retirado seus músculos e seu
cérebro e depois os tivesse recolocado de qualquer jeito, para parecer que tudo
estava no lugar. A última coisa que ele queria era sair, fosse lá para o que
fosse. Mas não podia deixar que a doutora fosse ferida por sua causa.
_ ... Tá certo... Eu vou com
vocês.
_ Sinto muito, eu não posso ir
contra os Lutadores! – a doutora lamentou – Por favor, me perdoe...
_ Ah, que cara sensível! – a
mulher entre os Lutadores comentou – Isso nos poupa um bocado de problema. De
qualquer maneira, vamos logo, o ‘Campeão’ tá esperando! E não se preocupe!
Vamos te deixar voltar pra cá logo. Depressa então!
Eles formaram uma fila e Fei
foi obrigado a seguir entre o grupo. Enquanto seguia os Lutadores, ele sorriu
dolorosamente para si mesmo ao comparar-se com Weltall na batalha contra a
Vierge de Elly e imaginou como estariam seus ‘sistemas internos’. Mas a graça
logo foi substituída pela dor, pela confusão e pela lembrança de Elly, que
tornava aquele mal estar e a sensação de que iria cair se desse mais um passo
numa coisa distante. Queria que ela não fosse tão teimosa, que tivesse deixado
a Gebler. Se tivesse ido com ele, Elly teria...
“Elly poderia ter morrido.”
Ele lembrou-se então de
Maitreya, o corajoso general Maitreya e seu grupo, sendo derrotados pela
máquina de Vanderkaum depois que Grahf fizera... ‘Aquilo’, fosse o que fosse.
Lembrou-se então de que algo mais acontecera depois daquilo, mas não conseguia
lembrar o quê. Quando pensava nisso, o mal estar piorava.
Foi envolto nesses pensamentos
que Fei seguiu até o lar do homem que chamavam de ‘Campeão’. A mulher, Suzarn,
entrou na frente e fez a apresentação.
_ Campeão, nós o trouxemos a
você.
O ‘Campeão’ era um mutante
alto, de pele verde e cabelos vermelhos revoltos como fogo. Usava um estranho
colar magnético e era muito forte, e voltou-se com um olhar avaliador para Fei.
_ Obrigado, Suzarn. Hmm, então
você é o recém-chegado... Não sabemos nem ligamos para o que fez pra vir parar
aqui, mas bem vindo ao Bloco D... Então, por qual nome você atende?
_ ... Eu sou Fei Fong Wong. E
qual é o seu nome? Com certeza não é ‘Campeão’? Eu tenho o direito de saber ao
menos isso...
A atitude irreverente de Fei
acabou irritando os demais Lutadores, obviamente servidores incondicionais do
Campeão.
_ Seu insolente, como é que
ousa... ?!
_ Fique calma, Suzarn –
interrompeu o Campeão, que pareceu mais surpreso e divertido do que aborrecido
– Eu não me importo... O nome é Rico.
“Garoto... – Rico continuou –
é bom ter marra... se isso for pra valer. Sabemos que é meio súbito, mas
precisamos saber quão forte você realmente é... Heinrich! Vargas! Leonardo!
Suzarn! Vamos começar o ‘Batismo’ dele! Levem-no pra fora!”
Os Lutadores tornaram a
conduzir Fei para a cidade, desta vez seguidos pelo Campeão Rico. Foram parar
num beco escuro e Fei foi levado para a parede, enquanto os Lutadores e Rico
bloqueavam a única saída. E o Campeão tornou a falar:
_ Bom, acho que você já
entendeu, mas vou te dizer assim mesmo: todos os criminosos mandados pra cá
recebem uma posição. Decidir qual a sua posição é fácil. Você consegue a sua
posição enfrentando estes quatro Lutadores.
Fei olhou para o grupo
inamistoso que acompanhava Rico e soube que estava em apuros. Dado o seu
estado, ele nunca conseguiria vencer todos de uma vez só. Rico pareceu entender
o que se passava pela cabeça dele, porque sorriu e disse:
_ Relaxe, as lutas são de um
contra um. A essa altura você já notou... Resultados são tudo! Se puder
derrotar estes quatro Lutadores, vai receber uma certa dose de liberdade...
Então, que as lutas comecem!
A primeira luta foi contra
Leonardo. Apesar de mais lento devido á sua recuperação incompleta, no entanto,
Fei resistia e bloqueava a maioria dos socos em seqüência que pareciam ser a
única arma verdadeira do brigão.
Reunindo suas forças, Fei
atingiu Leonardo com um Senretsu, fazendo-o subir e cair e lançando-o para trás
com o final da técnica. Leonardo voou violentamente contra uma parede atrás de
si e quebrou a madeira com as costas, sendo arrastado por um dos companheiros.
A luta terminara.
_ Perder pra alguém que acabou
de se recuperar... – Leonardo murmurou, ainda atordoado – Que tristeza...
_ Hmph – fez Rico – Quem é o
próximo?
Heinrich foi o próximo. Fei
estava cada vez mais debilitado, aumentando a própria força com a técnica
‘Valor do Ferro’ e tentou derrubar o capanga de Rico com um soco rápido;
Heinrich agarrou seu braço e saltou, usando em Fei um movimento de luta livre e
arremessando-o de cabeça no chão.
Em seu estado e com o tombo
violento, Fei quase perdeu os sentidos e não teria sido má idéia que a luta
terminasse por ali. Mas algo dentro dele simplesmente não aceitava perder
daquele jeito. Ficou de pé novamente e usou sua Cura Interior para minimizar o
mal estar e a dor de cabeça, tornando a atacar.
Heinrich buscou agarrar seu
braço de novo; Fei mudou o movimento e atingiu o adversário com um Raijin na
cabeça, usando o braço esquerdo. Diferente de Fei, no entanto, Heinrich não
tinha o poder do Chi para que sua dor fosse embora.
_ Guh... huuuuh... Como é que
eu pude...
_ Hmm, interessante – comentou
Rico, um pouco menos entediado – Quem é o próximo?
Foi a vez de Vargas. Fei
percebeu logo que seu ataque não era realmente forte, mas quando atacou o
Lutador, descobriu que ele dominava uma versão grosseira da Técnica Espelho de
Ramsus, fazendo a força de Fei voltar-se contra ele cada vez que atacava.
“Se é assim – pensou Fei – eu
preciso fazer com ele o mesmo que eu e Bart fizemos em Aveh.”
Fei concentrou-se e esperou
então que o outro atacasse primeiro e revidou com pouca força, aprendendo com
os golpes fracos de Vargas a melhor forma de evita-los, desviando e atingindo a
esmo e procurando uma brecha para atacar. E descobriu que Vargas desprotegia o
peito quando atacava.
Quando o Lutador tentou
atingi-lo com outro de seus golpes fracos, Fei abriu sua guarda e o atingiu em
cheio com um Raijin. Quando Vargas tentou tirar vantagem disso, um salto para
trás e um Hagan serviram para aturdi-lo – não importava que ele usasse o poder
dos ataques sofridos para revidar, eles ainda o feriam. Enquanto ainda estava
aturdido, Fei atacou com toda a sua velocidade, esquecido momentaneamente de
sua fraqueza para emendar com um Senretsu e jogando o lutador contra os colegas
atrás de si, derrubando-o juntamente com os já derrotados Heinrich e Leonardo.
Ainda tonto, sem sequer conseguir apontar para Fei enquanto estava caído,
Vargas replicou:
_ Hah, eu... vou te pegar por
isso... Qualquer dia...
_ Nada mal! – Rico obviamente
estava apreciando a luta agora – Ninguém derrotava Vargas desde Suzarn...
Agora, é a vez dela! Acha que consegue vencer?
Pouco importava a opinião de
Fei, porque Suzarn avançou em seguida. A moça usava uma foice longa e atacou
muito mais depressa do que o exaurido Fei Fong Wong tinha condições de igualar,
e seu primeiro ataque o atingiu em cheio. Para sua surpresa, Fei notou estar
ileso, a não ser por um arranhão. Rolando para trás e ganhando espaço depois do
golpe, Fei retrucou:
_ Se isso é tudo o que eu
ganho... Você não vai me dar trabalho, moça.
_ É mesmo? – ela sorriu,
apertando a foice em mãos – Isso é o que nós vamos ver.
Ela tornou a investir e Fei
procurou conter a força; estava lutando com uma mulher, mesmo que fosse uma com
uma foice. Ele dirigiu a mão para lançar um Tiro Guiado, e descobriu que não
podia. Ainda não se refizera da surpresa quando Suzarn o atingiu de novo; desta
vez, ele sentiu agudamente o golpe e caiu para trás, apertando o corte. Só
então compreendeu o primeiro ataque e Suzarn se gabou:
_ Meu primeiro golpe cortou
suas habilidades de Ether, idiota. Eu sabia que você devia ter alguma, para ser
tão forte mesmo depois de tanto tempo desacordado. Sem seus truques, você não é
páreo pra mim. Fique no chão e deixe eu terminar com isso, antes que tenha que
te machucar de verdade!
_ Eu... ainda... não terminei...!
Fei se colocou de pé. Suzarn
estava certa, ele deveria ficar no chão! Aquilo era tolice, ele não tinha por
que continuar com aquilo! Era só uma prova estúpida, já havia feito...
Ela atacou de novo, rápida e
pronta para terminar com a luta, e Fei reuniu a força que ainda tinha. Ela era
uma Lutadora, experiente, mas não tão treinada quanto ele! Mesmo debilitado,
ele devia ser capaz de romper o bloqueio dela, ainda que por um instante.
Suzarn deteve-se diante dele com sua foice pronta para o golpe final, mas Fei
estendeu a mão e forçou-se:
_ Tiro Guiado!
Ele sentiu um corte
dilacerá-lo, mas era apenas o bloqueio de Suzarn sendo rompido. Uma esfera de
Chi cintilou e atingiu a Lutadora no momento do golpe, lançando sua arma longe
e tirando-lhe a visão por um instante. A chance que Fei queria.
_ É agora! Raijin!
Seu punho caiu sobre Suzarn e
a fez recuar. Ela era forte, ou ele estava mais fraco do que pensava, mas não
era o momento para pensar naquilo. Emendando ainda uma vez com um Senretsu, Fei
finalmente conseguiu derrubar a Lutadora e parou, sentindo-se péssimo. Era uma
felicidade que tivesse terminado; ele não agüentaria outra luta.
_ R... Ridículo... – murmurou
Suzarn, inconformada – Até eu... perdi pra você...
_ Você derrotou todos os quatro...
Hah! – Rico riu satisfeito – Este é um desfecho inesperado. Deixe eu te dar o
tratamento especial.
Fei não podia acreditar
naquilo. O grandalhão verde apertou os punhos, estalou o pescoço e veio
adiante, parecendo animado.
_ Eu próprio serei o seu oponente
final.
_ Já chega! – Fei abanou a
cabeça em negativa – Não tem sentido nenhum em fazer isso! Não tenho qualquer
razão para lutar com você!
_ Não é preciso uma razão. É a
tradição do Bloco D! Temos que determinar a ordem de força. Se prepare!
Rico veio adiante, tão rápido
que Fei mal o viu, e agarrou a cabeça do rapaz com as duas mãos, e Fei percebeu
que a força do outro era ainda maior do que se poderia imaginar só de olhar
para ele. E Rico não estava nada satisfeito.
_ Bah! Isso é o melhor que
pode fazer?
A pressão aumentou e Fei
sentiu que seu crânio iria afundar.
_ E-eu... não quero lutar com
você...
_ O quê? Não quer lutar?!
Sua mão direita agarrou o
pescoço de Fei e ele começou a erguê-lo, e embora já não pudesse respirar
direito, o rapaz ainda não estava lutando.
_ O que houve? Se não
resistir, eu vou acabar quebrando o teu pescoço!
Fei sentia-se estranhamente
leve, apesar da asfixia, como se a alma estivesse saindo do corpo e sua visão
ficou turva.
_ N... não...
_ Hm? O que foi? Eu não
consigo te ouvir!
_ Não... Eu... não vou...
lutar...!
_ Hmph! Bem então, este é o
fim!
Rico largou o pescoço de Fei,
mas começou a bater nele. Seus punhos eram como martelos e o rapaz nem
conseguia erguer os braços para se proteger, tão enfraquecido estava. Foi quando
ouviu de novo a voz familiar em sua mente.
“Sai do caminho!!”
_ Hã?
Levou um instante para Fei
perceber que Rico também ouvira, e dois para notar que a impressão de um
estrondo não fora só impressão. Ainda sobre um joelho, no chão, Fei percebeu
que não estava mais sendo surrado e que Rico estava no chão. Mas como, se ele
mesmo não havia...?
_ Hah hah hah! – Rico
levantou-se, esfregando o rosto com a mão e obviamente satisfeito, um sorriso
feroz em sua face – Assim é bem melhor... Você é muito bom! É o primeiro que já
conseguiu me ferir! Agora eu não preciso me conter. Estava esperando por isso!
Fei notou que não teria
escolha a não ser lutar, embora mal pudesse se mover. Ele se esforçou para
começar com um Raijin, mas com seu próprio poder Ether, Rico protegeu-se com
uma técnica chamada ‘Corpo de Aço’ e sua resistência, aliada ao estado de Fei,
tornaram o golpe inútil.
Passando pelo Campeão, Fei tentou usar um Hazan, mas
não conseguiu impulso o bastante para a seqüência de chutes no ar, e Rico
aumentou seu poder de ataque com uma técnica ‘Punho de Aço’.
Atordoado, Fei
tentou usar um Senretsu e Rico o bloqueou, e nocauteou com uma seqüência de
golpes rápidos. Admirado pela resistência do outro, o Campeão concluiu:
_ Hmm, um pouco duro. Bem, uma
vitória é uma vitória. Seu nível é A.
Seus Lutadores, no entanto,
não estavam nada felizes. Não só haviam sido derrotados por Fei, mas ele
conseguira até mesmo lutar com o Campeão. E, agora, tinha uma posição igual à
deles. Aquilo devia ser sorte demais. Foram interrompidos em seus planos quando
o Campeão, vendo-os parados, voltou-se e disse:
_ ... Não ouviram? Levem ele
de volta para os seus aposentos! E não esqueçam da outra coisa...
WE CAN RUN
TO THE END OF THE WORLD...
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