domingo, janeiro 4

Capítulo Dez Ponto Um!

Salve salve, senhoras e senhores... e rapaziada em geral (Blitz TM)! Saudações dominicanas do Louco!

Adiante com a história. Como assim, Sophia parece com a Elly? Heh, esse é um dos meus momentos favoritos do jogo, definitivamente ^_^ E, aproveitem também pra descobrir um pouco mais sobre a sociedade de Solaris, e essa coisa toda de 'Cordeiros'. Bom domingo, e boa semana! Ah, e quase esqueci... Feliz Ano Novo - atrasado! ^^

(...)

_ Do que estou falando? – Fei nem sequer piscava, com os olhos fixos na enorme pintura diante de si – Olhe...! É a garota que eu encontrei na floresta... É a Elly! Quero dizer... – e voltou-se para os outros, parecendo confuso – também tem algo nela que é idêntico à Elly... Você não acha?
_ Sim, agora que mencionou... – e Citan estudou mais atentamente a figura – ela se parece com Elly. Mas não era disso que eu estava falando... Eu queria dizer que a técnica de pincel e o estilo de cobertura usados neste retrato são parecidos com os seus.
_ Mesmo? – e Fei tornou a olhar para o retrato, aproximando-se mais para ver melhor. Vestida num hábito branco de freira, sentada numa cadeira estofada antiga e com um crucifixo gêmeo ao de Fei no pescoço, estava Sophia. O mais intrigante nela era que, a despeito do penteado diferente e da cor diferente do cabelo, qualquer um poderia dizer que aquela era realmente Elly, com um sorriso melancólico no rosto como se estivesse triste no momento da pintura. Fei olhou com cuidado o estilo da pintura e foi para o outro lado antes de dizer:
_ Em primeiro lugar... Eu não chego nem perto de ser um pintor tão bom assim!
_ Não... – discordou Citan – é muito parecido com o seu estilo. Mas... De algum modo, eu posso sentir uma atmosfera de tristeza neste retrato.
Fei, inquieto, tornou a olhar para a jovem retratada ali, quase parecendo que ia se lembrar de alguma coisa enquanto Citan, distraído, comentava:
_ Ela está sorrindo mas, de certa forma, dá a impressão que está ansiosa. Talvez o retrato esteja refletindo seu interior? Ou talvez, sejam os sentimentos interiores do artista sendo refletidos? Ah...
Citan novamente parecia estar imerso em reflexões. Voltando-se novamente para o quadro, ele deu mais atenção ao canto inferior direito e observou:
_ Se olharem com mais atenção, vão perceber que a pintura não está completamente terminada – todos repararam, então, que havia um espaço branco apenas manchado naquele canto do quadro – O artista largou seus pincéis quando estava quase terminando. Por que isso?
A pergunta fora feita para Margie, mas ela também não sabia responder.
_ Acho que a minha avó sabia algo sobre isso... Mas e se perguntarmos para Agnes? Ela pode saber de alguma coisa.
_ Bom... Vamos dar uma passada na cidade? – perguntou Bart.
_ Sim, claro – Citan concordou, ainda olhando pensativo para o quadro – mas esta pintura despertou minha curiosidade. Se importa se eu falar com a Irmã Agnes antes de voltarmos?
_ Tudo bem. Vamos passar pelo quarto dela.
Todos saíram do aposento, mas Fei deteve-se por mais um instante. Ele voltou-se mais uma vez para o retrato, sentindo uma enorme sensação de familiaridade, e quase pôde ver um rapaz da sua idade e com o cabelo preso como o dele pintando um retrato que ainda não estava naquela parede. A porta do aposento estava aberta, e havia uma jovem dama sentada diante do artista, enquanto esperava que ele fizesse o retrato. Uma jovem dama que poderia ser Elly. E ela dizia um nome...
“Lacan...”
Fei sacudiu a cabeça, percebendo que esquecera algo importante, que parecera dançar por um momento em sua mente. Citan voltou até a sala e perguntou então:
_ Há algo de errado, Fei? Parece que você estava divagando.
_ Hã...? Não. Não... é nada.
A visão perturbadora se fora e ele quase já não podia se lembrar dela...
Correndo com Citan e Bart para alcançar Margie, eles a encontraram nos aposentos de Agnes, na biblioteca do monastério. Margie estava pensando em voz alta, em meio à conversa com Agnes quando chegaram:
_ Eu imagino que tipo de pessoa foi Sophia... Eu adoraria tê-la encontrado.
_ Margie me contou que viram o retrato de Sophia – Agnes disse aos recém-chegados quando se aproximaram – Ela foi a madre fundadora de nossa seita. Dizem alguns que o retrato foi pintado há pelo menos 500 anos.
_ Quinhentos anos... – refletiu Citan – Isso é realmente fantástico. Pessoalmente, eu considero aquele retrato intrigante. Vocês têm algum material histórico de tal período?
_ Em nossas mãos, não há tais registros intactos – lamentou Agnes – Todos os registros e materiais referentes à Sophia se perderam... O retrato é a única coisa que resta. Nós também não temos muito conhecimento sobre ela.
_ Isso é mesmo uma pena! Então, não há realmente nada restando?
_ Para alguém que ajudou Marguerite, eu adoraria ter alguma outra coisa a partilhar, mas infelizmente, eu sou incapaz de ajudar...
_ Oh, bem, não importa. Por favor, não se preocupe com isso. Eu só estava indagando. Mas realmente parece estranho... Se uma construção majestosa como esta sobreviveu à história, seria de esperar que um ou dois pergaminhos também deveriam ter resistido.
_ De acordo com a tradição, Sophia esteve presente há quinhentos anos... Ela sacrificou-se pelas pessoas e foi convocada para estar com Deus. É tudo o que eu posso dizer a vocês.
_ Entendo... – lamentou Citan – Então, tudo se perdeu nas trevas da história.
Tendo falado a respeito da lenda de Sophia, mesmo que pouco tivesse ficado claro, Fei, Citan e Bart foram novamente a Nisan onde Maison chamava pelo seu jovem mestre em voz alta, avisando ao encontra-lo:
_ O povo de Nisan foi muito generoso em nos permitir alugar esta casa. Portanto, não precisamos nos incomodar com acomodações por algum tempo. E, a propósito, Mestre Sigurd deseja ter uma palavra com vocês a respeito de seu próximo movimento, se puder.
_ Tá certo. E cadê o Sig?
_ O bom mestre Sigurd espera por vocês aqui dentro.
_ Tá. Valeu Maison.
Sigurd os recebeu com um cumprimento de cabeça, comentando num tom sereno que lhe era comum:
_ Sempre que venho aqui acalma o meu coração. Mas, de qualquer forma jovem mestre... Quero discutir quais são nossos planos daqui por diante.
_ Tudo bem. Mas, antes de fazer isso... Tem uma coisa que eu quero te perguntar.
_ ...A mim?
_ É.
Bart entrou num quarto dos fundos, seguido por Sigurd. Citan ficou à porta e não pareceu nada surpreso quando o rapaz perguntou subitamente:
_ Sig... O que é que há entre você e aquele oficial da Gebler? Qual é a conexão entre você e ele...? Sabe... Com certeza, por algum motivo... Você sabe um bocado sobre a Gebler!
Sigurd ficou em silêncio por algum tempo, voltando-se para a porta ao ver Citan aparecer e acenar afirmativamente com a cabeça antes de responder.
_ ... Muito bem, eu vou contar – Citan veio colocar-se ao lado do amigo, enquanto Sigurd começou a explicar – Eu e... Citan, aqui... costumávamos morar em Solaris.
_ Solaris... – Bart parecia estar entendendo devagar – Você quer dizer... de onde vem a Gebler?
_ Isso mesmo. Solaris... chama os forasteiros de ‘Cordeiros’. São usados para trabalho manual. Basicamente, é escravidão.
_ Escravidão?
Maison, e também Fei, entraram no quarto também para acompanhar a conversa enquanto Bart perguntava:
_ É de lá que vocês se conhecem? – e indicou Citan, ao que o doutor respondeu afirmativamente com um aceno enquanto Sigurd continuou:
_ Nós trabalhamos para o governo de Solaris por um curto período, mas descobrimos que não gostávamos dos métodos deles e fugimos na primeira chance que tivemos.
Bart ficou em silêncio por algum tempo, sério como raramente se via. Parecia estar considerando tudo o que ouvira. Após a pausa, ele perguntou:
_ ...Vocês eram amigos dessas pessoas? Sig – e parou diante do imediato – eu conheci você quando era garoto e estivemos juntos desde então... Assim, isso teria que ter acontecido ainda antes. Provavelmente eu não teria entendido isso se tivesse ouvido antes, mas... Por que você achou que eu não poderia lidar com isso agora? Você com certeza podia ter me contado. Especialmente quando tinha algo a ver com as pessoas que estão apoiando aquele idiota do Shakhan! – e deu as costas a Sigurd, parecendo aborrecido – Eu queria que você tivesse me dito antes.
_ ... Não há nada que eu possa fazer a respeito disso agora – respondeu Sigurd, após um instante em silêncio – Mas há uma coisa em que eu quero que acredite: nós deixamos Solaris por vontade própria e por nossas próprias razões. Agora que eles surgiram diante de nós, não podemos apenas nos sentar e não fazer nada. Se necessário, eu darei minha vida para detê-los.
Bart olhou para Sigurd, para Citan, deu uma olhada para Fei, como que pedindo apoio, e acabou abanando a cabeça afirmativamente:
_ Tá bom, eu entendo. Mas dá pra detalhar um pouco mais? – sentou-se na cama atrás de si – O que me incomoda é esse negócio de ‘Habitantes da Superfície’... É como se Solaris fosse em outro lugar. Como nas nuvens, ou coisa do tipo?
_ Sim, bem... – Sigurd resolveu começar do princípio – Etrenank, a capital do Império Solaris, é localizada nos céus. Solaris é separada da terra por campos de distorção dimensional conhecidos por ‘Portões’. A travessia entre os dois requer meios especiais de transporte... Tais como aeronaves. Para chegar a Aveh, nós embarcamos num vôo regular até a superfície.
_ Eu vim bem depois de Sigurd – comentou Citan – mas também escapei da mesma forma.
_ Hmmm... Tá. E o que são ‘Cordeiros’?
_ É a palavra que os solarianos usam para indicar aqueles que vivem na terra. Como eu disse antes – prosseguiu Sigurd – tais ‘habitantes da superfície’, ou ‘habitantes da terra’, são usados para trabalho manual, que pode ser qualquer coisa. Desde soldados até trabalhos administrativos. Solaris reúne sua mão de obra dos habitantes da terra. Os trabalhos são divididos entre os mais apropriados. Algumas vezes, as pessoas sofrem lavagem cerebral.
_ Lavagem cerebral?! – perguntou Bart, agora parecendo indignado.
_ Eu... Quando você, jovem mestre, ainda era menino, eu fui usado como cobaia para testes. Provavelmente, havia algo que eles valorizavam dentro de mim.
Bart e Fei ficaram em silêncio. Isso parecia demais. Voltando-se para Citan, Fei perguntou:
_ Você também, Doc?
_ Não... Eu nasci nos níveis mais baixos da cidade. Não é um segredo completo... Mas acho que eu sou um solariano. Sabem... Você sempre precisa de gente para conduzir um país... Não importa o quão cientificamente avançado seja, você não tem apoio sem pessoas.
_ Solarianos puros são raros – comentou Sigurd – Na verdade, eles não chegariam a um quarto da população total de Aveh. Então, eles sustentam seu país roubando habitantes da superfície.
Bart sacudiu a cabeça negativamente, como que afastando o pensamento de que qualquer um poderia servir, como acontecera a Sigurd. Ao invés disso ele perguntou:
_ Aquele cara da Gebler com quem eu e Fei lutamos... Quem é ele?
_ O nome dele é Kahr... Kahran Ramsus – respondeu Sigurd – Como já sabem, ele é o Comandante da Gebler.
_ Ramsus...?
_ Nós o chamamos de Kahr. Em Solaris, há uma escola de treinamento de oficiais chamada ‘Jugend’. Ele se tornou o comandante depois de sair de lá.
_ Ele é um cidadão dos níveis baixos, assim como eu – disse Citan – No entanto, com suas habilidades fantásticas... Depois de se graduar, ele subiu pelos postos com velocidade inigualável.
_ Aquele homem tinha um ideal – continuou Sigurd – alcançar uma consolidação de todos os seus colegas. Mesmo habitantes da terra, se tivessem talento, eram trazidos para o exército.
_ Então, vocês dois foram pegos pelo Ramsus...? – perguntou Bart.
_ Não... – respondeu Citan – Não fomos pegos por ele. Nós mesmos nos aliamos a ele.
_ Naquela época, concordávamos com ele.
_ Naquela época, Ramsus era a nossa esperança. Ele tinha ideais altos e queria mudar o sistema de Solaris. Para nós, objetos de teste e cidadãos de nível baixo, ele era realmente tudo o que podíamos querer.
_ Um benfeitor? – Bart não conseguia imaginar a figura arrogante com quem lutara como esperança, fosse para quem fosse.
_ Sim – confirmou Sigurd – Mesmo eu, uma cobaia de testes, fui movido pelos ideais dele.
_ Então, por que vocês quiseram sair de Solaris?
_ Fomos colocados em posições militares chaves por Ramsus – explicou Sigurd – e graças a isso, soubemos do relacionamento entre Solaris e os habitantes da superfície.
_ Os... ‘Cordeiros’, né?
_ Eles não usavam a nós, ‘Cordeiros’, apenas para trabalho escravo – o rosto de Sigurd pareceu mais sombrio – Eles também escolhiam alguns de nós, como eu, para serem usados como objetos de experiências para refinar suas drogas... Drogas que mudam as personalidades das pessoas, para torna-las mais agressivas e para ativar suas habilidades latentes de batalha. Estavam nos usando como cobaias humanas para testar suas drogas de alteração psicológica.
_ Cobaias humanas...? – Bart não parecia acreditar – Experiências em humanos?
_ Sim – confirmou Sigurd – Por exemplo... ‘Drive’. Essa droga e todas as outras como ela são produtos derivados de experiências humanas.
_ No entanto – completou Citan – o papel de tais cobaias não era limitado apenas a isso.
_ Essa droga, ‘Drive’ – perguntou Fei, pensativo e parecendo preocupado – é uma coisa que qualquer um no exército de Solaris pode usar?
_ Pelo menos, qualquer um nas forças Gebler que seja enviado para a superfície – respondeu Citan, e Bart voltou-se para Fei, entendendo o que preocupava o amigo.
_ Está preocupado com ela, né? – Fei voltou-se depressa para ele, e Bart fez que sim com a cabeça, sério – Eu vi um pouco disso... no quarto dela.
_ Não...
_ Que seja ... Usar escravos como cobaias... Meu, esses caras são baixos demais... Saco! – sentou-se novamente na cama e fez um sinal afirmativo com a cabeça – É... Acho que entendi a maioria. Velho Maison! Reserve o salão da cidade pra nós. Vamos terminar de conversar lá. Eu vou lá fora respirar um pouco.
Bart saiu sozinho, e Sigurd comentou um tanto pesaroso:
_ Eu deveria ter sido honesto com ele antes...
_ É melhor não se preocupar com isso – atalhou Citan – Você fez tudo o que pôde no tempo certo. O jovem vai entender.

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