terça-feira, janeiro 31

VOCÊ NÃO É VOCÊ (Ou simplesmente Câmera: Parte 3)


Holas de novo, senhoras e senhores... e rapaziada em geral ^^ Saudações do Louco!

Fazendo a Versão Alternativa (vcs vão saber o que é depois), me deparei com uma questão interessante que vez por outra é mencionada na Dragon Slayer, leitura obrigatória pra boas idéias e diversão - a menos que vc não curta RPG, videogame e anime: jogadores interpretando o personagem por vezes têm muita dificuldade em 'dissociar' do personagem.

E me ocorreu que o mesmo pode facilmente rolar com escritores e personagens em questão - afinal, se um único personagem pode causar essa confusão, o que dirá todos os personagens da história - trago aqui Persona.

Falar a verdade, isso pode ser meio difícil, principalmente quando você tá começando. Já disse uma vez, eu imagino que mesmo os autores não saibam cem por cento da história, a não ser aqueles seres louváveis (e loucos?) que mantém a história sob pulso firme, com começo meio e fim inalteráveis. Então, pode ser comum, até mesmo frequente, deixar o personagem acabar falando algo, ou ciente de algo que só deveria acontecer mais tarde.

Um exemplo. Aquele momento crítico, em que o personagem precisa decidir entre pular ou não, desafiar o assaltante a atirar ou não, até mesmo a menina que precisa decidir se vai casar mesmo ou se vai fugir com o cara de quem sempre gostou, sem saber se vai dar tudo certo no final. Você é o autor, ou autora, já sabe que vai! (ou não, né Miki? ^^) E naquele momento que tá se escrevendo, você 'é' o personagem que tem que tomar a decisão. E se quer que leitores e leitoras curtam de verdade, é preciso deixar claro que seu personagem 'não' conhece o desfecho. A pessoa tá insegura, gente!

Imagine a si mesmo, algo terrível atrás de você e um pulo alto pra caramba, que você não sabe 'mesmo' se vai conseguir fazer. Tem coragem pra pular? (inferno, ontem eu tava suando enquanto pulava em Uncharted 2!) Tem um assaltante com uma arma na sua cara. A situação é de risco pra todo mundo ao redor. Você 'desconfia' que a arma tá vazia, ou é de mentira, mas tem mesmo coragem de dizer Atira então, maluco!? A menina vai ter uma vida 'estável' se casar, nunca mais se preocupar com dinheiro, lugar onde morar... e vai, o mino que quer casar com ela não é nenhum barango, periga até ela conseguir gostar dele depois de um tempo. Fugindo com o amor da vida dela, vai ficar mais feliz 'agora'; será que compensa? Será que esse gostar todo resiste à passagem do tempo, dificuldade financeira, ela engordando depois do primeiro filho, fins de semana com o cara sentado no sofá, vendo futebol e engordando também, de tanta cerveja?

Que decisão você tomaria no meio dessa incerteza toda?

Se não conseguir passar 'essa' impressão pra quem tá lendo, se não deixar leitor tenso, você vai ter falhado. Interessar quem leia é a principal obrigação de qualquer roteirista, inovar, fazer o inesperado. Não entendo como novela ainda faz sucesso, repetindo a mesma história over and over again, mas com essa exceção à regra, histórias sem carisma, sem a capacidade de convencer podem, no máximo, virar um modismo. Mas passam.

Meu velho amigo Antero, O Cara, que nunca gostou muito de ler, dizia que uma das coisas que mais matava seu interesse em leitura eram histórias previsíveis (aquelas com título tipo 'A morte de Lúcio', que você não precisa ler pra saber que tem um Lúcio que morre ali). E sua história pode ficar assim se você deixar seu personagem agir como se soubesse o que vai acontecer depois. Que risco tem em saber que seu carro vai bater de frente com um trator, se de antemão você sabe que vai escapar sem um arranhão?

Dissocie-se do personagem. Enquanto você for a menina, não sabe o que vai ou pode acontecer com seu futuro. Enquanto for o assaltado, é a sua vida que tá em risco; aquela arma 'pode' ser de verdade, e com munição. Enquanto for o perseguido, pensa de novo. Talvez o que te persegue possa ser evitado, ou enganado, sem o pulo.

Incerteza. Indecisão. É o que mais ferra com a gente na vida real, porque você sempre hesita antes de uma atitude importante. E também, é o 'sal' da vida, e da boa escrita. Leitores podem esperar que o Um Anel seja destruído, que Stuttering Bill vença a 'Coisa' em It ('A Coisa', em português), que Harry vença Lorde Valdemar, mas se o leitor perceber desde o começo que o autor gosta demais dos personagens, a hora da decisão perde a graça. Você precisa ter dúvida, até o último instante, que eles vão sair dessa, e dar essa impressão é uma das marcas de um(a) grande escritor(a).

Forte amplexo tagarela do Louco (que por vezes também não sabe quem é ^^)

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