E vamos pro Capítulo Dez! Depois de encontros, desencontros e reencontros, eis que finalmente Fei, Bart e Citan escapam de Aveh, e ainda levam Margie de volta pra Nisan! Aproveitem pra conhecer o pequeno e mais religioso dos países do Continente Ignas, com uma tradição de mais de quinhentos anos.
Grande coisa. O que aconteceu em tanto tempo não tem qualquer relevância com a história de agora... certo?
Capítulo 10: A Caminho de Nisan
A Yggdrasil recolhera os fugitivos no deserto e
agora eles estavam rumando para Nisan enquanto conversavam no convés com
Sigurd, e ele perguntou:
_ Bem, Marguerite, agora que já
salvamos você, posso fazer uma pergunta? Por que resolveu ir contra o inimigo
sozinha?
_ Desculpem, mas... – e ela
pareceu acanhada – Eu ouvi um rumor na cidade naquele dia... Diziam que as
irmãs da seita que haviam sido capturadas por Aveh ainda estavam vivas...
_ Obviamente, um rumor infundado
começado pelo inimigo a fim de atrair você – concluiu Sigurd, mas Maison
interveio:
_ Por favor, não seja tão duro
com ela. A Seita de Nisan é o lar de Marguerite. É perfeitamente compreensível.
Bart ainda não havia se
pronunciado, fingindo estar muito ocupado com o timão do convés. Ao ouvir
aquilo, voltou-se.
_ Então... você achou que podia
salva-las sozinha?! Isso foi burrice!!
_ Eu achei que podia! E daí?! Eu
estava errada. Mas... – e Margie pareceu perder a irritação novamente, voltando
as costas e olhando para o deserto – mas... Vovó e mamãe já tinham sido
executadas...
_ Marguerite...
Sigurd, bem como os outros,
podiam entender o quanto aquilo devia ser doloroso para a moça. Para acalmar os
ânimos, Maison pigarreou:
_ Seja como for, Marguerite está
aqui ilesa. Isso é o que importa! Antes que a sorte acabe, levemos Marguerite
para Nisan. Podemos conversar mais lá. Agora, eu irei preparar o seu quarto...
Senhorita Marguerite, posso pedir que me acompanhe?
Maison se retirou e Margie seguiu
logo atrás dele, mas ela não dera cinco passos ainda antes que Bart a chamasse.
_ Margie!!
A moça voltou-se e viu o olhar do
primo, agora bem mais compreensivo, quando ele disse:
_ Da próxima vez avise a gente!
Nós vamos com você.
_ Tá... Eu faço isso.
Ela ainda parecia triste, mas
reconfortada, quando deixou o convés. Passado um instante, Sigurd comentou:
_ Marguerite está suportando tudo
sozinha. Jovem mestre, você deve ser gentil com ela.
Eles desceram pouco depois e a
primeira coisa que Fei e Bart descobriram foi o bicho de pelúcia rosa que
Margie fizera questão de trazer consigo do palácio. Estava bem diante da ponte
de comando e atrapalhando quem queria entrar e Bart comentou com o amigo:
_ Essa Margie! Deixar essa coisa
esquisita bem aqui! Agora fica aí, interrompendo o caminho pra a ponte!
_ Esquisita, nada!
Bart olhou para os lados, procurando
pelo dono daquela voz fina, antes de olhar feio para Fei.
_ Ei Fei!!! Vamos parar com as
vozes engraçadas, tá?!
_ Hã? Mas eu não disse nada!
_ ... Esquisito. Mas que seja,
vamos pedir à Margie pra dar cabo disso.
E os dois foram rumo ao quarto de
Margie, próximo ao hangar de Gears da Yggdrasil, e mal chegaram lá, Bart foi
dizendo:
_ Ei Margie, livre-se daquele bicho
de pelúcia estranho que tá sentado diante da ponte! Está no caminho!
_ Ela não é um ‘bicho de pelúcia estranho’!
Tem um nome! O nome dela é Chu-Chu! Mas é esquisito. Ela estava bem aqui, onde
eu coloquei, um momento atrás...
Foi quando a porta se abriu e o
‘bichinho de pelúcia’ de Margie entrou e falou com a voz fina que Fei e Bart
tinham ouvido antes:
_ Prazer em conhecer vochu!! Eu
sou Chu-Chu! – e voltou para Fei seus grandes olhos escuros – Eu me apaichunei
por vochu quando vi vochu pela primeira vez em Bledavik!! Para onde quer que
vá, eu vou com vochu!
E ela então virou o rosto,
parecendo terrivelmente sem jeito enquanto dizia para si mesma:
_ Ah, meus deuses... Eu acabei de
declarar o meu amor!!
Bart coçou a cabeça e pareceu
muito surpreso, mas também estava se divertindo:
_ O que nós pensamos que fosse só
um brinquedo de pelúcia é na verdade um animal vivo! Esquisito!
_ Não admira que ela parecesse
tão quente agora há pouco! – comentou Margie de braços cruzados e com ar de
quem tinha entendido tudo. Fei foi o único que não achou tanta graça, ao notar
que Chu-Chu estivera falando com ele.
_ O q-quê?
_ Manda ver, Fei!! – Bart deu-lhe
um tapinha no ombro – Tá tudo bem. Eu, como o capitão, dou a minha permissão a
vocês!
Chu-Chu pulou de alegria, Fei
mandou que Bart ficasse quieto e Margie riu. Vendo a animação da criaturinha
rosa e o ar sem graça do amigo, Bart riu mais ainda e se afastou comentando:
_ Bom, eu não quero interromper
vocês dois, então vou esperar na ponte.
Fei balançou a cabeça
desconsolado mas, apesar de também estar rindo, Margie ficou um pouco mais
séria quando Bart saiu e agradeceu a Fei.
_ Obrigada pela sua ajuda no
castelo. Eu... ouvi dizer que você esteve ótimo no torneio. Bart estava se
gabando do quanto vocês eram companheiros, e tudo o mais.
_ M-mesmo? – perguntou Fei
voltando-se para ela, parecendo um pouco menos embaraçado. E Margie deu as
costas a Fei, baixando a cabeça e parecendo envergonhada.
_ Sabe, eu queria poder ajudar ao
Bart, mas acabei devendo a ele de novo. Fei – e voltou-se para ele – você já
viu as costas do Bart? Ele tem cicatrizes ao longo das costas, e elas parecem
muito dolorosas. Há muito tempo, quando nós dois fomos presos por Shakhan, Bart
me protegia de levar surras. Naquela época eu decidi segui-lo... Para servi-lo
e protege-lo! Mas é sempre ele quem me protege...
Fei continuou em silêncio. Não
era realmente o tipo de imagem que se faria de Bart conhecendo-o
superficialmente, mas ele realmente sabia ser responsável quando o assunto era
alguém com quem se importava. E Margie pareceu ficar embaraçada de repente por
falar de forma tão aberta, e se desculpou.
_ Hã, ah, me desculpe... Seja
como for, muito obrigada por ter me salvo!
Pouco depois na ponte, Fei
encontrou Sigurd e Bart conversando e procurou acompanhar o assunto. O imediato
de cabelos brancos estava falando sobre o que Margie lhe dissera a respeito de
um causador de problemas da Gebler, e Bart confirmou:
_ É, acho que já vi... Então,
quem diabos é ele?
_ Pela descrição de Margie,
acredito que seja Kahran Ramsus, da Agência Especial de Tarefas no Estrangeiro
do Império de Solaris. Em outras palavras, ele é o comandante em chefe da
Gebler. Parece que a Gebler não está apenas procurando pelas áreas de escavação
em torno de Aveh, afinal.
_ Tá querendo dizer que eles não
estão atrás do Jasper?
_ Se este fosse o único objetivo
deles, não precisariam enviar um homem importante como ele! Jovem mestre, isso
pode se tornar inesperadamente complicado...
_ Desculpe interromper, Sigurd –
interrompeu Fei – mas o Doc não voltou ainda, voltou?
_ Ah, Hyu... digo, ‘Doc’... Bem, não
precisa se preocupar com ele; em breve se reunirá a nós. E estamos a caminho de
Nisan, através da estrada secreta. O sinal para localiza-la é uma árvore
solitária no deserto.
Citan chegou à Yggdrasil pouco
antes da entrada do cruzador na estrada secreta. Enquanto a nave desaparecia
pela estrada subterrânea, Sigurd e Citan trocaram confidências na sala de
conferência do cruzador e com ar pensativo, Sigurd disse:
_ ... Agora entendo por que você
veio até a superfície... Certo, eu entendo você. Mas Kahran Ramsus, assumir o
posto de Aveh... É muito inconveniente.
_ O país natal pode ter tido
algumas razões especiais – comentou Citan pensativamente – mas talvez ainda
haja uma chance de sucesso. Você e eu, que costumávamos ser chamados de
“Elementos” na escola de treinamento do comandante em Jugend, estamos aqui!
_ Espero que esteja certo...
_ Aliás, ela ainda está...?
Sigurd pareceu ainda mais
preocupado antes de concordar com um aceno de cabeça.
_ De acordo com Fei, havia uma
auxiliar feminina ao lado de Kahr, e ele disse que ela possuía olhos e cabelos
cor azul índigo... Então, deve ser ela...
_ Então, todos os antigos membros
dos “Elementos” estão na superfície do mundo agora...
_ Acho que sim – e Sigurd voltou
as costas ao velho amigo, parecendo um pouco nervoso antes de dizer – Hyuga...
Para ser honesto com você... Ela me assusta. Ela apoia Kahr e é gentil com
todos, eu sei muito bem disso, mas às vezes eu sinto um medo estranho dela.
Isso me incomoda mais do que Kahr estar nesta terra.
_ Isso não pode ser verdade...
Não nela.
_ Sim, eu também não quero
acreditar nisso, mas não se lembra de como eu sempre pude sentir essas coisas
com precisão?
_ Sim, me lembro – Citan pareceu
mais preocupado, sabendo que os instintos de Sigurd eram dignos de toda a
confiança. Meio que para sair do assunto, ele perguntou:
_ Aliás, você já contou ao
jovem...?
_ Não, ainda não. Não quero que
ele se preocupe até sabermos exatamente quais são os objetivos de Solaris. Mas,
eventualmente, terei que contar a ele. Mas de qualquer forma, Hyuga, você
conseguiu alguma informação?
_ Na verdade não – lamentou Citan
– Eu saí de lá antes de penetrar na seção central...
Sem que ambos soubessem, Fei
estava no alto da escadaria ouvindo a conversa, absorto em pensamentos. Como o
nome pelo qual Sigurd chamava Citan; já ouvira o Doutor chamado por vários
nomes e pessoas diferentes, mas era a primeira vez em que ouvia ‘Hyuga’...
_ ‘Fei!!’
Estava tão absorto que deu um
pulo quando alguém chamou baixinho pelo seu nome. Ele voltou-se sobressaltado,
mas era apenas Bart, também chegando devagar para espreitar a conversa.
_ ‘Ah, é você Bart?! – ele disse
baixinho – Não me assuste desse jeito...!’
_ ‘Foi mal, foi mal – ele olhou
para baixo, ficando tão intrigado quanto Fei – Me parece que Sig e seu amigo
doutor conhecem muito bem um ao outro. Sig... Que droga, achei que eu sabia de
tudo sobre aquele cara!
_ Quando o Doc voltou...? –
perguntou-se Fei, voltando a olhar para baixo.
Mas isso seriam respostas para
depois. Não tardou para que a poderosa Yggdrasil aportasse na doca secreta em
Nisan. O povo aguardava ansioso, pois Sigurd providenciara para que a cidade
soubesse de antemão que Marguerite estava retornando e, no momento do desembarque,
Maison desceu com os viajantes enquanto Sigurd fazia os acertos finais a bordo.
Bart foi o primeiro a descer e perguntou ao primeiro conhecido como estava a
cidade.
_ Apesar da alegria do povo com a
volta da Madre Marguerite – disse o homem – recebemos notícias há vários dias
atrás de que pode haver um exército avançando da Capital Real, e os
representantes da Seita estiveram em discussão desde então.
_ E o que eles decidiram?
_ Até agora, planejam apenas
reforçar as defesas locais. E pessoas contrárias a Shakhan foram reunidas
aqui... Provavelmente porque eles ouviram sobre o que está havendo.
_ Bem, isso é reconfortante.
_ Sim. No entanto, os habitantes
estão começando a se sentir inseguros. Há pessoas começando a se refugiar nas
montanhas ao norte.
_ Não dá pra culpa-los.
_ É claro. Aliás, como está
Marguerite...?
_ Melhor do que pensávamos. Mas
eu sei que ela passou por maus bocados.
Margie desceu pouco depois, e o
grupo de recepção ficou visivelmente alegre com o retorno da Grande Madre. Juntamente
com Maison, Citan, Fei e Bart, ela cruzou os portões da cidade e olhou
maravilhada para tudo o que podia.
_ Uau! Já faz tanto tempo desde
que eu saí daqui!
_ Bem – disse Citan – antes de
mais nada, devemos acompanhar Marguerite até o templo da seita...
Foi quando notaram Bart olhando
para trás, e ele perguntou com ar intrigado:
_ O que foi, Velho Maison?
Foi quando todos notaram que o
mordomo estava chorando, enxugando discretamente uma lágrima no canto do olho.
_ *Sniff...* Os deuses me agraciaram...!
E pensar que a pequena Senhorita Marguerite finalmente foi capaz de voltar para
cá... É tão comovente!
Citan e Fei olharam para Maison,
para Bart e novamente para Maison, e Bart pareceu ficar sem jeito diante das
lágrimas do seu tutor:
_ E-ei! Vê se se controla, velho!
Maison mais do que depressa
enxugou as lágrimas, também parecendo sem jeito:
_ M-me perdoem... Que
terrivelmente embaraçoso! Eu não pude evitar... Eu... é melhor que eu volte e
dê algumas instruções aos homens que ficaram na nave. Por favor, jovem mestre,
vá adiante e acompanhe a Senhorita Marguerite em sua visita às irmãs. Com
licença.
Maison os deixou e o grupo seguiu
rumo ao monastério, onde a notícia da chegada de Margie deixara todas as irmãs
numa grande expectativa. Sempre acompanhando a jovem madre, Fei, Citan e Bart
chegaram ao seu destino, um ambiente espetacular de janelas e vitrais ricamente
trabalhados e uma aura de tranqüilidade que poderia subjugar o maior dos
guerreiros. As freiras estavam reunidas diante do altar em oração quando uma
delas ouviu alguém entrar e reconheceu a moça que vinha diante dos três homens.
_ Margie!
Diante do nome conhecido, todas
as irmãs se voltaram e vieram correndo receber a madre desaparecida. A alegria
da reunião era mútua e, entre a troca de saudações, ela disse:
_ Sim, e é tudo graças ao Bart e
a estes homens.
_ Nós ouvimos dizer – respondeu
uma das freiras – Então, estávamos cantando um hino de alegria e júbilo.
_ Bem vinda de volta, Margie –
saudou Irmã Agnes, a líder presente das freiras – Nós tínhamos fé em que você e
seu primo Bart um dia retornariam em segurança. Nós e seus outros amigos
estivemos esperando por vocês.
_ Irmã Agnes! – e Margie trocou
um abraço com a freira mais velha, que disse com pesar:
_ Infelizmente, sua mãe e a abençoada
Madre Real...
_ Eu já sei, Irmã Agnes... Eu
ouvi a respeito na Capital Real... Mas, ao menos, eu consegui voltar. Eu nunca
mais vou pra lugar nenhum, nem vou deixar vocês de agora em diante!
_ Abençoada seja, minha querida.
E a freira mais velha enxugou
lágrimas. Agindo um pouco como Bart, Margie limpou as lágrimas de Agnes e
disse:
_ Irmã Agnes, isso não parece
você! Aqui estou eu, sã e salva! Será que não pode me dar uma bronca, como nos
velhos tempos?
Agnes sorriu com a brincadeira, e
isso dissipou o ambiente triste.
_ Hã... Eu sinto muito... Mas
estou tão feliz que não pude evitar...
As demais freiras mantiveram-se
num silêncio emocionado, até que Agnes olhou em volta e disse, subitamente
parecendo inconformada:
_ ... Não há razão para ficar tão
solenemente quietas. Para celebrar o retorno de nossa querida irmã Margie e
para expressar nossa alegria aos céus, vamos encerrar o nosso hino.
_ Obrigada – disse Margie,
contendo a emoção – e abençoadas sejam vocês todas. Ah, e irmã... Eu posso ir
lá em cima? Já faz tanto tempo, e eu gostaria de ir dar uma olhada.
_ Ora, mas é claro, querida! Não
precisa ter vergonha de ir a lugar algum, a não ser por uma coisa: nunca mais
fique longe por tanto tempo.
Margie riu, sabendo que Agnes
diria aquilo. Já se parecia com a mesma madre que ela conhecia. E as freiras
retornaram ao seu canto no altar, que soava pela catedral e dava à aura de paz
uma presença mais real. Bart ficou á esquerda da prima e comentou, meio para si
mesmo:
_ Já faz algum tempo desde a
última vez em que estive aqui – então viu que algo parecia diferente na
expressão da prima e perguntou – Algo errado, Margie?
_ ... Não... Nada. É só que... –
ela também limpou os olhos e sorriu para Bart – Acho que eu fiquei um pouquinho
comovida. Heh, heh heh.
_ ... Tá. Mas vê se pega leve
agora. Você já passou por coisa o suficiente, tá?
_ ... Se está tentando me fazer
chorar, não vai conseguir. Ah, já sei! – e olhou para Fei e Citan – Que tal se
eu mostrar a vocês a nossa catedral? Me sigam!
E foi animadamente correndo na
frente, tomando o rumo de uma ampla escadaria, enquanto Citan comentava:
_ Que garota forte ela é... É
óbvio que ela realmente quer apenas relaxar e chorar...
_ É, você acertou – Bart
concordou – Ela sempre foi assim. Por tudo o que ela fala, dá pra ver que
entende bem sua posição... Talvez tenham umas coisinhas que eu poderia aprender
com ela.
Eles subiram com Marguerite até
os camarotes do segundo andar. A luz do sol entrava pelos vitrais e o canto das
freiras era ainda mais nítido ali em cima. O telhado era desenhado de forma a
facilitar a acústica, e os entalhes por toda a sacada haviam sido feitos de
forma soberba.
_ ... Que magnífico! – admirou-se
Citan.
_ Sempre que aprontávamos quando
éramos crianças – disse Margie – Bart e eu costumávamos nos esconder aqui.
_ Ei, pare de contar essas velhas
histórias! – ralhou Bart – É o maior mico!
_ Mas, pra mim – comentou Margie,
se afastando pelo corredor – Bart não mudou muito desde então.
_ O quê?! Quer dizer que você
acha que eu ainda sou um moleque!?
Fei e Citan fizeram sinais para
que ele falasse mais baixo; afinal, ainda estavam numa catedral! E eles
seguiram Margie até ficarem na passarela exatamente sobre a porta de entrada,
de frente para o altar. Margie olhava para o altar, encantada.
_ Eu acho que a vista daqui é a
melhor.
Sobre o altar, entre vários
candelabros, havia duas figuras enormes semelhantes a anjos. Com uma
peculiaridade: cada um dos anjos só tinha uma asa, e ambos pareciam estar
prestes a segurar a mão um do outro. Citan acenou afirmativamente com a cabeça
antes de responder:
_ Sim, isso é de tirar o fôlego!
A luz externa brilha através do vidro temperado da frente da catedral... Que
obra de arte de maestria brilhante é esta!
_ Vocês perceberam – perguntou
Margie – que os dois grandes anjos só têm uma asa cada um...?
O canto das freiras pareceu mais
alto e Margie prosseguiu:
_ De acordo com uma lenda passada
em Nisan, Deus poderia ter criado os humanos na perfeição... Mas assim, os
humanos não ajudariam uns aos outros. E é isso o que estes grandes anjos com
uma só asa representam. Para poder voar, eles dependem um do outro.
_ Ah, então é essa a razão –
Citan fez que sim com a cabeça, começando a meditar profundamente enquanto
olhava em volta – Entendo. Numa nova inspeção, o anjo esquerdo parece um tanto
masculino, enquanto o da direita parece feminino. Sem dúvida é uma conotação
incomum, não? Geralmente, estas descrições não especificam o gênero. Mas estes
anjos são claramente distinguíveis como tendo gêneros opostos. E o espaço entre
eles é o caminho onde há o advento de Deus... Ou seria o caminho levando a
Deus? Bem, não sei. Poderia ser qualquer um, ou ambos.
Ele pareceu pensativo por um
longo momento, sem notar que Bart, Margie e Fei olhavam para ele em silêncio e
com ar de estranheza. Ele finalmente bateu nas próprias mãos, concluindo:
_ Entendo! Isso tudo coincide com
os ensinamentos de Nisan!
Bart e Margie olharam para Fei,
que meramente acenou que não com a cabeça; também não entendera nada. E Margie
riu.
_ Ah, Doutor Citan Uzuki, você é
um companheiro divertido!
Foi quando Citan percebeu que se
perdera nas reflexões e pediu desculpas, um tanto embaraçado. Em sua defesa,
Fei disse sorrindo:
_ O Doc sabe um bocado sobre um
bocado de coisas. Às vezes, nem eu entendo do que ele está falando.
Todos voltaram a olhar para os
anjos enquanto a catedral continuava cheia do canto angelical das Irmãs de
Nisan, e pensaram por algum tempo na lenda. Bart acabou por dar de ombros:
_ ... Hah! Forçá-los a voarem
juntos...? Seria bem mais fácil se eles pudessem voar por si mesmos, não acha
Fei?
_ Bart! – Margie o repreendeu –
Você está perdendo o significado mais profundo e belo disso! – e voltou o olhar
para as estátuas, com ar sonhador – Algum dia, eu gostaria de poder ajudar
alguém desse jeito...
Eles continuaram a observar as
imagens e a ouvir o canto, imersos nos próprios pensamentos sobre a lenda e os
anjos por mais algum tempo, até que Margie voltou-se para os três, tendo se
lembrado de algo.
_ Ah, não visitamos a ‘Sala de
Sophia’ ainda não é? Seria realmente preciso que vocês passassem por alguns
procedimentos antes de poderem vê-la, mas acho que vai ficar tudo bem se desta
vez eu fizer uma exceção especial.
_ Sophia? – perguntou Fei.
_ Sim, Sophia. Ela é reverenciada
como a madre fundadora da nação de Nisan, e fundadora da religião de Nisan, que
segue seus ensinamentos. Há uma sala lá em cima que tem um retrato da Madre
Sophia.
_ Eu definitivamente gostaria de
ver isso! – declarou animadamente Citan – Fei, vamos dar uma olhada.
Eles tornaram a seguir Margie até
o fim da passarela, passando por algumas portas laterais até chegar à última
delas, onde havia uma escadaria maior. Ao fim dela, havia um quarto onde a
janela curiosamente tinha a forma do pingente em forma de crucifixo de Fei, e a
luz do sol desenhava a forma exatamente no tapete central. O trio entrou
seguido por Margie e a primeira coisa de que Fei se tornou consciente depois de
olhar para a figura ali retratada foi a voz de Citan, comentando que era um
retrato peculiar, e a linda dama retratada também estava além de qualquer
comparação.
_ E, mais ainda... – ele comentou
pensativo – isso parece muito familiar...! O que acha, Fei?
_ É, eu acabei de pensar a mesma
coisa. O cabelo é de uma cor diferente, mas a atmosfera, ou a personalidade dela
é exatamente a mesma.
_ O quê? – Citan ficou confuso –
Cor do cabelo? Do que está falando?
_ Do que estou falando? – Fei nem sequer piscava, com
os olhos fixos na enorme pintura diante de si – Olhe...! É a garota que eu
encontrei na floresta... É a Elly!
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