SEM MAIS
Fala gentes e gentas! Em pleno domingo, após retomar o fôlego, saudações do Louco!
Chega de ficar embaçando, né? Afinal, Lenn sabe o que tá fazendo? Dá pra ganhar de um vampiro não-emo sem armas sagradas, e sem xingar ele muito no Twitter?
Eis o que nosso arqueólogo aventureiro (que não é o Indiana Jones, nem a Lara Croft) vai tentar descobrir. Forte amplexo do Louco!
(...)
O golpe seguinte de Tasslus esmagou a parede e, por um segundo a mais, seu punho ficou preso à parede antiga, e ele grunhiu para se soltar. Ao voltar-se, sua presa não estava mais lá.
Um som metálico acima de si, e ele rosnou. O elevador. Não estava funcionando, parado ali no subsolo, mas o fugitivo estava no fosso, de algum modo que ele não entendia, nem queria entender. Aquele debochado já lhe fugira demais.
No fosso, pendurado por um instante no punhal em sua mão esquerda enquanto a direita agitava a Espada Serpente outra vez, Lenn mal tinha tempo para se parabenizar pela idéia. Sim, sua espada também podia ser um arpéu improvisado eficiente, e ele dificilmente escaparia do subsolo a tempo com um vampiro faminto à sua caça de outra maneira...
O som de metal sendo retorcido veio lá de baixo, no mesmo momento em que o explorador recolheu a espada e subiu, alcançando a saída do elevador no andar de cima, e o urro de Tasslus foi seguido de um som de pancada, outro e outro, mais alto. E Lenn atirou-se porta afora, afastando-se pelo corredor como podia antes que o vampiro o alcançasse.
_ 'Acho que vou ficar grato mais tarde, viajante - Tasslus, que subira saltando pelo fosso do elevador, agarrando-se às paredes como ele fizera, mas necessitando de mais intervalos, sem um 'gancho' como a espada de Lenn - Há quanto tempo não me divertia tanto? Talvez deva permitir que continue existindo depois de matá-lo, para poder derrotá-lo por toda a eternidade!'
_ 'Precisa me pegar antes - Lenn ofegou, se afastando e retrucando como podia no idioma antigo - Seu fim chegou.'
_ 'Palavras confiantes... de quem apenas fugiu de mim desde o início - Tasslus rosnou entre dentes, esmurrando a parede a seu lado por puro capricho - 'Vire-se e me enfrente, pois não vai mais me escapar!'
Como se atendendo ao pedido, enquanto Tasslus se lançava depressa sobre ele, Lenn voltou-se e o encarou, o punhal à esquerda e a espada à direita, conseguindo apenas um sorriso de escárnio do adversário. Se era tolo o bastante para persistir com aquelas armas inúteis, tanto melhor. Não teria que esperar tanto para se alimentar.
Lenn sabia que o outro havia mordido a isca, e abriu os dois braços para confrontar as garras estendidas do vampiro, sem conseguir nada mais do que ser novamente atirado para trás pelo corredor, rolando pelo solo e ganhando a chance de bater o cabo do Punhal Estridente contra o piso, enquanto Tasslus avançava com a mão direita erguida, para um golpe final.
Girando a Espada Serpente na mão direita, Lenn conteve o ataque com dificuldade, usando apenas uma das mãos para erguer a esquerda e apontá-la para o teto. Feito de metal especial, o Punhal Estridente disparava ondas sônicas de alta intensidade para onde sua lâmina estivesse voltada, e naquele momento, estava apontada para onde Lenn vira canos antigos no teto.
_ 'O quê? - Tasslus rosnou, empurrando e forçando aos poucos o adversário a ficar de joelhos - Não consegue fazer mais nada? Esperava mais de você, 'bravo oponente'.'
_ 'Esperar - Lenn resfolegou, enquanto começava a ver os efeitos no teto - Não decepcionado, garanto.'
_ 'O q...'
O senhor das ruínas devia conhecer bem demais seu refúgio para ser atraído até a superfície, e Lenn sabia disso. Mas em sua confiança, fome e desespero em garantir que a próxima vítima não escaparia, ele ainda o perseguiria até o último andar subterrâneo antes da superfície... onde as ondas sonoras do Punhal Estridente podiam fazer o teto desabar, e trazer a luz do sol.
Luz que tomou o corredor de repente, fazendo com que Tasslus gritasse de dor e parasse de forçar, bem no momento em que o braço direito de Lenn cedeu ao cansaço. A Espada Serpente caiu de seus dedos, mas ele obrigou-se a empunhar o Punhal com ambas as mãos, aproveitando-se do trecho já danificado do teto para alargar a abertura.
Tasslus urrou, sentindo-se queimar e voltando-se, imaginando que poderia se salvar se alcançasse o fosso do elevador... mas seus braços e pernas deixaram de responder de repente. A fome! A fraqueza exigia que tomasse um instante a mais para se recuperar... mas não teria esse instante, sabia, porque o sol queimava sua pele, ele sentia seus ossos arderem, e o longo tempo no qual não se alimentava aparentemente também diminuíra mais sua resistência. E foi praguejando e amaldiçoando palavras ininteligíveis que o imortal encontrou seu fim.
Lenn baixou suas mãos, exausto, vendo as cinzas do que fora o vampiro arderem e se consumirem depressa, e mal começara a suspirar de alívio quando percebeu novamente não estar sozinho. E, antes mesmo de voltar-se para ver o rosto dela, entendeu o que aconteceria.
Ainda que ofuscado pelo tempo na penumbra e a exposição súbita ao sol, ele podia distinguir a figura de Melisande de mãos unidas e chorando lágrimas que escorriam por seu rosto e caíam, sem chegar ao solo.
_ 'Enfim, após todos esses séculos... Liberdade! Ouso acreditar? Nem parece possível...!'
_ 'Está livre, Melisande - e, parecendo entristecido - Tem mesmo que ir agora? Não pode ficar, um pouco?'
_ 'E... Espectros que faleceram há tanto tempo - ela pareceu corar, baixando os olhos - não têm mais lugar neste mundo. Me perdoe.'
_ 'Entendo. Precisa ir, então vá... bela dama em perigo.'
Embora entristecido pelo desfecho inevitável, Lenn Trindade encontrou algum consolo no sorriso agradecido de Melisande, cuja voz ainda pôde ser ouvida uma última vez, parecendo vir de toda parte enquanto desaparecia.
"Deixo este mundo, mas levo comigo a sua lembrança, explorador corajoso que me libertou. Sempre me lembrarei de você..."
Lenn meneou a cabeça, e decidiu que estava na hora de deixar Vellthia. Ainda não encontrara qualquer artefato digno de nota nas ruínas, mas estava bem; encontrar Melisande e lutar pela alma dela com Tasslus já bastaria. E, embora estivesse satisfeito por ter tido sucesso, havia algo em seu peito que considerava o prêmio pela vitória insatisfatório.
Eventualmente, Lenn retornaria a Vellthia, descobriria outra jovem de cabelos de fogo trançados cuja voz soaria idêntica à de Melisande e, talvez, considerasse que a promessa do espírito não morrera com ela... mas isso já é outra história.
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