domingo, outubro 19

Capítulo 05 - Hora da Pirataria!

Saudações a todos! De muito melhor humor agora, que aquele calorão dos infernos deu uma trégua, saudações do velho Louco (da taverna ^_^)!

Andei pensando em reduzir os episódios; parece que ficam meio grandes demais no blog. Bom, vou postar o capítulo cinco, e ver como fica. Mais novidades semana que vem.

E agora, que venha o capítulo!

Capítulo 5: Ataque no Deserto

            Era uma noite de tempestade violenta, que parecia terrivelmente familiar a Fei. Estava em alguma mata desconhecida e tudo o que estava claro à sua volta era o mato sendo agitado pelo vento e os relâmpagos furiosos no céu.
            De repente, ele sentiu três presenças poderosas. Virando-se na direção delas, o rapaz viu duas auras vermelhas agressivas familiares e uma terceira aura, azul e nobre, diante das duas. Apesar de não conhecer seu dono, ele parecia ainda mais familiar do que os outros dois. O primeiro homem então falou e Fei reconheceu nele a voz velada e a aparência assustadora de Grahf.
            _ Vamos nos unir, agora.
            O segundo homem, da aura azul, era obviamente um rival de Grahf e do rapaz que o acompanhava. Sua postura de defesa era semelhante às de Fei ou Weltall, e ele respondeu com voz firme:
            _ Eu nunca imaginei que estaríamos juntos novamente, desta maneira. Quão irônico...
            Um trovão soou à distância e Fei pensou ver um relance do rosto do homem: severo, de bigode, o cabelo da mesma cor e preso à mesma maneira que o seu. O homem parecia cansado espiritualmente, com a cabeça baixa. Mas seus olhos eram firmes quando ele tornou a erguê-los, fitando o rapaz à direita de Grahf.
            _ Mas eu nunca deixarei que você fique com ele... Mesmo que eu tenha de morrer por isso!
            O rapaz que acompanhava Grahf tinha seu rosto meio encoberto pelos longos cabelos ruivos desalinhados, como se o caos fosse parte de seu ser, e ele sorriu diante das palavras do homem severo. Houve mais um trovão, e tudo desapareceu.
            A próxima coisa de que Fei teve consciência era de que a cama onde estava não lhe era familiar, e que não estava sozinho. Citan o fitava com ar preocupado.
            _ Como está, Fei? Você dormiu bem?
            _ Hã...? Ah, bem... Ou algo assim...
            _ Desculpe eu ter confundido tudo, Fei. Fui muito descuidado, Aquele Gear é um modelo experimental altamente secreto de Kislev... Era natural que Aveh também estivesse procurando de forma tão afobada por ele.
            Fei ainda não reagiu e Citan notou nele a mesma atitude posterior à morte do Verme da Areia, e isso não o agradou.
            _ Está ferido, Fei? Você não parece muito bem.
            _ Bem... Acho que você poderia dizer que eu fui ferido...
            Citan lembrou-se de tudo o que acontecera e tudo o que ouvira e indagou:
            _ Aquele homem de preto falou do destino do seu pai... É isso o que está errado?
            Fei concordou com a cabeça
_ É isso também – Fei concordou com um aceno – mas...  Também tem a outra coisa que ele disse...
            Citan obviamente não entendeu e Fei explicou:
            _ O que houve em Lahan... Tudo foi planejado pra me fazer pilotar aquele Gear... Ou foi o que ele disse. Isso me deixou preocupado.
            _ Faze-lo pilotar o Gear?
            _ Antes de a vila ser destruída, Doc, eu vivia sem duvidar de mim mesmo. Mas agora, tudo está diferente. Eu... Não sei quem sou. Nunca me senti assim antes...
            Citan percebeu o estado de seu jovem amigo e pensou consigo mesmo, mas procurou contornar a situação:
            _ Bem, não podemos fazer nada enquanto formos prisioneiros, mesmo que quiséssemos fazer alguma coisa. Vamos descansar um pouco. Talvez isso tranqüilize um pouco seus sentimentos.
            Fei balançou a cabeça em negativa. Ainda havia mais, Citan percebeu, e perguntou:
            _ Está preocupado com seu pai?
            _ Tudo o que eu sei é o que as senhoras na minha casa em Lahan me contaram... Uma noite, um estranho mascarado me carregou até Lahan. Eu estava seriamente ferido naquele dia. No meu delírio, chamei pelo meu pai... É tudo o que elas puderam dizer sobre o meu passado. Não lembro de nada sobre o meu pai ou o meu passado. Então, acho que não sou assim tão solitário ou triste... – então ergueu o rosto e perguntou diretamente a Citan – Doc, por que eu não tinha percebido que não tinha lembranças até agora?
            Citan não teve como responder a isso e Fei deitou-se, olhando para o teto enquanto pensava. Isso deu a Citan espaço para colocar seus próprios pensamentos em ordem:
            “Era ele! Sem engano nenhum... Isso não foi coincidência... Será que estamos nos aproximando... da ‘Hora do Gospel’...?”
            Em sua mente, Citan Uzuki recordou-se de outra ocasião em outro lugar. Estava diante de um trono que não parecia estar sobre qualquer tipo de piso, assim como a plataforma onde o doutor estava. Uma figura ancestral de expressão cadavérica, como uma caveira, confirmou:
            _ Sim, ‘O Gospel’. Nós somos o povo expulso do paraíso e forçado a viver na superfície cruel da terra. Nós, que povoamos esta terra, retornaremos mais uma vez à presença de Deus no paraíso e viveremos lá eternamente. Esta é a ‘Hora do Gospel’. Esta hora está ao alcance da mão. Nós, os Gazel, devemos encontrar o lugar de descanso de Deus para então ressuscitá-lo. Esta é nossa prece final...
            _ Nossa prece final? – perguntou Citan.
            _ Nossa prece final para fugir do ‘Destino’ que foi determinado em nossa gênese – respondera o Imperador Cain. Ainda pensando profundamente, apesar de ser um homem da ciência, Citan Uzuki olhou para o seu amigo, que olhava pela escotilha, e não pôde deixar de sentir um calafrio.
            “Majestade... Isso é o fim...?”
            Em outra parte, um som de motores fortes também estava presente, embora modernos e potentes abafadores de som estivessem em uso. Mas o rapaz gostava daquele murmúrio. Era como se tudo à sua volta estivesse vivo na presença do som. Olhando pelo periscópio, ele localizou o que procurava.
            _ Bingo! Como dizia o relatório... Um transporte de Aveh. E olhe o que nós temos em cima...!
            Um toque rápido num botão e o periscópio aproximou a imagem. O transporte da areia ficou bem mais visível, bem como o Gear negro sobre ele.
            _ Sem enganos! – comentou o rapaz, satisfeito – É um novo modelo de Kislev! Tem que ser o Gear roubado de que todo mundo está atrás!!
            O rapaz era loiro, seu único olho fora do tapa-olho de pirata era azul e seus cabelos longos estavam presos. Com ar de satisfação, ele tirou o rosto do periscópio e comentou, para ninguém em especial na cabine de comando:
            _ Seja qual for o caso... Não podemos deixar aquele sujeito, Shakhan, ficar com ele... – recolheu o periscópio e sua voz se tornou mais alta, assumindo um tom de comando:
            _ Artilheiro!
            Pelo intercomunicador na ponte, veio a resposta:
            _ Torre A ‘Anton’ e torre B ‘Belta’ podem iniciar seus ectropômetros vinte segundos depois de abrir suas escotilhas.
            _ Franz! – o rapaz voltou-se.
            _ Não ouço nada além do som da areia correndo... Nenhuma atividade de radar suspeita detectada!
            _ Marseilles! – chamou o rapaz, tomando posição junto ao leme.
            _ As unidades de Maitreya estão a postos nas catapultas. Serão capazes de lançar um minuto depois de reemergirmos!
            _ Bom. Vamos lá, então!
Ele estava muito satisfeito. Como de costume, sua tripulação funcionava como um relógio. Agarrando o timão, ele declarou:
_ Estação de Batalha 1!
            As lâmpadas comuns se apagaram, substituídas pelas vermelhas do estado de alerta. Pelo comunicador vinham as vozes de seus comandados:
            _ Combate de superfície, pronto!
            _ Sala de torpedos, pronto!
            _ Armas Anti-Gear, pronto!
            _ Navegação e Engenharia, prontos também!
            Ele também estava pronto. Atrás de si, a porta de acesso à ponte abriu-se e um idoso com modos e roupas de mordomo entrou afobado, perguntando:
            _ J-jovem mestre, o que está havendo? Para quê todo este alarde...
            Logo atrás dele entrou outro rapaz, pouca coisa mais velho que o ‘jovem mestre’ e, inclusive, com uma espantosa semelhança física em relação a ele. Tinha a mesma cor no único olho e um tapa-olho a cobrir o outro, embora seu olho cego fosse o direito e o do rapaz fosse o esquerdo. Seus cabelos eram brancos, bem como o resto de suas roupas, e ele pareceu desanimado ao perceber o que estava havendo:
            _ Ah, de novo não...? Jovem mestre, espere um segundo!
            O rapaz loiro pareceu nem ouvir, com as mãos firmes no timão e ainda comandando:
            _ Todos, estações de batalha! Navegação de superfície, comecem a operar a bomba de areia! Preparar para disparar canhões de estibordo assim que emergirmos!
            _ Jovem mestre!! – chamaram os dois recém-chegados às costas dele, sem sucesso, pois ele continuou:
            _ Direto para a direita! O vento está forte lá em cima e podemos perder o equilíbrio com ele! ... Jerico! Me entregue o leme!
            O comando da navegação foi passado para o timão principal, e o ‘jovem mestre’ assumiu o comando. No transporte de Aveh, Citan e Fei viram algo pela escotilha de sua cela: como uma grande baleia da areia, um veículo enorme de metal prateado apontou para fora das dunas, desenterrando seu nariz para depois saltar imponente para a superfície, e Citan admirou-se:
            _ Um cruzador de areia... Devem ser aqueles piratas do deserto!
            O cruzador corria paralelo ao transporte agora, seus canhões voltando-se na direção dele. Uma salva de tiros começou então, enquanto uma voz soava na ponte de comando:
            _ Alternando fogo entre ‘Anton’ e ‘Belta’! Calculando ajustes!
            O rapaz deu um brado de satisfação; tudo estava indo perfeitamente.
            _ Alternar modos entre as salvas depois dos tiros iniciais! Vamos atrasa-los. Preparem-se para dar neles uma surra que eles jamais esquecerão!
            _ Jovem mestre, por favor espere! – interveio o mordomo – Pode ser apenas um navio de requisição, não uma fragata de guerra...
            _ Deixe que eu cuide disso – ele retrucou – Seja ou não um navio de guerra, está levando um Gear novo! Artilheiro! Pegue eles!
            E mais uma salva de tiros começou. Em sua cela, Fei e Citan sentiram o tremendo abalo e também viram sua cela inclinar-se para a esquerda depois do segundo abalo.
            _ A julgar pelo ângulo... – comentou Citan, preocupado – me parece que um disparo explosivo fez um buraco no casco. Provavelmente vamos afundar em minutos.
            _ Em minutos...? Doc!
            Citan correu para a porta, mas ela não abria.
_ Está trancada... Alguém nos liberte!
            Como que para responder aos gritos do catedrático, mais um disparo fez o transporte estremecer e a porta abriu-se para dentro, deixando muita areia entrar consigo. Tomando a frente e esforçando-se para ultrapassar o fluxo da areia, Fei disse:
            _ Vamos cair fora daqui, Doc!
            Citan indicou o fim do corredor, desaparecendo depressa sob a areia, onde uma escada conduzia para o nível superior. Mais do que depressa ele e Fei rumaram para lá, com dificuldade devido à areia, mas esforçando-se para seguir em frente. Por fim, conseguiram agarrar-se aos degraus e escalaram a parede até o piso seguinte.
            A situação dos motores era irreversível Havia fogo e areia por toda a parte e Citan disse:
            _ Precisamos chegar ao convés de qualquer maneira! O incêndio vai causar explosões menores que vão abrir mais buracos no casco e aumentar a entrada de areia até que tudo isso desapareça! Precisamos encontrar Weltall e sair daqui antes disso!
            E eles subiram tão depressa quanto foi possível, com as explosões à sua volta apenas aumentando o calor e diminuindo o ar respirável enquanto a areia continuava a entrar e o piso de metal ficava mais e mais aquecido, já começando a ruir em alguns pontos. Por fim, em meio à subida difícil e aos soldados e recrutas de Aveh que os dois encontraram em meio à subida, confusos demais com tudo e ainda tentando recapturar os dois, Fei e Citan conseguiram alcançar o convés do transporte. Ao sair para o ar exterior, no entanto, Fei percebeu que estava sozinho.
            _ Doc? Onde é que você está, Doc?!
            _ Acalme-se, Fei. Estou no controle do guindaste – soou a voz de Citan por um fone do convés – Eu vou move-lo até o cockpit de Weltall. Aproveite e escale o guincho para alcançar a cabine, depressa! Estamos afundando muito rápido!
            _ Entendido, Doc! Mas, quando tiver terminado aí, procure se apressar, tá?
            O guincho moveu-se até onde o Gear estava e Fei procurou escalar como podia. Com esforço, ele conseguiu chegar até o cabo de aço que descia até a entrada da cabine de Weltall e não conseguiu reprimir um comentário pensativo ao olhar para o Gear que afundava lentamente:
            _ Aí vamos nós de novo... Parece que você e eu estamos destinados a ter um relacionamento!
            Citan esperava no alto do convés quando Weltall aproximou-se, já sob o comando de Fei. Sem tempo para abrir a cabine, o rapaz estendeu a mão do Gear e, assim que Citan subiu, ativou os jatos e saltou para longe do transporte que afundava. Pousando nas proximidades, ele deixou que Citan descesse antes de perguntar:
            _ Você está bem, Doc?
            _ Bem, Dr. Citan Uzuki! – riu o outro, inclinando-se para a direita e a esquerda – Parece que você sacudiu suas saculas e apertou seus utrículos o suficiente para uma vida! Uau!
            _ Desculpe por isso, Doc – lamentou Fei – Eu não tive tempo de abrir o cockpit...
            _ Fei, eu só estava brincando. Andar na mão não foi tão ruim. Posso dizer isso ao ver como você maneja bem uma máquina experimental altamente secreta.
             _ É, por falar nisso, quando eu o liguei, começou a fazer todo o tipo de coisas sozinho... O sistema de resposta ambiental e a navegação de redução de peso dispararam... Automaticamente! – comentou Fei, olhando surpreso para o painel diante de si.
            _ É mesmo...? Isso é fantástico...!
            Foi quando ambos ouviram uma voz desconhecida, vindo de trás deles:
            _ Salvam a si mesmos, mas deixam seus amigos afundarem num mar de areia... Não acreditam em camaradagem, não?
            Citan e Fei se voltaram para ver quem falava e depararam com um Gear vermelho e alto rodeado por outros dois Gears menores. O cruzador de areia pirata aparecia ao fundo e o que mais chamou a atenção de Fei foi o fato do Gear vermelho ter um tapa-olho sobre seu visor esquerdo. Fora dele que viera a voz que ouviram, e que tornou a falar:
            _ Não é muito humano de vocês dois deixarem seu pelotão morrer enquanto fogem num Gear, sabiam?
            Os outros dois Gears se afastaram a um gesto do Gear alto e Fei percebeu que ele estava se preparando para lutar. Apesar de se colocar prontamente em guarda a bordo de Weltall, ele ainda tentou explicar:
            _ Espere um momento! Nós não somos soldados de Aveh!
            _ Hm – fez o pirata – Não pode fazer um apelo melhor pela sua vida? Vocês saem de uma nave de Aveh e dizem que não soldados de Aveh! Sem essa de tentar me enganar!
            _ Eu estou dizendo, é verdade!
            _ Tsk. Como pode ser tão patético? – perguntou o entediado pirata – Mesmo que seja o mais fracote dos soldados, que tal mostrar um pouquinho de audácia e me dar uma luta decente?
            _ Pare com isso! – Fei se lembrava de Grahf e do que acontecera em Lahan, e temia que o Gear ou ele próprio tornassem a sair do controle – Eu estou dizendo que não sou um soldado! Eu não quero lutar!
            _ De virar o estômago...! Por que não pára de resmungar, sai do Gear e foge de uma vez?
            Para enfatizar a idéia, o pirata investiu com o Gear vermelho e atacou com os chicotes embutidos em seus braços. Apesar da surpresa e de realmente não ter amores por Weltall ou coisa do tipo, Fei não pretendia simplesmente sair como o outro sugeria; quando o primeiro chicote caiu, Weltall moveu-se para a esquerda e evitou o golpe com a mão. O segundo golpe foi devidamente bloqueado pelo antebraço de Weltall, que recuou e tornou a parar em postura de defesa. Fei e seu Gear não haviam sofrido um único arranhão, o que não deixou de surpreender o pirata.
            _ Pra alguém que não quer lutar, você é bem poderoso...  – mediu o Gear negro à sua frente de alto a baixo, e comentou – Já entendi... Um modelo pra qualquer terreno, hein? Agora é que eu o quero mesmo!
            Cobrindo seu rosto com os punhos, o Gear vermelho revelou o único visor livre de repente e um clarão atingiu Weltall. Fei reconheceu nisso um ataque de Ether como o seu Tiro Guiado, e percebeu espantado que a câmera de Weltall estava defeituosa. Diante da surpresa, ele não teve como impedir que o ataque seguinte do chicote do Gear vermelho o derrubasse. E a voz metálica soou pela cabine:
            _ Aviso: ataque de Ether do inimigo comprometeu visores e movimentação desta unidade. Sistemas de auto reparo trabalhando, tempo estimado de recuperação: quarenta e três segundos.
            _ É tempo demais pra esperar. Muito bem – e procurou ficar de pé, movendo a alavanca de combustível para o modo ‘turbo’ – Vamos agüentar até lá!
            Com a aceleração, Weltall superou a lentidão causada pelo ‘Sorriso Selvagem’ do pirata e reagiu instintivamente, ouvindo com atenção o movimento do Gear vermelho. Golpeou uma vez à esquerda às cegas, encontrando o vazio; um segundo golpe à direita também não encontrou nada e Weltall foi atingido por trás pelos chicotes do outro. Mais do que depressa, Weltall voltou-se e agarrou os cabos dos chicotes, puxando o Gear vermelho para si e atingindo-o com o pé, derrubando-o.
            O pirata ficou surpreso. Depois do ataque de Ether, o outro deveria ficar cego por algum tempo; deveria estar cego até então, mas conseguira agarra-lo e derruba-lo, e sem dúvida o golpe certeiro acrescentara um ‘Nível de Ataque’ em sua máquina.
            _ Até que esse cara não é ruim... – sorriu ele, movendo seu Brigandier para deixa-lo de pé – mas vamos ver se ele gosta disso!
            Todo o Gear de combate acumulava energia para golpes mais potentes em modo automático, o que era chamado ‘Nível de Ataque’. Era como o golpe Raigeki que Fei descobrira durante a luta com o Rankar, mas o Brigandier do pirata também tinha seus recursos. Enquanto os monitores de Fei estavam quase normalizados, Weltall foi atacado pelo Nível 1 do pirata.
            _ Chicote em Cadeia!
            Ainda avançando, o Gear vermelho girou sobre si mesmo e seus dois chicotes atingiram Weltall num único movimento, para caírem novamente sobre ele depois. A perda do equilíbrio fez o Gear de Fei cair sobre um dos joelhos, mas sua visibilidade voltara e novamente ele e o Gear agiram como um só. Diante da surpresa do pirata que já julgava a batalha vencida, Weltall ficou de pé, evitou um contragolpe dele abaixando-se e subiu de repente, pegando sua cabeça desprotegida com um soco por baixo em gancho, o que jogou o Gear vermelho para trás e no chão de forma pesada.
Só depois do movimento Fei se deu conta do que fizera, movendo Weltall de forma eficiente e fluida como se fosse o seu próprio corpo, e a voz metálica do painel tornou a dizer;
            _ Nova seqüência de ataque automático registrada, e transferida para o banco de dados. Denominação ‘Reppu’.
            O quê? Fei não se lembrava de dar qualquer nome que fosse... De ter adicionado nada. Mas tudo isso teria que esperar pois, com a queda pesada do Gear vermelho, as areias por toda a parte começaram a tremer mediante a surpresa de Fei e o aborrecimento evidente na voz do pirata.
            _ Essa não! Isso não é nada bom! – tanto Weltall quanto Brigandier começaram a afundar depressa na areia e o pirata praguejou – No calor da batalha, fiquei preso na areia movediça! Logo eu, de todo mundo...! Isso é tudo culpa sua!
            _ O quê?
            _ Cara, você vai levar mais tarde. Então, se prepara!
            Mas, com ou sem reclamações, nenhum deles teve como evitar que a areia tragasse a ambos e os dois Gears desapareceram nas areias.
            Fei não podia acreditar que ainda estava vivo. Depois de afundar, Weltall acabara ressurgindo em um amplo salão natural por onde areia entrava em filetes vindos do teto, e não era completamente escuro.
            _ Ei, desce aqui um pouco! Eu não vou te matar!
            Ele procurou pela voz e viu, pelos monitores do Gear, que o Gear vermelho estava logo ao seu lado e o piloto descera. Estava chamando-o lá de baixo e Fei resolveu descer também. Queria mesmo ver o tipo de pessoa que o fizera parar ali.
            _ Escuta, tudo o que eu quero – o outro estava falando lá embaixo, enquanto Fei abriu seu cockpit e desceu – é que você deixe este Gear...
            O pirata silenciou subitamente ao ver o rapaz civil diante de si e recuou, visivelmente surpreso.
            _ Ei... Você não é um soldado de Aveh!
            _ Eu disse isso antes, durante a minha transmissão pelo intercomunicador – disse Fei com uma voz de poucos amigos – Foi você quem se recusou a me ouvir, certo?
            _ Ha ha ha! Desculpe por isso! – o pirata concordou, levando a mão à cabeça e rindo sem jeito – É, acho que eu me lembro de você dizendo algo assim. Eu saí todo disposto e achei que você era o inimigo!
            Fei continuava aborrecido. Aquele sujeito parecia um moleque! Ainda sem jeito, o pirata estendeu a mão e apresentou-se:
            _ Hã, aham... O meu nome é Bart. Eu sou o pirata que age neste território.
            _ Meu nome é Fei – respondeu ele, apertando a mão do outro – Eu fui preso sem razão aparente, empurrado pra dentro daquele transportador de Aveh e estava prestes a ser mandado pra um campo de concentração até você aparecer e explodir a coisa toda em pedaços. Seja como for... Estou feliz de ter conseguido sobreviver.
            _ Sei... – Bart olhou para cima, curioso, para Weltall – Bem, estou grato por ter podido ajudar pelo menos um pouco. Mas eu não esperava que um civil como você pudesse estar de piloto de um Gear militar. Além disso, esse Gear deve ser um modelo zero quilômetro. Eu nunca vi este tipo antes.
            _ Vamos apenas dizer – respondeu Fei, baixando a cabeça – que um bocado de coisas aconteceu. Não é como se eu quisesse pilotar ou coisa assim.
            Bart continuou olhando admirado para Weltall e Fei resolveu dar vazão à sua curiosidade:
            _ E, afinal, onde é que nós estamos? Parece que caímos num lugar bem estranho. Eu nunca ouvi falar que existisse uma caverna de estalactites tão grande quanto esta sob o deserto.
            _ O quê? Você não sabe de nada, não é? – perguntou Bart com ar convencido – De onde é que você é? O deserto só cobre cerca de 1000 sharls da superfície do planeta. O estrato subterrâneo consiste de rocha ígnea.
            _ De um mar de árvores para um mar de areia – comentou Fei, desanimado – e agora, uma caverna de estalactites... O que vem depois?
            _ Do que está falando?
            _ Ah, nada. Deixa pra lá.
            _ Que seja. Nós estamos em apuros. Veja – e Bart apontou para o alto – O buraco por onde caímos desapareceu. É melhor encontrarmos outra saída. Então, que tal uma trégua por enquanto? Pelo menos, até acharmos uma saída e escaparmos daqui.
            E novamente estendeu a mão, que Fei tornou a apertar.
            _ Tá... Eu concordo. E é melhor irmos andando.
            No deserto acima deles, os últimos sobreviventes do transportador de Aveh estavam sendo recolhidos a bordo do cruzador de areia. Apesar de alguma hostilidade para com os piratas que os recolhiam, todos achavam melhor a prisão do que ficar à deriva no deserto. Não havia nenhum ferido grave pois, a despeito de odiarem Shakhan, Bart e sua tripulação evitavam tanto quanto possível ferir gente inocente. Junto ao timão externo, Citan acompanhava os procedimentos de resgate ao lado do imediato de Bart.
            _ Entendo... Significa que o seu ‘jovem’ não sai apenas atirando em tudo e em todos, Sigurd.
            _ Isso mesmo – concordou o outro – Na verdade, ele calculou este ataque... Ou é o que ele diz! De qualquer forma, como pode ver, ninguém morreu desta vez.
            Um dos Gears menores que acompanhavam o Brigandier de Bart veio ao cruzador e relatou então:
            _ Sigurd, senhor! A coleta de artigos e soldados do transporte de Aveh está quase completa. Ainda não conseguimos localizar o jovem mestre... O pelotão do General Maitreya vai procurar mais uma vez.
            _ Certo. Estou contando com vocês.
            _ Sim, senhor. Já que sou parte da unidade, também devo pedir licença e ir.
            E decolou novamente rumo ao deserto. Curioso, Citan perguntou:
            _ Então, o que houve com este ‘jovem’ que você chama de mestre?
            _ Ele caiu numa caverna subterrânea juntamente com aquele outro sujeito no Gear. Foi perto de uma velha área de escavação, então ele provavelmente vai conseguir sair de alguma forma... Nós tentaremos achá-lo e, se não der certo, vamos esperar por ele no nosso ponto de encontro.
            _ Parece que você confia muito nele... – observou Citan.
            _ Confiar nele... – retrucou Sigurd, com ar de dúvida – Sim, eu confio que ele vai nos colocar em apuros.
            Deixando isso de lado, Sigurd voltou-se para o velho amigo e comentou:
            _ Mas eu nunca imaginei que encontraria você aqui, ‘Hyu’...
            _ Isso não é coincidência... É uma conseqüência inevitável, eu presumo.
            A voz de Citan deixava algo subentendido e Sigurd perguntou com ar preocupado:
            _ Hyuga... Está dizendo que algo está para acontecer?




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