Adiante com a história. Como assim, Sophia parece com a Elly? Heh, esse é um dos meus momentos favoritos do jogo, definitivamente ^_^ E, aproveitem também pra descobrir um pouco mais sobre a sociedade de Solaris, e essa coisa toda de 'Cordeiros'. Bom domingo, e boa semana! Ah, e quase esqueci... Feliz Ano Novo - atrasado! ^^
(...)
_ Do que estou falando? – Fei nem
sequer piscava, com os olhos fixos na enorme pintura diante de si – Olhe...! É
a garota que eu encontrei na floresta... É a Elly! Quero dizer... – e voltou-se
para os outros, parecendo confuso – também tem algo nela que é idêntico à
Elly... Você não acha?
_ Sim, agora que mencionou... – e
Citan estudou mais atentamente a figura – ela se parece com Elly. Mas não era
disso que eu estava falando... Eu queria dizer que a técnica de pincel e o
estilo de cobertura usados neste retrato são parecidos com os seus.
_ Mesmo? – e Fei tornou a olhar
para o retrato, aproximando-se mais para ver melhor. Vestida num hábito branco
de freira, sentada numa cadeira estofada antiga e com um crucifixo gêmeo ao de
Fei no pescoço, estava Sophia. O mais intrigante nela era que, a despeito do
penteado diferente e da cor diferente do cabelo, qualquer um poderia dizer que
aquela era realmente Elly, com um sorriso melancólico no rosto como se
estivesse triste no momento da pintura. Fei olhou com cuidado o estilo da
pintura e foi para o outro lado antes de dizer:
_ Em primeiro lugar... Eu não
chego nem perto de ser um pintor tão bom assim!
_ Não... – discordou Citan – é
muito parecido com o seu estilo. Mas... De algum modo, eu posso sentir uma
atmosfera de tristeza neste retrato.
Fei, inquieto, tornou a olhar
para a jovem retratada ali, quase parecendo que ia se lembrar de alguma coisa enquanto
Citan, distraído, comentava:
_ Ela está sorrindo mas, de certa
forma, dá a impressão que está ansiosa. Talvez o retrato esteja refletindo seu
interior? Ou talvez, sejam os sentimentos interiores do artista sendo
refletidos? Ah...
Citan novamente parecia estar
imerso em reflexões. Voltando-se novamente para o quadro, ele deu mais atenção
ao canto inferior direito e observou:
_ Se olharem com mais atenção,
vão perceber que a pintura não está completamente terminada – todos repararam,
então, que havia um espaço branco apenas manchado naquele canto do quadro – O
artista largou seus pincéis quando estava quase terminando. Por que isso?
A pergunta fora feita para
Margie, mas ela também não sabia responder.
_ Acho que a minha avó sabia algo
sobre isso... Mas e se perguntarmos para Agnes? Ela pode saber de alguma coisa.
_ Bom... Vamos dar uma passada na
cidade? – perguntou Bart.
_ Sim, claro – Citan concordou,
ainda olhando pensativo para o quadro – mas esta pintura despertou minha
curiosidade. Se importa se eu falar com a Irmã Agnes antes de voltarmos?
_ Tudo bem. Vamos passar pelo
quarto dela.
Todos saíram do aposento, mas Fei
deteve-se por mais um instante. Ele voltou-se mais uma vez para o retrato,
sentindo uma enorme sensação de familiaridade, e quase pôde ver um rapaz da sua
idade e com o cabelo preso como o dele pintando um retrato que ainda não estava
naquela parede. A porta do aposento estava aberta, e havia uma jovem dama
sentada diante do artista, enquanto esperava que ele fizesse o retrato. Uma
jovem dama que poderia ser Elly. E ela dizia um nome...
“Lacan...”
Fei sacudiu a cabeça, percebendo
que esquecera algo importante, que parecera dançar por um momento em sua mente.
Citan voltou até a sala e perguntou então:
_ Há algo de errado, Fei? Parece
que você estava divagando.
_ Hã...? Não. Não... é nada.
A visão perturbadora se fora e
ele quase já não podia se lembrar dela...
Correndo com Citan e Bart para
alcançar Margie, eles a encontraram nos aposentos de Agnes, na biblioteca do
monastério. Margie estava pensando em voz alta, em meio à conversa com Agnes
quando chegaram:
_ Eu imagino que tipo de pessoa
foi Sophia... Eu adoraria tê-la encontrado.
_ Margie me contou que viram o
retrato de Sophia – Agnes disse aos recém-chegados quando se aproximaram – Ela
foi a madre fundadora de nossa seita. Dizem alguns que o retrato foi pintado há
pelo menos 500 anos.
_ Quinhentos anos... – refletiu
Citan – Isso é realmente fantástico. Pessoalmente, eu considero aquele retrato
intrigante. Vocês têm algum material histórico de tal período?
_ Em nossas mãos, não há tais
registros intactos – lamentou Agnes – Todos os registros e materiais referentes
à Sophia se perderam... O retrato é a única coisa que resta. Nós também não
temos muito conhecimento sobre ela.
_ Isso é mesmo uma pena! Então,
não há realmente nada restando?
_ Para alguém que ajudou
Marguerite, eu adoraria ter alguma outra coisa a partilhar, mas infelizmente,
eu sou incapaz de ajudar...
_ Oh, bem, não importa. Por
favor, não se preocupe com isso. Eu só estava indagando. Mas realmente parece
estranho... Se uma construção majestosa como esta sobreviveu à história, seria
de esperar que um ou dois pergaminhos também deveriam ter resistido.
_ De acordo com a tradição,
Sophia esteve presente há quinhentos anos... Ela sacrificou-se pelas pessoas e
foi convocada para estar com Deus. É tudo o que eu posso dizer a vocês.
_ Entendo... – lamentou Citan –
Então, tudo se perdeu nas trevas da história.
Tendo falado a respeito da lenda
de Sophia, mesmo que pouco tivesse ficado claro, Fei, Citan e Bart foram
novamente a Nisan onde Maison chamava pelo seu jovem mestre em voz alta,
avisando ao encontra-lo:
_ O povo de Nisan foi muito
generoso em nos permitir alugar esta casa. Portanto, não precisamos nos
incomodar com acomodações por algum tempo. E, a propósito, Mestre Sigurd deseja
ter uma palavra com vocês a respeito de seu próximo movimento, se puder.
_ Tá certo. E cadê o Sig?
_ O bom mestre Sigurd espera por
vocês aqui dentro.
_ Tá. Valeu Maison.
Sigurd os recebeu com um
cumprimento de cabeça, comentando num tom sereno que lhe era comum:
_ Sempre que venho aqui acalma o
meu coração. Mas, de qualquer forma jovem mestre... Quero discutir quais são
nossos planos daqui por diante.
_ Tudo bem. Mas, antes de fazer
isso... Tem uma coisa que eu quero te perguntar.
_ ...A mim?
_ É.
Bart entrou num quarto dos
fundos, seguido por Sigurd. Citan ficou à porta e não pareceu nada surpreso
quando o rapaz perguntou subitamente:
_ Sig... O que é que há entre
você e aquele oficial da Gebler? Qual é a conexão entre você e ele...? Sabe...
Com certeza, por algum motivo... Você sabe um bocado sobre a Gebler!
Sigurd ficou em silêncio por
algum tempo, voltando-se para a porta ao ver Citan aparecer e acenar
afirmativamente com a cabeça antes de responder.
_ ... Muito bem, eu vou contar –
Citan veio colocar-se ao lado do amigo, enquanto Sigurd começou a explicar – Eu
e... Citan, aqui... costumávamos morar em Solaris.
_ Solaris... – Bart parecia estar
entendendo devagar – Você quer dizer... de onde vem a Gebler?
_ Isso mesmo. Solaris... chama os
forasteiros de ‘Cordeiros’. São usados para trabalho manual. Basicamente, é
escravidão.
_ Escravidão?
Maison, e também Fei, entraram no
quarto também para acompanhar a conversa enquanto Bart perguntava:
_ É de lá que vocês se conhecem?
– e indicou Citan, ao que o doutor respondeu afirmativamente com um aceno
enquanto Sigurd continuou:
_ Nós trabalhamos para o governo
de Solaris por um curto período, mas descobrimos que não gostávamos dos métodos
deles e fugimos na primeira chance que tivemos.
Bart ficou em silêncio por algum
tempo, sério como raramente se via. Parecia estar considerando tudo o que
ouvira. Após a pausa, ele perguntou:
_ ...Vocês eram amigos dessas
pessoas? Sig – e parou diante do imediato – eu conheci você quando era garoto e
estivemos juntos desde então... Assim, isso teria que ter acontecido ainda
antes. Provavelmente eu não teria entendido isso se tivesse ouvido antes,
mas... Por que você achou que eu não poderia lidar com isso agora? Você com
certeza podia ter me contado. Especialmente quando tinha algo a ver com as
pessoas que estão apoiando aquele idiota do Shakhan! – e deu as costas a
Sigurd, parecendo aborrecido – Eu queria que você tivesse me dito antes.
_ ... Não há nada que eu possa
fazer a respeito disso agora – respondeu Sigurd, após um instante em silêncio –
Mas há uma coisa em que eu quero que acredite: nós deixamos Solaris por vontade
própria e por nossas próprias razões. Agora que eles surgiram diante de nós,
não podemos apenas nos sentar e não fazer nada. Se necessário, eu darei minha
vida para detê-los.
Bart olhou para Sigurd, para
Citan, deu uma olhada para Fei, como que pedindo apoio, e acabou abanando a
cabeça afirmativamente:
_ Tá bom, eu entendo. Mas dá pra
detalhar um pouco mais? – sentou-se na cama atrás de si – O que me incomoda é
esse negócio de ‘Habitantes da Superfície’... É como se Solaris fosse em outro
lugar. Como nas nuvens, ou coisa do tipo?
_ Sim, bem... – Sigurd resolveu
começar do princípio – Etrenank, a capital do Império Solaris, é localizada nos
céus. Solaris é separada da terra por campos de distorção dimensional
conhecidos por ‘Portões’. A travessia entre os dois requer meios especiais de
transporte... Tais como aeronaves. Para chegar a Aveh, nós embarcamos num vôo
regular até a superfície.
_ Eu vim bem depois de Sigurd –
comentou Citan – mas também escapei da mesma forma.
_ Hmmm... Tá. E o que são
‘Cordeiros’?
_ É a palavra que os solarianos
usam para indicar aqueles que vivem na terra. Como eu disse antes – prosseguiu
Sigurd – tais ‘habitantes da superfície’, ou ‘habitantes da terra’, são usados
para trabalho manual, que pode ser qualquer coisa. Desde soldados até trabalhos
administrativos. Solaris reúne sua mão de obra dos habitantes da terra. Os
trabalhos são divididos entre os mais apropriados. Algumas vezes, as pessoas
sofrem lavagem cerebral.
_ Lavagem cerebral?! – perguntou
Bart, agora parecendo indignado.
_ Eu... Quando você, jovem
mestre, ainda era menino, eu fui usado como cobaia para testes. Provavelmente,
havia algo que eles valorizavam dentro de mim.
Bart e Fei ficaram em silêncio.
Isso parecia demais. Voltando-se para Citan, Fei perguntou:
_ Você também, Doc?
_ Não... Eu nasci nos níveis mais
baixos da cidade. Não é um segredo completo... Mas acho que eu sou um
solariano. Sabem... Você sempre precisa de gente para conduzir um país... Não
importa o quão cientificamente avançado seja, você não tem apoio sem pessoas.
_ Solarianos puros são raros –
comentou Sigurd – Na verdade, eles não chegariam a um quarto da população total
de Aveh. Então, eles sustentam seu país roubando habitantes da superfície.
Bart sacudiu a cabeça
negativamente, como que afastando o pensamento de que qualquer um poderia
servir, como acontecera a Sigurd. Ao invés disso ele perguntou:
_ Aquele cara da Gebler com quem
eu e Fei lutamos... Quem é ele?
_ O nome dele é Kahr... Kahran
Ramsus – respondeu Sigurd – Como já sabem, ele é o Comandante da Gebler.
_ Ramsus...?
_ Nós o chamamos de Kahr. Em
Solaris, há uma escola de treinamento de oficiais chamada ‘Jugend’. Ele se tornou
o comandante depois de sair de lá.
_ Ele é um cidadão dos níveis
baixos, assim como eu – disse Citan – No entanto, com suas habilidades
fantásticas... Depois de se graduar, ele subiu pelos postos com velocidade
inigualável.
_ Aquele homem tinha um ideal –
continuou Sigurd – alcançar uma consolidação de todos os seus colegas. Mesmo
habitantes da terra, se tivessem talento, eram trazidos para o exército.
_ Então, vocês dois foram pegos
pelo Ramsus...? – perguntou Bart.
_ Não... – respondeu Citan – Não fomos
pegos por ele. Nós mesmos nos aliamos a ele.
_ Naquela época, concordávamos
com ele.
_ Naquela época, Ramsus era a
nossa esperança. Ele tinha ideais altos e queria mudar o sistema de Solaris.
Para nós, objetos de teste e cidadãos de nível baixo, ele era realmente tudo o
que podíamos querer.
_ Um benfeitor? – Bart não
conseguia imaginar a figura arrogante com quem lutara como esperança, fosse
para quem fosse.
_ Sim – confirmou Sigurd – Mesmo
eu, uma cobaia de testes, fui movido pelos ideais dele.
_ Então, por que vocês quiseram
sair de Solaris?
_ Fomos colocados em posições
militares chaves por Ramsus – explicou Sigurd – e graças a isso, soubemos do
relacionamento entre Solaris e os habitantes da superfície.
_ Os... ‘Cordeiros’, né?
_ Eles não usavam a nós,
‘Cordeiros’, apenas para trabalho escravo – o rosto de Sigurd pareceu mais
sombrio – Eles também escolhiam alguns de nós, como eu, para serem usados como
objetos de experiências para refinar suas drogas... Drogas que mudam as
personalidades das pessoas, para torna-las mais agressivas e para ativar suas
habilidades latentes de batalha. Estavam nos usando como cobaias humanas para
testar suas drogas de alteração psicológica.
_ Cobaias humanas...? – Bart não
parecia acreditar – Experiências em humanos?
_ Sim – confirmou Sigurd – Por
exemplo... ‘Drive’. Essa droga e todas as outras como ela são produtos
derivados de experiências humanas.
_ No entanto – completou Citan –
o papel de tais cobaias não era limitado apenas a isso.
_ Essa droga, ‘Drive’ – perguntou
Fei, pensativo e parecendo preocupado – é uma coisa que qualquer um no exército
de Solaris pode usar?
_ Pelo menos, qualquer um nas
forças Gebler que seja enviado para a superfície – respondeu Citan, e Bart
voltou-se para Fei, entendendo o que preocupava o amigo.
_ Está preocupado com ela, né? –
Fei voltou-se depressa para ele, e Bart fez que sim com a cabeça, sério – Eu vi
um pouco disso... no quarto dela.
_ Não...
_ Que seja ... Usar escravos como
cobaias... Meu, esses caras são baixos demais... Saco! – sentou-se novamente na
cama e fez um sinal afirmativo com a cabeça – É... Acho que entendi a maioria.
Velho Maison! Reserve o salão da cidade pra nós. Vamos terminar de conversar
lá. Eu vou lá fora respirar um pouco.
Bart saiu sozinho, e Sigurd comentou
um tanto pesaroso:
_ Eu deveria ter sido honesto com
ele antes...
_ É melhor não se preocupar com
isso – atalhou Citan – Você fez tudo o que pôde no tempo certo. O jovem vai
entender.
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