Batendo uma Ficha
Não pude deixar de notar, nos últimos dias, como a gente consegue comparar a vida com as coisas mais absurdas ou improváveis, dependendo do quanto elas são familiares pra nós. Sério, podemos mesmo. No meu caso (não muito interessante, mas sou eu quem tá escrevendo, então...), vida e atitudes das pessoas lembram um bocado as velhas máquinas de arcade.
Sério mesmo. Acreditem ou não.
Tudo bem, fica mais fácil com um exemplo prático. Eu confesso que, por mais que gostasse delas, sempre fui muito pato pra conseguir terminar o jogo, salvo uma ou outra rara exceção (lembro de ter terminado o ?Moonwalker? do Michael Jackson, e o ?Capitão Commando?); assisti jogadores melhores (ou com mais dinheiro pra gastar em fichas, ou os dois) terminando inúmeras outras. Alguns daqueles jogos eram terrivelmente difíceis, outros eram patéticos. Mas todas tinham um denominador comum que, pra mim, era ainda mais incômodo do que o preço das fichas, ou o medo da minha mãe de me ver nesses ?lugares cheios de maconheiros? (cara, não acredito q lembrei disso...! ^^?): os ?filhos?.
Era como meu amigo Antero, o Cara, e nosso amigo Alexandre (a turma da escola chamava ele de ?Neguinho?, eu incluído, mas me parece meio imbecil chamar ele assim agora) chamavam os espectadores, crianças na maioria das vezes, que ficavam assistindo e, de quando em sempre, se ofereciam pra passar aquela fase que a gente não conseguia passar fácil quando jogava. Os ?filhos? tinham o incômodo hábito de ficar se oferecendo pra matar aquele chefe mais difícil, ou ficavam dando sugestão pra a gente sobre como pular aquele buraco e atirar ao mesmo tempo, pra aquela flecha não nos pegar no meio do pulo. Coisa assim. E irritava (a mim, pelo menos). Tudo bem, eu queria ver o final do jogo, mas era a minha jogada, a minha ficha, e eu não queria apenas ver o final; eu queria causar o final, ser parte dele. E os ?filhos?, se fossem atendidos, iam me privar disso. Como resultado pela teimosia, terminei muito poucos jogos... ah, mas que satisfação poder dizer dos que eu terminei sozinho! Não porque fosse grande coisa, ou porque fosse me ensinar nada de especial, mas porque fiz do meu jeito! (pra maiores detalhes, sugiro que procurem a letra com tradução de My Way que meu amigo Akira já postou aqui uma vez).
Por coisas assim, e por ter sido bem desiludido quanto a ser ouvido quando dava conselhos (uma família de cinco teimosos, eu incluído, que podiam ser apresentados formalmente à melhor opção e ainda assim tinham a capacidade de escolher outra coisa se não concordassem, ou se a idéia não fosse própria), eu me nego a dá-los hoje. Só não consigo ficar calado, e dou minha opinião sincera quer cause desagrado a quem ouvir ou não. Isso tem a ver com outro ?jogo não terminado?, quando ?deixei de colocar outra ficha?. Se tivesse sido mais corajoso ao invés de ficar vendo os segundos passarem em contagem regressiva antes do ?game over?, minha vida podia ter sido muito diferente.
E essa é minha opinião pra alguns jogadores que eu conheço; vocês têm o direito de jogar como quiserem, caras e moças, e não sou eu quem vai dizer o contrário. Terminem do seu jeito. Mas, ficar socando a máquina, ou chorando porque aquele ?grande chefe mau? conseguiu te vencer de novo, maldizendo a própria sorte e falta de habilidade, não vai resolver o problema. Na pior das hipóteses, você vai quebrar a máquina e tomar um carão do dono do arcade, e vai continuar com um jogo que não conseguiu vencer.
Os próprios psiquiatras, de certa forma, admitem que não podem resolver muita coisa. ?Primeiro a pessoa precisa querer ser ajudada?. A velha piada de quantos psiquiatras pra trocar uma lâmpada; só um, desde que a lâmpada queira ser trocada. Você vai procurar um ?filho? pra terminar o jogo pra você, ou vai arriscar mais algumas moedas e voltar a tempo de dar ?continue?? Prefere chutar e quebrar a máquina, pra liberar a frustração? Na boa, isso traz algum alívio... mas quando sua cabeça voltar a funcionar, você vai ver que ainda não passou de fase, não terminou o jogo.
Chega de ficar se lamentando. Chega de esmurrar a máquina. O chefe tá lá justamente pra te impedir de passar, mesmo. É o trabalho dele. O seu é melhorar, deixar de comodismo e ficar tão bom que chefe nenhum de máquina nenhuma seja capaz de deter você por muito tempo.
(ter algumas fichas extras no bolso também ajuda um bocado ^^)
Com tanta divagação (e puxa, como eu escrevi hoje...!), saio pela tangente. Forte amplexo do Louco
quinta-feira, maio 27
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário