domingo, maio 17

Capítulo Dezessete Ponto Dois

Salve, gente de domingo! E restante da semana! Num domingo confortável, e mais barulhento do que o último (nem tudo são flores), saudações do Louco!

Hora de acabar com este capítulo! Taí, Fei agora é o Campeão! ... E de que isso serve, mesmo?

Vejamos, uai!

(...)

Lembrando-se da mensagem deixada por Rue, Fei e Citan decidiram que era um bom momento para conhecer o Kaiser Sigmund, mas enquanto ainda saíam do aposento, a garçonete e proprietária do prédio, Latina, chamou por Fei.
_ Ah, Fei, espere um segundo. Hammer acabou de sair, mas deixou uma mensagem pra você. Ele quer que você o encontre no bar ‘Gato Selvagem’ na parte civil da cidade, uma vez que tenha cuidado de tudo. Entendeu?
Agradecendo, Fei e Citan tomaram o rumo para o Distrito Administrativo Central, como Sigmund requisitara. As pessoas do Bloco D agora o olhavam com admiração enquanto caminhava pelas ruas, curiosos com o recém-chegado que derrotara Ricardo Banderas. Havia olhares rancorosos, também, mas Citan lembrou Fei de que tal coisa era inevitável. Fosse como fosse, não ficaria muito tempo com o título do Campeão, uma vez que estava livre do colar explosivo e em breve recuperariam Weltall, deixando Nortune.
Nortune tinha em seu centro urbano o imponente Distrito Administrativo, uma construção de cor avermelhada imensa que parecia sobressair-se por sobre toda Kislev. Para lá foram Citan e Fei, e os guardas interpelaram o rapaz assim que chegou:
_ Este é o Centro Administrativo. Apenas pessoas autoriz... hã? Ora, se não é o Campeão dos Lutadores, Fei. O Kaiser o aguarda. Por favor, venha por aqui.
Escoltados pelos dois guardas do portão, Fei e Citan penetraram no Distrito. Sendo assim, não viram que segundos depois o próprio Ricardo Banderas entrou no salão frontal, olhando em volta.
_ Hm. Ninguém aqui – acenou com a cabeça – Como pensei. A segurança foi reduzida para atrair Fei. E...
Verificou a porta de acesso. Trancada. E mesmo ele não poderia forçar aqueles portões eletrônicos, e nem sabia as senhas da tranca.
_ Agora, suponho que bater na porta está fora de questão? – olhou em volta, encontrando o que procurava à sua direita – Acho que posso entrar por aquele duto de ar ali em cima.
Enquanto entravam, Fei notou que os corredores, portas e acessos eram realmente impressionantes em sua tecnologia, e Citan discretamente comparou o maquinário e o nível de avanço ali presentes no Distrito com a da Yggdrasil de Bart e Sigurd. Detendo-se diante de um elevador, um dos guardas os instruiu para que seguissem até a escadaria da ala oeste, para chegar aos aposentos do Kaiser. Citan também achou curioso que o elevador não apenas subisse, mas se deslocasse na horizontal em parte do trajeto. Por fim, chegaram aos aposentos de Sigmund, um homem idoso, de rosto barbado e orelhas pontudas, com um ar natural de liderança e olhos firmes, que tocava órgão quando eles entraram. Sem se voltar, ele indagou:
_ Quem são vocês?
Voltou-se, então, e pareceu ficar surpreso antes de reconhecer o rapaz diante de si.
_ Entendo... Então, você é Fei... Seja bem vindo.
_ Você...? – Fei estava confuso, por estar certo de não reconhecer o idoso governante de qualquer outra ocasião – Como me conhece?
_ Ha ha hah. Perdoe-me. Eu sou o Kaiser de Kislev, Sigmund. Isso pode soar um tanto súbito, mas você gostaria de unir forças conosco? Preciso de seu apoio.
Um pedido estranho e incomum, que deixaria Fei abismado em outra ocasião. No entanto, com um súbito som de queda, uma figura verde musculosa caiu dos dutos de ar do teto e levantou-se tão depressa quanto pôde, olhando com espanto para os demais.
_ Ah...
_ Hã? – Sigmund foi o mais surpreso – É você! Rico!
_ Oh-oh, nada bom! – mais que depressa, Rico voltou-se para a porta e saiu dizendo – Foi mal, volto outra hora. Até mais!
_ ... Mutante! Segurança! – gritou Sigmund - Prendam este intruso! Ele não estava com vocês, estava?
Seu olhar inquiridor e frio parecia estranho vindo do mesmo homem que ainda um instante atrás pedia a eles que se unissem a ele de forma gentil, e de qualquer forma, Fei não entendia o que estava havendo e tentava se explicar enquanto, do lado de fora, Rico fugia pelos corredores. Deteve-se por um instante diante dos elevadores, mas sacudiu a cabeça e tornou a correr.
_ Não. Pra baixo não adianta...
Correu mais, seguindo pelos corredores até uma curva onde dois guardas protegiam uma porta selada, e pareceu a Rico que podia ser um bom lugar para ficar oculto até que a situação se acalmasse. Dirigindo-se às sentinelas com sua atitude mais natural, ele disse com simplicidade:
_ Ei! O Kaiser está chamando vocês.
_ Sério? – um dos guardas abandonou imediatamente o posto, mas o outro olhou desconfiado para o mutante recém-chegado e perguntou:
_ Tá tudo bem se...?
_ Claro, pode deixar! – o outro guarda disse – Essa porta não abre pra ninguém, exceto o Kaiser e sua esposa.
Os guardas se foram e Rico aproximou-se da porta. Se pudesse ocultar-se lá dentro, pelo que ouvira dos guardas, podia ser possível encontrar outra entrada de ar insuspeita e então...
A porta abriu-se sozinha assim que ele se aproximou e, apesar de surpreso, Rico ficou satisfeito. Fora mais fácil do que esperara. Entrou no aposento reservado para procurar uma entrada para o sistema de ar, e então se deteve.
O quarto era ricamente mobiliado, como convinha à esposa do Kaiser de Kislev. Mais do que a opulência do lugar, no entanto, havia algo mais que prendeu a atenção do ex-Campeão dos Lutadores de Kislev, fazendo-o esquecer momentaneamente seus planos de fuga. Algo familiar demais.
_ ... Esse quarto...?
Caminhou até o centro do aposento sextavado, olhando em volta e farejando.
_ Esse perfume...
Foi como se houvesse um clarão diante de seus olhos e Rico olhou fixamente para o espelho da penteadeira. Havia algo familiar demais naquele móvel.
_ ... Eu já vi isso...
A cama à sua direita, o espelho... Era muito estranho, mas ele tinha certeza de já conhecer aquilo. Mas, se nunca entrara ali...
_ ... Quando é... Que foi...
Outro lugar. Uma cabana pobre e muito estreita, e uma voz de criança.
_ ... ãe.
A porta abriu-se, revelando um garotinho de longos cabelos e descalço. Ele falava com uma senhora de ar gentil diante de um antigo fogão de duas bocas.
_ ... amãe.
Correu até a mãe, conseguindo então a atenção dela, o ar abatido abrindo-se num sorriso ao ver a criança.
_ Mamãe, por que Jenny tem um pai e eu não tenho?
_ Bem, é que o seu pai é... Então... É por isso que...
Havia uma explicação, claro, mas parecia difícil ouvir as partes mais importantes, pensou Rico.
Uma curta passagem de tempo. Apesar disso, o menino e sua mãe continuavam a morar na mesma casa, sem sinal do pai. E a pobre mulher parecia mais enfraquecida à medida que o tempo seguia em frente.
_ ... amãe... Você tem que descansar.
_ Agora me escute! – ela interrompeu com ênfase – Seu pai é um grande homem... Algum dia, você vai seguir os passos dele...
Foi subitamente interrompida por um acesso de tosse e o menino acudiu como pôde, apavorado.
O tempo seguiu adiante. O menino começara a entrar na puberdade, beirando os onze ou doze anos, e entrou novamente correndo para encontrar sua mãe sentada a um canto da cabana.
_ ... ãe. Mamãe... Eu sou diferente das outras crianças.
A mãe voltou-se com ar cheio de pesar e cansaço, parecendo esforçar-se para dar atenção, enquanto o menino olhava para si mesmo confuso.
_ ... Até as minhas unhas são longas, e olhe pra as minhas orelhas...
Foi a primeira vez em que a mãe pareceu abalada de fato, sem saber realmente o que dizer.
_ ... não, não... não é... Não é bem assim...
_ ... Miyo, do outro lado da rua – os olhos do menino agora estavam cheios de lágrimas – fica dizendo que eu não sou humano e que, quando eu ficar mais velho, vou me tornar um meio-humano.
Correu até a senhora de ar cansado e a abraçou, e então ergueu os olhos úmidos para ela.
_ Eu... não sou humano? Então... Você não é minha mãe...? Não... Eu não quero isso...
_ Oh Deus... – a senhora de ar cansado abraçou o menino e baixou a cabeça – tenha piedade desta criança...
O tempo tornou a avançar. A aparência do menino mudara mais, e seus cabelos, unhas, presas e orelhas longos eram indisfarçáveis. A cabana estava cercada, e vozes vinham de fora.
_ ... Saia! Vá embora, seu menino mutante!
A mãe do menino afastou-se da janela, parecendo ir até a porta, mas não dera três passos quando um violento acesso de tosse a fez dobrar-se e depois de cair de joelhos, sem conseguir recuperar o fôlego tal a violência da tosse. O menino, sem saber ao certo o que fazer, aproximou-se dela e abraçou-a, gritando:
_ Waaaaaaaa, ajudem! Ajudem, minha mãe está...!
Um lapso menor de tempo desta vez. Ela estava deitada, em seus momentos finais. O menino chorava ao seu lado. Com um sorriso terno no rosto, ela esforçou-se para dizer:
_ Aqui... Escute... Você estará... por si mesmo... de agora em diante...
_ Mãe... Eu estou... Eu sou...
_ Eu sou...? Sou mesmo...?
A figura do menino mudou, e Rico então percebeu que era um rosto que conhecia bem.
_ É... Aquele menino... Sou eu? Minhas memórias da infância... Eu tinha esquecido... Por que estou lembrando disso agora... Este quarto...? Aquele perfume suave...
Rico ainda estava preso às suas lembranças, alheio a tudo a sua volta por algum tempo, e por isso levou algum tempo antes de ouvir as batidas na porta e a voz familiar de Fei.
_ Ei! Você está aí? Abra...
De forma meio ausente, quase como se despertasse de um sonho, Rico foi até a porta, abriu-a e tornou a voltar-se para o aposento, enquanto Fei o repreendia:
_ O que você está pensando, invadindo o Distrito Central desse jeito? Isso não é nada bom... hã? O que foi?
Por um instante, parecera a Fei ver pelo reflexo do espelho na parede diante deles que o Campeão dos Lutadores de Kislev, Rico Banderas, tinha algo brilhante em seus olhos, algo que ele não podia ver enquanto o outro estava de costas. Rico voltou-se para ele esfregando os olhos displicentemente e não parecia alterado quando disse:
_ Esqueça... Esqueça-se disso...
E deu as costas a eles outra vez, dirigindo-se para a saída do aposento. Fei não entendeu o que acontecia, mas Citan tocou seu ombro e fez que não com a cabeça. Fosse o que fosse, não era algo que devessem mencionar, e o melhor era que se retirassem de qualquer forma.
Sigmund e mais dois guardas fortemente armados aguardavam Rico do lado de fora, e o ex-Campeão encarou o Kaiser, que parecia ao mesmo tempo irritado e perturbado.
_ Você... Como entrou aqui? Como passou pela porta?
_ Não fiz nada... – Rico respondeu, a voz ainda soando abalada – Simplesmente passei pela entrada.
_ Besteira! – um dos guardas exclamou – Ela não abriria a menos que lesse o DNA correto! Não ia abrir assim tão facilmente!
_ ... provavelmente um defeito – murmurou Sigmund – Não importa... Prendam o intruso. O Comitê de Batalha está atrás dele por romper o contrato. Deixe que eles lidem com ele.
“Sim senhor!”, responderam os guardas em coro, para algemar Rico e conduzí-lo. Detendo-se por um momento, ele voltou-se para Citan e Fei uma última vez.
_ Bem... Vejo vocês qualquer dia.
Sigmund ficou olhando fixamente enquanto seus guardas levavam o musculoso meio humano que fora o Campeão de Kislev por três anos consecutivos com um ar profundamente pensativo, e Citan achou particularmente curioso o comentário feito por ele em seguida.
_ Não... Não há possibilidade de que ele seja...
O Kaiser pareceu então se lembrar dos dois homens parados ali e se recompôs como pôde, explicando:
_ Aquele homem foi suspeito de tentar me assassinar. A polícia está cuidando do assunto agora. Bem, tenho questões urgentes a cuidar, então, se me dão licença... Estejam à vontade para andar ao seu gosto pelo distrito. E quanto à minha proposta... Estarei aguardando uma resposta positiva. Tenham um bom dia.
Citan lembrou então que Hammer já devia ter a informação que queriam e sugeriu que fossem até a área civil da Cidade para encontrar o bar Gato Selvagem e também ao fornecedor. Chegando à cidade, mal Citan sugerira algo para que encontrassem o bar, Hammer surgiu correndo e gritando alegremente:
_ Ei, Mano! Com esses ouvidos, eu consegui tudo o que precisava saber do seu Gear! Hee-hee, descobri cadê o seu Gear, Mano!
No ato, Fei saltou sobre Hammer e agarrou sua boca. Havia guardas nas proximidades guardando os portões daquela ala e com certeza devia haver ocasião melhor para discutirem sobre Weltall do que ali.
_ Espere um segundo! (Você não acha que é perigoso falar desse tipo de coisa por aqui??)
_ Hã? O que há com você, Mano? – Hammer parecia confuso – Eu tenho informações sobre o seu Gea...
Citan imediatamente aproximou-se da direita de Hammer, assim como Fei o guardava pela esquerda e os dois guardas olhavam com ar desconfiado. Numa voz baixa, Citan explicou:
_ Mais tarde eu explicarei. Agora, apenas vá andando, OK?
Fei fez que sim com a cabeça, os dois largaram Hammer e se afastaram, seguindo para o centro da cidade enquanto Hammer continuava sem entender.
_ Hã? Mano? D-doc? Citan? A-aonde vocês vão? Espeeeeeeeeeeeerem!
Os guardas olharam interrogativamente um par o outro e balançaram as cabeças. Ex-prisioneiros eram loucos, todos eles!
Fei e Citan conduziram Hammer até o terraço de uma das casas, sem dúvida um ponto seguro, e Fei acenou que sim.
_ Deve ser seguro aqui. Agora, Hammer, me diga onde está o meu Gear.
_ Como o Doc previa, Mano, seu Gear foi levado pra outra doca de envio.
_ Então – indagou Citan – onde, nesse mundo de Deus, está Weltall?
_ Não ‘nesse mundo’, e sim ‘sob’ ele! – respondeu Hammer – Ele está numa doca subterrânea do Bloco D! Eu já verifiquei e descobri que há duas rotas que podemos usar pra penetrar lá. A primeira exige que entremos através do terreno da Arena de Batalha.
_ Bom – Fei meditou de cabeça baixa – não há como penetrarmos pela Arena de Batalha. Qual é a segunda maneira?
_ A segunda maneira é um pouquinho perigosa, já que envolve o túnel do trem de suprimentos. Você tem que entrar nos dutos do túnel e segui-los direto até que levem às docas. Mas não deu pra descolar a planta dos dutos... Foi mal, Mano.
_ Ah, aquele túnel, hein? – Fei já vira o trem automatizado passar próximo de seus aposentos – Bem, agora que temos o problema da bomba fora dos nossos pescoços, podemos ser capazes de conseguir!
_ Sim – ponderou Citan – mas ainda não temos qualquer conhecimento dos horários em que os trens passam. Será possível um trem de suprimentos passar em um horário que seja de qualquer valia para nós?
Nem tudo isso tem que ser decidido agora – lembrou Fei – Vamos aproveitar nosso tempo e planejar com calma. Primeiramente, Hammer – e voltou-se para o mecânico – desculpe por te deixar de fora, mas... Poderia descobrir pra nós os dias e horários em que o trem de suprimentos opera, por favor?
_ ‘Xá comigo, Mano! Bom então, eu vou nessa.
Por ora, Fei e Citan resolveram voltar ao Bloco D para planejar seus próximos passos, embora muito ainda fosse depender dos horários que Hammer iria conseguir. Assim que chegaram ao bloco dos prisioneiros, no entanto, foram abordados antes de chegar aos seus aposentos por dois Lutadores e uma Amazona, e Fei achava que já os reconhecia de algum lugar.
_ Quem são vocês?
_ Não seja tão sem coração – disse um dos Lutadores – Estivemos esperando por vocês.
_ Esperando? – Citan ficou cauteloso – por... nós?
_ Por favor, venham com a gente – disse o outro Lutador, e Fei ficou apreensivo.
_ Isso não vai ser outra estúpida ‘ Cerimônia de Batismo’, vai?
_ Ei, ei, esperem um minuto! – interrompeu a Amazona – Não estamos tentando começar uma briga. Fiquem falando assim – dirigiu-se aos colegas – e vamos acabar tendo um mal-entendido. Deixem isso comigo.
_ Tá, desculpa...
_ Bem... – Citan ponderou – presumo que vocês não sejam hostis...
Fei concordou com a cabeça, ainda cauteloso, mas a Amazona fez que não e comentou:
_ Não aqui... Vamos para outro lugar. Venham, me acompanhem.
_ Me parece que não temos escolha – comentou Citan em voz baixa – Vamos, Fei?
O rapaz concordou com um aceno. Os três não pareciam perigosos, mas ele lembrava-se de que Rico tinha muitos servos fiéis até a cegueira, que poderiam agir violentamente mesmo contra a vontade do Campeão. Assim, todos foram até os aposentos reservados para conversar.

  

TORN BY THIS PAIN

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