E eis mais um episódio do 'Xenogears'. E, vale comentar, acho que vou começar a cortar os capítulos grandes; o anterior ficou enorme! Digo, não cortar, só dividir em pedaços. Mas se rolar, vai ser mais pra frente; acho que o de hoje não é assim tão grande.
Vejam e julguem vocês mesmos ^_^ Forte amplexo do Louco!
Capítulo 4: Dazil
Fei ficou
maravilhado diante do tamanho e da animação na Cidade do Deserto de Dazil.
Citan explicou-lhe que aquele era o centro das escavações de todo o continente
e que pessoas de toda a terra de Ignas iam até ali para conseguir as novidades
que os serviços do “Ethos” descobriam na região. Ali, ele esperava que pudessem
conseguir peças para substituir os danos em Weltall. Ao verificar na instalação
do “Ethos”, no entanto, o doutor soube que apenas os mais avançados modelos
militares usavam aquele tipo de circuito de compasso e que, sendo aquela uma
oficina de Gears domésticos apenas, não teriam como consegui-lo. A despeito de
serem más notícias, Fei sentiu-se aliviado e pediu a Citan para que
conversassem em particular. Sobre um dos arcos de pedra da cidade, ele
perguntou:
_ Já que
não pudemos encontrar as peças que precisamos pro Weltall, Doc, será que não
podíamos apenas deixa-lo como está?
_ Não
consertar Weltall? Qual o problema, Fei?
_ Bem, nós
pudemos chegar até aqui por nós mesmos; logo, não precisamos tanto assim do
Weltall. Pra falar a verdade, depois que as coisas esfriarem um pouco, eu
estava pensando em voltar pra Lahan e ajudar na reconstrução. É... tudo o que
eu sinto que posso fazer, agora.
_ Bem, se é
isso o que quer Fei, então está ótimo – respondeu Citan com uma expressão
pensativa voltada para a cidade – Mesmo assim, acho que devíamos tentar levar
Weltall para tão longe quanto possível.
_ Leva-lo
pra longe...? Mas por que, Doc?
_ Eu estou
apenas presumindo, mas suspeito que o incidente daquela noite aconteceu porque
uma força especial da Gebler roubou um Gear militar de Kislev.
_ Força
especial? Está falando do grupo da Elly?
_
Exatamente. Quando examinei o Gear avariado na vila, eu percebi que o piloto da
Gebler estava pilotando um Gear de Kislev. Devia haver alguma nova tecnologia
envolvida nisso para o exército de Kislev enviar forças de perseguição atrás
dele.
_ Nova
tecnologia...?
_ Eu
suspeito – Citan ainda meditava de cabeça baixa, e concluiu o raciocínio
olhando para Fei – que a força Gebler estava tentando roubar um novo Gear
experimental. Tenho certeza de que notícias do fracasso já chegaram à capital.
Eles vão investigar a área de Lahan para reclamar qualquer peça do novo Gear
que possam achar.
_ Espere
aí, Doc! O exército de Kislev não vai estar em Lahan, também?
_ Muito
provavelmente. E, neste caso, haverá conflito entre o grupo de inspeção de Aveh
e as tropas de perseguição de Kislev. Se descobrirem onde escondemos Weltall...
_ Os
exércitos vão lutar pra ver quem fica com Weltall – percebeu Fei – E tudo isso
próximo a Lahan.
Citan
acenou afirmativamente com a cabeça e concluiu:
_ E, para
evitar qualquer problema, devemos levar Weltall para outro lugar o quanto
antes.
_ Mas... Não teremos como conserta-lo para
levá-lo embora.
_ Sim... Mas
ficar aqui, parados, não vai nos ajudar em nada. Felizmente, este é o centro de
toda a escavação deste país. Deve haver informações de onde podemos conseguir
peças por aqui. Basta procurarmos.
Após uma
busca pouco frutífera pela cidade, eles voltaram aos portões e Citan viu um
veículo de quatro rodas que Fei não conhecia, e pareceu ficar animado.
_ Aquilo é
um buggy de areia! Hmm, isso me dá uma idéia!
_ ‘Buggy de
areia’?
_ É um
carro com pneus que não afundam, ideal para travessias no deserto. É perfeito!
_ Como
assim, perfeito? O que quer dizer, Doc?
_ Apenas
deixe comigo, Fei. Vou alugar o buggy. Espere aqui.
Fei
realmente não estava entendendo nada. Citan obviamente sairia rumo ao deserto,
mas o motivo não estava bem claro. Quando o estudioso apareceu, subindo no
buggy, o rapaz perguntou:
_ O que vai
fazer afinal, Doc? Uma escavação, ou coisa parecida?
_ Não Fei,
nada disso. Lembre-se que esta é uma área disputada, onde Gears militares de
Aveh e Kislev estão sempre em combate. Se procurar pelo deserto, posso
encontrar peças remanescentes destas batalhas ao redor da cidade, até poder
encontrar as peças de que precisamos para Weltall.
_ Mas Doc,
encontrar peças de reposição caídas no meio do deserto...!
_ Não seja
tão pessimista, Fei! Temos que tentar alguma coisa! Por que não mata algum tempo do bar, enquanto
eu procuro? Não devo demorar.
E saiu no
buggy, deixando o indeciso Fei para trás. Mal o buggy deixara a cidade e
desaparecera deixando atrás de si uma nuvem de pó, o dono da locadora saiu
esfregando as mãos e disse-lhe:
_ Ei rapaz,
aquele homem é seu amigo? Como é que pôde deixa-lo sair sozinho para o deserto?
As coisas estão feias lá fora, com Aveh e Kislev lutando de um lado e os
Piratas da Areia aparecendo de repente e pegando os vencedores das lutas. Devia
ir atrás dele. O deserto anda mais perigoso do que nunca.
Fei já estava inquieto o bastante sem ouvir
aquilo. Sem mais, mesmo sem saber ao certo o rumo que Citan tomara, ele deixou
a cidade e se embrenhou no deserto.
A sorte, se
é que podia se chamar assim, parecia estar com Fei. Seguindo rumo a noroeste e
embrenhando-se mais ainda no deserto, ele não tardou a ver dois Gears cobrindo
as distâncias com saltos longos. Preocupado com Citan e com o rumo dos Gears,
ele decidiu segui-los como pudesse. Com a distância no deserto parecendo maior,
no entanto, e com a facilidade dos Gears em moverem-se, ele não tardou a
perdê-los de alcance. Ainda seguia em linha reta, presumindo que eles manteriam
o curso, quando tudo à volta pareceu tremer. Uma sombra enorme pareceu cobrir o
deserto e ele viu, admirado, uma forma circular muitas vezes maior do que a
nave de batalha da Gebler cruzando o céu. Ela parecia cercada por luzes
brilhantes e deixou uma sensação de vulnerabilidade no rapaz. Que mundo era
aquele em que vivia, onde Gears eram o que havia de menos impressionante para
se ver?
Pensando em
Gears, ele notou logo uma segunda unidade do mesmo tipo que estivera seguindo
rumando na mesma direção que o disco voador gigante. Apesar do cansaço, Fei
procurou segui-los de forma a não perder seu rastro e imaginou consigo mesmo
até onde o Dr. Uzuki fora. Seguiu por uma boa parte do deserto a pé, a ponto de
começar a escurecer e ele se perguntar:
_ Esse
deserto não termina nunca? É melhor eu me apressar, ou vai escurecer e...
Mais
motores, menores que os dos Gears ou que o estrondo do disco voador, e Fei viu
um grupo de soldados de Aveh cortar o deserto em motocicletas, o que o deixou
se perguntando se Citan estaria bem numa tarde tão agitada em meio ao deserto.
Quando uma das motos inadvertidamente veio em sua direção ele resolveu agir.
Saindo de trás da duna e assustando o piloto, Fei conseguiu derruba-lo e à sua
máquina, subindo nela e desculpando-se:
_ Hã, desculpe
por isso. Me deixa emprestar isso aqui por um tempinho!
A travessia
ficou mais simples com a moto, apesar de ainda haver uma longa extensão a ser
percorrida. A noite já estava presente quando Fei ouviu um som em meio à areia
e parou, imaginando que podia ser Citan. Ao invés disso, um dos Gears de Aveh
pousou bem ao seu lado e o viu. Ao tentar fugir, ele terminou sendo cercado por
um segundo Gear e viu que suas opções eram poucas.
_ Ora, o
que é que há com vocês, caras? Não vão exagerar só por causa de uma
motocicleta...
Um dos
Gears ergueu o punho e talvez tivesse encerrado a história aqui, não fosse um
ataque súbito que derrubou um dos Gears e afastou o outro, pressagiando o
retorno de Weltall e com um aliviado Dr. Citan nos controles.
_ Fei! Eu o
estive procurando por toda a parte!
_ Doc! Você
está bem?
_ É claro
que sim... – olhou para o lado e viu os Gears inimigos se reerguendo – Parece
que não temos tempo para bater papo. Depressa, Fei!
_ Depressa
o quê?
_ Eu não
posso usar Weltall muito bem! Só você pode usa-lo a plena força... Se apresse e
suba a bordo!
E não deu
margem para discussões, saltando da mão aberta do Gear e deixando espaço para
que Fei, ainda relutante, embarcasse. Apesar da incerteza do rapaz, no entanto,
a luta foi realmente simples, limitando-se a uma rajada do Tiro Guiado em um
dos inimigos e a opção automática do Raigeki no segundo. O próprio Fei
surpreendeu-se com o desfecho rápido da luta.
_ Eu não
sei como... Mas venci!
Foi quando
um riso rude e alto se fez ouvir à sua frente e o rapaz instintivamente ficou
alerta, como se sua vida estivesse por um fio. Os monitores de Weltall
encontraram sobre uma escarpa saliente no deserto um imponente Gear de bronze
que ele achava já ter visto antes delineado ante a lua. E, no ombro dele, um
estranho homem vestido de preto e com uma máscara estranha a esconder-lhe o
rosto. Um homem estranhamente familiar que lhe falou com uma voz abafada:
_ O desejo
de seu sangue quente pela batalha não foi domesticado, pelo que vejo.
_ Quem é vo...
Foi quando
um lampejo de memória pareceu acontecer. O homem não lhe era estranho.
“Espere...
eu sei! Eu conheço você! – pensou Fei – Foi você quem a matou!”
Então ele
percebeu que falava de alguém, mas não conseguia lembrar-se de quem. E o
crucifixo tornou a agitar-se em sua mente, quase retinindo ao brilhar com a
luz. Fei era novamente um menino, com uma expressão perplexa e manchada de
sangue e uma sensação inequívoca de culpa, de que algo grave acontecera por sua
causa.
“Não... não
fui eu. Foi culpa sua. Foi você, não eu, quem...”
“Covarde.”
Uma segunda
voz estranhamente familiar falou em sua mente e o menino Fei levantou seus
olhos. Havia uma silhueta escura à sua frente, parada, parecida demais consigo
mesmo. Abrindo os olhos, Fei lembrou-se:
_ Você... é
o mesmo de... Lahan!!
Citan
procurou ganhar alguma distância, pensando ‘Aqui vamos nós de novo!’, e o homem
no ombro do Gear revelou-se:
_ Meu nome
é Grahf... Aquele que busca o poder. Você com certeza mostrou quanto poder
tinha naquele episódio em Lahan, não foi Fei?
_ Quanto
poder eu tinha? Do que está falando?
_ Um poder
maior... É do que eu preciso para cumprir minha missão. Enviei aqueles Gears
para a sua terra como um catalisador para despertar o poder em você... Para
fazer contato.
_ Como
catalisador?! Quer dizer que fez aquilo de propósito?!
_ Isso
mesmo – concordou Grahf calmamente – A morte das pessoas a quem amava, e a sua
incapacidade contra o acontecido... A angústia, os gritos do seu coração,
nascidos da tragédia... Estes foram os catalisadores para disparar seu poder.
Fei nem
percebera, mas Weltall estava em posição de guarda. O rapaz não se conformava
com o que estava ouvindo.
_ Quer
dizer que atacou a minha vila só pra me fazer subir neste Gear?! Por quê? Por
que o povo da vila teve que morrer?!
_ Quem liga
para o porquê! – retrucou Grahf com desprezo – Não faz diferença quantos deles
morreram... Eram apenas vermes, apenas vivendo um dia depois do outro sem
sequer cumprir seus destinos apropriadamente! E, por acaso esqueceu? Foi você
quem destruiu a vila. Eu não ergui um dedo.
_ Não!! Eu
só estava tentando salvar a vila e seu povo! Eu nunca quis destruí-la!
_ É mesmo?
Com certeza você já ouviu? É a sua própria essência... A voz de seu desejo
interior que clama pela destruição.
_ Cale-se!
Mesmo que fosse verdade, não foi você pra começar quem a provocou?! Se você não
tivesse vindo, a vila não sofreria da forma como sofreu!
_ Ah, então
agora você recorre à acusação? Entendo... Parece algo que ‘você’ diria. Isso é
bom. Sua natureza básica permanece inalterada.
_
Desgraçado...
Fei estava
furioso. Então, ocorreu-lhe algo que o estranho dissera antes:
_ Você
disse que precisa do meu poder? O que pretendia fazer com ele?!
_ Você sabe
muito bem... É destruir... a deusa mãe...
_
D-destruir Deus?
_ Sim,
vamos destruir Deus. É o nosso propósito... O nosso destino!
_ Não seja
ridículo! Eu não vou me envolver numa coisa dessas! Se quer destruir seu deus,
ou seja lá o que for... faça isso sozinho!!
_ Ha ha ha...
Você se parece com o seu pai.
_ Meu
pai...? – aquilo pareceu jogar um balde de água gelada sobre Fei. De onde Grahf
conhecia... – Meu pai? Você conhece o meu pai?!
_ Aquele
foi... um grito muito agradável. Eu fiquei enlevado por ele. Nada é mais belo
do que um grito de morte.
_ O que é
que você fez com o meu pai?! O que houve entre vocês dois?!
_ Hmpf,
quer mesmo saber? Não há utilidade em deixa-lo saber agora.
_ O quê?!
_ Seu poder
ainda está abaixo do necessário para os meus propósitos. Qualquer coisa imprestável
deve ser testada até que se torne útil.
Diante da
incerteza de Fei com aquilo e do recuo de Citan, as areias agitaram-se com um
comando de Grahf, e não demorou para que um enorme Verme da Areia se erguesse
entre Weltall e a rocha onde Grahf e seu Gear estavam.
_ O que,
diabos, é isso?
_ O que vai
fazer, Fei? Se vai morrer aqui, que seja – disse Grahf – Você obviamente pode
conseguir alguma felicidade em não saber. Mas, certamente, não é isso o que
quer...? Se quiser saber a verdade... e é isso o que quer, não Fei... Então, é
isso o que tem de fazer: deve me mostrar que alcançou o nível de força de que
necessito. Para fazer isso, você deve destruir aos outros usando sua própria
força! E então, vai conseguir tudo o que se perdeu em troca daquele grito de
morte! Ha ha ha ha ha ha!
Dito isso,
Grahf e seu Gear de bronze decolaram. Fei queria que ele falasse mais, mas o
Verme da Areia atacou Weltall com suas presas, sólidas e nascidas para abrir
trilhas nas dunas de areia. Mesmo um Gear bem construído como Weltall podia ser
danificado por aquilo e Fei não tardou a ver-se em maus lençóis e perdendo
Grahf de vista.
O verme
enrolou as pernas de Weltall e derrubou-o, como uma enorme serpente. Fei
procurou golpeá-lo, mas a pele do Verme da Areia era resistente demais para os
ataques de Weltall naquela situação. Pior ainda, o verme subitamente agarrou-se
às mãos de Weltall e cravou suas mandíbulas nas costas do Gear, e Fei percebeu
que o monstro estava bebendo o combustível de sua máquina. Já ouvira antes
falar de criaturas que retiravam o combustível de Gears que atacavam, mas nunca
pensara que eles o bebessem. Pior ainda; se aquilo continuasse, Weltall em
breve ficaria imóvel, sem que seu piloto pudesse se defender.
Por mais que insistisse nos
comandos, no entanto, não havia como mover os braços ou as pernas do Gear e o
verme continuava a beber. Maldito fosse aquele Grahf! E, no entanto, talvez o
melhor realmente fosse terminar ali, da forma que estava. Não tornaria a causar
calamidades como a de Lahan, e acabaria a necessidade de esconder Weltall...
Mas havia
mais nele, algo que não aceitaria morrer daquela forma. Ainda que o Gear
estivesse preso e com cada vez menos combustível, a Máquina Amplificadora de
Ether de Weltall continuava a funcionar, independente do combustível. Apenas a
energia de seu Chi bastava para que aquilo funcionasse, e o verme não podia
priva-lo dela. As mãos de Weltall estavam presas, mas Fei ainda pôde agarrar o
pescoço do verme com elas e concentrou-se. No ato, o Gear começou a reunir
energia diante de seus dedos.
_ Tiro
Guiado!
Ao comando
de Fei, Weltall libertou a energia acumulada num jorro de Chi que superaqueceu
o pescoço do Verme da Areia e o combustível que fluía por ele, para dentro.
Seguindo o rumo da sucção, o combustível inflamado seguiu até o estômago do
monstro e explodiu lá dentro, encerrando a batalha.
_ Fei! Fei,
você está bem?
A voz de
Citan foi a primeira coisa de que Fei se deu conta depois de ter posto Weltall
de pé. Respondendo meio que mecanicamente, ele abriu a cabine e desceu
aborrecido.
_ Estou
ótimo... Mas o Gear parece quebrado...
_ O Gear passou
apenas por reparos temporários. Não foram feitos para sobreviver a uma batalha
como aquela... Mas estou muito feliz que você esteja ileso!
Fei não
respondeu, permanecendo pensativo e de cabeça baixa, o que não passou
despercebido a Uzuki. Antes que ele perguntasse, no entanto, dois Gears
apareceram e os cercaram.
_ Essa não!
O exército de Aveh! Logo agora...!
Citan
estava bem a par da situação delicada em que estavam e disse devagar:
_ Em
primeiro lugar, Fei, temos que manter a calma... Hã?
Fei
continuava na mesma situação que antes, como se não tivesse visto os recém-chegados.
As chamadas de Citan também não pareceram desperta-lo e tanto ele quanto o Dr.
Citan e Weltall foram embarcados num Transporte de Areia de Aveh.
A KNIFE HELD CLOSE BY YOUR SIDE...
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