quinta-feira, março 29

FIÉIS COMPANHEIROS


Otcha, leitores e leitoras! De algum lugar do outono, saudações do Louco!

Você é o feliz proprietário ou proprietária de um personagem polivalente? Seu herói ou sua heroína manda tão bem que é capaz de falar diversos idiomas, é mestre ou mestra de computador, com dom pra assimilar novidades facinho? Sabe escapar de qualquer lugar, improvisando uma chave até com papel molhado, escala muros altos só com mãos e pés e faz até o maior mestre de artes marciais tremer quando olha pra ele ou ela? Se sim, melhor avisar, Conan o Bárbaro e Gandalf o Cinzento já foram criados, já tem tempo, e o personagem 'não' é seu. Se não, bem, então entremos com o tópico de hoje; um por todos.

Quando eu era garoto, era comum ver grupos de heróis aparecerem, tanto quanto heróis solitários. Mais comum ainda era que só houvesse uma menina, eventualmente, porque o herói obrigatoriamente precisava de uma namorada (não me olhem assim, não fui eu quem inventou; era uma espécie de regra não oficial), e a única menina era a namorada não declarada do cara, automaticamente, a ponto de por vezes deixar claro que estava com ciúmes se aparecesse outra garota bonita do nada. Outra coisa comum era, com grupo ou não, o personagem principal era sempre o bonzão; escapava das armadilhas, salvava os outros (se havia grupo) ou derrotava todo mundo (se fosse solo). E por mais maneiro que isso pareça pruma criança, como adulto eu me pergunto: é fácil assim, mesmo?

Nah, claro que não.

Acho que, nos clássicos, Os Três Mosqueteiros do Sr. Dumas eram o melhor exemplo de como o herói pode curtir uma mãozinha. Dependendo da situação, Porthos era o cara experiente e responsável que pensava nos planos, Athos era o cara que conhecia o mundo fora da França (em certas versões, ele já tinha sido pirata), e Aramis costumava ser o cara do clero, que tinha algum entendimento em salvação das almas, até dos inimigos. Não que impedisse ele de atravessar os buchos deles com a espada... E os três davam o devido apoio ao jovem D'Artagnan, que era o mais novo, mais inexperiente e, na maioria das vezes, o melhor espadachim dos quatro. É, vai entender...

Por melhor que seu herói seja, ele 'deve' precisar de uma ajudazinha; não se pode estar em todos os lugares e fazer de tudo ao mesmo tempo, a menos que você seja o Naruto e possa criar vários clones de si mesmo. Isso vale pra heróis de ficção e do mundo real, e é muito mais fácil torná-los 'críveis' (fáceis de acreditar) se seu personagem tiver suas paúras, inseguranças e incompetências, também. Pra isso existem os amigos.

Me irritava no Scooby-Doo clássico como Velma só tava lá pra pensar, Fred pra dirigir o furgão e a Daphne, pra ser a garota bonita. Pior, a garota bonita do motorista, porque quem acabava fazendo tudo eram os bunda-moles do Salsicha e do Scooby. Felizmente, trataram desse probleminha nas versões mais recentes, e todo mundo tem essa ou aquela personalidade (até onde eu vi, começaram a se dar conta disso na versão kids, quando todos aparecem resolvendo mistérios enquanto crianças, e o Fred sempre cisma com o Ruivo Hering).

Outro exemplo maneiro foi Final Fantasy VI (III, na versão americana), onde se tem um time de doze a quatorze heróis (dois opcionais), e cada um tem sua própria história, habilidade e um motivo pra estar lá. Mais ainda, você se 'apega' a eles, não dá pra evitar. Porque eles não estão ali só pra bater nos monstros até você encerrar o jogo e ver o tema de fechamento.

Quanto mais personagens auxiliares pro seu herói ou heroína, melhor. Mas lembre, eles não podem ser só mais um rostinho bonito, ou músculos pra forçar portas trancadas. Eles precisam de personalidade, tanto quanto o personagem principal. Eles precisam ter medos, manias, amores e ódios como todo mundo. Pode quebrar o enredo e o suspense se, num telefonema em que o personagem principal finge que é outra pessoa, seu melhor amigo ou amiga espirrar, ou entrar na sala perguntando se o personagem quer pipoca, mas vai ser muito engraçado. E também, parece mais convincente.

Porque, por mais viajeira que seja a ficção, qualquer leitor se identifica com o inesperado. E curte mais, também.

Forte amplexo do Louco... heh, que se pergunta onde o time de apoio foi, e o que andam fazendo, a essa altura...

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