domingo, outubro 26

Capítulo 06, Pela Metade

Fala Leitores! E Leitoras! Saudações do Louco!

Eu falei nos últimos posts, né? Tava ficando meio grande demais no blog, então vamos dividir ao meio. Na primeira parte deste capítulo, vamos ver o que Fei e Bart descobrem, e se acham uma saída da Caverna de Estalactites.

Capítulo 6: A Caverna de Estalactites


            A caverna era muito maior sob o deserto do que Fei imaginava. O primeiro salão era enorme, de chão coberto de restos de metal do que deveria ter sido uma antiga área de escavação, e do teto caíam filetes de areia por toda a parte. À primeira vista e na escuridão incompleta que luminárias de emergência ainda enfrentavam, Bart subitamente avisou:
            _ Meus sensores estão detectando o que parece ser uma caverna enorme do outro lado, Fei. Vamos dar uma olhada?
            Verificando de perto a direção indicada por Bart, ambos repararam que havia uma rocha enorme bloqueando a antiga saída do pavilhão. Tocando o rochedo com a mão de Brigandier e olhando para a sua altura, Bart comentou:
            _ Se ao menos pudéssemos fazer algo quanto a esta pedra...! Mas eu duvido que possamos simplesmente esmaga-la em mil pedaços!
            _ Pois eu acho... que podíamos tentar empurra-la.
E Fei passou da palavra à ação, movendo Weltall para empurrar o rochedo enquanto Bart protestava:
            _ Ei, espera aí, não importa o quanto você pareça... – e calou-se atônito, ao ver que o Gear de Fei estava mesmo tirando a rocha do caminho. Em aparência e tamanho, Brigandier era mais forte; como é que aquele ‘Weltall’...?
            _ O que pensa que está fazendo? – indagou Fei ainda empurrando – Se apresse e me dê uma força aqui!
            Com o auxílio de Bart, Fei conseguiu remover o rochedo do lugar e, enquanto o pirata suspirava como se tivesse feito o esforço com seus próprios braços e pernas, saltou para adiante e olhou em volta para descobrir que o novo pavilhão era bem menor do que o primeiro.
            _ Nós podemos conseguir se ajudarmos um ao outro – disse Fei – Basta continuar assim e vamos sair daqui.
            Aborrecia Bart a forma como Weltall saltava da plataforma para o topo do rochedo caído e dele para o piso inferior e ele procurou segui-lo, reclamando:
            _ O cano hidromecânico da junta do meu joelho está à beira de quebrar. E tudo por causa daquela queda do teto... seguida por empurrar esse rochedo mega-colossal. Não vai ter graça se o meu Gear enguiçar numa caverna grande como essa.
            _ Seus amigos não vão vir nos resgatar? – perguntou Fei, ainda admirando as paredes esverdeadas da caverna.
            _ Seria perda de tempo esperar. Provavelmente eles não vêm.
            _ Mas eles não são seus amigos? – perguntou Fei, agora olhando para Bart.
            _ Nós acreditamos em iniciativa própria – ele deu de ombros, falando com simplicidade – Eles vão pensar que podemos fugir por nós mesmos.
            _ Me pergunto se o Doc está bem – comentou Fei pensativo.
            _ Não se preocupe com o cara que estava com você. Tenho certeza que o meu pessoal já o resgatou a essa altura.
            Fei não respondeu, parecendo pensativo. Isso chamou a atenção de Bart, que perguntou:
            _ O que foi agora?
            Após mais um instante em silêncio, Fei queixou-se:
            _ Nós não teríamos caído aqui se ao menos você tivesse me ouvido.
            _ Não venha pôr a culpa em mim! Você devia ter se rendido ao invés de me desafiar. Eu só queria o seu Gear.
            _ Não seja ridículo! Foi você quem veio me atacando às cegas. O que mais eu deveria fazer? Achei que ia morrer se não lutasse.
            _ Eu estava pegando leve com você – retrucou Bart com uma voz imponente – Não percebeu? Então, você é meio devagar.
            _ Não minta pra mim. Eu sei que você estava levando a sério.
            _ O quê! Você quer mais, é?! – e Brigandier ficou em posição de combate – Vamos lá, então! Pode vir!
            Fei nem respondeu. Após um instante, ele simplesmente saltou mais para baixo e recomeçou a procurar pela saída. Mas Bart não deixaria por isso mesmo.
            _ Espera aí! Acertar isso vem em primeiro lugar! Eu não vou conseguir fazer nada direito até decidirmos isso de uma vez por todas!
            _ Eu achei que você queria uma trégua por enquanto. Sair daqui tem que vir em primeiro lugar! – Fei falava como quem tenta convencer uma criança pequena teimosa. Na verdade, quase pareceu a ele que estava discutindo com Dan e ele teria achado graça na comparação se não se lembrasse de Lahan e sua partida ao pensar no menino. Numa negativa silenciosa, ele continuou – Uma vez que nós saiamos daqui, eu luto com você o quanto quiser. Vamos nos apressar e sair logo daqui.
            Bart foi obrigado a desistir da idéia e reconhecer que Fei estava certo, mas continuava resmungando.
            _ Eu não gosto muito de você. Saco! Eu vou te pegar quando sairmos daqui!
            É claro que haviam criaturas na caverna. Monstros Medusóides gigantes que atacavam com choques elétricos, moscas gigantes que atacavam ‘montadas’ em restos de Gears, movendo-os como se fossem próteses biônicas de seus corpos, Gears de modelo Sucateiro, usados pelos nômades do deserto e outras coisas mais, cujos encontros e batalhas com Fei e Bart não precisam ser descritos. Ao atravessar um longo corredor e sair num salão de plataformas, ambos puderam ver à distância uma luz e fumaça saindo de uma caverna no outro lado do salão e Bart comentou:
            _ Quem iria imaginar que haveria alguém vivendo num lugar como esse! Vamos dar uma olhada!
            Weltall e Brigandier chegaram à caverna sem quaisquer problemas, apesar das lutas ao longo da caverna de estalactites não terem melhorado em nada a situação do joelho do Brigandier. Os dois pilotos desceram e entraram na caverna menor, admirando-se ao encontrar ali sinais claros de habitação ainda em uso. Bart, que ia à frente, também foi o primeiro a notar que alguém vinha dar as boas vindas.
            _ Ei, Fei, que surpresa! Tem alguém morando nesse lugar!
            O morador era um velho alto e magro, de cabelos já cinzentos de idade, sobrancelhas grossas e um nariz aquilino que andava apoiando-se num cajado. Ele não parecia surpreso com a súbita invasão e comentou, com voz grave:
            _ Hmm, já faz algum tempo, mas achei que tinha ouvido o som de Gears. Eu presumo que sejam seus?
            Ambos confirmaram com um aceno de cabeça e o velho acenou para que entrassem.
            _ Que seja. Venham até aqui, e sintam-se em casa.
            Ele avançou para o interior da caverna e Fei e Bart o seguiram. Servindo-se de algo que estava no fogo e distribuindo o conteúdo em canecos para Fei e Bart, ele continuou:
            _ Já faz muito tempo desde a minha última visita. O que houve? Vocês caíram da superfície?
            _ É, acho que é isso – confirmou Bart.
            _ Entendo. Isso é uma pena – lamentou o velho – Eu posso dizer pelo som que vocês dois estão pilotando bons Gears. Mas as pernas parecem estar fazendo um pouco de jogo.
            _ Você quer dizer – perguntou Fei, incrédulo – que consegue saber o que há de errado só de ouvir o som dos passos deles?
            O velho riu divertido e confirmou com a cabeça.
            _ É fácil saber o que há de errado com Gears pelo som que fazem. O meu palpite é que um deles precisa de um novo cano hidromecânico em sua junta. Está fazendo um barulho terrível. Deve ser difícil andar assim.
            Fei e Bart se entreolharam. Bart comentara que estava ficando difícil andar com Brigandier pouco antes de entrarem na caverna onde estava a casa do velho. Ainda sorrindo diante da surpresa deles, ele apresentou-se:
            _ Ah, e a propósito, o meu nome é Balthazar, mas vocês podem me chamar de Velho Bal.
            _ Ah, é? – perguntou Bart, dando um tapinha admirado no ombro de Bal – Então quer dizer que temos um verdadeiro fanático aqui, hein?  Mas o que é que um velho como você está fazendo num lugar desses?
            _ Eu acho que vocês podem me chamar de ‘louco por fósseis’, ou um ‘colecionador de coisas’. Há muito para ser descoberto aqui, nesta caverna de estalactites.
            _ Colecionador, hein? – e Bart deu uma longa olhada nas estantes de Bal ao longo das paredes – Parece interessante. E essas coisas nas estantes são algumas das que você descobriu?
            _ Está falando dos fósseis? Eles são apenas uma das coisas que coleciono. Fiquem a vontade para vê-los.
            Bart não esperou por um novo convite para ir até uma estante mais ao fundo que estivera chamando sua atenção. Apesar de mais discreto, Fei seguiu logo depois com Bal vindo por último, explicando:
            _ Nesta área, pode-se cavar máquinas antigas juntamente com fósseis humanos e animais. Está notando algo particular nesta estante? – e indicou com o cajado a estante à frente deles – As amostras seguem da mais antiga, à esquerda, para a mais recente, á direita.
            Os dois puderam ver três prateleiras naquela estante. A primeira tinha crânios semelhantes aos de algum animal bovino, a segunda tinha crânios semelhantes aos humanos e a terceira tinha caixas de metal com etiquetas, de aparência muito antiga. Fei reparou que a fileira humana começava praticamente na metade da sua prateleira, enquanto as outras duas vinham de um extremo a outro da estante. Depois de uma boa olhada, Bart perguntou:
            _ Você é um arqueólogo ou coisa do tipo, velho? Eu não vejo muito por aí esse tipo de coisa de que você tá falando. Parecem só um monte de ossos velhos pra mim. Fei, o que você acha?
            Aproximando-se mais da estante e olhando-a longamente, Fei respondeu:
            _ Me deixa ver... No início, não tem ossos humanos ali. Então, daqui para a direita, algo está visivelmente diferente... eu acho.
            _ Sim, é isso mesmo – confirmou o Velho Bal, indicando o início da fileira humana com o cajado – De um certo ponto do tempo, os fósseis humanos subitamente não aparecem mais. Este ponto é em cerca de 10.000 anos atrás.
            _ O que isso quer dizer? – perguntou Bart.
            _ Não me pergunte – respondeu Bal – Eu não sei com certeza. Mas o meu palpite é que não havia humanos neste planeta antes disso. Pelo menos, é o que parece.
            _ Como é que pode? – Bart parecia inconformado – E quanto àquela história toda de evolução?
            _ Está falando da teoria da evolução como foi ensinada pelo ‘Ethos’, correto? – Bal fez um gesto de desprezo – Você não pode confiar numa coisa dessas! No meu caso, eu prefiro acreditar nas velhas lendas e mitos.
            _ Lendas? Mitos? – perguntou Fei, confuso.
            _ Você nunca ouviu essa história...? – e Bal foi para os fundos da caverna, enquanto dizia com uma voz um pouco mais solene – Dizem que os humanos e Deus viviam juntos num paraíso no céu. Com a proteção de Deus, não havia o medo da morte e os desastres naturais eram inteiramente desconhecidos.
            Os dois seguiram Balthazar até o fundo da caverna e o encontraram olhando para uma parede ao fundo, e ele continuou:
            _ Então, um dia, os humanos comeram uma fruta proibida que lhes deu uma incrível sabedoria. Mas Deus afastou a humanidade de seu paraíso pelo seu pecado. Amargurados por terem sido retirados do paraíso, os humanos usaram a sabedoria que tinham conseguido para criar gigantes. Com estes gigantes, eles planejavam desafiar Deus em pessoa. Mas Deus derramou sua ira sobre eles. Todos os que desafiaram Deus foram destruídos. Mas mesmo Deus não escapou ileso. Levando o paraíso consigo, o deus ferido enterrou-se sob o oceano para dormir por eons. Antes de dormir, Deus usou seu poder restante para criar humanos de coração correto para viverem neste planeta. Diz-se que estas pessoas foram... nossos ancestrais.
            Neste ponto, ele deu de ombros e forçou um sorriso, dizendo:
            _ Mas, de qualquer forma, eu vou parar de divagar agora – e voltou-se então para eles, e parecia ainda mais sábio aos olhos de Fei e Bart. Podiam ser apenas lendas, mas eram impressionantes. Meio que despertando depois do relato, Fei perguntou:
            _ A propósito, por acaso essa caverna tem...
            _ ... uma saída? – perguntou Bal – Há uma saída na área de escavação além da barreira de areia. Vocês podem chegar ao exterior por lá.
            _ ‘Barreira de areia’? – indagou Bart – Está falando daquela parede enorme que dá pra ver da sua porta?
            _ Sim, isso mesmo. Do outro lado há uma velha área de escavação de Aveh. Eles construíram a muralha quando Aveh estava escavando aqui, para impedir a areia de cair. Mas agora, não estão mais trabalhando lá.
            _ Bem, - perguntou Fei – e como nós abrimos uma coisa daquele tamanho?
            _ Se é uma parede, provavelmente dá pra quebrar – opinou Bart.
            _ Devagar aí, jovens – interrompeu Bal – Não importa quão bom seja o Gear que têm, vocês nunca vão conseguir derrubar aquela parede. É forte demais. Então... façamos um trato.      
            _ Trato? – perguntou Bart, naturalmente desconfiado.
            _ A muralha se fechou pela reação dos ‘Sensores de Areia’ – explicou o velho – Com isso, eu agora não tenho como sair também. Talvez tenha acontecido quando vocês dois caíram aqui. Por acaso vocês estavam lutando lá em cima, ou coisa parecida?
            Bart coçou a cabeça e desviou o rosto, meio sem jeito, enquanto Fei concordou.
            _ Parece que você consegue descobrir qualquer coisa! De qualquer modo, o que podemos fazer?
            _ Muito simples. Vocês só precisam desligar os sensores. Isso vai impedir a barreira de fechar novamente. Enquanto vocês fazem isso, eu a abro.

            _ Certo, entendido! – concordou Fei, batendo uma das mãos na outra.

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