domingo, novembro 16

Capítulo Sete Ponto Um!

Olá vocês, fãs do Xenogears! E gente que nunca ouviu falar, e decidiu dar uma paradinha aqui. Saudações do Louco!

Bem, me pareceu que esse próximo pedaço tem bastante papo cabeça, e considerando o que vem depois, a melhor opção parecia dividir de novo. Então, com vocês, o primeiro capítulo que não termina dividido em dois, apenas. Vão se preparando; à medida que a história progride, isso pode ficar bem mais frequente...

Por ora, eis a segunda parte do Capítulo Sete! Forte amplexo, e boa semana!

(...)

            Fei saiu da sala profundamente aborrecido, sem saber o que fazer ou pensar. De uma sala paralela, duas crianças saíram e diziam uma à outra que iam ajudar no serviço dos Geras, e desceram de elevador. Ele foi até o refeitório e uma garotinha o parou, dizendo alegremente:
            _ Eu estou esperando o meu pai. Ele está demorando, mas eu não vou chorar. Isso é bom, não é?
            _ É... É mesmo bom.
            O pai da menina entrou logo depois e ela se atirou nos seus braços e deu as boas vindas. Pelas roupas, ele devia ser um dos piratas que viajavam com Bart na Yggdrasil. Afagando os cabelos da menina, ele perguntou:
            _ E então, você foi uma boa menina e obedeceu à boa senhora?
            _ Obedeci, papai. Eu fui boazinha. E então... Cadê os meus presentes?
            _ Presentes?! – ele mostrou uma caixa que estivera escondendo – Que tal, aqui tem um kit de vestir de pirata!
            O homem de repente percebeu Fei ali, observando a cena e sorrindo com a alegria da menina e a caixa na mão, e pareceu ficar sem jeito:
            _ Oooops!  ... É, não tem jeito. Eu sou assim mesmo com as crianças – e, para a filha – Já faz um bom tempo que não nos divertimos. Vamos brincar na areia!
_ Ai, papai, tem um deserto lá fora...! – a menina riu, e o pai pareceu achar graça na expressão dela.
_ Ora, ora, desde a última vez que nos vimos, você ficou muito espertinha, hein?
            Fei ficou observando pai e a filha saírem para o deserto e resolveu ir até o hangar mais abaixo para pensar. Estava passando pela escotilha da Yggdrasil quando Bart saiu, parecendo muito sério;
            _ Ei, posso falar por um segundo com você?
            _ ... Claro.
            _ Citan me contou toda sua história. Quer falar disso?
Fei não respondeu, parecendo aborrecido outra vez, e Bart insistiu:
_ Por que você não me contou? Parece que foi dureza.
            Fei não respondeu; não parecia ter nada para dizer, e Bart subiu até o timão externo da Yggdrasil, dizendo sem olhar para o outro:
            _ Escuta... Desculpa por ter sido um idiota... Agora a pouco. Me desculpe, tá?
            Fei apenas continuou em silêncio, olhando para o outro lado. Bart pulou lá de cima e veio até perto dele, voltando a falar:
            _ Que seja... Desculpe eu ter que repetir, mas...
            _ Não!
            _ O quê?
            _ Eu não gosto de lutar como você. Só entrei naquele Gear porque tive que entrar. Eu preferiria não pilotar. Se quer tanto assim aquele Gear, pode ficar com ele! Eu não o quero!
            _ Você acha que eu gosto de lutar?... É isso?
            _ Não gosta? – e voltou-se surpreso para Bart – Com certeza, é isso o que parece. Dá a impressão de que a única coisa de que você gosta é lutar.
            _ Eu não posso ser tão idiota – Bart continuava sério, e isso era realmente uma surpresa para Fei – Quem é que gosta de lutar? Fala sério! Goste ou não, eu luto porque eu tenho que lutar. Eu tenho minhas razões, mas você não ia entender.
            _ Bem, eu não tenho uma razão pra lutar! Eu não quero lutar. Eu só quero viver quieto e em paz. Mas vocês ficam o tempo todo me cercando, querendo me fazer entrar num Gear? Por que não me deixam em paz?!
            _ É porque eu vi a sua habilidade – e Bart colocou a mão no ombro de Fei – e pensei...
            _ Bom, eu odeio isso! – e afastou a mão de Bart bruscamente – Sempre que eu entro num Gear, pessoas saem feridas! Se eu luto, pessoas morrem! Eu não quero ferir as pessoas! Não quero que ninguém morra! Eu odeio isso... – e subitamente pareceu muito cansado – Não conseguem ver isso?
            _ É – Bart baixou a cabeça – Eu conheço o sentimento de só querer fugir da realidade. Mas você acha que as crianças que ficaram pra trás na sua vila iam entender?
            Fei não soube o que dizer, e Bart ficou diante dele, olhando em seus olhos.
            _ Citan me contou o que aconteceu em Lahan. Ia ser melhor se você não tivesse feito nada? Tá, aquilo aconteceu porque você tava no Gear, mas mesmo que não estivesse, pessoas teriam morrido... Certo? Você não foi a razão. A guerra... Não, as pessoas que começaram a guerra são a razão. E, a menos que você dê fim na razão, nada vai mudar. Eu luto acabar com a razão. Nesse momento não tem outro jeito, então eu tenho que lutar... Mas isso não quer dizer que eu goste.
            Bart então se afastou, parando ainda por um instante e dizendo sem se voltar para Fei:
            _ Eu entendo por que você se sente culpado pelos garotos na sua vila. E sei por que você não quer ferir os outros. Mas, se quer acertar com aquelas crianças, você não tem que lutar? Você tem, sim, uma razão pra lutar – e voltou-se para Fei – Uma razão pela qual precisa lutar. Mas enquanto ignorar isso e continuar fugindo, aquelas crianças nunca vão te perdoar. Só se lembre disso.
_ E, outra coisa – Bart acrescentou, quando fez menção de ir embora – Não estou dizendo que não me ajudar é fugir. Você não tem que ajudar. Isso é um problema meu. Eu não quero que se meta nisso contra a sua vontade. Mas, se eu tivesse a sua habilidade, faria tudo isso chegar ao fim... E acertaria isso por aquelas crianças. Pelo menos, é o que eu acho... Que seja. Desculpe por ter te segurado aqui.
E então afastou-se, dizendo ainda que o mecânico queria falar com Fei sobre seu Gear. Fei voltou-se e viu que Bart já se fora, e aquilo deu no que pensar. Era estranho ouvir uma conversa tão adulta vinda de Bart, mas ele ainda não se sentia motivado a lutar.
            Fei desceu até o hangar de Gears do esconderijo e o mecânico estava muito impressionado com as capacidades bem equilibradas de Weltall, mas não havia como desmontar certas peças.
_ Acho que você poderia chamar essas coisas de ‘caixas pretas’ – o mecânico comentou, dando de ombros – Não é nada que afete ou comprometa o desempenho da máquina como um todo, mas preciso dizer, queria poder desmontar pra saber o que elas fazem. Você não tem idéia, eu imagino?
Fei apenas meneou a cabeça, e olhava para o Gear diante de si, pensando consigo mesmo que Weltall era um mistério tão grande quanto ele próprio, até que alguém o chamou e ele viu que eram Citan e Sigurd.
            _ Sigurd, Doc... O que foi?
            _ Gostaríamos de ter uma palavra com você... Pode nos acompanhar por um momento, por favor?
Fei concordou, e os três subiram pelo elevador até o atracadouro da Yggdrasil, tomando novamente o rumo do hangar. Mas ainda estavam no convés superior do cruzador quando Sigurd apontou para fora.
            _ Olhe ali, Fei.
            Fei surpreendeu-se ao ver Bart ali, sentado sozinho e parecendo aborrecido. Ele era sempre tão falador e cheio de energia que imagina-lo quieto era impossível. Ele estava pensando consigo mesmo, falando com o pai em pensamento:
            “Ei, papai... Consegue me ouvir? Desde a primeira vez em que olhei nos olhos do Fei, eu soube... Ele é igual a mim. Ele ia me entender... Ou foi o que pensei. Será que eu só imaginei isso?”
            “Eu não tenho confiança. Se eu seguisse os seus passos, pai... Seria como se eu fosse apenas algum tipo de figura de decoração. No momento, eu não consigo nem dar conta do seu desejo de ir apenas resgatar a Margie... Eu disse a ele que ele só estava fugindo, mas na verdade sou eu quem quer correr.”
            Aquela cena parecia carregada de um vazio muito grande que incomodava Fei. E Sigurd lhe disse:
            _ O jovem mestre me pediu para que lhe pedisse desculpas. Muito estranho, não? Ele sabe que é melhor se desculpar em pessoa... Mas o jovem mestre não é muito bom nesse tipo de coisa.
E voltou-se para onde Bart estava, ficando em silêncio por um instante.
_ Pode não parecer, mas na verdade ele é muito solitário. Ele está sempre procurando por um amigo. Nós, seus mentores, não podemos nos tornar seus amigos. Mesmo que queiramos, ele não nos veria dessa forma. Ele sabe disso. Por que, você pergunta? – e tornou a olhar para Fei – É por causa do fardo que ele carrega. Deve ser difícil para alguém tão jovem carregar uma responsabilidade tão pesada. Mas ele se esforça de verdade, sabe? É por isso que continuamos com ele... Não tem nada a ver com ele ser o príncipe.
            Fei não sabia o que dizer. Assim como Citan, Sigurd parecia ter uma longa sabedoria adquirida com a experiência, e o imediato pôs a mão em seu ombro.
            _ Fei, eu sinto que você também está carregando um fardo pesado. Isso pode ser um pedido egoísta, mas... Seria possível para você ajudar o jovem mestre? Eu não estou pedindo que se sobrecarregue com os problemas ou responsabilidades dele. Mas vocês dois... Será que poderiam ajudar um ao outro? Por favor...
            Fei sentiu a importância daquilo e a frustração de Sigurd por não poder fazer mais por Bart, e respondeu apenas:
            _ Me desculpe... Eu preciso de tempo para pensar.
            _ É claro... Leve o tempo que quiser. Isso cabe completamente a você. Decida o que decidir, nós partiremos amanhã de manhã.
            Citan recomendou, pouco depois, que ele fosse descansar. Ainda iria conversar com Sigurd por mais algum tempo. Fei se recolheu então, indo para o alojamento dos soldados, perguntando-se o que deveria fazer quando acordasse. E apesar das preocupações, estava cansado o bastante para desmaiar de sono assim que se deitou.

Nenhum comentário: