E continua a confusão. Fei continua a lutar no Torneio, tudo pra ganhar tempo pra Bart, que finalmente encontra Margie. Agora, é só tirar a menina do Palácio de Aveh.
Certo...?
(...)
De volta à arena, não parecia
provável para Fei que ele seria o campeão. Seu poder da Cura Interior estava
revigorando suas forças e amenizando seus ferimentos, mas não iria agüentar
aquilo para sempre. Dan estava descarregando mais e mais Tiros Guiados sobre
ele, e a platéia estava de fôlego preso, indagando-se quanto mais o Jovem
Viajante suportaria sem revidar. Então, Dan finalmente pareceu ficar cansado.
_ Droga, Fei... Por que você não
revida?! Anda, eu te desafio!
_ ... Não posso. Não posso me
obrigar a atacar você, Dan!
_ Droga! Derrubar você tão
facilmente não vai bastar pras almas da minha irmã ou do Timothy! Saco! Vou ter
que deixar esse duelo pra depois. Da próxima vez em que eu te encontrar, vai
ser o seu funeral! Até lá, fique com isso!
E jogou um tecido branco na
direção de Fei. O rapaz constatou com surpresa que era o vestido de casamento
de Alice, e Dan ainda disse:
_ Sempre que olhar pra ele, quero
que sofra e sinta a culpa pelo que você fez!
Dan desapareceu da arena logo em
seguida, não ouvindo nada do que Fei queria dizer.
Enquanto Bart finalmente chegava
à torre leste, começou a luta final do Torneio entre Fei e o estranho mascarado
identificado como “Sábio”. Pressentindo um adversário diferente, Fei procurou
tomar logo a ofensiva, mas seu primeiro golpe encontrou apenas o vazio.
E o segundo. E o terceiro,
também. Não importando o quanto aumentava sua velocidade e força, não conseguia
atingir o oponente. O Sábio não revidava, mas também não se deixava golpear. Sem
conseguir atingi-lo e já ouvindo as primeiras vaias da platéia, Fei não pôde
deixar de comparar a sua luta atual com a que tivera antes com Dan, o mais
forte evitando atacar para não ferir o mais fraco, e se incomodou com a
facilidade que o outro tinha em evitar mesmo seus golpes especiais, como o
Raijin ou o Senretsu.
Finalmente, ganhando espaço após
ter um chute alto repelido, Fei disparou um Tiro Guiado e derrubou o Sábio, que
no entanto girou no ar e caiu de pé, sequer parecendo incomodado.
“Isso não é nada bom – pensou Fei
– Desse jeito...”
_ Bem como eu pensava – disse o
Sábio repentinamente – Você, onde foi que aprendeu essa técnica?
_ Quem se importa com isso... Ande! Lute pra valer!
_ Quem se importa com isso... Ande! Lute pra valer!
_ Hmm. Então, por que está
lutando? Por si mesmo? Ou em nome de outros?
_ Por que está perguntando? – Fei
mantinha a guarda alta, mas as perguntas o haviam perturbado.
_ Não tem que haver uma razão, ou
um objetivo para uma pessoa lutar?
_ As minhas razões não são da sua
conta!
_ Então, está lutando sem nenhuma
razão ou objetivo?
_ Quer calar a boca? Eu estou a
caminho de descobrir o meu propósito!
_ ... Então esqueça! Pois não há
meio de você encontrar tal coisa.
_ O quê?
_ Você parece estar olhando
adiante mas, na verdade, só está olhando para baixo! Só está olhando para si
mesmo. Desse jeito, não vai encontrar nada.
_ Como você pode saber...?
_ Eu sei – e deu as costas a Fei
de braços cruzados, quase parecendo rir sob a máscara – Apenas trocando golpes
com você posso fazer uma boa idéia.
_ Ah, cale-se!
Fei tornou a atacar, mas o Sábio
o evitou como se ele fosse uma criança, e respondeu:
_ Fraco, fraco... Não vai sequer
me tocar com esse tipo de ataques... Mas, superficialmente ao menos, você
parece ter amadurecido fisicamente.
Fei continuou sem entender. Quem
era aquele homem? E ele continuou, deixando Fei ainda mais surpreso.
_ Você se saiu bem se recuperando
daqueles ferimentos, Fei...
_ Hã? Como sabe o meu nome?! Eu
deliberadamente não usei meu nome verdadeiro quando entrei nesse concurso. E
isso de me recuperar dos ferimentos...? Você não pode ser...?!
De repente, o Sábio curvou-se
como se sentisse dor e, diante da dúvida de Fei, ele perguntou-se:
_ Oh, Deus... Já é hora? Acho que
não posso evitar... Tenho que partir!
E foi exatamente o que ele fez,
embora Fei ainda tivesse perguntas a fazer e a platéia ainda quisesse ver uma
luta. Pela desistência do Sábio, Fei foi aclamado vencedor... Mas ele sentia
que as perguntas não formuladas eram importantes demais para sentir-se como
tal.
Bart descobriu uma ala bem
protegida no palácio e achou melhor investigar. Infelizmente, havia mais
guardas ali que não haviam se retirado para ver o Torneio e não estavam
dispostos a conversar.
Margie ouviu um som de confusão
do lado de fora da porta do seu quarto. Depois, pareceu que a coisa
agravara-se. A confusão virou uma luta que saiu do controle, e ela ainda se
indagava se deveria se aproximar e ver o que acontecia quando um dos guardas
arrebentou a porta com o corpo, arremessado por um poderoso golpe de um jovem,
um rapaz loiro de um olho só que ela conhecia muito bem.
_ Bart!
_ Vamos pra casa, Margie!
Ela correu até ele e o abraçou
aliviada, e o alívio era mútuo. Bart e Margie tinham crescido juntos e eram
muito próximos, e só recentemente tinham descoberto o quanto podiam sentir
falta um do outro. Com Margie ali, abraçada a ele, Bart sentia sua força
voltar, e tudo parecia possível de novo. Sentira muito a falta da prima, e não
voltaria a se afastar dela. Era bom sentir o rosto dela em seu peito. E ela
disse, numa voz carinhosa:
_ Eu sabia que você viria me
buscar...
Foi quando Bart lembrou-se do
lugar em que estava, e que ainda corriam perigo. Era bom estar com Margie outra
vez, mas precisavam sair dali.
_ Eu vou te tirar daqui. Anda,
vem comigo!
_ Tá. Ah, espere só um segundo –
ela foi até um dos sofás e agarrou um estranho bicho de pelúcia rosa, dizendo
meio sem jeito – Eu gosto muito disso.
Margie ainda não perdera muito do
seu jeito de menina ao que parecia, pensou Bart. De qualquer forma, ele a
conduziu pelo corredor, pretendendo alcançar a fonte na praça do castelo e sair
dali do mesmo modo que entrara. Mas, antes que chegasse à escadaria principal,
a porta abriu-se e duas pessoas em uniformes diferentes surgiram, e Margie
agarrou seu braço.
_ Bart, olhe!
_ Saco, a Gebler!
_ Parece que nós temos ratos –
disse Ramsus, à sua maneira fria e impessoal – Onde planeja levar essa menina,
garoto?
_ ‘Garoto’? Hah, garoto?!?
Experimenta me chamar disso de novo! E quem diabos é você, afinal?
_ Você tem audácia. Mas eu não
preciso dar meu nome a ratos como você.
_ O quê?
Bart não gostara realmente nem um
pouco do desconhecido e de sua atitude superior, e o pior, o outro não parecia
nem um pouco incomodado com isso.
_ Agora, entregue a menina – ele
disse apenas – Ela é uma convidada muito importante. Até que ela nos diga onde
um certo pedaço do Jasper de Fatima está, não podemos permitir que ela seja
levada.
_ Dá um tempo! Você acha que eu
vou entrega-la só porque você mandou? Sai do caminho, seu cretino da Gebler!
Nem isso pareceu perturbar o
outro, e Bart tomou a frente de Margie. Ia haver encrenca, e ele não queria que
nada acontecesse a ela. Ramsus deu um passo à frente e disse, ainda com seu
porte altivo:
_ Hmm. Eu presumo que você saiba
onde uma linguagem tão abusiva levará você.
E sacou sua espada, enquanto Bart
soltou seus chicotes. Ele se sentia estranhamente tenso. Havia algo naquela
calma imperturbável do outro que o deixava inseguro, mas não deixaria que
prendessem Margie de novo. A garota de cabelos curtos e olhos azuis escuros
atrás do soldado finalmente falou;
_ Se realmente quer proteger
aquela menina, então renda-se agora... Príncipe Bartholomew!
_ Hã? Ah, então você sabe de mim,
hein? – Bart estava realmente surpreso, mas não pareceu muito aborrecido – Heh.
Ter o nome conhecido por alguém tão bonita quanto você até que não é ruim.
_ Ba-arty! – repreendeu Margie
atrás dele. E Miang, ignorando os comentários, prosseguiu:
_ Você pode ter tido seus
problemas com Shakhan, mas nós não vamos trata-lo tão mal. Quanto a Shakhan,
nós achamos que ‘qualquer um’ é satisfatório para nós.
_ É bom saber disso, mas eu não
posso aceitar – Bart meneou a cabeça –
Sabe, pra mim, ‘qualquer um’ é ruim.
_ Então está decidido – e Ramsus
tomou a frente, a espada em posição de ataque. Bart se colocou em guarda e
disse sem se voltar:
_ Tch... Margie! Se esconda ali
atrás!
_ Não! Eu vou lutar, também!
_ Tanto faz, só se esconda!
Bart iniciou a luta com seu golpe
‘Caçador de Cabeças’, abrindo a guarda de Ramsus com seu chicote direito
enquanto prendia suas pernas com o esquerdo para depois derruba-lo. O comandante
da Gebler, no entanto, meramente rolou para trás e partiu para o contragolpe, e
os dois imediatamente começaram a se atacar com golpes equivalentes em força e
velocidade.
O fato de ter uma arma a mais não
favorecia Bart, ele logo percebeu, pois Ramsus era bom o bastante com a espada
para conte-lo e ainda revidar; não tardou para que mais e mais talhos se
desenhassem em suas roupas e seu corpo, com ferimentos cada vez mais pesados.
Mesmo recuando, Bartholomew não conseguia evitar os ataques de Ramsus, embora
se sentisse revigorar aos poucos.
Ramsus investiu pela frente e ele
precisou de seus dois chicotes para desvia-lo, e foi então que viu que Margie
estava rezando por ele atrás da pilastra, e entendeu de onde vinha sua
resistência maior; ter uma prima que era a Grande Madre de Nisan, com orações
que eram como uma técnica Ether de cura, tinha as suas vantagens.
Detendo-se e tornando a investir,
Ramsus repeliu os chicotes de Bart e atacou pela direita, e o jovem pirata
decidiu que era hora de terminar com aquilo; com seu ataque mais forte; “Duplo
Sônico”, seus dois chicotes caíram sobre Ramsus enquanto sua guarda estava
aberta e o jogaram para o alto, e o balé furioso das armas perseguiu o
comandante da Gebler mesmo enquanto este caía ao chão.
Os ferimentos de Ramsus, no
entanto, não pareciam muito graves e ainda se curavam visivelmente depressa.
Bart voltou-se na direção de Miang e viu que ela parecia concentrada, de olhos
fechados e mão direita erguida. A moça obviamente estava curando Ramsus, assim
como Margie fazia com ele, mas num ritmo muito mais acelerado.
_ Você não é ruim, garoto –
Ramsus disse – Nesse caso, é melhor que terminemos logo com isso.
Bart preparou-se para o pior, já
respeitando a força do rival, mas tudo o que Ramsus fez foi manter a espada em
riste diante de si próprio e fechar os olhos, como se concentrasse suas forças.
Sem querer esperar pelo que poderia ser um ataque devastador, Bart ergueu a mão
esquerda e condensou a energia Ether diante dela na forma de uma moeda,
arremessando-a contra Ramsus antes de seu ataque.
_ Disco Celestial!!
Foi um erro. O Disco deteve-se na
espada do comandante, que girou sua arma no ar contra Bartholomew e lançou toda
a energia do Disco Celestial de volta contra Bart na forma de farpas dispersas,
o que feriu o rapaz seriamente, a ponto de quase nocauteá-lo.
Margie deixou seu esconderijo e
abraçou Bart, esperando poder cura-lo a tempo, enquanto Ramsus veio até os dois
com ar imponente.
_ Foi tolice atacar durante a
minha “Defesa Espelho”, moleque. Posso voltar a força de qualquer ataque contra
meu inimigo. Você não deveria ter me desafiado.
Bart sabia o que viria, e
praguejou consigo mesmo por não ter sido capaz de proteger Margie como deveria.
A espada de Ramsus em breve terminaria seu serviço, e ele sequer conseguia
ficar de pé.
_ Bart!
Miang, Ramsus e Margie não
reconheceram a voz da figura que entrou pela janela, mas Bart sabia quem era.
Fei penetrou no castelo e chegou em cima da hora, afastando Ramsus com um golpe
facilmente bloqueado e depois emendando com um indefensável ‘Raijin’ que
afastou Ramsus e Miang e deu a Margie o tempo necessário para recuperar os
ferimentos de Bart, enquanto o próprio Fei se mantinha entre os amigos e os
inimigos.
_ Você tá bem, Bart?
_ Estou feliz... que esteja aqui,
Fei.
_ Fei?
Havia algo no nome que ouvira e
na técnica que o atingira que perturbaram Ramsus, mas Fei não percebeu naquele
momento, ocupado em bronquear com o amigo.
_ O que houve, Bart? Eu pensei
que esse era só um simples resgate.
_ Ah, cala a boca! Que culpa eu
tenho que esse asno tenha aparecido e me atrasado?
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