DA SÉRIE 'ACHO QUE NÃO', PRIMEIRO CONTO: REI DO GELO

Tércio bateu em cima, embaixo e girou, sua espada contendo e empurrando a lâmina de cristal de Edho, o Rei de Gelo, o bastardo que anunciava a chegada do frio e que, dois dias antes, tomara Santhia da casa dela. Ele aproveitou o momento para ver o rosto da camponesa, sentada no trono de rainha, vestida como tal em trajes magníficos... e com a expressão vazia, indiferente ao que estava acontecendo a ele. Como sempre acontecia, Edho tomava alguma linda donzela como companhia durante todo o inverno, e como sempre acontecia, o coração de Santhia congelara. Não teria qualquer emoção até sair dali.

_ Olha pra ela. Olha só pra ela!

Edho não parecia incomodado pela raiva de Tércio, mas olhou com o canto dos olhos para a moça linda que escolhera. Sentada no seu trono, agora livre daqueles trajes simples, estava mais bela do que jamais fora. Magnífica, como os cristais de gelo no início de inverno.

_ Não está vendo o que fez?! O rosto dela, a expressão tá vazia! Não é a verdadeira Santhia! Não, sem o sorriso dela, sem o coração!

Edho ponderou por um momento. Imaginou a escolhida sorrindo, correndo pelos campos ensolarados, conversando com outras pessoas, sendo ela mesma. Livre. E muito, muito distante dele.

_ Deixe ver se entendi; está me sugerindo libertá-la para ir embora com outro homem, e que fique aqui, sozinho? Seja sincero, rapaz; 'você' faria isso, se estivesse em meu lugar?

Tércio abriu a boca para retrucar, e hesitou.

_ Acho que não.

E Tércio voltou para casa, perguntando a si mesmo como ia explicar aquilo, enquanto Edho criava alguns servos de gelo para limpar a bagunça que o invasor causara, esperando que fosse o último. Já estava ficando aborrecido.

MORAL DA HISTÓRIA: NÃO PEÇA A NINGUÉM PRA FAZER O QUE VOCÊ NÃO FARIA