domingo, setembro 28

Capítulo Dois - Sombras Cadentes

Saudações senhoras, senhores e senhoritas! Louco de volta, trazendo a sequência do Xenogears!

A idéia é manter isso rolando uma vez por semana. Desculpem a demora, e esperem pelo domingo que vem ^_^

Até aqui, fora a indicação de um possível triângulo amoroso começado em cima da hora, não parecia haver nada de mais. Bem... Acabou a moleza. -_-'

Inté!

Capítulo 2: Sombras Cadentes


            O jantar, como de costume, estava perfeito. Fei não poupou elogios à comida e Yui ficou muito satisfeita.
            _ Se gostou tanto assim, Fei, você pode vir comer quando quiser. É bom ter companhia pra jantar, especialmente quando gostam tanto da nossa comida.
            _ E quanto ao equipamento fotográfico, Fei – comentou o doutor – é melhor deixar que eu leve, amanhã bem cedo. Não me deixa muito à vontade a idéia de ver você lidando com coisas tão delicadas.
            _ Onde foi que eu ouvi isso antes? – Fei riu alto – Bem, então vou indo. Até amanhã Yui, Midori.
            _ Boa noite, Fei, e até amanhã.
            Midori continuou em silêncio, como sempre, e o Dr. Uzuki acompanhou Fei até o portão. Ainda pensando no que acontecera com a caixa de música, Citan recomendou cuidado no retorno à vila, mas Fei comentou despreocupadamente:
            _ Está tudo bem, Doc. Essa não é a hora de atividade dos monstros da montanha. Vejo vocês no casamento, amanhã.
            _ Bem... Está certo. Até amanhã, Fei.
            De fato, o caminho de retorno estava tranqüilo e até agradável com o ar da noite, sem monstros errantes em parte alguma. Fei estava cruzando a ponte entre um dos penhascos que faziam parte do caminho de volta quando ouviu um som acima de si. Voltando os olhos para cima, viu formas humanas enormes passando sobre si em alta velocidade, cortando o céu da noite com um estrondo de motores.
            _ Gigantes...?
            _ Fei!
            Era o Dr. Uzuki quem vinha correndo e Fei perguntou:
            _ Doc, o que era aquilo? Aquelas coisas enormes que passaram agora há pouco...
            _ Então você também viu. A julgar pela direção que vieram, eu diria que eram Gears do nosso país vizinho, Kislev.
            _ Quer dizer que aquelas coisas são Gears...
            Estrondos e sons de explosão começaram a soar no sopé da montanha e ambos ficaram alarmados.
            _ Explosões? Fei, por acaso aqueles Gears não tomaram o rumo de...
            _ Lahan!
            _ Isso é um absurdo! Lahan está em território de Aveh! O que poderia atrair um esquadrão de Gears de Kislev até aqui? E, mais importante, será que eles pousaram em Lahan?
            _ Um combate de Gears no meio da vila seria uma catástrofe, Doc! Nós temos que fazer alguma coisa!
            _ Vamos, Fei! Precisamos correr!
            Ambos se apressaram rumo à vila e Fei viu seus piores temores ficando maiores na medida em que se aproximavam. Incêndios por toda a parte transformavam a noite em dia e, por toda a parte, pessoas corriam de um lado para o outro para escapar do combate. Quando por fim chegaram, viram que o pior estava mesmo acontecendo: os Gears estavam em combate em plena vila. Em meio ao caos das pessoas correndo e da fumaça, Citan viu duas pessoas conhecidas.
            _ Alice! Timothy!
            Chamados, o casal foi até onde Fei e o doutor estavam, com Timothy dizendo:
            _ Doutor, eles simplesmente vieram de lugar nenhum e pousaram bem no meio da nossa vila...!
            _ Eu sei, eu sei, isso é um absurdo. Mas por enquanto, vocês estão bem?
            _ Sim – respondeu Alice – mas não conseguimos encontrar o Dan em lugar nenhum!
            _ Vou procurar mais uma vez – falou Timothy – Vá na frente, Alice, e saia da vila.
            _ Espere um pouco, Timothy – interveio o doutor – É melhor que você, Alice e o resto do pessoal evacuem a área. As coisas podem piorar.
            _ Mas doc, você sabe que eu não posso simplesmente deixar Dan para trás!
            _ Sei como se sente, mas deixe o resto comigo e com Fei. Antes de mais nada, você precisa se preocupar com sua segurança e a da sua noiva. É responsabilidade sua proteger Alice.
            Isso era um argumento forte, mas Timothy ainda parecia inseguro; então, Fei apoiou o doutor.
            _ É como o Doc disse. Saiam da vila os dois e não se preocupem com o Dan. Se eu o conheço ele já deve ter saído, e deve estar esperando por vocês em algum lugar. Se não, eu mesmo o levo assim que puder.
            _ É... Acho que vocês estão certos – concordou Timothy – Vamos, Alice! Vamos deixar o Dr. Uzuki e o Fei cuidarem das coisas agora.
            _ Sim... Está certo. Obrigada doutor. Mas, Fei... Por favor, procure pelo Dan!
            _ Se ele ainda estiver na vila, pode ter certeza de que eu vou salva-lo.
            _ Agora vão, vocês dois! – ordenou Citan – Fei, eu vou procurar nas casas por alguém que não tenha saído. E você vai pela vila, conduzindo os perdidos a um lugar seguro!
            _ Certo Doc. Cuide-se.
            _ Você também.
            Timothy e Alice saíram da vila, Citan tomou o rumo das casas e Fei seguiu para a praça principal de Lahan. Lá, um grupo de Gears estava em combate, três Gears militares menores de Kislev enfrentando um Gear negro solitário, disparando com suas metralhadoras sobre ele e tudo o mais ao redor.
Mais um estrondo e tudo pareceu tremer, o próprio Fei caindo ao chão. Quando tornou a erguer-se viu o Gear negro em posição de espera, sobre o joelho direito e com a escotilha do piloto no peito aberta, e um cadáver desconhecido no chão. Obviamente, o último ataque derrubara o piloto, mas o Gear ainda parecia em condição de batalha. Em meio ao clarão das chamas e o reflexo no metal, Fei viu que ainda parecia haver alguém no comando: um garoto. Uma criança terrivelmente familiar.
            _ Hã?
            Uma imagem se formou na mente de Fei, semelhante ao crucifixo que tinha consigo, balançando e cintilando contra a luz. Tornou a olhar para a cabine do Gear e viu quando o menino abriu um sorriso, e a cabine pareceu se fechar. Havia algo perturbador naquele sorriso, e a imagem do crucifixo ondulou para o outro lado, enquanto Fei se tornava agudamente consciente das batidas cada vez mais rápidas do próprio coração.
            O Dr. Citan Uzuki acabara de sair de outra casa e encaminhara os habitantes para a saída mais próxima da vila, e decidira procurar por sobreviventes na direção da praça central de Lahan. Foi quando notou que Fei estava subindo no Gear.
            _ Fei? Fei, espere!
            O rapaz não pareceu ouvi-lo, alheio a tudo. A cabine se fechou e o Gear tornou a ficar de pé, colocando-se em posição de combate e voltando-se para os Gears de Kislev. Atrás dele, Citan gritou:
            _ Fei, não faça isso! Você não deve lutar aqui...!!
            O Gear negro dirigiu-se para frente e confrontou dois dos Gears de Kislev. Na cabine do piloto, uma voz metálica falou num idioma que Fei não compreendeu em absoluto a princípio. E a voz prosseguiu, alterando as palavras até que dissesse:
            _ Modificador lingüístico ativado. Identificado: dialeto dos Cordeiros de Ignas. Modo simples ativado. Sincronizando interface de entrada com tempo normal de reflexo do piloto.
_ Aviso ao piloto: Modo de Combate! Prestes a entrar em combate! Unidades de combustível restantes: 1200. Use anel de comando à esquerda da tela para atacar. Mova as alavancas para movimento e aperte os botões pré-determinados para iniciar seqüência de ataque automática.
            O sinal se tornou mais agudo e a voz metálica assumiu um tom mais urgente:
            _ Aviso! Gears inimigos agora se preparando para atacar! Encerrar modo de auxílio!
            Dois Gears de Kislev atacaram com suas metralhadoras, mas apesar de alguns eventuais acertos, a blindagem do Gear negro suportou bem enquanto Fei moveu-se e derrubou o primeiro inimigo com apenas dois movimentos simples de ataque.
Já o segundo estava afastado demais para que Fei evitasse seu ataque. Sem realmente pensar no que estava fazendo, o rapaz concentrou-se e usou sua técnica do Chi, o Tiro Guiado. Quando lutava sozinho, a técnica condensava a força do seu espírito num projétil que sempre atingia o alvo; dentro da máquina amplificadora de Ether do Gear, no entanto, Fei disparou uma torrente de energia devastadora no segundo rival que o derrotou completamente, sem dar chances para que abrisse fogo. E ele mal derrotara a dupla de atacantes quando mais um grupo pousou bem em frente a ele.
            _ Reforços, hein?
            Outro grupo pousou à sua direita e Fei perguntou-se quantos mais daqueles Gears havia ali. Em meio aos novos ataques, Fei também percebeu um modelo diferente entre os inimigos: um majestoso Gear de bronze que apenas manteve-se à parte, de braços cruzados, como se observasse a batalha. Forçado ao limite pelo número avassalador de inimigos, Fei disse a si mesmo:
            _ Eu acho que não tenho escolha... A não ser lutar!
            E tornou a atacar o grupo de Gears. Na praça de Lahan, Citan Uzuki também observava.
            _ Fei...! A forma como está lutando... – e ficou apreensivo – Isso não é nada bom! Se ‘ele’ despertar aqui...
            _ Doc!
            Uma voz familiar chamou à sua direita e ele viu Dan sair correndo de uma casa em chamas com algo em suas mãos.
            _ Dan, você está bem? O que, diabos, está fazendo aqui?! Timothy e Alice ficaram preocupados!
            _ Eu sinto muito Dr. Uzuki. Eu saí antes da vila, mas tive que voltar. Não podia suportar a idéia de que o vestido de noiva da minha irmã ia se perder.
            Foi quando Citan conseguiu reconhecer o pacote feito às pressas por Dan.
            _ Você voltou apenas para salvar o vestido de casamento da sua irmã? Heh... Quem diria que você era um garotinho tão sentimental?
Mas os sons de rajadas de metralhadora e golpes de metal contra metal ficaram mais altos, e Citan lembrou-se de onde estavam e do risco que corriam.
_ Depressa, Dan. Temos que aproveitar enquanto Fei mantém aqueles Gears ocupados. Ao que parece, eles estão atrás do Gear em que Fei está...
            Dan voltou-se para o combate. O Gear negro saltou sobre uma rajada de metralhadoras e derrubou seu atacante com um golpe, e o menino pareceu reconhecer aqueles movimentos. Fei estivera ensinando a ele algo do que sabia de artes marciais e, observando bem, o modo como o Gear negro movia-se para golpear, esquivar e contra atacar era a mesma que Fei.
            _ Fei está... dentro daquele monstro?
            _ Fei está preso... – disse o Dr. Uzuki com um rosto entristecido – ao destino negro e cruel de deus...
            Outro Gear inimigo tombou com uma seqüência de golpes rápidos e o Gear negro parou, sua cabeça quase parecendo viva e com uma expressão feroz enquanto se mantinha parado e em guarda, durante uma pausa nos ataques inimigos. A postura e mesmo a feição ilusória pareciam-se familiares demais para que Dan se equivocasse.
            _ ... Fei?
            Após um instante de contemplação, o doutor conduziu o menino para o lado, alertando:
            _ Venha, Dan! É melhor que nos afastemos daqui.
            _ Dan!!
            Era Timothy, que vinha por outra ala da vila e parecia aliviado ao ver o menino em segurança junto a Citan.
            _ Eu sabia que você ainda estava na vila! Rapaz, como estou feliz que você esteja bem!
            Foi quando os Gears atacantes se aproximaram de Timothy, notando sua presença. O rapaz ficou parado sem saber o que fazer diante daquela ameaça metálica, e Fei gritou;
            _ Esperem, não atirem! Desgraçados, estas pessoas não têm nada a ver com vocês!
            E tentou ajudar Timothy, mas dois Gears de Kislev cortaram sua frente, bloqueando-o.
            _ Saiam do caminho, bastardos!
            Um golpe rápido derrubou outro dos Gears e o Gear de bronze, que se mantivera passivo até então, fez um sinal para o soldado à sua esquerda. E em resposta, o Gear de Kislev abriu fogo na direção de Timothy.
            _ Pare com isso! – gritou Fei – Eu disse pareeee!!!!
            A rajada cortou o solo numa linha reta, pontilhando o gramado de Lahan com projéteis de grosso calibre e também atingindo Timothy em cheio, matando-o sem dar-lhe a chance sequer de gritar.
E Fei sentiu uma pontada aguda em sua mente e viu outra vez o crucifixo balançar, cintilando na luz. Viu um garotinho com olhar espantado, com sangue salpicado em seu rosto e seu cabelo. O crucifixo balançou para o outro lado e os cabelos do menino agora cobriam seus olhos. E, em meio ao sangue que escorria em seu rosto, ele sorriu.
            Fei curvara-se na cabine, sentindo a dor aguda, seus cabelos normalmente presos agora caídos sobre seus olhos, como o menino que ele vira. De olhos ainda encobertos, ele ergueu o rosto. E sorriu.
E feixes intensos de luz emanaram do Gear negro, devastando tudo à sua volta, começando pelos Gears inimigos e chegando a casas, muros e pessoas próximas. Até mesmo Alice, que abriu um sorriso gentil e triste ao desaparecer na luz. À distância, Dan gritou pela irmã, mas foi contido por Citan um instante antes do último lampejo vermelho, e da explosão.

            Fei despertou na manhã seguinte, confuso. Não se lembrava de nada do que havia acontecido, não sabia onde estava, nem como chegara ali. A primeira coisa que reconheceu foi que não estava em sua cama, mas sob uma árvore.
            _ Hã...! Onde eu...?
            Olhando em volta, ele viu um grupo de pessoas reunidas e o Dr. Uzuki entre elas, que viu quando ele despertou.
            _ Ah, finalmente você recuperou a consciência, Fei...
            _ Doc, o que aconteceu? – perguntou o rapaz, confuso – Onde é que estão o Chefe Lee, Timothy, Alice...? O que foi que...?
            _ Sim... – Citan parecia inseguro, sem saber por onde começar – Bem, é que...
            Foi quando Dan adiantou-se, passando por Citan e olhando com raiva para Fei.
            _ Seu assassino!
            Fei e Citan voltaram-se para o menino e, enquanto o doutor procurava acalma-lo, Fei perguntou:
            _ O quê? Dan, o que quer dizer com...?
            _ Fei... – Dan livrou-se do doutor e correu os olhos por toda a volta – Isso aconteceu... Porque você tinha que entrar naquele monstro...?! Alice, Timothy e todas as pessoas...! Você matou a todos usando aquele monstro...!!
            Foi quando Fei percebeu que Dan falava do Gear negro atrás de si, de pé e imóvel como uma estátua. Fei não conseguia se lembrar de nada posterior ao momento em que Timothy fora baleado, mas ainda ouvia a voz de Dan. E outras, vozes de feridos e sobreviventes da vila, murmurando em desespero:
            _ Por que você teve que lutar no meio da vila? Como sabia pilotar um monstro desses?
            _ Mãe? Cadê minha mãe...?
            _ Viu, eu te disse... Disse que deixar alguém de quem nós não sabíamos nada vir morar na nossa vila queria dizer desastre...
            _ Ooooh... Dói... Dói tanto...
            Fei virou o rosto, voltando-se para Dan e o povo da vila e fez menção de aproximar-se, mas todos começaram a se afastar com medo e raiva em seus rostos. Mesmo as crianças. Mas ninguém parecia pior do que Dan.
            _ Seu assassino! A minha irmã... Me devolve a minha irmã!!
            _ Dan , não há nada a se ganhar pondo a culpa toda em Fei – disse o Dr. Uzuki com a mão nos ombros do menino – E, mais importante, você sabe que Fei não tinha como controlar o mal funcionamento daquele Gear.
            _ Eu... Eu sei disso! – murmurou o menino, choramingando – Mas... Mas...
Por um momento, pareceu que ele começaria a chorar e então se acalmaria. Mas então, livrando-se das mãos de Citan, Dan ergueu os olhos e encarou Fei, esbravejando:
_ EU TE ODEIO!
            E saiu correndo sem olhar para trás. Fei pensou em correr atrás dele, e então percebeu que não teria o que dizer se o alcançasse. E o doutor disse:
            _ Pode ser melhor se o deixarmos sozinho por enquanto. Ele não sabe o que fazer com sua raiva, sua angústia...
            Fei apenas baixou sua cabeça, sentindo-se com o peso do mundo inteiro sobre os ombros. Dan estava certo. Ele era mesmo um assassino. Era aquele que matara o povo da vila e a destruíra, de forma pior que os Gears inimigos poderiam ter feito. E ele ouviu Citan dizer:
            _ A propósito, Fei... Pode ser uma boa idéia se você resolver deixar este lugar. Não há garantias de que um novo esquadrão não venha pra cá. Eles provavelmente vão querer saber o que houve com seus companheiros. Além disso – e olhou para as pessoas reunidas – a sua presença não vai deixar a atmosfera mais alegre... Se é que me entende. Pode ser melhor para você e os outros se você partir.
            _ Sim, eu acho que está certo... O desastre aconteceu porque eu estava aqui... Mas o que eu devo fazer agora?
            _ Sim, bem... Por que não cruzar a Floresta da Lua Negra e seguir rumo a Aveh? Tenho certeza de que os soldados de ontem não eram de lá e, se estiver em território de Aveh, eles não serão capazes de localiza-lo tão facilmente.
            _ Tá... Eu entendo, Doc. Por favor... Tome conta das coisas por aqui.
            _ É claro. Bem... Cuide-se.
            Fei não disse mais nada, afastando-se devagar. Antes, porém, parou e deu uma última olhada para o povo sobrevivente de Lahan e para o Dr. Uzuki. Depois, voltou-se para o Gear negro reluzente e ouviu a voz acusadora em sua própria mente, enquanto a máquina parecia fita-lo nos olhos:
            “Você matou a todos usando aquele monstro...!!”
            “Assassino! A minha irmã... Me devolve a minha irmã!!!”
            Não havia nada que ele pudesse dizer ou fazer, por mais que quisesse. Com um nó na garganta, Fei afastou-se sem olhar para trás.
                       


...AS PASSION BURNS IN YOUR HEART

Nenhum comentário: