Hora de acabar com este capítulo! Taí, Fei agora é o Campeão! ... E de que isso serve, mesmo?
Vejamos, uai!
(...)
Lembrando-se da mensagem deixada
por Rue, Fei e Citan decidiram que era um bom momento para conhecer o Kaiser
Sigmund, mas enquanto ainda saíam do aposento, a garçonete e proprietária do
prédio, Latina, chamou por Fei.
_ Ah, Fei, espere um segundo.
Hammer acabou de sair, mas deixou uma mensagem pra você. Ele quer que você o
encontre no bar ‘Gato Selvagem’ na parte civil da cidade, uma vez que tenha
cuidado de tudo. Entendeu?
Agradecendo, Fei e Citan tomaram o
rumo para o Distrito Administrativo Central, como Sigmund requisitara. As
pessoas do Bloco D agora o olhavam com admiração enquanto caminhava pelas ruas,
curiosos com o recém-chegado que derrotara Ricardo Banderas. Havia olhares
rancorosos, também, mas Citan lembrou Fei de que tal coisa era inevitável.
Fosse como fosse, não ficaria muito tempo com o título do Campeão, uma vez que
estava livre do colar explosivo e em breve recuperariam Weltall, deixando
Nortune.
Nortune tinha em seu centro urbano
o imponente Distrito Administrativo, uma construção de cor avermelhada imensa
que parecia sobressair-se por sobre toda Kislev. Para lá foram Citan e Fei, e
os guardas interpelaram o rapaz assim que chegou:
_ Este é o Centro Administrativo.
Apenas pessoas autoriz... hã? Ora, se não é o Campeão dos Lutadores, Fei. O
Kaiser o aguarda. Por favor, venha por aqui.
Escoltados pelos dois guardas do
portão, Fei e Citan penetraram no Distrito. Sendo assim, não viram que segundos
depois o próprio Ricardo Banderas entrou no salão frontal, olhando em volta.
_ Hm. Ninguém aqui – acenou com a
cabeça – Como pensei. A segurança foi reduzida para atrair Fei. E...
Verificou a porta de acesso.
Trancada. E mesmo ele não poderia forçar aqueles portões eletrônicos, e nem
sabia as senhas da tranca.
_ Agora, suponho que bater na
porta está fora de questão? – olhou em volta, encontrando o que procurava à sua
direita – Acho que posso entrar por aquele duto de ar ali em cima.
Enquanto entravam, Fei notou que
os corredores, portas e acessos eram realmente impressionantes em sua
tecnologia, e Citan discretamente comparou o maquinário e o nível de avanço ali
presentes no Distrito com a da Yggdrasil de Bart e Sigurd. Detendo-se diante de
um elevador, um dos guardas os instruiu para que seguissem até a escadaria da
ala oeste, para chegar aos aposentos do Kaiser. Citan também achou curioso que
o elevador não apenas subisse, mas se deslocasse na horizontal em parte do
trajeto. Por fim, chegaram aos aposentos de Sigmund, um homem idoso, de rosto
barbado e orelhas pontudas, com um ar natural de liderança e olhos firmes, que
tocava órgão quando eles entraram. Sem se voltar, ele indagou:
_ Quem são vocês?
Voltou-se, então, e pareceu ficar
surpreso antes de reconhecer o rapaz diante de si.
_ Entendo... Então, você é Fei...
Seja bem vindo.
_ Você...? – Fei estava confuso,
por estar certo de não reconhecer o idoso governante de qualquer outra ocasião
– Como me conhece?
_ Ha ha hah. Perdoe-me. Eu sou o
Kaiser de Kislev, Sigmund. Isso pode soar um tanto súbito, mas você gostaria de
unir forças conosco? Preciso de seu apoio.
Um pedido estranho e incomum, que deixaria
Fei abismado em outra ocasião. No entanto, com um súbito som de queda, uma
figura verde musculosa caiu dos dutos de ar do teto e levantou-se tão depressa
quanto pôde, olhando com espanto para os demais.
_ Ah...
_ Hã? – Sigmund foi o mais
surpreso – É você! Rico!
_ Oh-oh, nada bom! – mais que
depressa, Rico voltou-se para a porta e saiu dizendo – Foi mal, volto outra
hora. Até mais!
_ ... Mutante! Segurança! – gritou
Sigmund - Prendam este intruso! Ele não estava com vocês, estava?
Seu olhar inquiridor e frio
parecia estranho vindo do mesmo homem que ainda um instante atrás pedia a eles
que se unissem a ele de forma gentil, e de qualquer forma, Fei não entendia o
que estava havendo e tentava se explicar enquanto, do lado de fora, Rico fugia
pelos corredores. Deteve-se por um instante diante dos elevadores, mas sacudiu
a cabeça e tornou a correr.
_ Não. Pra baixo não adianta...
Correu mais, seguindo pelos
corredores até uma curva onde dois guardas protegiam uma porta selada, e
pareceu a Rico que podia ser um bom lugar para ficar oculto até que a situação
se acalmasse. Dirigindo-se às sentinelas com sua atitude mais natural, ele
disse com simplicidade:
_ Ei! O Kaiser está chamando
vocês.
_ Sério? – um dos guardas
abandonou imediatamente o posto, mas o outro olhou desconfiado para o mutante recém-chegado
e perguntou:
_ Tá tudo bem se...?
_ Claro, pode deixar! – o outro
guarda disse – Essa porta não abre pra ninguém, exceto o Kaiser e sua esposa.
Os guardas se foram e Rico
aproximou-se da porta. Se pudesse ocultar-se lá dentro, pelo que ouvira dos
guardas, podia ser possível encontrar outra entrada de ar insuspeita e então...
A porta abriu-se sozinha assim que
ele se aproximou e, apesar de surpreso, Rico ficou satisfeito. Fora mais fácil
do que esperara. Entrou no aposento reservado para procurar uma entrada para o
sistema de ar, e então se deteve.
O quarto era ricamente mobiliado,
como convinha à esposa do Kaiser de Kislev. Mais do que a opulência do lugar,
no entanto, havia algo mais que prendeu a atenção do ex-Campeão dos Lutadores
de Kislev, fazendo-o esquecer momentaneamente seus planos de fuga. Algo
familiar demais.
_ ... Esse quarto...?
Caminhou até o centro do aposento
sextavado, olhando em volta e farejando.
_ Esse perfume...
Foi como se houvesse um clarão
diante de seus olhos e Rico olhou fixamente para o espelho da penteadeira.
Havia algo familiar demais naquele móvel.
_ ... Eu já vi isso...
A cama à sua direita, o espelho...
Era muito estranho, mas ele tinha certeza de já conhecer aquilo. Mas, se nunca
entrara ali...
_ ... Quando é... Que foi...
Outro lugar. Uma cabana pobre e
muito estreita, e uma voz de criança.
_ ... ãe.
A porta abriu-se, revelando um
garotinho de longos cabelos e descalço. Ele falava com uma senhora de ar gentil
diante de um antigo fogão de duas bocas.
_ ... amãe.
Correu até a mãe, conseguindo
então a atenção dela, o ar abatido abrindo-se num sorriso ao ver a criança.
_ Mamãe, por que Jenny tem um pai
e eu não tenho?
_ Bem, é que o seu pai é...
Então... É por isso que...
Havia uma explicação, claro, mas
parecia difícil ouvir as partes mais importantes, pensou Rico.
Uma curta passagem de tempo.
Apesar disso, o menino e sua mãe continuavam a morar na mesma casa, sem sinal
do pai. E a pobre mulher parecia mais enfraquecida à medida que o tempo seguia
em frente.
_ ... amãe... Você tem que
descansar.
_ Agora me escute! – ela
interrompeu com ênfase – Seu pai é um grande homem... Algum dia, você vai
seguir os passos dele...
Foi subitamente interrompida por
um acesso de tosse e o menino acudiu como pôde, apavorado.
O tempo seguiu adiante. O menino
começara a entrar na puberdade, beirando os onze ou doze anos, e entrou
novamente correndo para encontrar sua mãe sentada a um canto da cabana.
_ ... ãe. Mamãe... Eu sou
diferente das outras crianças.
A mãe voltou-se com ar cheio de
pesar e cansaço, parecendo esforçar-se para dar atenção, enquanto o menino
olhava para si mesmo confuso.
_ ... Até as minhas unhas são
longas, e olhe pra as minhas orelhas...
Foi a primeira vez em que a mãe
pareceu abalada de fato, sem saber realmente o que dizer.
_ ... não, não... não é... Não é
bem assim...
_ ... Miyo, do outro lado da rua –
os olhos do menino agora estavam cheios de lágrimas – fica dizendo que eu não
sou humano e que, quando eu ficar mais velho, vou me tornar um meio-humano.
Correu até a senhora de ar cansado
e a abraçou, e então ergueu os olhos úmidos para ela.
_ Eu... não sou humano? Então... Você
não é minha mãe...? Não... Eu não quero isso...
_ Oh Deus... – a senhora de ar
cansado abraçou o menino e baixou a cabeça – tenha piedade desta criança...
O tempo tornou a avançar. A
aparência do menino mudara mais, e seus cabelos, unhas, presas e orelhas longos
eram indisfarçáveis. A cabana estava cercada, e vozes vinham de fora.
_ ... Saia! Vá embora, seu menino
mutante!
A mãe do menino afastou-se da
janela, parecendo ir até a porta, mas não dera três passos quando um violento
acesso de tosse a fez dobrar-se e depois de cair de joelhos, sem conseguir
recuperar o fôlego tal a violência da tosse. O menino, sem saber ao certo o que
fazer, aproximou-se dela e abraçou-a, gritando:
_ Waaaaaaaa, ajudem! Ajudem, minha
mãe está...!
Um lapso menor de tempo desta vez.
Ela estava deitada, em seus momentos finais. O menino chorava ao seu lado. Com
um sorriso terno no rosto, ela esforçou-se para dizer:
_ Aqui... Escute... Você estará...
por si mesmo... de agora em diante...
_ Mãe... Eu estou... Eu sou...
_ Eu sou...? Sou mesmo...?
A figura do menino mudou, e Rico
então percebeu que era um rosto que conhecia bem.
_ É... Aquele menino... Sou eu?
Minhas memórias da infância... Eu tinha esquecido... Por que estou lembrando
disso agora... Este quarto...? Aquele perfume suave...
Rico ainda estava preso às suas
lembranças, alheio a tudo a sua volta por algum tempo, e por isso levou algum
tempo antes de ouvir as batidas na porta e a voz familiar de Fei.
_ Ei! Você está aí? Abra...
De forma meio ausente, quase como
se despertasse de um sonho, Rico foi até a porta, abriu-a e tornou a voltar-se
para o aposento, enquanto Fei o repreendia:
_ O que você está pensando,
invadindo o Distrito Central desse jeito? Isso não é nada bom... hã? O que foi?
Por um instante, parecera a Fei
ver pelo reflexo do espelho na parede diante deles que o Campeão dos Lutadores
de Kislev, Rico Banderas, tinha algo brilhante em seus olhos, algo que ele não
podia ver enquanto o outro estava de costas. Rico voltou-se para ele esfregando
os olhos displicentemente e não parecia alterado quando disse:
_ Esqueça... Esqueça-se disso...
E deu as costas a eles outra vez,
dirigindo-se para a saída do aposento. Fei não entendeu o que acontecia, mas
Citan tocou seu ombro e fez que não com a cabeça. Fosse o que fosse, não era
algo que devessem mencionar, e o melhor era que se retirassem de qualquer
forma.
Sigmund e mais dois guardas
fortemente armados aguardavam Rico do lado de fora, e o ex-Campeão encarou o
Kaiser, que parecia ao mesmo tempo irritado e perturbado.
_ Você... Como entrou aqui? Como
passou pela porta?
_ Não fiz nada... – Rico
respondeu, a voz ainda soando abalada – Simplesmente passei pela entrada.
_ Besteira! – um dos guardas
exclamou – Ela não abriria a menos que lesse o DNA correto! Não ia abrir assim
tão facilmente!
_ ... provavelmente um defeito –
murmurou Sigmund – Não importa... Prendam o intruso. O Comitê de Batalha está
atrás dele por romper o contrato. Deixe que eles lidem com ele.
“Sim senhor!”, responderam os
guardas em coro, para algemar Rico e conduzí-lo. Detendo-se por um momento, ele
voltou-se para Citan e Fei uma última vez.
_ Bem... Vejo vocês qualquer dia.
Sigmund ficou olhando fixamente
enquanto seus guardas levavam o musculoso meio humano que fora o Campeão de
Kislev por três anos consecutivos com um ar profundamente pensativo, e Citan
achou particularmente curioso o comentário feito por ele em seguida.
_ Não... Não há possibilidade de
que ele seja...
O Kaiser pareceu então se lembrar
dos dois homens parados ali e se recompôs como pôde, explicando:
_ Aquele homem foi suspeito de
tentar me assassinar. A polícia está cuidando do assunto agora. Bem, tenho
questões urgentes a cuidar, então, se me dão licença... Estejam à vontade para
andar ao seu gosto pelo distrito. E quanto à minha proposta... Estarei
aguardando uma resposta positiva. Tenham um bom dia.
Citan lembrou então que Hammer já
devia ter a informação que queriam e sugeriu que fossem até a área civil da
Cidade para encontrar o bar Gato Selvagem e também ao fornecedor. Chegando à
cidade, mal Citan sugerira algo para que encontrassem o bar, Hammer surgiu
correndo e gritando alegremente:
_ Ei, Mano! Com esses ouvidos, eu
consegui tudo o que precisava saber do seu Gear! Hee-hee, descobri cadê o seu
Gear, Mano!
No ato, Fei saltou sobre Hammer e
agarrou sua boca. Havia guardas nas proximidades guardando os portões daquela
ala e com certeza devia haver ocasião melhor para discutirem sobre Weltall do
que ali.
_ Espere um segundo! (Você não
acha que é perigoso falar desse tipo de coisa por aqui??)
_ Hã? O que há com você, Mano? –
Hammer parecia confuso – Eu tenho informações sobre o seu Gea...
Citan imediatamente aproximou-se
da direita de Hammer, assim como Fei o guardava pela esquerda e os dois guardas
olhavam com ar desconfiado. Numa voz baixa, Citan explicou:
_ Mais tarde eu explicarei. Agora,
apenas vá andando, OK?
Fei fez que sim com a cabeça, os
dois largaram Hammer e se afastaram, seguindo para o centro da cidade enquanto
Hammer continuava sem entender.
_ Hã? Mano? D-doc? Citan? A-aonde
vocês vão? Espeeeeeeeeeeeerem!
Os guardas olharam
interrogativamente um par o outro e balançaram as cabeças. Ex-prisioneiros eram
loucos, todos eles!
Fei e Citan conduziram Hammer até
o terraço de uma das casas, sem dúvida um ponto seguro, e Fei acenou que sim.
_ Deve ser seguro aqui. Agora,
Hammer, me diga onde está o meu Gear.
_ Como o Doc previa, Mano, seu Gear
foi levado pra outra doca de envio.
_ Então – indagou Citan – onde, nesse
mundo de Deus, está Weltall?
_ Não ‘nesse mundo’, e sim ‘sob’
ele! – respondeu Hammer – Ele está numa doca subterrânea do Bloco D! Eu já
verifiquei e descobri que há duas rotas que podemos usar pra penetrar lá. A
primeira exige que entremos através do terreno da Arena de Batalha.
_ Bom – Fei meditou de cabeça
baixa – não há como penetrarmos pela Arena de Batalha. Qual é a segunda
maneira?
_ A segunda maneira é um pouquinho
perigosa, já que envolve o túnel do trem de suprimentos. Você tem que entrar
nos dutos do túnel e segui-los direto até que levem às docas. Mas não deu pra
descolar a planta dos dutos... Foi mal, Mano.
_ Ah, aquele túnel, hein? – Fei já
vira o trem automatizado passar próximo de seus aposentos – Bem, agora que
temos o problema da bomba fora dos nossos pescoços, podemos ser capazes de
conseguir!
_ Sim – ponderou Citan – mas ainda
não temos qualquer conhecimento dos horários em que os trens passam. Será
possível um trem de suprimentos passar em um horário que seja de qualquer valia
para nós?
Nem tudo isso tem que ser decidido
agora – lembrou Fei – Vamos aproveitar nosso tempo e planejar com calma.
Primeiramente, Hammer – e voltou-se para o mecânico – desculpe por te deixar de
fora, mas... Poderia descobrir pra nós os dias e horários em que o trem de
suprimentos opera, por favor?
_ ‘Xá comigo, Mano! Bom então, eu vou
nessa.
Por ora, Fei e Citan resolveram
voltar ao Bloco D para planejar seus próximos passos, embora muito ainda fosse
depender dos horários que Hammer iria conseguir. Assim que chegaram ao bloco
dos prisioneiros, no entanto, foram abordados antes de chegar aos seus
aposentos por dois Lutadores e uma Amazona, e Fei achava que já os reconhecia
de algum lugar.
_ Quem são vocês?
_ Não seja tão sem coração – disse
um dos Lutadores – Estivemos esperando por vocês.
_ Esperando? – Citan ficou
cauteloso – por... nós?
_ Por favor, venham com a gente –
disse o outro Lutador, e Fei ficou apreensivo.
_ Isso não vai ser outra estúpida
‘ Cerimônia de Batismo’, vai?
_ Ei, ei, esperem um minuto! –
interrompeu a Amazona – Não estamos tentando começar uma briga. Fiquem falando
assim – dirigiu-se aos colegas – e vamos acabar tendo um mal-entendido. Deixem
isso comigo.
_ Tá, desculpa...
_ Bem... – Citan ponderou –
presumo que vocês não sejam hostis...
Fei concordou com a cabeça, ainda
cauteloso, mas a Amazona fez que não e comentou:
_ Não aqui... Vamos para outro
lugar. Venham, me acompanhem.
_ Me parece que não temos escolha
– comentou Citan em voz baixa – Vamos, Fei?
O rapaz concordou com um aceno. Os
três não pareciam perigosos, mas ele lembrava-se de que Rico tinha muitos
servos fiéis até a cegueira, que poderiam agir violentamente mesmo contra a
vontade do Campeão. Assim, todos foram até os aposentos reservados para
conversar.
TORN
BY THIS PAIN
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