domingo, dezembro 28

Capítulo Dez!

Salve pessoas! Salve espíritos! Salve aliens! No que provavelmente vai ser o último post do ano, saudações do Louco!

E vamos pro Capítulo Dez! Depois de encontros, desencontros e reencontros, eis que finalmente Fei, Bart e Citan escapam de Aveh, e ainda levam Margie de volta pra Nisan! Aproveitem pra conhecer o pequeno e mais religioso dos países do Continente Ignas, com uma tradição de mais de quinhentos anos.

Grande coisa. O que aconteceu em tanto tempo não tem qualquer relevância com a história de agora... certo?

Capítulo 10: A Caminho de Nisan


A Yggdrasil recolhera os fugitivos no deserto e agora eles estavam rumando para Nisan enquanto conversavam no convés com Sigurd, e ele perguntou:
_ Bem, Marguerite, agora que já salvamos você, posso fazer uma pergunta? Por que resolveu ir contra o inimigo sozinha?
_ Desculpem, mas... – e ela pareceu acanhada – Eu ouvi um rumor na cidade naquele dia... Diziam que as irmãs da seita que haviam sido capturadas por Aveh ainda estavam vivas...
_ Obviamente, um rumor infundado começado pelo inimigo a fim de atrair você – concluiu Sigurd, mas Maison interveio:
_ Por favor, não seja tão duro com ela. A Seita de Nisan é o lar de Marguerite. É perfeitamente compreensível.
Bart ainda não havia se pronunciado, fingindo estar muito ocupado com o timão do convés. Ao ouvir aquilo, voltou-se.
_ Então... você achou que podia salva-las sozinha?! Isso foi burrice!!
_ Eu achei que podia! E daí?! Eu estava errada. Mas... – e Margie pareceu perder a irritação novamente, voltando as costas e olhando para o deserto – mas... Vovó e mamãe já tinham sido executadas...
_ Marguerite...
Sigurd, bem como os outros, podiam entender o quanto aquilo devia ser doloroso para a moça. Para acalmar os ânimos, Maison pigarreou:
_ Seja como for, Marguerite está aqui ilesa. Isso é o que importa! Antes que a sorte acabe, levemos Marguerite para Nisan. Podemos conversar mais lá. Agora, eu irei preparar o seu quarto... Senhorita Marguerite, posso pedir que me acompanhe?
Maison se retirou e Margie seguiu logo atrás dele, mas ela não dera cinco passos ainda antes que Bart a chamasse.
_ Margie!!
A moça voltou-se e viu o olhar do primo, agora bem mais compreensivo, quando ele disse:
_ Da próxima vez avise a gente! Nós vamos com você.
_ Tá... Eu faço isso.
Ela ainda parecia triste, mas reconfortada, quando deixou o convés. Passado um instante, Sigurd comentou:
_ Marguerite está suportando tudo sozinha. Jovem mestre, você deve ser gentil com ela.
Eles desceram pouco depois e a primeira coisa que Fei e Bart descobriram foi o bicho de pelúcia rosa que Margie fizera questão de trazer consigo do palácio. Estava bem diante da ponte de comando e atrapalhando quem queria entrar e Bart comentou com o amigo:
_ Essa Margie! Deixar essa coisa esquisita bem aqui! Agora fica aí, interrompendo o caminho pra a ponte!
_ Esquisita, nada!
Bart olhou para os lados, procurando pelo dono daquela voz fina, antes de olhar feio para Fei.
_ Ei Fei!!! Vamos parar com as vozes engraçadas, tá?!
_ Hã? Mas eu não disse nada!
_ ... Esquisito. Mas que seja, vamos pedir à Margie pra dar cabo disso.
E os dois foram rumo ao quarto de Margie, próximo ao hangar de Gears da Yggdrasil, e mal chegaram lá, Bart foi dizendo:
_ Ei Margie, livre-se daquele bicho de pelúcia estranho que tá sentado diante da ponte! Está no caminho!
_ Ela não é um ‘bicho de pelúcia estranho’! Tem um nome! O nome dela é Chu-Chu! Mas é esquisito. Ela estava bem aqui, onde eu coloquei, um momento atrás...
Foi quando a porta se abriu e o ‘bichinho de pelúcia’ de Margie entrou e falou com a voz fina que Fei e Bart tinham ouvido antes:
_ Prazer em conhecer vochu!! Eu sou Chu-Chu! – e voltou para Fei seus grandes olhos escuros – Eu me apaichunei por vochu quando vi vochu pela primeira vez em Bledavik!! Para onde quer que vá, eu vou com vochu!
E ela então virou o rosto, parecendo terrivelmente sem jeito enquanto dizia para si mesma:
_ Ah, meus deuses... Eu acabei de declarar o meu amor!!
Bart coçou a cabeça e pareceu muito surpreso, mas também estava se divertindo:
_ O que nós pensamos que fosse só um brinquedo de pelúcia é na verdade um animal vivo! Esquisito!
_ Não admira que ela parecesse tão quente agora há pouco! – comentou Margie de braços cruzados e com ar de quem tinha entendido tudo. Fei foi o único que não achou tanta graça, ao notar que Chu-Chu estivera falando com ele.
_ O q-quê?
_ Manda ver, Fei!! – Bart deu-lhe um tapinha no ombro – Tá tudo bem. Eu, como o capitão, dou a minha permissão a vocês!
Chu-Chu pulou de alegria, Fei mandou que Bart ficasse quieto e Margie riu. Vendo a animação da criaturinha rosa e o ar sem graça do amigo, Bart riu mais ainda e se afastou comentando:
_ Bom, eu não quero interromper vocês dois, então vou esperar na ponte.
Fei balançou a cabeça desconsolado mas, apesar de também estar rindo, Margie ficou um pouco mais séria quando Bart saiu e agradeceu a Fei.
_ Obrigada pela sua ajuda no castelo. Eu... ouvi dizer que você esteve ótimo no torneio. Bart estava se gabando do quanto vocês eram companheiros, e tudo o mais.
_ M-mesmo? – perguntou Fei voltando-se para ela, parecendo um pouco menos embaraçado. E Margie deu as costas a Fei, baixando a cabeça e parecendo envergonhada.
_ Sabe, eu queria poder ajudar ao Bart, mas acabei devendo a ele de novo. Fei – e voltou-se para ele – você já viu as costas do Bart? Ele tem cicatrizes ao longo das costas, e elas parecem muito dolorosas. Há muito tempo, quando nós dois fomos presos por Shakhan, Bart me protegia de levar surras. Naquela época eu decidi segui-lo... Para servi-lo e protege-lo! Mas é sempre ele quem me protege...
Fei continuou em silêncio. Não era realmente o tipo de imagem que se faria de Bart conhecendo-o superficialmente, mas ele realmente sabia ser responsável quando o assunto era alguém com quem se importava. E Margie pareceu ficar embaraçada de repente por falar de forma tão aberta, e se desculpou.
_ Hã, ah, me desculpe... Seja como for, muito obrigada por ter me salvo!
Pouco depois na ponte, Fei encontrou Sigurd e Bart conversando e procurou acompanhar o assunto. O imediato de cabelos brancos estava falando sobre o que Margie lhe dissera a respeito de um causador de problemas da Gebler, e Bart confirmou:
_ É, acho que já vi... Então, quem diabos é ele?
_ Pela descrição de Margie, acredito que seja Kahran Ramsus, da Agência Especial de Tarefas no Estrangeiro do Império de Solaris. Em outras palavras, ele é o comandante em chefe da Gebler. Parece que a Gebler não está apenas procurando pelas áreas de escavação em torno de Aveh, afinal.
_ Tá querendo dizer que eles não estão atrás do Jasper?
_ Se este fosse o único objetivo deles, não precisariam enviar um homem importante como ele! Jovem mestre, isso pode se tornar inesperadamente complicado...
_ Desculpe interromper, Sigurd – interrompeu Fei – mas o Doc não voltou ainda, voltou?
_ Ah, Hyu... digo, ‘Doc’... Bem, não precisa se preocupar com ele; em breve se reunirá a nós. E estamos a caminho de Nisan, através da estrada secreta. O sinal para localiza-la é uma árvore solitária no deserto.
Citan chegou à Yggdrasil pouco antes da entrada do cruzador na estrada secreta. Enquanto a nave desaparecia pela estrada subterrânea, Sigurd e Citan trocaram confidências na sala de conferência do cruzador e com ar pensativo, Sigurd disse:
_ ... Agora entendo por que você veio até a superfície... Certo, eu entendo você. Mas Kahran Ramsus, assumir o posto de Aveh... É muito inconveniente.
_ O país natal pode ter tido algumas razões especiais – comentou Citan pensativamente – mas talvez ainda haja uma chance de sucesso. Você e eu, que costumávamos ser chamados de “Elementos” na escola de treinamento do comandante em Jugend, estamos aqui!
_ Espero que esteja certo...
_ Aliás, ela ainda está...?
Sigurd pareceu ainda mais preocupado antes de concordar com um aceno de cabeça.
_ De acordo com Fei, havia uma auxiliar feminina ao lado de Kahr, e ele disse que ela possuía olhos e cabelos cor azul índigo... Então, deve ser ela...
_ Então, todos os antigos membros dos “Elementos” estão na superfície do mundo agora...
_ Acho que sim – e Sigurd voltou as costas ao velho amigo, parecendo um pouco nervoso antes de dizer – Hyuga... Para ser honesto com você... Ela me assusta. Ela apoia Kahr e é gentil com todos, eu sei muito bem disso, mas às vezes eu sinto um medo estranho dela. Isso me incomoda mais do que Kahr estar nesta terra.
_ Isso não pode ser verdade... Não nela.
_ Sim, eu também não quero acreditar nisso, mas não se lembra de como eu sempre pude sentir essas coisas com precisão?
_ Sim, me lembro – Citan pareceu mais preocupado, sabendo que os instintos de Sigurd eram dignos de toda a confiança. Meio que para sair do assunto, ele perguntou:
_ Aliás, você já contou ao jovem...?
_ Não, ainda não. Não quero que ele se preocupe até sabermos exatamente quais são os objetivos de Solaris. Mas, eventualmente, terei que contar a ele. Mas de qualquer forma, Hyuga, você conseguiu alguma informação?
_ Na verdade não – lamentou Citan – Eu saí de lá antes de penetrar na seção central...
Sem que ambos soubessem, Fei estava no alto da escadaria ouvindo a conversa, absorto em pensamentos. Como o nome pelo qual Sigurd chamava Citan; já ouvira o Doutor chamado por vários nomes e pessoas diferentes, mas era a primeira vez em que ouvia ‘Hyuga’...
_ ‘Fei!!’
Estava tão absorto que deu um pulo quando alguém chamou baixinho pelo seu nome. Ele voltou-se sobressaltado, mas era apenas Bart, também chegando devagar para espreitar a conversa.
_ ‘Ah, é você Bart?! – ele disse baixinho – Não me assuste desse jeito...!’
_ ‘Foi mal, foi mal – ele olhou para baixo, ficando tão intrigado quanto Fei – Me parece que Sig e seu amigo doutor conhecem muito bem um ao outro. Sig... Que droga, achei que eu sabia de tudo sobre aquele cara!
_ Quando o Doc voltou...? – perguntou-se Fei, voltando a olhar para baixo.
Mas isso seriam respostas para depois. Não tardou para que a poderosa Yggdrasil aportasse na doca secreta em Nisan. O povo aguardava ansioso, pois Sigurd providenciara para que a cidade soubesse de antemão que Marguerite estava retornando e, no momento do desembarque, Maison desceu com os viajantes enquanto Sigurd fazia os acertos finais a bordo. Bart foi o primeiro a descer e perguntou ao primeiro conhecido como estava a cidade.
_ Apesar da alegria do povo com a volta da Madre Marguerite – disse o homem – recebemos notícias há vários dias atrás de que pode haver um exército avançando da Capital Real, e os representantes da Seita estiveram em discussão desde então.
_ E o que eles decidiram?
_ Até agora, planejam apenas reforçar as defesas locais. E pessoas contrárias a Shakhan foram reunidas aqui... Provavelmente porque eles ouviram sobre o que está havendo.
_ Bem, isso é reconfortante.
_ Sim. No entanto, os habitantes estão começando a se sentir inseguros. Há pessoas começando a se refugiar nas montanhas ao norte.
_ Não dá pra culpa-los.
_ É claro. Aliás, como está Marguerite...?
_ Melhor do que pensávamos. Mas eu sei que ela passou por maus bocados.
Margie desceu pouco depois, e o grupo de recepção ficou visivelmente alegre com o retorno da Grande Madre. Juntamente com Maison, Citan, Fei e Bart, ela cruzou os portões da cidade e olhou maravilhada para tudo o que podia.
_ Uau! Já faz tanto tempo desde que eu saí daqui!
_ Bem – disse Citan – antes de mais nada, devemos acompanhar Marguerite até o templo da seita...
Foi quando notaram Bart olhando para trás, e ele perguntou com ar intrigado:
_ O que foi, Velho Maison?
Foi quando todos notaram que o mordomo estava chorando, enxugando discretamente uma lágrima no canto do olho.
_ *Sniff...* Os deuses me agraciaram...! E pensar que a pequena Senhorita Marguerite finalmente foi capaz de voltar para cá... É tão comovente!
Citan e Fei olharam para Maison, para Bart e novamente para Maison, e Bart pareceu ficar sem jeito diante das lágrimas do seu tutor:
_ E-ei! Vê se se controla, velho!
Maison mais do que depressa enxugou as lágrimas, também parecendo sem jeito:
_ M-me perdoem... Que terrivelmente embaraçoso! Eu não pude evitar... Eu... é melhor que eu volte e dê algumas instruções aos homens que ficaram na nave. Por favor, jovem mestre, vá adiante e acompanhe a Senhorita Marguerite em sua visita às irmãs. Com licença.
Maison os deixou e o grupo seguiu rumo ao monastério, onde a notícia da chegada de Margie deixara todas as irmãs numa grande expectativa. Sempre acompanhando a jovem madre, Fei, Citan e Bart chegaram ao seu destino, um ambiente espetacular de janelas e vitrais ricamente trabalhados e uma aura de tranqüilidade que poderia subjugar o maior dos guerreiros. As freiras estavam reunidas diante do altar em oração quando uma delas ouviu alguém entrar e reconheceu a moça que vinha diante dos três homens.
_ Margie!
Diante do nome conhecido, todas as irmãs se voltaram e vieram correndo receber a madre desaparecida. A alegria da reunião era mútua e, entre a troca de saudações, ela disse:
_ Sim, e é tudo graças ao Bart e a estes homens.
_ Nós ouvimos dizer – respondeu uma das freiras – Então, estávamos cantando um hino de alegria e júbilo.
_ Bem vinda de volta, Margie – saudou Irmã Agnes, a líder presente das freiras – Nós tínhamos fé em que você e seu primo Bart um dia retornariam em segurança. Nós e seus outros amigos estivemos esperando por vocês.
_ Irmã Agnes! – e Margie trocou um abraço com a freira mais velha, que disse com pesar:
_ Infelizmente, sua mãe e a abençoada Madre Real...
_ Eu já sei, Irmã Agnes... Eu ouvi a respeito na Capital Real... Mas, ao menos, eu consegui voltar. Eu nunca mais vou pra lugar nenhum, nem vou deixar vocês de agora em diante!
_ Abençoada seja, minha querida.
E a freira mais velha enxugou lágrimas. Agindo um pouco como Bart, Margie limpou as lágrimas de Agnes e disse:
_ Irmã Agnes, isso não parece você! Aqui estou eu, sã e salva! Será que não pode me dar uma bronca, como nos velhos tempos?
Agnes sorriu com a brincadeira, e isso dissipou o ambiente triste.
_ Hã... Eu sinto muito... Mas estou tão feliz que não pude evitar...
As demais freiras mantiveram-se num silêncio emocionado, até que Agnes olhou em volta e disse, subitamente parecendo inconformada:
_ ... Não há razão para ficar tão solenemente quietas. Para celebrar o retorno de nossa querida irmã Margie e para expressar nossa alegria aos céus, vamos encerrar o nosso hino.
_ Obrigada – disse Margie, contendo a emoção – e abençoadas sejam vocês todas. Ah, e irmã... Eu posso ir lá em cima? Já faz tanto tempo, e eu gostaria de ir dar uma olhada.
_ Ora, mas é claro, querida! Não precisa ter vergonha de ir a lugar algum, a não ser por uma coisa: nunca mais fique longe por tanto tempo.
Margie riu, sabendo que Agnes diria aquilo. Já se parecia com a mesma madre que ela conhecia. E as freiras retornaram ao seu canto no altar, que soava pela catedral e dava à aura de paz uma presença mais real. Bart ficou á esquerda da prima e comentou, meio para si mesmo:
_ Já faz algum tempo desde a última vez em que estive aqui – então viu que algo parecia diferente na expressão da prima e perguntou – Algo errado, Margie?
_ ... Não... Nada. É só que... – ela também limpou os olhos e sorriu para Bart – Acho que eu fiquei um pouquinho comovida. Heh, heh heh.
_ ... Tá. Mas vê se pega leve agora. Você já passou por coisa o suficiente, tá?
_ ... Se está tentando me fazer chorar, não vai conseguir. Ah, já sei! – e olhou para Fei e Citan – Que tal se eu mostrar a vocês a nossa catedral? Me sigam!
E foi animadamente correndo na frente, tomando o rumo de uma ampla escadaria, enquanto Citan comentava:
_ Que garota forte ela é... É óbvio que ela realmente quer apenas relaxar e chorar...
_ É, você acertou – Bart concordou – Ela sempre foi assim. Por tudo o que ela fala, dá pra ver que entende bem sua posição... Talvez tenham umas coisinhas que eu poderia aprender com ela.
Eles subiram com Marguerite até os camarotes do segundo andar. A luz do sol entrava pelos vitrais e o canto das freiras era ainda mais nítido ali em cima. O telhado era desenhado de forma a facilitar a acústica, e os entalhes por toda a sacada haviam sido feitos de forma soberba.
_ ... Que magnífico! – admirou-se Citan.
_ Sempre que aprontávamos quando éramos crianças – disse Margie – Bart e eu costumávamos nos esconder aqui.
_ Ei, pare de contar essas velhas histórias! – ralhou Bart – É o maior mico!
_ Mas, pra mim – comentou Margie, se afastando pelo corredor – Bart não mudou muito desde então.
_ O quê?! Quer dizer que você acha que eu ainda sou um moleque!?
Fei e Citan fizeram sinais para que ele falasse mais baixo; afinal, ainda estavam numa catedral! E eles seguiram Margie até ficarem na passarela exatamente sobre a porta de entrada, de frente para o altar. Margie olhava para o altar, encantada.
_ Eu acho que a vista daqui é a melhor.
Sobre o altar, entre vários candelabros, havia duas figuras enormes semelhantes a anjos. Com uma peculiaridade: cada um dos anjos só tinha uma asa, e ambos pareciam estar prestes a segurar a mão um do outro. Citan acenou afirmativamente com a cabeça antes de responder:
_ Sim, isso é de tirar o fôlego! A luz externa brilha através do vidro temperado da frente da catedral... Que obra de arte de maestria brilhante é esta!
_ Vocês perceberam – perguntou Margie – que os dois grandes anjos só têm uma asa cada um...?
O canto das freiras pareceu mais alto e Margie prosseguiu:
_ De acordo com uma lenda passada em Nisan, Deus poderia ter criado os humanos na perfeição... Mas assim, os humanos não ajudariam uns aos outros. E é isso o que estes grandes anjos com uma só asa representam. Para poder voar, eles dependem um do outro.
_ Ah, então é essa a razão – Citan fez que sim com a cabeça, começando a meditar profundamente enquanto olhava em volta – Entendo. Numa nova inspeção, o anjo esquerdo parece um tanto masculino, enquanto o da direita parece feminino. Sem dúvida é uma conotação incomum, não? Geralmente, estas descrições não especificam o gênero. Mas estes anjos são claramente distinguíveis como tendo gêneros opostos. E o espaço entre eles é o caminho onde há o advento de Deus... Ou seria o caminho levando a Deus? Bem, não sei. Poderia ser qualquer um, ou ambos.
Ele pareceu pensativo por um longo momento, sem notar que Bart, Margie e Fei olhavam para ele em silêncio e com ar de estranheza. Ele finalmente bateu nas próprias mãos, concluindo:
_ Entendo! Isso tudo coincide com os ensinamentos de Nisan!
Bart e Margie olharam para Fei, que meramente acenou que não com a cabeça; também não entendera nada. E Margie riu.
_ Ah, Doutor Citan Uzuki, você é um companheiro divertido!
Foi quando Citan percebeu que se perdera nas reflexões e pediu desculpas, um tanto embaraçado. Em sua defesa, Fei disse sorrindo:
_ O Doc sabe um bocado sobre um bocado de coisas. Às vezes, nem eu entendo do que ele está falando.
Todos voltaram a olhar para os anjos enquanto a catedral continuava cheia do canto angelical das Irmãs de Nisan, e pensaram por algum tempo na lenda. Bart acabou por dar de ombros:
_ ... Hah! Forçá-los a voarem juntos...? Seria bem mais fácil se eles pudessem voar por si mesmos, não acha Fei?
_ Bart! – Margie o repreendeu – Você está perdendo o significado mais profundo e belo disso! – e voltou o olhar para as estátuas, com ar sonhador – Algum dia, eu gostaria de poder ajudar alguém desse jeito...
Eles continuaram a observar as imagens e a ouvir o canto, imersos nos próprios pensamentos sobre a lenda e os anjos por mais algum tempo, até que Margie voltou-se para os três, tendo se lembrado de algo.
_ Ah, não visitamos a ‘Sala de Sophia’ ainda não é? Seria realmente preciso que vocês passassem por alguns procedimentos antes de poderem vê-la, mas acho que vai ficar tudo bem se desta vez eu fizer uma exceção especial.
_ Sophia? – perguntou Fei.
_ Sim, Sophia. Ela é reverenciada como a madre fundadora da nação de Nisan, e fundadora da religião de Nisan, que segue seus ensinamentos. Há uma sala lá em cima que tem um retrato da Madre Sophia.
_ Eu definitivamente gostaria de ver isso! – declarou animadamente Citan – Fei, vamos dar uma olhada.
Eles tornaram a seguir Margie até o fim da passarela, passando por algumas portas laterais até chegar à última delas, onde havia uma escadaria maior. Ao fim dela, havia um quarto onde a janela curiosamente tinha a forma do pingente em forma de crucifixo de Fei, e a luz do sol desenhava a forma exatamente no tapete central. O trio entrou seguido por Margie e a primeira coisa de que Fei se tornou consciente depois de olhar para a figura ali retratada foi a voz de Citan, comentando que era um retrato peculiar, e a linda dama retratada também estava além de qualquer comparação.
_ E, mais ainda... – ele comentou pensativo – isso parece muito familiar...! O que acha, Fei?
_ É, eu acabei de pensar a mesma coisa. O cabelo é de uma cor diferente, mas a atmosfera, ou a personalidade dela é exatamente a mesma.
_ O quê? – Citan ficou confuso – Cor do cabelo? Do que está falando?
_ Do que estou falando? – Fei nem sequer piscava, com os olhos fixos na enorme pintura diante de si – Olhe...! É a garota que eu encontrei na floresta... É a Elly! 

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