Bem, me pareceu que esse próximo pedaço tem bastante papo cabeça, e considerando o que vem depois, a melhor opção parecia dividir de novo. Então, com vocês, o primeiro capítulo que não termina dividido em dois, apenas. Vão se preparando; à medida que a história progride, isso pode ficar bem mais frequente...
Por ora, eis a segunda parte do Capítulo Sete! Forte amplexo, e boa semana!
(...)
Fei saiu da
sala profundamente aborrecido, sem saber o que fazer ou pensar. De uma sala
paralela, duas crianças saíram e diziam uma à outra que iam ajudar no serviço
dos Geras, e desceram de elevador. Ele foi até o refeitório e uma garotinha o
parou, dizendo alegremente:
_ Eu estou
esperando o meu pai. Ele está demorando, mas eu não vou chorar. Isso é bom, não
é?
_ É... É
mesmo bom.
O pai da
menina entrou logo depois e ela se atirou nos seus braços e deu as boas vindas.
Pelas roupas, ele devia ser um dos piratas que viajavam com Bart na Yggdrasil.
Afagando os cabelos da menina, ele perguntou:
_ E então,
você foi uma boa menina e obedeceu à boa senhora?
_ Obedeci,
papai. Eu fui boazinha. E então... Cadê os meus presentes?
_
Presentes?! – ele mostrou uma caixa que estivera escondendo – Que tal, aqui tem
um kit de vestir de pirata!
O homem de
repente percebeu Fei ali, observando a cena e sorrindo com a alegria da menina
e a caixa na mão, e pareceu ficar sem jeito:
_
Oooops! ... É, não tem jeito. Eu sou
assim mesmo com as crianças – e, para a filha – Já faz um bom tempo que não nos
divertimos. Vamos brincar na areia!
_ Ai, papai, tem um deserto lá
fora...! – a menina riu, e o pai pareceu achar graça na expressão dela.
_ Ora, ora, desde a última vez
que nos vimos, você ficou muito espertinha, hein?
Fei ficou
observando pai e a filha saírem para o deserto e resolveu ir até o hangar mais
abaixo para pensar. Estava passando pela escotilha da Yggdrasil quando Bart
saiu, parecendo muito sério;
_ Ei, posso
falar por um segundo com você?
_ ...
Claro.
_ Citan me contou
toda sua história. Quer falar disso?
Fei não respondeu, parecendo
aborrecido outra vez, e Bart insistiu:
_ Por que você não me contou?
Parece que foi dureza.
Fei não
respondeu; não parecia ter nada para dizer, e Bart subiu até o timão externo da
Yggdrasil, dizendo sem olhar para o outro:
_ Escuta...
Desculpa por ter sido um idiota... Agora a pouco. Me desculpe, tá?
Fei apenas continuou
em silêncio, olhando para o outro lado. Bart pulou lá de cima e veio até perto
dele, voltando a falar:
_ Que
seja... Desculpe eu ter que repetir, mas...
_ Não!
_ O quê?
_ Eu não
gosto de lutar como você. Só entrei naquele Gear porque tive que entrar. Eu
preferiria não pilotar. Se quer tanto assim aquele Gear, pode ficar com ele! Eu
não o quero!
_ Você acha
que eu gosto de lutar?... É isso?
_ Não
gosta? – e voltou-se surpreso para Bart – Com certeza, é isso o que parece. Dá
a impressão de que a única coisa de que você gosta é lutar.
_ Eu não
posso ser tão idiota – Bart continuava sério, e isso era realmente uma surpresa
para Fei – Quem é que gosta de lutar? Fala sério! Goste ou não, eu luto porque
eu tenho que lutar. Eu tenho minhas razões, mas você não ia entender.
_ Bem, eu
não tenho uma razão pra lutar! Eu não quero lutar. Eu só quero viver quieto e
em paz. Mas vocês ficam o tempo todo me cercando, querendo me fazer entrar num
Gear? Por que não me deixam em paz?!
_ É porque
eu vi a sua habilidade – e Bart colocou a mão no ombro de Fei – e pensei...
_ Bom, eu
odeio isso! – e afastou a mão de Bart bruscamente – Sempre que eu entro num
Gear, pessoas saem feridas! Se eu luto, pessoas morrem! Eu não quero ferir as
pessoas! Não quero que ninguém morra! Eu odeio isso... – e subitamente pareceu
muito cansado – Não conseguem ver isso?
_ É – Bart
baixou a cabeça – Eu conheço o sentimento de só querer fugir da realidade. Mas
você acha que as crianças que ficaram pra trás na sua vila iam entender?
Fei não
soube o que dizer, e Bart ficou diante dele, olhando em seus olhos.
_ Citan me
contou o que aconteceu em Lahan. Ia ser melhor se você não tivesse feito nada?
Tá, aquilo aconteceu porque você tava no Gear, mas mesmo que não estivesse,
pessoas teriam morrido... Certo? Você não foi a razão. A guerra... Não, as
pessoas que começaram a guerra são a razão. E, a menos que você dê fim na
razão, nada vai mudar. Eu luto acabar com a razão. Nesse momento não tem outro
jeito, então eu tenho que lutar... Mas isso não quer dizer que eu goste.
Bart então
se afastou, parando ainda por um instante e dizendo sem se voltar para Fei:
_ Eu
entendo por que você se sente culpado pelos garotos na sua vila. E sei por que
você não quer ferir os outros. Mas, se quer acertar com aquelas crianças, você
não tem que lutar? Você tem, sim, uma razão pra lutar – e voltou-se para Fei –
Uma razão pela qual precisa lutar. Mas enquanto ignorar isso e continuar
fugindo, aquelas crianças nunca vão te perdoar. Só se lembre disso.
_ E, outra coisa – Bart acrescentou,
quando fez menção de ir embora – Não estou dizendo que não me ajudar é fugir.
Você não tem que ajudar. Isso é um problema meu. Eu não quero que se meta nisso
contra a sua vontade. Mas, se eu tivesse a sua habilidade, faria tudo isso
chegar ao fim... E acertaria isso por aquelas crianças. Pelo menos, é o que eu
acho... Que seja. Desculpe por ter te segurado aqui.
E então afastou-se, dizendo ainda
que o mecânico queria falar com Fei sobre seu Gear. Fei voltou-se e viu que
Bart já se fora, e aquilo deu no que pensar. Era estranho ouvir uma conversa
tão adulta vinda de Bart, mas ele ainda não se sentia motivado a lutar.
Fei desceu
até o hangar de Gears do esconderijo e o mecânico estava muito impressionado
com as capacidades bem equilibradas de Weltall, mas não havia como desmontar
certas peças.
_ Acho que você poderia chamar
essas coisas de ‘caixas pretas’ – o mecânico comentou, dando de ombros – Não é
nada que afete ou comprometa o desempenho da máquina como um todo, mas preciso
dizer, queria poder desmontar pra saber o que elas fazem. Você não tem idéia,
eu imagino?
Fei apenas meneou a cabeça, e olhava
para o Gear diante de si, pensando consigo mesmo que Weltall era um mistério
tão grande quanto ele próprio, até que alguém o chamou e ele viu que eram Citan
e Sigurd.
_ Sigurd, Doc...
O que foi?
_
Gostaríamos de ter uma palavra com você... Pode nos acompanhar por um momento, por
favor?
Fei concordou, e os três subiram
pelo elevador até o atracadouro da Yggdrasil, tomando novamente o rumo do
hangar. Mas ainda estavam no convés superior do cruzador quando Sigurd apontou
para fora.
_ Olhe ali,
Fei.
Fei
surpreendeu-se ao ver Bart ali, sentado sozinho e parecendo aborrecido. Ele era
sempre tão falador e cheio de energia que imagina-lo quieto era impossível. Ele
estava pensando consigo mesmo, falando com o pai em pensamento:
“Ei,
papai... Consegue me ouvir? Desde a primeira vez em que olhei nos olhos do Fei,
eu soube... Ele é igual a mim. Ele ia me entender... Ou foi o que pensei. Será
que eu só imaginei isso?”
“Eu não
tenho confiança. Se eu seguisse os seus passos, pai... Seria como se eu fosse
apenas algum tipo de figura de decoração. No momento, eu não consigo nem dar
conta do seu desejo de ir apenas resgatar a Margie... Eu disse a ele que ele só
estava fugindo, mas na verdade sou eu quem quer correr.”
Aquela cena
parecia carregada de um vazio muito grande que incomodava Fei. E Sigurd lhe
disse:
_ O jovem
mestre me pediu para que lhe pedisse desculpas. Muito estranho, não? Ele sabe
que é melhor se desculpar em pessoa... Mas o jovem mestre não é muito bom nesse
tipo de coisa.
E voltou-se para onde Bart estava,
ficando em silêncio por um instante.
_ Pode não parecer, mas na
verdade ele é muito solitário. Ele está sempre procurando por um amigo. Nós,
seus mentores, não podemos nos tornar seus amigos. Mesmo que queiramos, ele não
nos veria dessa forma. Ele sabe disso. Por que, você pergunta? – e tornou a
olhar para Fei – É por causa do fardo que ele carrega. Deve ser difícil para
alguém tão jovem carregar uma responsabilidade tão pesada. Mas ele se esforça
de verdade, sabe? É por isso que continuamos com ele... Não tem nada a ver com
ele ser o príncipe.
Fei não
sabia o que dizer. Assim como Citan, Sigurd parecia ter uma longa sabedoria
adquirida com a experiência, e o imediato pôs a mão em seu ombro.
_ Fei, eu
sinto que você também está carregando um fardo pesado. Isso pode ser um pedido
egoísta, mas... Seria possível para você ajudar o jovem mestre? Eu não estou
pedindo que se sobrecarregue com os problemas ou responsabilidades dele. Mas
vocês dois... Será que poderiam ajudar um ao outro? Por favor...
Fei sentiu
a importância daquilo e a frustração de Sigurd por não poder fazer mais por
Bart, e respondeu apenas:
_ Me
desculpe... Eu preciso de tempo para pensar.
_ É
claro... Leve o tempo que quiser. Isso cabe completamente a você. Decida o que
decidir, nós partiremos amanhã de manhã.
Citan
recomendou, pouco depois, que ele fosse descansar. Ainda iria conversar com
Sigurd por mais algum tempo. Fei se recolheu então, indo para o alojamento dos
soldados, perguntando-se o que deveria fazer quando acordasse. E apesar das
preocupações, estava cansado o bastante para desmaiar de sono assim que se
deitou.
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